Parabéns, José. Você está curado!

 15.01.2013


Por volta dos meus 19 anos de idade, o médico com quem me consultava, decidiu parar gradativamente o meu medicamento; tomava, então, (não me recordo o período exato), a metade do comprimido, depois um um quarto, depois um terço, até cortá-lo de vez. Assim o fiz e, nessa época tomava apenas o Fenobarbital, (Gardenal).

Nessa fase da minha vida, era bastante prudente e respeitoso com minha condição e limitação: não adquiri nenhum vício idiota que pudesse agravar a tal doença, contudo, ainda assim, após um ano, mais ou menos, sem a dependência do medicamento, numa linda tarde, talvez de dezembro, estava com meus amigos a pintar o muro da escola, sentia-me como nunca, útil e libertado do infame estigma.

Até que ela veio, mas não como das outras vezes que me dava alguns segundos de lucidez, talvez um sexto sentido, acho, pois todos que lidam com essa doença, sabem, ainda que por alguns segundos, a hora que ela em nós se manifesta, enfim, a sua força foi tão descomunal que não me deu tempo, sequer de percebê-la. Apenas me recordo dois dos antagônicos momentos: daquele que estava a pintar com os amigos e daquele já deitado sobre o leito hospitalar.

Depois dessa reviravolta e frustração, tive que voltar a tomar, não só o Fenobarbital, mas também o Carbamazepina. A tarefa mais difícil ai, é sensação de submissão que recai sobre nós em relação a doença. O lado bom de tudo isso foi que após essa crise, nunca mais tive nenhuma outra, apenas aqueles lapsos súbitos de memória, muito corriqueiros em mim.

E como havia dito no início, minha conduta depois dos vinte anos, para um rapaz dependente de remédios, foi lastimável, vieram, então, os mais estúpidos vícios: o fumo, a bebida e as noitadas. Tudo pendia para um agravo ainda maior da doença, em decorrência da minha negligência com minha própria saúde, mas para o meu espanto, a epilepsia jamais se manifestou depois disso. Sentia-me sem dúvida, curado, por mais idiota que fossem as minhas atitudes, (ou falta delas).

Enfim, Ninha, para concluir, hoje não tomo mais nenhum remédio, meu último eletroencefalograma não acusou nada de anormal nas minhas funções cerebrais, foi por isso, creio, que o doutor me liberou de tomar os remédios e me relatou a mais esperada notícia de minha vida: - Parabéns, José! Você está curado!

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