RASCUNHO





Meus Deus! Que presente maravilhoso me deste! Supremos versos transbordantes me ofertaste, cara ninfa dos meus sonhos! De fato, sofrem! São a representação de ti, do teu amor, que não mais tenho! Que perdi por culpa das horas de amor bem mal ninadas! Do medo da verdade de que me amavas! Estou ainda enebriado com as languescentes brisas dos teus altissonantes versos, soprado nos ouvidos da minha alma! Obrigado! Este presente vale a divina sensação de outro mais que benfazejo, ardente, intenso e furibundo beijo teu, Musa perdida, embora ainda amada!

Destino dos poetas de alma.

Se é destino dos poetas d alma, duas vezes é o teu, pois tens a minha!

Se, |Jupiter, Jeová, te assoprasse...
Planeta-anão!... A máscara caia!...
Metálico hidrogênio... Estrela? vaia!...
E o gênio Galileu findando o impasse...

Pressão, temperatura, 
Felicidade, escudo ao mundo insano!

O que é a alma, irmãos, diga-me alguém?
O invólucro etéreo luz

Embora o vasto sol, 
Se a vida, Maria, nos fosse acalanto,
Se tu, minha amada, de vez, não partisse...
Verias meus olhos erguidos de encanto,
Se a torre da Paz, em nós, não ruísse...

Teus olhos, teu riso, o teu olhar santo?
Se a minha memória não os extinguisse,
Seriam, de Amor, o meu mais caro Canto,
Se este precipício, pra mim, não sorrisse!...

Cravar a amargura; cessar nosso hino,
Monstruoso destino, dos homens sem Paz!
Buscar a ternura em quando eu menino,

Olhar-me assombrado, ao ver Satanás!
Que fazes, Maria?... Que quadro ferino!
No espelho do tempo, de mim, bem atrás?...

E ao ver-me, assombrado, ferido e ferino,
Ainda me diz: - Olhes, de ti, atrás!...

Se a vida, Maria, nos fosse acalanto,
Se tu, minha amada, de vez, não partisse...
Verias meus olhos erguidos de encanto,
Se a torre da Paz, em nós, não ruísse...

Teus olhos, teu riso, o teu olhar santo?
Se a minha memória não os extinguisse,
Seriam, de Amor, o meu mais caro Canto,
Se este precipício, pra mim, não sorrisse!...

Cravar a amargura; cessar nosso hino,
Monstruoso destino, dos homens sem Paz!
Buscar a ternura em quando eu menino,

Olhar-me assombrado, ao ver Satanás!
Berrando insensato em feroz desatino:
- Cessar tuas dores, artista, és capaz!...


Se a vida, Maria, nos fosse acalanto,
Se tu, minha amada, de vez, não partisse...
Verias meus olhos erguidos de encanto,
Se a torre da Paz, em nós, não ruísse...

Teus olhos, teu riso, o teu olhar santo?
Se a minha memória não os extinguisse,
Seriam, de Amor, o meu mais caro Canto,
Se este precipício, pra mim, não sorrisse!...

Cravar a amargura! Cessar nosso hino...
Monstruoso destino, dos homens sem Paz!
Pois sigo assombrado, ferido e ferino,

Vou as dores de quando eu rapaz,
Buscar a ternura em quando eu menino,

Olhar-me assombrado, ao ver Satanás!
E ao ver-me, assombrado, ferido e ferino,
Ainda me diz: - Olhes, de ti, atrás!...

Em grão desatino de mim, estás atrás...

Dizer-me tua Maria, de ti 
Gerente hospício, razão -- capataz

Sangrando e gemendo; tombando loquaz!




Verias teus olhos chorarem meu pranto
Se nossas espadas, graves ojerizas,

Cair?
Agora entre dores; entre desamores,



MEU DESISTÊNCIALISMO LITERÁRIO

Meu Desistêncialismo literário,
Covarde, foge a todos os confrontos!
Preguiça em reticências de dois..
Agradeço!.. Foi meu ânimo precário..

Oh! Desistêntalismo arbitrário,
Então, estamos vivos, quem diria!
Adeus, Maria! Adeus, oh! Poesia!
De fato, a mágoa é rumo voluntário..

Bom dia, meu desânimo querido!
Sonhos desfeitos, tenho pra te dar!
E até um louco amor já destruído

Por minha triste forma de amar!
Adeus, mais novo verso sem sentido,
Morrer, também é em vida se calar!..

(Queiroz Filho)

Esse Divino beijo estonteante,
Que em teus lábios frios, deposito!
Pedaços de amargura e infinito,
que em meu mostra-se gigante


Esse Divino beijo estonteante,
Que em teus lábios frios, deposito!
São pétalas d'um beijo infinito,
que em meu mostra-se gigante

É a luz do meu mais lindo infinito!
E é o que faz teu carinho ser gigante!

É a luz deste esplendor mais infinito

Poema para a voz do amor

Amar o que restou da tua ausência,
É amar todo o silêncio desta sala...
É ouvir com sábia e rara impaciência,
A emudecida Dor que tudo fala…

O amor só é Amor, se for demência!
Se as cores que o silêncio nos exala,
Bem ao ouvido, forem a evidência:
- A mente é um Duende que propala

Aos doidos: - O Amor, só é Ciência,
Se quando a Razão, veloz trem-bala!
Descarrilhar das trilhas da prudência,
Vendo tal tartaruga, superá-la:

- Coração, tolo ser! Sem paciência!
Nuvem doida a flertar com a mandala
Dourada, que em mágica opulência,
É a voz do amor que em nós, sempre se cala...

(Queiroz Filho)

BIBLIOTECA MUNDIAL DE LETRAS Y POESÍA
Palco Antológico - " O Poder da Poesia "
Tema: "Eterno! era bem pouco e se acabou."
Autor: Queiroz Filho
País: Brasil


Poema para a voz do amor

Amar o que restou da tua ausência,
É amar todo o silêncio desta sala...
É ouvir com sábia e rara impaciência,
A emudecida Dor que tudo fala…

O amor só é Amor, se for demência!
Se as cores que o silêncio nos exala,
Bem ao ouvido, for esta evidência:
- A mente é um Duende que propala

Aos doidos: - O Amor, só é Ciência,
Se quando a Razão, veloz trem-bala!
Descarrilhar das trilhas da prudência,
Vendo esta tartaruga, superá-la:

- Coração, tolo ser! Sem paciência!
Nuvem doida a flertar com a mandala
Dourada, que em mágica opulência,
É do amor, a voz, que em nós, se cala...

(Queiroz Filho)

Tudo exiges! Tudo queres, insolência

O outro ser sua trilha, com excelência!

mandala propala
.

O medo é que me deixes ao relento, bem quando a minha alma for só tua!... E for todinho teu, meu pensamento, e eu ir aos braços teus, já toda nua! Qual luminoso éter nevoento, derramar-me bem ao jeito dessa lua: Áureo tapete em mar de sentimento!... Como o anjo do amor, que ledo sua

Com arco a correr atrás de nós Das mais lendas amantes!

Se é mesmo raro, infindo, vasto e poderoso, Este suposto amor que aos berros me ofertas,

Ser os teu olhos; ser o teu sorriso;

Ser os teus lábios. ser tua negra pele;

Ser teu Amor; primeiro e indeciso?

Ser hoje, a cortesã que te repele.


Ser Luz e Forma e Sonho e Poesia,

De delirantes versos transbordantes,

Perder-me entre teus lábios triunfantes;

É ser tristonha até na alegria!


Assim existo! Assim… Aí! Quem diria!

Que mesmo os teus desdéns deselegantes,

Fariam que eu te amasse mais que dantes!

E, em Luz, em mim, as trevas, mudaria!

O genuíno Amor que por mim tens, Vencer a mais sangrenta guerra atroz Unir por vasto Amor nossos destinos,
Ser da Ventura, o renegado filho, E da Tristeza, o gêmeo predileto, É ser do amor, o beijo incompleto, É ser da vida, luz sem nenhum brilho. Por teu amor, do Céu, eu faço teto; Por teu amor, sorrindo me humilho; Pacato Rocinante - O andarilho E vê-lo se apagar no próprio brilho…
Trinta e sete trilhões de células activas E um extraordinário cérebro compacto. Compõem o Deus cruel das criaturas vivas! Bufão maniqueísta!... Oh! Pêndulo exacto…
Ditando as ações espontâneas; reativas. Compõem o predador de todas coisas vivas Meu coração em trágico abandono É o que te fez na vida, o andarilho, Ser do ocaso, um natimorto feto, O esquecimento - Túmulo do Amor; Do desleal Amor desventurado. O que suporta além de humilhado Ser capacho aos pés cruéis do rancor...


Hoje oiço as três Marias reluzentes,

Entoarem nesse santo céu estrelado!

A inexorável orquestra dos ausentes,

E o fim que impuseste ao teu amado!


OUÇAM MEU ROGO, FLORES DE BRINQUEDO,

Ouçam meu rogo, flores de brinquedo, Que fingem tomar sol nessa sacada… Velhas amigas, tenho tanto medo! De aceitar fingir que sou amada! Se pra gozar a vida é sempre cedo, Porque Minh' Alma, Lebre assustada! Pressente o Lobo atrás do arvoredo?... E presa ao temor da emboscada... Entre palores; entre vãos ressábios; Na espera dos teus beijos, os meus lábios! No altar da Esperança, a Fé restaura... Pois sou a Borboleta derradeira, A Ninfa; a Musa; a Deusa Condoreira!... - Fenrir, vens devorar a tua Laura!... (Laura Alves Coimbra)


E SÓ MAIS UMA VEZ HOJE EU TE PEÇO,

E só mais uma vez hoje eu te peço, Depois que já me for, não peças nada. O quanto eu te chorei, não te confesso, Nem mesmo se outra vez, fosse beijada!... Se essa vasta mágoa já nem meço, Após ser desdenhada e desdenhada! E ver-te um Casa Nova de sucesso; E ver-me Soror Dor, tão maculada! Eu, que sem existir, calada, existo… Eu, que dei sopa e manta a esperança; Eu, que te esquecer, jurei a Cristo… Não meço a mágoa, essa aguda lança, Pois a alma que te dei vendo a Mefisto, Em troca dos meus sonhos de criança… (Laura Alves Coimbra)

Ensandecidamente amar teu riso,
Com profusões supremas e ânsia etérea!
Vencer com pouco esforço a face séria
Do ser onde eu me acho e me desliso...

Humana ser de nobre alma etérea,


Ceder à Alma, a glória de tocar-te!
Foi deste triste Amor, o vão dilema...

Deste-me assento à mesa dos contentes
Quando os teus seios sem amor, me deste!

Querer-te insandecidamente assim!...
É ver toda a Minh 'alma em tua íris;
Ver que, mesmo depois de tu partires...
Meus lábios, aos teus lábios, dirão sim!


És o rei desalmado dos gnomos ver-me afogado em tua íris

No sério sonho cínico que sonhas,
Tu és o Rei perpétuo dos gnomos.
E neste frágil enredo, nós dois somos,
Duas imensas; mágicas montanhas!

Pandêmico solstício de verão;
O Sol em Capricórnio às sete e dois!
E o nosso Amor, um sonho pra depois…
Terra, Saturno, Júpiter... conjunção!

As tenebrosas ânsias delatoras,
São olhos que me fitam de meu teto!
Sugam mih'alma e a transforma em feto,
E flagram minhas falhas opressoras...

Eis a insolente peste tenebrosa,
O inato coração!... Músculo feio!...
Perniciosa Esfinge que aqui veio
Ludibriar a vã turba chorosa!...

CARECA, DESDENTADO, BARRIGUDO

Careca, desdentado, barrigudo,
Frustrado, excluído, depressivo,
Ranzinza que mandando às picas, tudo!
Alega ser na vida um morto-vivo!...

Viver só entre a dor e o "contudo",
Morrer atrás daquilo que me privo
Render-se a outro símbolo opressivo;
Fingir-se bem, embora, só e mudo...

Baldado estro inútil, não me enfades!
A mim, a ti e aos outros, não convences.
Teus blábláblás d'amores e saudades,

São vãs acrobacias de circenses!...
Dispenso companhias e amizades,
Oh! Morte, a ti mesma, tu não vences!...

(Queiroz Filho)

Não ter da mágoa, o ansiado alivio,
Mas sempre velhas dores renovadas,
Vendo as lembranças sãs, estranguladas


No Érebo dos seres desprezados,
A vida é um velho túmulo vazio...
E os Sonhos, arco-íris desbotados
P’lo monocromatismo mais sombrio!

Tudo é miséria, tudo é desencanto!
Tudo é tristeza, tudo é angústia e dor
Nem mesmo Deus pudera pressupor
Que a humanidade erraria tanto!

Foste na vida a síntese abstrata
Dos que são sem saber, Maniqueístas!
Cobaias de cristãos Proselitistas
Neblina a engolir as nossas vistas...

"Não morrerás agora, ingênuo ser!"
- Assim disse-me a morte que hoje chamo.
"Não te quero infeliz, não me derramo
Dos olhos dos que choram pra me ver!..."

Se a rosa feia enfeia todo o ramo,
Robusto ou fraco, o sol há de nascer!

O verdadeiro ou o falso gaturamo

Longe de ti, meu sonho é cinza fria;
Lançada sobre a face do Rio Douro!
Longe de ti, meu pranto imorredouro,
Eu sei que outro Mondego, encheria!

Amanhece, Poeta, e ao escrever-te
Dentre arrebóis de altíssimo fulgor,
Engasto a rica rima e, em meio ao flerte
Da vã saudade, oculto a acre Dor!...

Pois foste Tú, o exímio escultor
Desta serena Deusa, que ao perder-te
Perdera toda essência e esplendor!...
Porém, de cá ainda posso ver-te

Contudo, aspiro a hora de rever-te

Inda que minha néscia pena triste
Frustrada assi esteja com meu estro,
Verás que toda a sua Dor consiste

Em abrandar a mágoa que a empresto,
Enquanto ao abandono ela me assiste
Não, ó não hoje não espero vida,



Não morrerás agora, ingênuo ser!
Assim disse-me a morte que hoje chamo.
Não quero-te infeliz, não me derramo
Dos olhos dos que choram pra me ver!...

Se uma rosa feia enfeia o ramo
Belo ou sombrio o sol há de nascer!
Se velho já nem voa o gaturamo

Soneto

Ressuscitas-me já, Celeste Musa!
Do Letes infernal do meu tormento;
Sarcófago voraz do esquecimento;
Onde encerrei a minha fé confusa…

Pois nosso templo sacro reinvento,
E anseio que a Esperança te seduza...
Pois sem teus beijos, santa Ninfa Lusa!
Oh, luz de todo meu contentamento!

Meu estro se reduz a versos tredos...
Só a cor crepuscular do teu sorriso
Pode com todo encanto e farto viço,

Vencer a Esfinge cinza dos meus medos!...
Vencendo as inscrições do Paraíso:
“Paixão?… Intimidade?… Compromisso?…”

( Queiroz Filho)

Na irônica lição da morte adusta,
Habita a alta verdade imaculada...
Mas nossa consciência é atrofiada,
E para ver além, muito lhe custa.

Mas, a mão de Deus, a mão Augusta!
Reerguendo cada fronte estiolada,
Lá mostra-nos, na árvore sagrada!
O fruto remissor da mágoa injusta...

Porém, se isso apenas nos bastasse
E nos fizesse ver dentre os umbrais
Onde a glória de Deus, nos enlaçasse,

Eu te amaria, Santa, muito mais!
Lentamente a tocar a tua  face,
Só pra morrer depois; pleno de Paz!...

(Queiroz Filho)

Ninguém há de abrandar a tua dor
Que te trucida em ânsias Infernais,
Monstro das profundezas, delator!
Dos nossos mais ingênuos ideais.                                        

Torturadores Seres torturados!
Demônios; Pestes pútridas do Inferno!
São teus, junto aos seus corpos decepados,

O nosso monstro habita a casa ao lado...
E a nossa vida não possui mais rosto...
Tudo o que amamos vimos destroçado
Por Sevandijas, párias do desgosto…

Da minha alma, o teu sorriso é ninho!

A savanização da Amazônia,
Do Espírito de Deus, o ertermínio!

Ceder à alma, a glória de tocar-te

Amar ensandescidamente a vida!
Chamar as tortas árvores de irmãs,
Achar sentido só nas cousas vãs:
Voo de inseto; odor de margarida...

À noite, o coaxar das ledas rãs!
Matar Saudade até na despedida...
Ver nesta poça a face assim, tremida
Banho de chuva abrindo as manhãs...


Por culpa deste vento entre as romãs...

Por culpa das aranhas tecelãs...

Nesta poça agitada por romãs
 
Ver rubra a Lua por me ver despida;
Pedir a estas aranhas tecelãs
Chamar as poças d'água de Xamãs...

Desse-me Deus na vida, glória tal
O meu olhar de carne, vão, banal

Corrida ao lago anil, de duas rãs
Criar saudade já na despedida

Depois de tantos males, ter sofrido!
E, do Porvir, se vendo esconjurado,
Abraço-me ao sepulcro do Passado,
Que da Presente dor, se vê tingido…

E ora que me vejo, ao chão, caído,
De Ícaro, relembro a ousadia!...
Que com a morte bem se viu punido
Por almejar a luz dum claro Dia...

Não sejas tu, Josino, um bardo vil,
De outra avarenta Era estuporada!
Se o tempo, só a si próprio é servil,

E a Alma, por desejos, é domada!
O caro Amor que um dia te sorriu,
Morreu por se supor pura e alada...

No Céu dos Vates há de ser achada...
É Laura sempre, é deusa imaculada

Apenas deixe-a morta e enterrada...

Depois de tantos males, ter sofrido!
E, do Porvir, se vendo esconjurado,
Arrombo o vão sepulcro do Passado,
Que da Presente dor, se vê tingido…

E ora que me vejo, ao chão, caído,
De Ícaro, relembro a ousadia!...
Que com a morte bem se viu punido
Por almejar a luz dum claro Dia...

Não sejas tu, Josino, um bardo vil,
De outra avarenta Era estuporada!
Que o tempo, só a si próprio é servil...

E a Alma, pela carne é escravizada!
Se aquele Luso Amor; cruel, mentiu!
Apenas deixe-a morta e enterrada...

Ardendo em febre feito moribundo,
Ou um viciado entregue a overdose...
Fito em delírio, o céu do novo mundo!
Rogando ao Diabo só mais uma dose

E entre uma e outra ausência, sigo!
Um fisiculturista sem cabeça:
Descomunais Pilares da criação!

A tenebrosa noite que se achega
Na morte do crepúsculo dourado.
Este Amor que retumba em meu crânio,
Qual terremoto a dar opostos rumos

Gozar insandescidamente a vida!
Não mais ter páreo entre os bons vivãs...
Sorrindo, ergueu-se em todas manhãs,
Deixar saudade em qualquer despedida.

No Érebo dos seres desprezados,
A vida é um velho túmulo vazio...
E os Sonhos, arco-íris desbotados
P’lo monocromatismo mais sombrio!

Este teu negro coração ranzinza,
Apodrecido em mágoas, ânsias, dores,
Tormento, crimes, lagrimas e horrores,
Nublou teu Perispírito de cinza...

Panaceia

Não sei se isto que digo é poesia,
Tampouco saberei se sou Poeta,
Se a minha abordagem é discreta,
É por não ter estilo e nem magia.

Trago de inspiração só a utopia
Do operário triste, que, sem meta,
Espreme-se no trem e lá vegeta
Em prol de uma Paz vã e tardia.

Não sei bravos colegas de ofício,
Na fala realçar o que ora escrevo,
Não tenho nem um parco artifício

E cantar o Amor já não me atrevo...
Românticos?... Que mofem num hospício!...
Fornicarei até com quem não devo...

(Queiroz Filho)

A falsa calmaria dos aflitos,
Destes parasuicidas desgraçados,
Que o faz rememorar sonhos bonitos
Em prol de ocultar males passados...

Não ser sequer o esquálido arremedo 
Do efêmero triunfo dos teus risos

Criança vã... Coveira de formigas!
Colhidas flores para os seus velórios...
Nas solidões das tardes sem cantigas,

O esvanecido amor inda retumba,
Nós negros labirintos do meu crânio!
Tutan Camon do Amor na catatumba,

Faz de Conta

Um dia me disseste envaidecida
Do nosso benfazejo faz de conta,
Dizias: - Como a vida nos apronta!...
Queria ser-te espelho nessa vida!...

E aqui com minha voz arrefecida
Pela ilusão que tanto nos afronta,
Te disse: - Menininha, és uma tonta
Em me dizer tal estória descabida!

Pois a minha imagem se sustenta
Na escuridão que ora a convalesce
De uma ânsia vil que só aumenta

A dor que o meu espírito embrutece
E quem de refleti-la, aqui se inventa,
Do amor dos infelizes, enlouquece...

13/05/11 ( Queiroz Filho )

Ah! Na festa após o Batizado...
Eu vi um Anjo em uma calça creme!
Dançar risonho no seu treme-treme,
Um batidão de Funk estilizado...

Meu coração que até agora geme
Assim confuso e assaz contrariado!
Fantasiou-me o beijo jamais dado
No dito Anjo sem sua calça creme!...

Embora saiba, o farto disparate
Que é querê-la em mim, por toda Vida!
Só o nome seu, que neste peito, bate:

Sensual Ser Margarida! Margarida!...
Que o cálice que engulo, antes, me mate!
Que o teu ativo olhar de Despedida...

(Queiroz Filho)   

Caronte, catastrófico barqueiro!

Imaculado Anjo de Alma infinda!
Amar-te tanto assim, quem poderia?
Que Deus com tal primor te fez tão linda!
Que poeta, além de mim, te merecia?

És de Bernini, o êxtase da Santa

Quisera, pra fugir do claustro triste,
Dos velhos; melancólicos delírios!
Ser o homem solitário que resiste
A nunca ver acesa a Luz dos Círios...                                         

Mandas-me um beijo, Amor, só um, apenas!
Mesmo que frio, e vago e sem sentido.
Pois sei que só um teu vale centenas
E é tudo o que em vida hei perseguido

Qual a velha e falida casa do Agra, 
Velhas faliram minhas esperanças!
Enquanto a morte, entidade magra
Aguarda-me ansiosa em suas matanças..

Bizarro metanógeno de Encélado

Qual a velha e falida casa do Agra, 
Falidas; velhas são minhas esp'ranças!
Enquanto a morte, entidade magra

Nesta soturna paisagem fria
Que observo aqui do meu quintal,
Sopra-me o vento da melancolia
Tornando o amor um vento mui banal...

Serenamente, Lúcia, tu esculpes,
Lindas palavras plenas de magia.
Devolves, com louvor, a poesia,
Que oferto-te, por isso, me desculpes!

O nosso monstro habita a casa ao lado...
E a nossa vida não possui mais rosto...
Tudo o que amamos vimos destroçado
Por Sevandijas, párias do desgosto…

Porém, unimo-nos no ódio decomposto,

Pelas macabras Bruxas do desgosto…

Oh ilógico e triste Amor incauto!
De sempre velhas dores renovadas,
Sentes a angustia de almas condenadas
Pelo absurdo de sonharem alto.

Perdê-la, não perdi, mas a vaidade,
Sim! Por seres quem és: - Bela e cruel!
E só foi meu teu corpo e sem vontade...
Teus buliçosos olhos sempre ao léu,

Fiéis aos do imoral Marquês de Sade!...,
Não trago dos hipócritas, o véu!
Nem dos devassos sei da irmandade.
Porém, o do acanhado menestrel,

Sugado por tua boca, mãos e vozes,
Ao contemplar-te, oh! Angélica cocote!
Iludo-me deitando ao peito, dozes,

Tarde frienta; Céu assaz nublado;
Manga gostosa; Beijos e edredom;
O meu Amor deitado ao meu lado;
Televisor ligado, mas sem som.

Eu colocando meias em seus pés;
Ela a sorrir por simples gratidão.
Vida sonhada sem nenhum revés?...
Cabeça ao ombro; Deus no coração;

Lua rosada; Filme em preto e branco;
Olhos pesados; Ronco; dois suspiros;
Cão a uivar um réquiem muito franco!

Três pesadelos... Trágicos retiros!...
Cálido Ponto Azul... Outro atravanco...
Plantão!... Foco em Wuhan... Coronavírus!

(Queiroz Filho)

Viver para o porvir dos teus ardores,
Razão transcendental dos meus anelos;
Sentir bem ante mim teus seios belos;
Regerem os olhos meus e os meus furores

Inda que tu, do teu Amor, me prives,
Eu vencerei montanhas, rios e vales,
Penedos, mares, pontes, céus, declives
Pra suplicar-te: - Amor, oh, não me cales!

Pois reges minha alma e nela vives!
És mais que só a cura dos meus males,

Estavas Certa, Amor! Estavas certa!
Eu mesmo aprisionei nossa saudade.
Mas, para a Dor, deixei a porta aberta…
E transformei inércia em maldade.

Ah! cada verso teu era um alerta
Que a moribunda pira da saudade

Bebas em mim, Amor, o teu lirismo,
Que eu sugo em ti, a minha poesia,
Pois teu Ardor: Lampejos de alegria
Jorra em mim santo um erotismo

O que de nós restou além de pranto?
Um tenebroso amor desmesurado

Ah! Este mundo, Amor, não nos pertence!
Quero viver na Luz de teu sorriso

Tomar assento à mesa dos contentes?
Ingênuo desvario dos meus dias

Se a tua solidão se unir a minha,
E só uma Alma, pelo mundo, formos!
A Dor de existir que me espezinha,
Quedar-se-á na Ode que compormos…

Virá no último verso que compormos

Um pássaro chamado Cléro-Cléro!
Pousou um dia, em nossa errônea ilha...

Se Amor é Luz e Fogo e Paz e Riso
E Deus e Cristo e pranto e alegria,
Meu coração é a própria Poesia,
Fitando o olhar de Deus, vago; indeciso

No brando alvorecer das Almas gratas,
Reacendo, meu Amor, nossas Auroras…
E beijo a tua Alma, enquanto choras
Teus versos de ululanes serenatas

Enlear-me ao aroma dos perfumes
Do teu divino corpo que venero
Ver no dia da glória, o qual espero
O fim cabal dos nossos azedumes!

A meiga franja rubra; Apaixonante,
Que sobre um mago riso, então pendia!
Fez dessa minha rara hora galante, 
A nossa mais perpétua poesia

Um arrebol d’ Amor , muito distante!

Se do que te amo, amas muito além,
Se é sempre mais intensa a tua entrega,
Se dos meus Sonhos, faço-te refém;
Se a chama deste Amor, inda me cega,

Oh! Me ensinas a amar assim também!
Pois quem de Amor, a falta, humilde, alega,
Confirma não só amar quando convém!
Se o teu carinho a mim, nunca se nega,

Por isso, Anjo de luz, eu te pertenço!
E louvo o Amor na Atlantica vitória:
Saudade enforcada em nosso lenço!
- Relíquia Perfumosa e merencória!

Ninguém há de abrandar a tua dor
Que te trucida em ânsias infernais,
Monstro das profundezas, delator!
Dos meus mais descabidos ideais…

Nesta caverna negra e pavorosa,
Tomada por morcegos pestilentos,
Carcaças, crânios, vermes, desalentos...
Resquícios da paixão mais milagrosa,

Vivemos (Quem crerá?) dias contentos!
Até que a imunda Hiena assaz odiosa!
Em nossas jugulares, impiedosa!
Um rubro lago fez dos sangramentos

Meu triste mestre Elmano, eis teu Josino!
Poeta Americano e um teu pupilo,
Embora, entre mil Musas, meu destino,

A rósea auréola rara dos teus seios,
Oh! Insinuante Deusa pecadora!
Magnificentemente encantadora!

A rósea auréola rara dos teus seios,
Oh! Insinuante Deusa pecadora!
No Luvre livre vive a Deusa estátua.
De Salmotrácia, a fúlgida vitória!

Há nos teus olhos, plenos de recato,
Duas infinitas fontes de Ternura...
O mágico ondular; fagueiro; exato!
Ressaca feita apenas de candura.

Há nos teus olhos, plenos de recato,
Da imaculada fonte da ternura,
O mágico ondular; fagueiro; exato!
Ressaca feita apenas de candura

Na austera solidão devastadora,
Em que ouvir insetos, me comprazo!
Lembro contrariado da cantora...
Fitando, ao escaninho, um velho vaso...

As feias folhas secas na sacada
O empoeirado rádio sem concerto
Ao peito o persistente e fundo aperto
E a alma, velha casa abandonada

Se verdadeiramente fosses minha;
Se o Amor que glorifica te encantasse;
Se a Luz que há neste amor, te arrebatasse,
Tal qual ao sol, a lua se alinha,

Eu colaria à minha, a tua face.

E ébrio na taverna dos insanos,
Qual um velho e esquecido iconoclasta

"Não morrerás agora ingênuo ser!"
- Assim, disse-me a morte, que hoje chamo!
Não quero-te infeliz; não me derramo
Dos olhos dos que choram pra me ver...

Se a rosa feia enfeia todo o ramo
Indiferente, o sol, virá lhe arder...

Qual a velha e falida casa do Agra, 
Velhas faliram minhas esperanças!
Enquanto a morte, entidade magra
Aguarda-me ansiosa em suas matanças...

O esquecimento é o túmulo do amor,
Do desleal amor Desventurado,
E em amnésia assaz qualificado!
Eu torno-me um nobre; alto doutor.

Qual a velha e falida casa do Agra, 
Velhas faliram minhas esperanças!
Enquanto a morte, entidade magra!
Prepara o meu lugar em suas matanças...

Divina morte! Treva que consagra
O reino triunfal das horas mansas

Numa caverna negra e pavorosa
Tomada por rancores pestilentos,
Carcaças, crânios, vermes, desalentos,
Resquícios da paixão mais milagrosa,

Beijos ferozes; noite sem lamentos…
Oh! Minha Mariposa langorosa!...
Vivemos sob a sombra invejosa,
Vivendo, quem crerá? dias contentos...

Oscilas entre mágoas e alegrias
E entre grandes milagres e pecados
Tornando as tristes horas de teus dias,
Um canto de Amor aos desgraçados...

Se o tempo, hoje, a ti, só é castigo
Que tu, enfim, o aceites sem revolta.
Abraça-te à desgraça que te escolta
Desde o teu tolo sonho mais antigo.

Por qualquer bestial reviravolta,
Não faças de teu ódio, o falso amigo!
Antes viver no mundo sem abrigo,
A relembrar o agravo já sem volta!

Quando a Morte te arrostar solene
No derradeiro instante de teus dias,
Tu, enfim, te lembrarás das alegrias
Vividas em teus sonhos com  Irene.

Fictícios gozos; falsas nostalgias

Eis que nos chega outro carnaval,
Lançando largos risos na avenida,
Sambódromo lotado... Foi-se a vida
Que há pouco era torpe e desleal...

Legado de uma Europa medial,
Redobra-se de excessos e bebidas,
Lançando em nossas faces iludidas
A sensação de um êxtase imortal...

Atormentado Espírito obscuro
Vinde comigo ver as trevas turvas!
Da Lilith sinistra, as amplas curvas,
De Príapo a ansiar o membro duro!...

Em noites de macabros pesadelos,
Uma maçante angústia me devora!
Talvez a Dor de vê-la indo embora;
E a de não mais tocar os teus cabelos!

Oh! Imaginação devastadora,
Os nossos sonhos, como hei de revê-los?
Que afago alcançará os nossos zelos?
Qual outra ave será, minha canora?

Na luz destes teus olhos cristalinos,
Encerram-se os preceitos da verdade,

O Espírito que o teu corpo habita,
Possui a asa das aves vencedoras
E a prece só por Deus, apenas dita:
Refúgio de almas trises; sofredoras.

Que é refugio de almas pecadoras
E a luz do astro rei que lá crepita
A derradeira Dor que entrecorta

As tremulantes carnes dos aflitos

As tremulantes íris dos aflitos malditos

Ando tão farto deste Amor insano,
Que só se gasta e nunca amadurece,
E osçila entre a crença e desengano,
Sussura maldição e cospe prece!...

Quisera pra fugir do claustro triste,
Dos velhos; Melancólicos delírios!
Ser o homem solitário que resiste
A nunca ver acesa a Luz dos Círios...                                         

Mandas-me um beijo, Amor, só um, apenas!
Mesmo que frio, e vago e sem sentido.
Pois sei que só um teu, vale centenas
Dos que por mal ou bem tenho obtido!...

Imaculado Anjo de Alma infinda!
Amar-te tanto assim, quem poderia?
Que Deus com tal primor te fez tão linda!
Que poeta, além de mim, te merecia?

És de Bernini, o êxtase da Santa
Se de Bernini, o êxtase da Santa

Não quis te magoar, amor, perdoa
Um tosco e amedrontado coração!
Não choro!... Já aprendi a tua lição:
- Promessa de Poeta é coisa à toa!...

Pois vivem subornando a solidão,
E eu vivo a perdoar quem me magoa!
E embora alegue, há saudade boa,
Mas nunca me chamaram de irmão!...

Qual lépido Corcel intransigente,
O Céu dos olhos teus, ditoso, galgo!
Alada ninfa d'Alma incandescente,
Espero aflito que me digam algo!...

E quedos feito um gélido poente;
Desesperados qual burguês fidalgo!...

Já nem teus olhos mais me dizem algo...
Cego sigo sendo o sonho sem sentido
Se ao menos eles me dissessem algo!
Oh! Já nem eles mais me dizem algo

Ninguém há de abrandar a tua Dor
Que te trucida em ânsias infernais!
Monstro das profundezas, Delator!
Dos nossos mais ingênuos ideais…

Pois teus olhos, sepulcros violados
Pelas depravações do meu Desejo
Viu o amor nos teus beijos gelados,

Que importa, Anjo, não termos mais pejo?
Se em Vida, à Morte, fomos condenados?                                   
E é o nosso regozijo um vão lampejo?

Eis meu adeus a ti, ó mocidade!

Nesta caverna negra e pavorosa,
Tomada por morcegos pestilentos,
Carcaças, crânios, vermes, desalentos...
Resquícios da paixão mais milagrosa,

Achamos, quem crerá? ledos momentos!
Até que a imunda Hiena pegajosa!
Rasgando a tua carne, impiedosa!
Quadriplicou os nossos sangramentos...

Meu triste mestre Elmano, eis teu Josino!
Poeta Americano e um teu pupilo,
Embora, entre mil Musas, meu destino,

Vencemos, quem crerá? teus sangramentos!

"Não morrerás agora ingênuo ser!"
- Assim, disse-me a morte, que hoje chamo!
"Não te quero infeliz; não me derramo
Dos olhos dos que choram pra me ver..."

A rósea auréola rara dos teus seios,
Oh! Insinuante Deusa pecadora!
A rósea auréola rara dos teus seios,
Oh! Insinuante Deusa pecadora!

Há nos teus olhos, plenos de recato,
Duas infinitas fontes de Ternura...
O mágico ondular; fagueiro; exato!
Ressaca feita apenas de candura.

Na austera solidão devastadora
Com que ouvir vizinhos, me comprazo!
Forçosamente lembro-me cantora
Sobre um escaninho fito um velho vaso

Se a rosa feia enfeia todo o ramo
Indiferente o sol há de nascer...

Qual a velha e falida casa do Agra, 
Velhas, fanaram minhas esperanças!
Enquanto a morte, entidade magra

 Se verdadeiramente fosses minha
 se o Amor que glorifica te encantasse
 Deus uniria, à minha, a tua face

As feias folhas secas na calçada...
Que do abacateiro, ao lado, posto!
Caiam como as lágrimas do rosto
Da pobre; velha casa abandonada

O empoeirado rádio sem concerto...
Ao peito, o persistente e fundo aperto,
E a alma, velha casa abandonada...

As feias folhas secas na calçada,
Sobem ao céu ao som do sério vento,
Antecedendo a rude trovoada!
Clara a deixar assim, o céu cinzento.

É noite; vem a chuva anunciada,
Trazer em melancólico lamento!
De novo as folhas secas da sacada
Um último consolo. um momento

Guiando-as em linda sincronia!

Roladas lentamente pelo vento,
São tristes como a pomba desprezada

Que sob um belo som, rolam molengas

Deslizam-se ao vento, estridentes!
Deslizam-se tristonhas; melancólicas
Deslizam entre ruídos estridentes!

A reciprocidade inexorável

Que em nossa duas almas, bem retumba

Se o Amor que glorifica, te encantasse!
Eu venceria a dor que me espezinha!
Esse vazio da vida que me espinha
Deste lindo horizonte, a

Se verdadeiramente fosses minha,                                   
Se o Amor que em mim trepida, te tocasse!
Se a Luz que há nele, enfim, te arrebatasse,
Eu venceria a Dor que me espezinha!...

A mesma dor que a cada aurora nasce,

A dor da solidão que em mim renasce

Pois dos opostos é que o amor nasce,
Plebeu a desposar a sua rainha.

Plebeus hão de sonhar com sua rainha!


Ao teu desdém, diria: -me transpasse!
Viver às custas desse falso empasse,
Plebeu beijando os pés de sua rainha!

Na espera que esse pranto, aí, secasse

Plebeu que se ergue às custas da rainha!
Viver às custas desse falso empasse,
Ser um plebeu e amando uma rainha?

Ao teu desdém, dizendo: - Me transpasse!
De reviver o mesmo velho o impasse!

De reviver a todo instante, o impasse!
Dizendo ao teu desdém que me transspasse

Distância atroz... oh trágico empasse!
Se a maõ que diz Adeus, entreçassasse

Marítima distância; vil empasse!
No trono dos meus sonhos, tu, rainha
Se a tua mão de Adeus, reenlaçasse

Como quem com prazer a afogasse
Etéreo sol, espírito que nasce

Essa distância, trágico empasse!
Com uma janela, enfim, desemperrada,

Ao sol esperança que não nasce

Com o tal ardor que em ti, antes, continha,

Porém nem eles mais me dizem algo!

Não ser sequer o esquálido arremedo
Do efêmero triunfo dos teus risos
Mas, subjugado aos sonhos imprecisos
Dos quais o de perder-te, trago o medo.

A falsa calmaria dos aflitos,
Destes parasuicidas engodados,
Fizeram-nos lembrar sonhos bonitos
Em prol de ocultar males passados...

Ser feliz é amar perdidamente
a rosa, o riso, o pássaro ferido.
Despertar em teus braços, de repente!
Sorrir enquanto o teu cabelo aliso,

Oh! te amar, Amor, e ser contente!

Fazê-lo ver que é só o que preciso



Notares que só é isso que preciso, 

Tornou-se este apagado e morto astro...

Quero sentir teu peito arder em brasa,
Chorando ante a beleza de um sorriso;
Ver tilintar ao som de um alegre guiso
O sino aos bem-te-vis de tua casa!

Sentir a tua mão quando num abismo
Eu já estiver entregue às desgraças...

Rever os tristes anos que levaram
O tudo do melhor que havia em mim...
Pedir perdão àqueles que me amaram
E que pelos meus crimes teve fim...

Eu quero explodir num desespero
Que me faça perder todo o sentido
Roubar dos lábios teus, esse tempero

No limiar macabro de teus Dias,
Arqueiro funerário do desgosto,
Lançaste frechas de melancolias.
Mas contra Ó! Tolice - O próprio rosto!



Qual bioluminescentes cogumelos,
Devoradores de hidrocarbonetos,
Reluzem, sem razão, os meus sonetos,
Já fartos da ilusão de serem belos!

Oh! Espectros de covardes Admetos,
Com o cadáver frio dos meus anelos,
Lançam ao D'ouro e ao Letes, paralelos,
Setenta e duas virgens d'olhos pretos!...

Que eu morra aos braços teus, piedosa Alceste!
De ti, a ouvir: - Que algo além te reste,
Que os lábios sem amor d'outras mulheres!

A Dor dos mortos, vivo em cada poro!
Assim, oh! Esposo meu, morro e te imploro:
- Honres meu sacrifício, Rei de feres!...

(Queiroz Filho)

Macabra solidão devastadora,
Espectro sepulcral do meu Passado:
E o aluno epiléptico e calado;
Em vão segredo a amar a professora?...

O Que restara, monstro debochado?
Oh! Errante assombração perseguidora!
Digas de vez!... Caveira ceifadora!
Não dizes?... Digo! Um ser amedrontado.

Musa partida em um passe de mágica!...
A transformar o Amor em dura ausência...
E em tresloucada gula antropofágica!


Cravaste em mim a adaga da demência…
Sabes tão bem fazer-me desgraçado

Demétrio a desdenhar a amada Helena?
Em fuga, por Amor, Hérnia e Lisandro!
Partindo como um lépido escafandro,

Em fuga, qual escafandro, Hérnia e Lisandro!
Em fuga qual tal lépido escafandro

Em fuga qual ligeiro escafandro
Oh! Quem crerá? Lisandro e sua Hermia?

Lisandro em fuga com Hermia

Musa partida em um passe de mágica!...
Tu transformaste o Amor em dura ausência...
E em tresloucada gula antropofágica!
Cravaste em mim a adaga da demência…

Se eu for de Apolo, em jogos, novo aluno!...


Esta triste mulher que se espreguiça,

Completamente nua e adormecida,

Cá a sonhar, quiçá, com outra vida,

Muito atiçou-me como agora atiça!


Jamais eu trocaria por um beijo,

No Tártaro Alceste eu deixei-te;
Se é justa com o Amor, não me rejeite
Cocito e Letes correm paralelos!

São Reis mas de covardes Admetos,
Correndo quais dois D'ouros paralelos:

Trezentos e sessenta e cinco elos,
Meu Tártaro de Alcestes e Admetos,

À morte condenando um ser singelo...

Num Tártaros de Alcestes e Admetos,

Em langoroso frêmito esparso
Serpenteando ao Éter transcendente,


Os meus, dois louva-a-deus decapitados
Por carnívoras plantas Lisboetas



fevereiro 14, 2023
DEUSA MORTA

No coração de todas as Mulheres,
Crepita algum mistério insondável,
Mas tu, pacóvio moço, não esperes
Vencer-lhe o régio fogo formidável!

Pois ele jaz ao cofre impenetrável
Da mística opulência dos prazeres...
Por todo o Amor, inútil é tu sofreres
Se o etéreo Bem é sonho fatigável!...

Acalma-te nos braços dessa Amante
Que as tuas solidões, sempre conforta!
E aos teus deslizes, vive irrelevante.

E nem de outros Carinhos, te aborta...
Que amar uma só mulher e ser constante,
É como que adorar u'a Deusa morta...

(Queiroz Filho)





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