Idílio


Queixumes do pastor Josino

Contra a Falsidade da Pastora Nicélia


Arrojado sob a Luz do áureo agreste,                                                                                             Onde retém Febo a fúria de um felino,                                                                                             Que o semblante traz da celebre peste                                                                                              Que Belerofonte bem fora o assassino!                                                                                              Despido da sombra do ignóbil cipreste:

Almo conselheiro ao atroz desatino!...

Sorvendo em haustos os ares celestes,

Que, consigo, trazem o viço matutino,

Do encantante Zéfiro, que já prestes,

De inflamar se vê o santo Céu benino,

Onde o Alado Minino, isento de vestes,

Da faculdade Idália, é ministro Dino,

Que ao ombro visto do herói d’Alceste;

Co subjugosos Dons ao humano destino;

Exculpe proezas que só Amor investe,

Contra todo infante seio peregrino;

Que ainda sojugado a se ver deteste,

Bem ao ouvido legará cupidinoso hino!

Que do congruente encanto se reveste,

Que faz que Zéfiro frágil e franzino,

Em vil Aquilão a soprar se desembeste,

Que em tal revés põe da Natura o tino;

Lá a‘spádua do Sul avistando o Oeste,

Tendo a face a tombar qual espúrio suíno

Que de bruta merencória se infeste,

De antes provar assaz veneno viperino!

E inda que o Amante ao Amor proteste,

E o tonante Jove, já iroso e ferino,

Por vez debalde o seu raio empreste,

Mais Êxito terá em pálido Delfino!

Visto que, queixá-lo á si ficar só reste,

Sob o largo frejo de um porvir sovino,

Por óutrem que o seio seu requeste,

Envolto já ao plácido murmurar Divino,

Do lascivo riacho, que em sua face ateste:


Josino



Cá está a matutar o embeiçado Josino!

Por cousa Mal lhe ser pertinaz idéia,

Pela memória, combatida e soberana,

Qual simílimas são as graças de Medéia,

Que do viril Jasão a Estória fez ufana;

Enquanto lendo os áureos evos de Astréia

Posto me encontro em tal quimera insana,

De Orfeu crendo ouvir a alta melopéia,

Da Lira, que o Averno de Hades rompera,

À Eurídice, reaver da negra assembléia!

Que plo agoiro fatal duma serpe morrera,

E, eis que o intrépido músico amante,

Por Prosérpina e Hades alertado fora

De fitá-la, só dos confins, á diante,

Porém, o triste moço levado por hora!

De rojo não se vê do feito confiante,

E dos Deuses a ordem violando chora!

Sedento da esposa, que a nevoas, em meio,

Esvaindo-se vai, sob as notas cabais;

Que o órfão maestro pungira-lhe ao seio,

E a harmonia levam de um nunca mais!...

Que se ao seu desdém outro amor não veio

Contudo, lhe vinheram Últrices fatais,

Extirpadoras infames do etéreo enleio

Que em terrena vida não haverá jamais!

Pois se amor da humana matéria é alheio,

Bem elevar-se sabe aos planos astrais

De onde me vinhera o flébil devaneio,

Que sob mil soluços me alimenta os ais,

Conquanto, a minha voz assi titubeio,

Feito o ermo zunido de vento no cais;

Nestas ledas margens de pranto sem freio

Que das mágoas minhas fazem funerais!

Quão em Natalícia gleba, a alma, receio,

Dar à vil inconstância de dizeres tais!

Receando de Ti, ó Ninfa, o recreio,

Que bela se esmalta aos leitos fluviais

O cabelo ondeante sob as águas, cheio,

Que por assaz Beleza não mede rivais!...

Ao dorso, a mão içando em doce asseio,

Na vista já ordenando os dardos letais,

Que do Cupido herdara o fascinante veio;

E o augusto fulgor contém dos cristais!

Oh! Absorto onde meu testamento leio,

Sem contas dar, do Tempo, aos anais,

Senecta erguendo a alma que baqueio,

Lá a arrastar-se do Elíseo, aos umbrais,

Que só ao contemplá-la em curto passeio,

Já a vista me fere como dois punhais!

Que por mui ousado e atrevido anseio,

Qual da média idade, os bobos jograis,

Ser a Ti quão as trevas é ao mocho feio,

Que aos olhos encerra os lumes mais reais;

Oh! Tanto, não creria no que tanto creio,

Ter Reco a Sorte ou servos tão leais...

E de vazias mãos ao Tirano amor vozeio:

Que fermoso seio, que osc’los imortais,

Quebrarão dest’ alma tão duros grilhões?

Que de meu sabido Nume o sopro devora,

E de Apolo implora, da Lira, as canções,

Que mais belos faz os Jardins de Flora,

Cos cristalinos lírios envoltos em milhões,

Por onde me achegando, Elsinda, agora,

Inquirindo-me vai  tão onerosas questões:


Elsinda


Que tu fazes Píramo, da choupana, fora,

Acaso, lá procuras, no Céu, soluções,

Que apenas na Augural Ciência mora?

No dorso, nascida, das constelações!

Não vês que a Febéia carruagem, embora,

Já se fora cos seus valentíssimos leões,

Os ares aclamar da Ocidental Aurora?

Dos campos, não te aprazem, as imensidões?

Onde a Paz, seu espr’ito, virginal aflora,

Extasiando, dos amantes, os corações!

Porventura a Soidão teu coração devora,

Qual larvas potentes de fervidos vulcões?

Pois, plo muito amar-te digo-te sem demora:

Se ao teu peito ardem áridos sertões,

Que de lúgubres cores teu leito decoram,

Conduzindo-te a suplicantes sensações,

Que ‘té as proles de Hades por ti lá oram

No Caos profundo em calabouços e prisões!

Onde os injustos e pecadores, moram,

Gemendo na Dor dos ímpios arpões...

Se acaso em teu seio pleno, namoram,

Em total desvario, Mil desrazões,






Que faz com que Cupido Psique deteste


Ao ouvido sobrará Cupidinoso hino

Que faz com que Zéfiro frágil e franzino

Em rudo Aquilão a soprar se desembeste

Lá a‘spádua do Sul avistando o Oeste



De vista valorosa qual vivos cristais!

Pois se em Natalícias glebas a alma arreio


Início: 7/12/2006 01h15min: 44




Nas Calipígias ancas meu desejo leio

portais






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