Poesias Olavo Bilac
PROFISSAO DE FE
Le poctc est cis eleu r, Le ciseleur est po et<>.
VICTOR H UGO.
Nao quero o Zeus Capitolino Her caleo e bello
Tallt(,/ , no marmore dioino
Com o camar tello.
Que outro - new eu! - a pedra corle Pat' a, brutal,
E rgu,e, de Athene o altivo porte
Descom munal.
Mais qne esse onlto extraordinario, Que assombra a vista,
Sed11:;-111 e um leoe relicario De Jino ar tista.
Jnoejo o ourives quando escreoo : Imito o amor
2 PROFlSSAO DE FE
Com que elle, em ouro, o alto relevo Faz de uma jl6r
Imito-o. E pois, nem de Carrara A ped1'a firo :
0 alvo erustal, a pedra rara,
0 onyx prefiro.
Por isso, corre, por servir-me, Sabre o papel
A penna, com·o em prata ji..rme
Co1·re o cinzel.
Corre; desen!ta, enfeita a imagem,
A. idea veste :
Cinge-lhe ao corpo a amp/a roupagem A:;ul-celeste.
Torce, aprimora, (1/teia, /;,ma
.-l phrase; e, emji..m,
Ho verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.
Quero que a estrophe crystallina, Dobrada ao geito
Do ourives, saia da ojji..eina Scm um defeito :
E que o lavor d-o ·oers o, ac<J>So, Por tao subtil,
PROf IS:SAO DE FE 3
I'r)svt o laoor lemurar de um rnso
De /Jecerril.
I•: horas sem conto passo, mudo, () olhar attento,
A tr((lirtlhar, lfJnr1r· de t11d ,1
{J f!C/IS(l/Jlf'/1 fo.
/ Jo r qu e o r•.w:r r· cer - tanta perir.:lrt, Tania requ er ,
f.J11e o(licio to/ .. nelli. lia noticia
De 011t1 · fJ qualquer.
, \ ssi m procl'r/(). Jli11h" penI11t
.'-,'r•u1tf' f'Str1 norma,
/Jor te ,-wrrir, /Je11 s rt s r: I'('11" ,
,<.;r· 1·r·w 1 Fril'l11rt !
Deusa!. \ onrlrt ril, r1Ite se r1rulur11(f De w,1 to1·1·,i I,uu·,
Jk ir. a -11 c1·eser•I·, e o lrido e o espu'nlll
/ Jr: i..nr-a 1·0l,11· !
Hl11.,1il,e1,10, em gr·ita s11rdr1 1 horrenclo Jmpeto, o /1(1(1(/0
\ ' ('11 /ia rl,o. /Jaruaros <.: l'e.w.:enrl o,
\', i1·1 j'erando ...
/ Jr •in 1-r > : que venha e uic,afl(/o passe
- Ban do fero..!
PIWFJSSAO DE FE
Srio se te mude a car da jacc E o tom da ooz !
Olha-os s6mente, armada e prompta, Radiante e bella :
E, ao brar;o o escudo, a raioa affronta D'essa proeella !
Este que dfrente oem, e o todo Possue m inaz
De llln Vandalo ou de um Wisigodo Cruel e auda-::;;
Este, que, dentre os mais, o vulto Ferrenlw alteia,
E, em jaeto, expelle o amargo insulto Que te enlameia :
l!,' em oiio que as forr;as eanr;a, e d lueta Se atira; e em ciio
Que brande no ar a mara /Jruta
A /Jruta miio .
:Vao nwl'rerds, Deusa sublime.' Do tltrono egregio
.hs11:dirds intaeta ao Cl'ime Do sacrilegio.
E, se morr eres poroentura, Possa eu morrer
Pitt 11'1'-.'-,\(J DE FE G
r:,)111 ti.r;o, e a mes ma noite escura Yo.'i c 111·0 I re r /
. \Ii! rPt' por /l'rra, profanada, A aNt pru·ti,lo,
Ea :\ r,,t im11,ol'ial ao8 pes colcada,
Prostit11i,lo ! ..•
\'f'r de,·r·il/(/r 1l1J f'terno solio
r J /Icllo, ,, 11 .'ion,.
r J11ri1· rla 11111•1/(f rlo Acropolio,
/J1J l'ru·f/if'111J11 ! ...
.\1'111 . 1/Cl'rrlrde, a ('1·1'/l\'O 111ort" Senti1·, e 11 susto
\ er , e o rr•.
fr r m i n i o , e11/ra111l0 rt pocta
Do te1111il1J r111r;u. {1Ji ...
i-,,,, estrt lillflll(l, (jllf' 1·11I tiro,
SI' Ill () /l/'/J/JCi.<;,
.\l i r l'lu /11 ao !talito nocino
1J/J., infil'is .'...
⦁ Yrio ! .\]IJI'/'(/ tllrlo () I/Ill' mee ('(//'(),
Fi,1111• eu . 1,.,in!w!
fJ111· 111111 enconfrl' um s1i (/mparo
Fm 1111•u 1·11111in!w !
fJ111' 11 111i11/i11 ,1,i,· w•111 a 1w1 (/migo
In'!';/'(' ,/ij ..'
6 P R OF ISS .\ 0 DE FE
Mas, ah! f]_ue cu .fifJ.ue so co rnt i go.
Com tigo so!
V ive! que eu l'iverei, servin clo Teu cu lt o, c, ousc u-ro ,
Tuas c1l t1Jr l i11s csculpindo
S u ouro mais pu ro.
::cti:hrarei o teu o f ficio So altar : por em ,
Se inda e pefJueno o sacri jicio, Morra eu tambem !
Caia eu tambem, sem esper anr;a, Porem tran(Juillo,
Inda , cw cahir, vibrando a lanr;a.
Em prol do Est!}lO !
18 8 G.
PANOPLIAS
.\ "OHTE l>E T.\ PYH
I 111a 1·oh111111a d" 0111·0 P p11rp11ra,-; 011dPa11fp-;
--1il1ia o fi1·ma11ll'nlo. .\1·,·,•--0-; ,·,•11-., nulia11t1•,;
H11hl'a.., 1111 v1•11,-; , do ,-;of :1 , irn 1111., do l' of'11t1•
\'i11ha111, -.oll :1 -;, 1·oi·1·1·r o "" 1';11_0· ,.,,..,pf<•11<h•11tf'.
Foi a p-.-;a hora, - :'1-; 111:io-; o a1To l'"""·111t1·. a l'i nt a llo '""' 1•1ul11ap1• a t:i11 a 1· 111 va 1·i a -; 1·i'11·"" ti11h,
\ ai1w:'1ra ao 111 •-,1·111:11, o l, a ni t a r :'1 '"" l a ,
t,lill' T:1p. , p1•111•t r1111 o -;,•io da ll rn•,· -,1 : 1.
l•:1•a d11 , ·i'· l- u a -;--i 111, 1·0111 o n ilt o 1•1111r111 (• ;1• , 1"'"11 ll11-- a11110 -; a1'11r vado , o olhar fai,-;l'ando a1·1·l' -,o , Fil'IIH' o p:i...-;•1 a, p •1.a r d:i PX l l'f'tna idadP, f' "l' i"l1'.
\ i11;.:111•111, 1·,11110 Pili•, 1•111 fa ,·,• , a l t i, ·o f' hPr1·11l10• . ;: 111ortf'
· 1 :1 111 :i -, "'"'" lih 11 ... \ i11.:;111•111, 10· 1110 ,•11,•, o l1 r:11_0·
l.1·;.:111·111lo, ;1 la11,_-a :1;.:11da a tin l\ a no f's p:11:1:.
()11a11ta " '' ·, ,lo uapy ao r111110· iroar, li,;.: · iro
t 0· 1110 a ,·111·,:a , ao rugir 110 ""trPpit11 ;.:11,·1T1·iro () l,H'ap,• l ll'11 t;1l r o da u1lo 110 a1·, 1t•1Ti,d,
1.
10 PANOPLL\S
l11,·,;l1111H', vibrantlo os golp"", - i11,-Pll"iY<'l
_\-; prc•('P"-, ao cla mor do,- g..-itos, snr<lo ao pranto
Hm; ,i,·ti111a-;, --pa..,-;011, 1·0 11 w 11111 t11 f:i c , o <'Spanto,
0 P:d<'l'lllinio, o l("ITOI' atraz d,• --i d,•i,:11Hh ! l j11a nta \('Z doinimi!..:o o e111hale r(•(·h:H:ando Pm· ..,j ._,,, foi ""ii p.. i t o nma mnr a lha PI'!..:iiida,
Em q1w ,i11lia hatp1• (' (!11('111':11·-,-e Y('Il('ida
lk mna t 1· i ii11 co ntr a ria a rnula me<lo nl m <' bruta ! ()II()(• 11111 pnlso qne, 1al (·1: 1110 -;pu pulso, [1 lucta Co,-;t umaclo, um por um, ao cl1ao a1Tem,•s-;a-;,-;1• DC'z co mhatent <'." ? Ondc um ;i1'('f:, qnc :1 ;;-;;-;._,.
Mais 1·Pkn•, a zu11i1·, a fiiu llt•l'ha h!'r\'a1la ? ljuanta H·z, a va ar 11:1 llor <'s ta ccrr:i_da,
l',•ito a pcit o lnct on ,..:111 a.,; fuh-as 011(:a" h1°:!\:1",
E as oni;as :i "-(':1-; p:'·s t r )111'1,11·a111, como ""r'l':tYa",
:\aclanclo cm --111 m· q1w111P, ,., cm 1·.:d:1, o echo infinito ll<'spertanclo, ao 111rn·1·p1·, (':)111 o <lerracl<'iro gritoI •. Quanta vcz ! E hojc vell1::, hojP abat iclo !
II
E o <lia E11t1·l· o-; -;a11;.,;11inPn-; tons do 01'1':i,,;o d(•t· a h i;i .. .
E t'l';i tudo <'Ill sil!'ncio, aclormcciclo c qnedo... DC' subito um t1·pm o r ('Ol'l'<'U todo o a r \'o rc clo :
E o fJH<' h:: pouco P1·a (':1Ima, :1,!..::ll':1 1'• movimcnto, Trcme, agita-se, accorcla, e ,;e last.ima ... 0 vento
Falla
P_\'<OPU .\ s 11
Tap T ! Tap r! i-:· finda a t ua rai:a !
E 1'111 tudo :1 rncsrna \In 111 ·--ll'1·io,a p:i-,-.a;
\.., arYOl'I'.., o 1·li:io d1·,p..1·1a111, l'f'JH"lindo: 'J':1pyr ! Tap r ! Tap 1· ! 0 1 .. 11 poliPr ,: fi111lo !
I., a , .. ...:1 hora, ao f'1il,.:11r do dcrracleiro raio
Do -.ol, 11uc o di-,1·0 d.. ouro, em 1111:i<lo d ,maio,
tJua-.i 110 P,trC'mo 1·,;o d.. 1odo 111Prg11lhava,
.\ q11P I la p,-j rauha Yoz pPl:1 llorP..;tap 1• hoa , a
\'11111 l'Onf11.;o 1·11111111· 1·11l1•p1•01·t:11lo, i11-;:1110 ...
('01110 lfllP PIii l'ada tronco ha,iaum p1•ilo hurnano t)nP .... q111·i,:l\a ... I·: o \PIiio, hnmido o olhar, seguia. I·:, a 1·ada pa-.-.o a-.;-.i111 dado 11:i rnatta, Yia
:-;111·;..:ir dP 1·:111:1 1·a11to 11111:i IP111hrani:a, Fi',r:1
ll' ..-.1a i111111p11-;a urnn nPira :'1 sornbra protectora ()111• 11111 di:1 l'Pjl01l•<:1ra ....\l,;m, a :1norP anno..;a,
l-:111 1·11jo.; ;.:a I ho-<, 110 ar p1•;..:11ido", a formosa,
\ do1•p .J nr ru· · a ri•dP "ll"JIPlldi•ra,
- .\ ri•de 'Jll<', rorn as 111iio-. li11i-....i111a--, IP1°i•ra Par:1 ..11,•, sP11 -.P11li111·P -.1•11 ;.,:11.. 1·1·.. in, arna1lo !
.\Iii ... - 1·011lai-o \'i,._, 1·011l:1i-o, 1•111hal-.amado HC'tiro, ni11l1rn; 110 ar "11'-'Jll'II""", a\l''-'. llni·,•-. !...
t '0111:ii-o - o p1wrna id,·:il dos p1·i111ciros amol'P'-', I I..; 1·oi·1111-. 11111 :w 011tro P-<tr1•ita11wnt<' u11ido..;,
t 1-. :il,r:11_·11,._ -.1"111 1·011ta, o..; heijo,, o, ;.,:P111ido"-,
1-: 11 n1111or do noivatlo. p-.l 1·1•1111•p1• 111lo :1 matt:i.,
111, o pl:ll'i1lo ollrnr da..; p-.;lrC'llas di' prata ...
,11ll':II' ! .J11r:11· ! , 1r;..:1•111 11111rp11a P pura !
Tu t:u11hP111 ! tu ta111h1•111 dP-.cP,.tl' :'1 ..;pp11ltura !...
12 PANOPLIAS
III
E Tapyr caminhaYa ....\utc elle agora urn rio
( 'or1·ia ; c a agua tambem, ao crebro murmurio Da corrente, a rolar, gemia a1wiosa c ,·Iara :
Tapyr ! Tapyr ! Tapyr ! Que 1; <la Yeloz igara, Que P dos remos dos tens ? \'au mais as rt'•dc-; finas
\' i,m na pcsca sondar-me as aguas crystallinas...
.\i ! nao mais beijarei os corpos luxurian1c",
< ),-, cunos seios nus, as formas palpitantes Das morenas gentis de tua tribu extincta !
\'iio mais ! Depois dos tc11" de bronzea pelle tinta Com os c;uceos do urucu, de pelle bra1]('a Yieram Outros, que a ti e au-; tc11-; nas seh·as -.ucecdcram ...
.\i ! Tapyr ! ai ! Tap -r ! .\ tua rai;a t' morta ! -
E o indio, tremulo, ou,indo aquillo tudo, ahsorta
.\ alma em sei-.ma-;, seguiu,cuna a calie1;a ao peito... Agora <la floresta o chao nao mai-. direito
Estendia-se, e piano era urn decli,c ; e quando Pelo tortuoso anfracto, a 1·us1o, caminhando
Ao crepuscnlo, pomle o Yelho, passo a passo,
.\ montanha alcani;ar, Yiu que a noite no espai;o Yinha a negra legiao tla... somhra ... esparzindo...
I 'rescia a freva .. \ medo, entre as nuYens luzimlo, 1'o alto, a primeira estrella o calix de ouro abria... Outra ap1'i,; scintill(?u na esphera immensa e fria.. .
l'ANOPLI.\S 13
On1ras vicram ... ,., 1·111 breve, o c,;o de ]ado a lado Foi ,·01110 11m 1·01'1·1· 1•pa I 11{' pP1·ola.., coalhado.
ff
Ent:io, Tap 1·, d1· pe, no ar1·0 apoiado, a fron1c Lr;.:11,•11, 1· o olhar pn-<-<1•1111 110 infini1o li,wizo11IP :
.\,·i111a o :,l, ..,1110, al,aixo o al, ,-1110, o ah ..,1110 a11ian1c ...
I:, 1011;.:1•, Pnfrp o 111·;.:1·oi· 1la 1toi1P, , i11, di..,la111P,
\h,·jando no ,allP, as 1alia-< 110 1--..1ra11geiro... Tmlo 1·,li111·lo !... 1·ra Pili· o 11lti1110 ;.:111•r1·1•irn 1 I•: do , a IIP, do 1·1;0, do rio, da montan ha,
f>p ludo q111· o 1·1·1·1·:l\·:1, ao 111p-..1110 11•111po, p-..lra11lia, t:rnwa, 1·,tr('nJa, l"OllljlPII :I 1111",llla \OZ
E' li111la
Toda a 1·a1:a do-..1Pn-< ,-/1111 /·s ,1,0 aimla!
Tap 1· ! Tap r ! T:1 p 1· ! 111orrP 1aml,p111 eom Pila !
.J:'1 11iio l':ill:1 T11pan 110 11l11lar da prorPlla ...
\-.. halalha-< d1· onfr'ora, o-.. :11·,·o-< p 1i-.. l:11·apP...,
\-.. 11,w,•-..la-< -..,.111 li111 dP flp1•ha-< P :ll'a11;.:11ap1•-.., Tmlo p:1-.....011 ! \:io 111ais a li•1·:1 i1111hia :'1 luwl'a J>,.... ;.:111·1T1'in1-.., Tap 1·, -..,·,a 111Pdo11ha 1· 1·rnll'a. l·i 1111ulo o 111:11·a1·:·1. \ 1rib11 P,lp1•111i11ada D111·11H• a;.:ora fr•liz 11a :\lo111a11ha "'a;.:rada ...
\p111 1111m ri•d1• o \l'llto l'lltl'I' o-.. ;.::illio-.. a;.:ila
\:io 111ai-< o , i,o -..,1111 1h• 1·-..11·a11ha da11...:1, 1• a ,.:rila
I >o... l'a ,.:,;..., ao I nar, por haixo da-.. (i1ll1ag1•11-..,
H P.\NOPLL\S
Tiompe OS ;11•e--s . . . v. ,a-o 111:11·-, .1.
\ S por ac1•'· -, " eh '•1:-n,en, -;
.b guerras e os fr--s1 ins, tudo passo11 ! E' finJa Toda ar a<: a Jos tp11s... i, tu t'·s ,i,o ainda l
V
E n' um Iongo solm:o a ,oz mysteriosa Expirnn ... C'a min li rn a a noite silPncio-;a
E p1·a tranquiilo o ceo; t•1·;1 tranquilla em roda, I111111p1•sa em plumbeo somno, a natureza toda.
E, no tt',p<> do monte, era de ver erguido ( I vulto de T:1pyr... lnesperado, nm ruido e<To, snrtlo soon, e o corpo do guerreiro De subito rolou pelo despenhadeiro...
E o silencio out.ra vez cahiu.
:\''esse momento, Apontava o Iuar no cun·o firmamento.
PANOPU AS 15
.\ GONGALVES DL\S
1· 1·l1• l, J,';1 l1· ,i 1lomi11io sol11•J'a110
I );1 .., ;.:,rn 11,d
•.., l r ilms , o ll'IJ(ll'I fr1•1111'11l1·
I la !.!111'1'1':i hl'11(a, o 1•11( 1·1·1·l101•a 1· i11...:1 110
Dos l : ll'a p, •-. , ihl':1,I.,.., rij:11111•111,•,
I) 111:i i-:11·:1 1· :,i 111•1· ! 1:1 ,;, o 1·--I rid,•1111'
'l'l'o:01· da i1111l, ia , ,. o l, :111i(a r i111liano...
I:. l' l1°1'11i ..,:111d11 o povo a1111•1·i1·:11111,
\' i \l ' '- 1'(1'1'110 1'111 11•11 Jllll'l11:1 i1J!,!l'l1(1•.
l•:..1,,.._ l'l' \ o llo ..,, la1·;..:11..; J' l11"', ,•..,la, Zo11as li•n1111la,, ••--ta" ,-,4•:·11 la 1·1'-.
\'p1•d,,_j;111I,·-- ,. a11q,li i111a,; 11111'1'"-l : i--
I , 11:rn l n 111 (p11 11m11,· : I' n l Ta q111• JIii i • ::--11· lt11la --1· •·--,·11 l a , a dP 1T:1 111:11· 1111-- :11·1•..,
11, , ..,1 l'id o 1· d:1-- hntalhas 11111' 1•,i nt:1 -.11• .
rn PA:'<OPLIAS
GUERREIHA
E' a encarnai:ao do mal. PnJ,-a-lhe o peito Ermo (!p amor, dl"Sf'rlo de piedath•...
TP111 o olhar de uma dPtl',a l' o altivo as1wito Das cruentas , 1u•1·1·Pi1·as t!P ouh'<l idade.
0 labio ao rid"" dos 1·,· 1->1no alTPito ( 'ri,-pa-sc-lhe mun riso de maldaue,
Quando, tahez, a-, pompas, t·om dl'Sjl!·ito, flp1•ol'(l;1 d a perdida ma: P,1adl'.
E ;is-.im, <·0111 o -;cio a11cio-,o, o porte er;;uido, f't'1rada a face, a r ui, ·a calwllci1·a
ol11·p a-; ampla-, e-;padua-; dc;·:.111111h,
Faltam-lhe :1pt•1n-.; a sa11. 1·t>111a ('-.:,aJa Inda ruhra da g11p1•1·;1 dcl'radPin,
1: o cap:tcl'l<• de metal polido.
PANOPLlAS 17
,\ ff\l GR .\:\'OE HO:WE1I
l f<>urcu sr• au fond du IJois la source
pa11 vrc et pure!
LAII A RTI NF..
I >Iha : Ent um 11'11111· lio
l)p a;.:ua t"•wa-.-.a. 1 ·1·t'-;1•1·11. Tornou--;t' Pm rro
l )p poi -;. Ho111•;1-:, :1-: Y:t!,.::t"'
l·:11;.:l'fl-.-.a a;.:rn·a, I' t'• turhi1lo I' hr:n io, lloc•111lo pP111• do -:, nlngnndo pl a a -:.
ll11miltl1• arl'flio brnntlo !...
'\'PllP, 110 P111lanto, a-: lh 11•p-;, inl'linando I> dc•hil 1·:t1 tl1•, inqniPta-;
\l i ,·:l\ am --.... I•:, Pill s1•11 C'laro PspPlho, o hnntlo
..._,, n·, ia da -. I,,,,•-: horl1olPtns.
'1'111111, p m·t'•m : - ,·l11•i1·0-.a-.
Plant a-., ,·un a-. rn1nada-; r11111rn·o-.a-.,
ll11111ida-: l'Ph a-., ni11hn-:
PANOPLIAS
11--pC'n.;;o,-; no ar entre ja -.111i 11-; e ro":i" , T a1·de s clwia-- <la YOZ dos pass a l'in l1os ,
Tu<lo, tu<lo perdido
Atr-a z deixou. ( 0 l'Cs1:P11. l)p-,p11, oh ido, Foi alarga ndo o -,e io ,
E do :il pe,t t'l' rochedo, onde 11a, wi do
Tinha, c1·espo a rola1· .1,.._1•t>nd,o Pio.. .
Cr('-;1·pu. Afropela<las,
olt a,;;, ;,;ross:i.;;, as o mlas ap1·l•,--;ada'< Estenden larga.mente,
Trope,:;ando na-; ped ra s p-;palliada,,;,
:'\o galope impetuoso da corrente...
f' rC'-;<· ('11. E i'• poderoso : i\las enturba-lhe a face o lodo :is<•o,-o ...
E grande, ; i
la1·go, ; 1
forte :
Ma -;, de parceis cortado, caudaloso, LeY:i nas <lobras <le ,;('11 manto a mor t.-.
Implacawl, violento, Uijo o yergasta o latego do Yento.
Das estrellas, 1·a hind o Soh1·(' elle em iio do d :11·0 firmamento Batem os raios limpidos, luzin<lo...
:\'ada refle cte, nada !
( 'om o s urdo estrondo P panta a ave assusta<la; E turvo, t' triste agora...
PANOPI.I \'- 19
0 11111· a villa de out r 'o ra s111·1•;.;a1la
O11dl' a humild:uk· t• a li111pid.-z .t,, outr'ora?
1101111'111 tpu• o 11111111!0 a1·1·lama ! t·111i-de11-- pod1•ro-;o 1·11ja fa111a
( l 11iund11 1·11111 v:1i il:11 IP
(Ip P.-110 em 1•1·!11; 110 ..,,•1·1110 dP 1·1·:111i;1
.\ o-. q11: d ro \1•1111:s da 1·el1•l11·idad1· !
T u, q1u· l111111il1le n,a 1·1·-.I <',
h ·: H'o olN·111·0 mo1· t al, ta111IH"111 1·re, 1·1•,-I I' l)p vidoria 1•111 , il'l •: ria,
I·:, hojr , inll:1110 ,1.. 0 1·;.;11 lh os, as1·1•111p] ,-; jp
.\ o s11lio l''\l'Phm do •·-- pl PIIU OI' !la µ,l111·ia !...
\l a-;, ah! n'"""''" 11'11"' dia-,
n.. ra, .._1.,, Pntr......-.a-, p0111 pas luzid ia -.,
- Bio ,-;oh{who 1• nol,1·1· ! ll:1 s -d1• d 10 1·ar o l1•111p11 e111 q1u· vi via-.;
(,·
111111 11111 arroio ,-;rn•.-;,;:1110 P pohre...
20 P A NOP L I AS
A S EST.\ DE NERO
Fulge de luz ·hanh ado, espl.;ndido e ,-,umplHo-..o, I I palacio impe1·iaJ dl' por phy ro luwu1e
I•: marmor da Laconia. 0 tecto capriehoso
'10-.tra, em prata incrustado, o 11ac-ar tlo Oriente.
:\p1•:i no ti1ro ehurneo l'SIP11tll'-Sl' in<lolente... ( em m;i-; l'lll profusa o no estragulo custoso
De 011,·n hi:i-d ado , 1•111--.,p _ I I olhar deslum hrn , ardente, Da pm·pura da Thraeia o hrilh o t>sp k nd o,·rN >.
Fo1·n1tha ancilla canta.. \ aurilavrada lyra Em -.w1-; rniio,-; solw:a. Os arl'S perfumando,
.\ 1·d t> a myl'l·ha <la . \ r a hia em rl',-,c-l'1Hlt>ule pyra.
Formas ciuehram, da nsand o, Ps(·1·:1Yas em 1·hu1·1:a ... E :'lc•1·0 dorme P sonha, :i fr onte reclinando
:'lo-. alvos sPio-. m'is da luhriea PoppL:a.
PA.NOPLIAS 21
o l\'CE DlO DE RO .\ f.\
l::1 i, a o i111·1•.111li o.. \ ruir, -.11lta-., d1•-.,·011ju111·ta tla -.,
\-; 111111·alhaH d1· p1itl1·.1 -· o !'-.p:wo :ulor !lle 1·ido
111• 1·1· l1<1 c m c<'lio ,u·1·rn·tl:111 do ao m<'do11ho 1·-.1 a111p itlo,
t ·.,11111 a 11m -.op1·11 fatal, 1vla111 1·-.p h:w1•l.ida, .
- 1 : o-.; t ,•111 plo-:, o-; 1111i-.P11-., o ( 'a pito lio c 1·g uid o
l-:111 111:11·11101· pli•· ;.:i o, o F,11">11 a-: 1•1°1'.-ta-. a 1·1·a cla -. 11,,- :1q11,• tl1 w1, 11 , tudo a-: ;.::11"1":h i11lla111111ada-;
11,, i111•p11tlio 1·i11 ;.:1•111 , tudo p-.(11"c'1a- p-.; partitlo.
I .1111;.:t' , 1·1•\ 1'1"111'1":I ntlo O l'larao (llll'(Hll'illo,
.\ 1·,,I, 1•111 d1am111a-: o T ih 1·1• t' :11 T1•11cl,•--.p o ho1·i z•111 t1•. ..
111111:1-.-.iH·I , pon: 111, no nlto tlo Palatiuo,
\1·1·0, ,·01,1 o mauto ;.:1·,· 11 1111d!'a 11do au ho111l ll'o, n--.rn11:1 Eut1·1• o,-; lil w1·to -:, I' P l ll"i o, <'ng1·i11altla1la ;1 fr o nt <',
1 . y r:t <'Ill p1111lw, n•l1·h1·a a 11<'-:t 1·11 i1: :io cle Ho111a.
22 PANOPLIAS
0 SONHO DE l\IAHCO ANTONIO
:\"oite . Por todo o largo firmamento
.\ brem-se o-; olho s de ouro das e,-,fr d la'-'...
i, perturha a mudez do acampamento
0 1rn-;-;o regular das sentinellas.
Ilr ut a l, febril, ent re (·a111:iie,; e bra1los. Entrara pela noite adiante a orgia ; Em hor bol11e'-', dos can taros lan ·ado-;
J orr [1ra o vinh o. 0 ext•1·1·it o dormia.
l ns omne, em ta nto, y,;l;i algu em na tenda Do ;.;-enp1•:1l. E,;-<1-', entre os 111a i,,;s •i-.inl w,
\,' e u·c a fadiga da hata lha horrenda,
Yt•O( 'l' o-; Yapores cali dos do Yi nh '.:.
T or\'o e cerrado o cenh o, o largo peito Da cour3-';a de spid o e arfando ancioso,
PA:-Ui'LL\S 23
Li, ida a f°a(·P, taciturno" a,.,pPito,
:\lan·o-.\11to11io 111Pdi1a -;ilc11('iu-;o,
I>a lampada dP prata a luz p-,r•a-. a
1
l:P..,,ala pPlo (·liiio.. \ '111a11<lo P quan(!o, 'f'lP' 1111• e11fu11ada !1 , i1·a1)1J (flll' pa-..-..·1,
.\ 1·1Jrti11a dP puq1111·a oscillamlo.
I I 1·1w1·al rne(lita. ( 0:J1110 , -,ofl:1-,
Do ahPo d1· 11111 rio tra11-,, a-..;11l1J, a-.. ag11a-.
I 1·,,..,,.,·111, (':I\'ando o ,mlo, - a-..-..i111, 1•p,·ol1a-., F111Hla-; a al111a )he ,·:io -..11l1·a11<lo a-< 111ac:11a-...
()11P ,al .. a (;1•1•1·ia, Pa :\lac(•do11ia, Po 1·1101·11w T1·1'1'iti,rio (lo (kiPntP, l' p-;jp i111i11ito
L i11,P1ll'i\l•l (''.1•n·ito <fill' do1·11w?
IJ1w drn•p,- lwa1:1J-< 1pu• (hp (•-..l(•11d1· o 1-:c: pto!...
1,1111• , p111:a I ll'la, io '. P -..p11 1·;11u·oi· prof111H lo I.(•\(• da lli-..pa11ia :'1 :-- ria a 11101·(p Pa c:111•1'1'1' 1-:lla ,. o (0 i°•1J ... l)11P valor tcm lodo o mundo,
-..,. ""' 111undos todos -..,·11 o l ha r t•111•p1•1·a !
i-:11,· l; ,alP11IP ,. PIia o --.11h,i11,.:a Po doma...
:-.,·, f l1•11palra e ,.:ra1Hll', amada I' ht>lla !
1,>11P i111po!'!a o h 11pe1· io a ,-ah:u::io dt• Homa?
lt11111a miu , ah Hill ,.,.·, dos 1 ...ij11,- t!'l'ila '. ...
.\-..-.i111 1111•(li1:1. I•: alluci11atlo, lotmu
l)p 111•1.:11·, t·u111 a fadj,.:a e11,1
iio luctantlo,
PA;s;Ol'LL\S
Marco-Antonio a<lormece a pouco e. pouco, as Iargas maos a fronte reclinantlo.
II
.\ harpa suspira. 0 melo<lioso canto, De uma volupia lan ui<la e secreta, Ora inteq)I'eta o tlj..,..,ahor e o pranto, Ora a-; paixoes violeutas interpreta.
Amplo tlocel de ;;eda levantina Por columnas de jasl'e sm,tenta<lo Cohre os setins e a cachemira fina Do 1·egio leito <le ebano lawa<lo.
l\Joye o leque de plumas uma esL·1·ava. Yt;l:t a uarda li1 fora. Recolhida,
Os petreu-; olhos urna e;phinge crava
:\a-, formas cla rainha adormecida.
Ma-; Cleopatra accor<la ... E tu<lo, ao H"l-a Accor<lar, treme em roda, e p·asma , e a admira . Desmaia a luz, no ceo clescora a estrella.
Como que a esphinge moye-se e suspira ...
Accor<la. E o torso arquean<lo, ostenta o lindo Collo opulento e sensna! que oscilla...
P.\:\'OPLL\"i
\111rmura um nomc ", a-; palpcLn1-, a hr ind (•,
\Io tl'a o fulgor radiante d:t pupilla.
II[
t·:1· 11p--;p \fa1To- \nionio <le I"<')l('11!e .. , O11,P-se um g1·ito p-;tri<lulo f[IH: -;i°,a
0 ,-j)pn("io (·oda 1Hlo, (' longame11tP
)>p)o dp-;(•1·to :H·:1111pa 11H·11to (•1·lii',a.
U olhar Pill fogo, os (·ar1·pgado,; t1·,H:o"' J)o rns(o Pill ('011t1·a(·1:;io, aho P din•ito
0 vulto PII0l'IIH', - no a1· Icvanta o-; li1·:H:o--. E uos lira1:os ap1•da o )ll'O)ll'io pPito.
Olha ('Ill 1onro (' d(•-;vaira. l-:1' 11P a 1·01·1i11a,
.\ vi-,ta alo11ga pt>la noite afora ... i\ada "·.. Lo11 1·, a p01·t:1 p11rp111·ina
Do ( l1·i(•11IP ('Ill (•ham111as, , Pill raiamlo a auro1·a.
I·: a noitP fogP. E111 todo o frrmamcnto Y:io sP fr•dia11do os olhos da-; p-;ln•lla-- :
.-, p(•1·t111·ha a 111mlez ,Io at'ampame11to
0 pa-;so 1·c;.;nl:1r das senti11el)a-;.
2G P.\NOPLIAS
LENDO A ILIADA
Eil-o, o poema de assombros - !'L;o cortado De relampagos - onde a alma potente
De Romero vin•, e vive eternisado
0 espantoso poder da :u·gi, a ge111e.
_\!'(le Troya... De rastos passa atado
0 herbe ao carro do 1·i,al, c, :11·de1111•, Ilate o sol soh1·l' um mar illimitado De capacetes e de sangue qnente.
:\Iais que a-; armas, porem, 111:ii,:; !(II!' ahatalha,
:\Iais qnc os inccndios, hrilha o :111101· q11e alPia ') odio e entrc o-; povos a disrrn·dia ('spalha :
- E,-;-;p amor quc ora activa, ora ,-;p1•1•11a
,\ guerra, e o heroico Paris encadcia Aos curvos scios da formosa Helena.
PANOPLIAS 27
MESSALINA
l: <:'1·01·d o, ao n·r-te, a-.; <'pochas so mbri:1-; Do pa--satlo. ,\Linh ':t.lma s<:' tra nsp orta
. \ ' Homa antiga, e da eidade mort a Dos ( ·e,-,a1·es roanima a,; cinzas fria, ;
T ricl i uios l', i, <:'nda s luzidia,; Pe1TOI'l'e; para de :--11burrn ll porta ,
E o eonfuso ,·lamor e,;1:11ta., absorta, Das (!,,..,, airadas e felwis orgias .
Ahi, 11 um throno erecto sobn· a ruina
De um povo inteir o, tendo :\ fronte impura
0 di11tll'llla. imperial de ;\l e s -.;a.lin a,
\ 'ejo- te hPlla, <"' ta.tua da loueura !
Ei·guendo no ar a mao ne rvos a l' fina., Tinta d,e . a ugue, '{Ile um punhal segura.
28 PANOPLIAS
A RONDA NOCTURNA
:\' oitr eerrada, tormentosa, eseura,
U1 fora. Dorme em treyas o -conYPnto. Queda immoto o anoredo. N.io fulgur::i
·I ma estrella no tono firmamento.
Dentro e tmlo mudez. Flebil mm·mm·a,
De p-,pa(:n a <''-fla(:o, emtanto, a yoz do yento E ha um rasgar dL• -,ud:11·ios 1wla altura, Passo dl' <•spPctrns pPlo paYi111(•11io ...
:\las, de suhito, o.c; gonzos d:1>' Jl(";ad:i-, Portas rangem... E<·ll('>a s111·da mP111e LeYP rurn!II' d(• yozP ahafacl:is.
E, no d:il'iio dP uma lampa<la frPmPn1e, Do cla ustr o ;.;oh ;i-; tacifa.., :tl'(•ada..,
Pa-;sa a ronda 1Hw111rna, IP111an1p;l1<'.
PANOPLIAS 29
DELEND .\ CARTHAGO !
Fnlgc e <lan lcja o sol nos amplos ho1·i zoni cs
Do ,·t'·o <la . \ fr i(·a. Ao l:11·30 , cm plena luz, dos montcs I ,l(" l:t(·:1111 - -;e os per fis. Tremulamentc ouJcia,
\'aslo occano <le prata , a r eq ncima <la a rc ia.
U a:·, J H'"'ad o, -;n ll'cwa. E, <lc s fra lda nd o oYantcs Da;; ha udcira s ao yento as p1;·1 ga-; ond ulantc s , Dcslil:un as )(' ioc-; do cxcrc it o romano
Di:rntl' Jo ge nera l (·ipi ao Emi li a no.
Ta I s ohlad o -;op c -;a a cla rn de mndcira. Tai, quc a custo sofl'l'i·a a co lcra gucr rci r a,
:\la nc ja a L,ipcnnata e 1·uclc maehadinha. E,;te, a ilharga pcn<lc ntc , a rutila ha in ha
Len t <lo g la <lio .. \ q ucllc a podcro sa 111:1<:a
( 'a1·1·t•g, 1 , c : ,s la1·3 as 111 aus a ensaia.. \ cu-;tu pa ssa ,
<' 11n ado s oh o peso c de fadiga affia nJ o,
2.
30 l'ANOPLIAS
De guerreiros um ;,:rnpo, o-- :11·i c1t "' lev:rn 1lo . . . Brilham em confusiio ,Ti,Lido-. l':q1;11•ct e ,;;.. • ( ' a Ya l le irn " , co ntemlo th ;t l'(lid os ;,:ind••--,
:O::olta a ('hlamJdc ao homLro , ao Lrn i:o a liYcl a do
0 concaYo hroquel d,· 1·ohrt• t·i nzeLu lo ,
Bra nd cm o pilum no ar. l: 1',-,1111:1. a e ,.; p:11:os , ro uca,
A lw ll i(':i b un : i11a . A t11ha ('a,:1 it h,,o ea
Dos E nn ea1rn·e -; 1r.-,:1 . llorda-- tlP ...;a itt a r i u-;
Ve m - s,·, de a rco c carcaz :umados. 0 our o t• o...; Y:1riP, Or na mcnt os de p rn1 a t>111l m tP 111- -.P, <'Ill ta11'\ia"
De um co1Tcd o , la , or, 11a-.; a:·111a -.; ]1 11.id ia..;
Dos :• 1 H•1·;11•-- . E, :10 -.;o), lJI H' , P 1d, 1· · n11 ye11", ,.;1·in t ill:1 ,
Em torno kt ( 'a r l li a.go o exc 1·cito d es fila .
.\ la -;, p a..;-.:id:i a ,-,111·p1 ·c 1 a , :'1s p n •,-,,.;:,1• , a 1·idad1·
.\ us cs cr a yo -; c C1l1·1· a a i·111 a" e li hcl'(lad t:>,
E era tod a rumo1· c agita<;ao. Fundindo
Todo o 111e ta l q ue '1,a ·ia , ou, cclcrcs, ])l'unindo E-,p ad a -. c punli:w-;, t·:1pa1·t•1P:, P l a 1u· a -..,
Via111-,-c a 1rahalhar O'-' ho me ns e as t·1•c;11u:a--.
Il e ru ica ,.;, ahafando os ,.;oliwo..; e as q11t 0 i\ :1, , A,-; m ul he res , 1P t' t•ndo os fios da.-; m:ult•ixa-.;, Cod:n ani-11'a,-.
Col ll'i ndo Pspaduas dP...)11 mlJl'ant( •,-, l' twc·a ndo a t·:11·11:11: iio d t• "" io-. p:i lp it:rntes
Como y,'•o,-; de vclludo , e prO\ ot·a ndo lwijo..;,
Excitaram pa i,,11•-.; e 111 hr i, •o ..; .i., ._,• ,i n-;
Essas tra1was tla cill' .Ja ..; noitcs to1· 11H•11to ,;a-.; Quanto,-; l:1 hio" , :irde m lo cm ,-.t'•d,. l ux111· io ,-;;1 ..;,
T oca 1·am-n ':is o nt r 'o ra cntrl' f't.•IJ1•i._ abra<:o '. .,
PANOPLIAS 3l
Trnm:a-, q11P tan1a n•z - fra gci,-; <' doc c ,-; la1:o-, !
Foram cadcia -s d1• o ur o in Ye 11t• iy e i,-;, p r c nd cndo
.\ lnia -s <' c· m·:w(u•,-;, - agora, diste ndc 111lo
O,._ ar co-;, <lcs pc<li ndo a ,-; ,._pj1as agm:adas,
lam l1•ya1· a morte... - clla ,._, q u<>, t H•1· f11 mada -s , O ufr' o 1·a ta nt a Ycz dcram a Yid:1 e o a lcn1o
.\ o-; p 1• p,-;o -; eo1·a r,·>sP ! ...
TrislP, t> n11·Pi:in to , le nto,
.\ o pc,.:Hl o lahor do dia. s uct Pd1·1· a
0 ,._j(p1H'iO nod ur no. .\ h·eya se es tc nd 1•rn : Ado r n1l ' l'.l' l'n tudo. E, no oufro dia, qua nd o
\' 1• io (lp nov o o ,ml , 1• a aurora, rutila ndo,
Lneheu o firmamcn1o e illuminou a tcrra,
.\ lucta comc<;-0u.
II
A-s mach inas de gucr1·a "OY<'tll-'-t' Trcmc, <'""1ala, <' parte-sc a muralha,
H:wha dt• !ado a lado.. \ o clamor da hatalha
l·:-..trc mpc•c o ar rcdor . Bra nd in <lo o pilum, promptri , Confumlc111-,-p a,-; )pgi,-,p-.. Pcrdido o fr<>io , i1, ton1a-., Dcsboccam-se os 1·01-ct>i,-;. Enrijam-s<>, <>s 1icadas
No-s a rl'o-. , a ringir, as 1·1.Jl'das,. \ 1·<>1·a tln -;,
P a r t c m st•ttas, zunindo. Os dardos, si hilla ndo ,
C1· uza m-se . Encos hrocluei,-; amoliram-sc, resoando,
l'.\:--iOPLI.\S
,\os pmbatPs bruJaes dos piy:11(·s a1·1·ojado-.;.
I ,oueos, afuzilando os olhos, o,-, sohlados,
P1·<•,-,a a rPspira-i:iio , torvo 1• mcdonho o a--peito, PPla fenea sqna mmata ahro11uelatlo o pPito,
:-;p Pm·1·t'iam no fnror ,-,al' nd indo os 111:H'L'tP-.,
:\iio param, pnfrt>1anto, os golpes dos a,·it>t!•s,
:\iio ,..111sam no traball10 os " '" "(' lllu --os hrac;os Dos g11pr1·ciros. Oscilla o mnro . ( l-; p,-,t ilh:H;o-.
:--altam das }l!'!li·as. (;ira, inda uma H'Z ,ilJl'ada No ar, a mad1i11a bruta... E, suhito, quPbrada, Ent ,•p o in -,:1110 clamor do PXPreito e o frenwntc Rnido surdo tla tp1cda, - PSfrPpitosamPnte lhiP, dPs aba a muralha, 1• a pt>tn·a molt• roda,
Hbla,, •pmoinha , e tomba, <' s<' Psphaccla toda...
Rugem a!'elamac;ii<'s. ( 'omo Pm cael11"ie -.;, fur ioso , Parte O'-' tliqu<'s o mar, roja-sc impptnoso,
.\ s ,aga-; <'IHT<'spamlo an1pelladas, brutas,
E inunda 110, oa1;11c>-.;, en!'li!• ,allPs !' ;,:1·11tas,
E ,aP spmpa ndo o ho1To1· e propagando o estra;;o,
⦁ Tai o <'X<'l'Pito Pntrou as porta s dP ( 'a rt hago...
0 ar, os "',·itos de diH' <' s11sto, Pspac;o a Pspac;o, Corta,a111. E, a hramir, atropPlado, um pas-.u
0 in,M;or tm·bilhao n:10 deu Yicto1·ioso,
·"-"111 qne d Pi.'\as ,-.c atraz um 1·:1stro payoroso De fl' ri,l os. \'o Oc!•a-.;o, o ,-.ol morr ia , l''\a11"'11!' ( ·onw que 1•pflectia o fil'l11a11H·11lo o sangnc
<J111• tingia <lP rnbro a lamina IH'ilhantc
Das p,-.pad:1s. En1iio, hon\l' 11m s np1·emo i11-,ta11tt•, Em q111•, 1·1•:iyando o olh:ir no intn•pido afri1·ano
P.\NOPLIAS 33
AsdrnLal, ordcnou (·ipiao Emiliano :
⦁ Deixa-me exccutar a-. ordcns do Senado ! Car1hago morrer{t : pcrturha o illimitado Podcr tla invic1a Homa Entrega-te ! -
Orgulhoso,
A fronte levan1ando, ousado e 1·ancoroso, Disse o ( '.arthagincz :
- Emquan1o cu 1in•1· vitla,
.Juro quc nao s(•1·it ( ·arthago dcmolida !
, Quando o inccndio a cnvohc-1·, o sangue d'P,;1c- povo Ila-de apagal-o. :\ao! fletira-te ! -
Fallou cipiao :
De novo
«- .\t1ende, Asdrubal! Por mais f(W1P
Que seja o tcu poder, ha-de prostral-o a morte ! Olha ! A postos, st>111 eon1a, as legiue,-; de Roma, Que ,Jupiter protcgc c quc o pavor nao doma, Yao come<;ar em breve a mortandadc infrene !
- Homano, escuta-me ! \,;oll'mne,
0 oulro voh-eu, Pa raiva cm sua voz rngia)
.btlrnhal P o irmao de- .\nnibal ... Houw um dia, Em qu(•, ante .\nniLal, floma estremeceu vt>ncida, E ton1a rccuou tie subito fcrida ...
Ficaram no logar da pugna, cnsanguentados, Mais de sP1Pn1a mil Ilomanos, trucidados Pelo csfor<;o c- valor tlos punicos gucrreim,-;;
!-iei,; alq1wirp..; de a11eis dos mortos eavallciros Cartha.go al'l'ccadou ... Ye1·i1s que, como outl''ora, Do cterno Baal-Moloch a prote ao agora Tcrcmos.. \ vido1·ia ha-de scr nossa .•. Escuta :
.", ) 1 P .\ NOP LI AS
;\landa quc> reco mc>c P a <"a r nie c>i1·a lucta '.
E hor r iv e l, t' fero z, 1h11·a111l' a noitc P o dia, llcconw c,ou a luc1a. l-:111 1·ada (":l":t lia, ia
l m punhado dP lwn·,...... ,:--1 i -. n ' zt•,;, {H'la fo('I'
Do ct'•.o, ,;;pg n i n --1•11 (·111·--o o ,;ol , ,-;('Ill que p:11·:1-.._r () mC'<lonl10 C'S1r idor da ,;a11ha da hatalha..• Quando a noil11 d P-;(•i a, a 1re va (•1·a a mortalha
!Jue e nvo h·ia , p iC"dos a , o-. co r po,;; d o s fC"ridos. Ro lo s de sa ng uC' C' pi,, blasphemias P gemidos,
P t't ' ( ' l ' "' e i111 prl' l':t (_'«>P-<.. . . \.;; proprias miiC',-, C'mtanto llProie:1-; 11:1 afllic<;iio, C'nxuto o olhar de pranto,
Yiam cahir sem vida o-; filhos . ( '0111batc>ntes
ll ou ve , que, nao querC'ndo aos gol p(•-. i11l'lt>m1•nlt--. Do inimigo cntr C' a r o-. ('01·po-. da-; (·1·e:11u:a-., l\latavam-n'as, C'rgn0ndo as sua ,; proprias la1u;a-. ...
Por fim, quando de todo a vida desc>rta ndo
Foi a extincta cidadc , 1·, lug ubr c> , c>spalmando As aza,; 1w g r a,; no ar, pairon ,;i nis tr a P honc>1ula A morte, ten' umfim a pC'lej a. trc>menda,
E o incendio com ou.
III
Fraco P mc>droso, o fogo
,\ hranda virai;ao tremeu um pouco, e logo,
PANOPLIAS 35
Inda pallido e tenne, erguen-se. Mais Yiolento,
:\lais rapido soprou por sobrc a chamma o rni;ito : E o <(11<' era laha1·p1la, :1grn·a, i;,;nPa serpente, (,ig:111t(",a·a, ,•,-,ti1·a1ulo o corpo, de repcnte
I )1",<'m·o-;,·:l o-; anci.;; llammivomos, abra.-,-a
Toda a cidade, p-.;iala a-; pedras, <"l"l'-;cP, pa-,,a,
1!,',p "" muros, estronda, c solapaudo o solo,
Os :tl i, 0 ( ' [ "(" ( ' ', broca, e p-;fringl' tndo. L' m rolo
l)p plumbco <' dpn-;o fumo P1megrceitlo P m torno '-ie e-..tcndc, como um Yeo, do comburcnte forno. a horrorosa P\'Pt·siio, dos tcmplos arrancado, Vihra o marmore, salt a; abre-se, estill1ac:11lo,
Tudo o que o incendio aperta E a fumarada erc-.,ce,
olw Yertiginosa, espalha-sc, p-..eurccc
0 firmamcnto E, sobrc os rcsios da hatalha,
.\rde, voraz c rulll"a, a colossal fornalha ...
:\ludo <' triste, eipiao, longe dos mais, no emtarrto Deixa livre emT<'r pcla,c; faces o pranto. . .
1:: que, - n·ndo rolar, mnn rapido momento, Para o ab) -.,1110 do olvido e do anniquillamento Homens e tradi,,-ii,•s, 1·,•ypzes c Yil"ioria-.;, Batalhas e tropheus - seis sPeulos de glorias
;\;'um punhado de cinza -, o general preYia
Que Roma, a inYida, a forte, a armipotPntP, haYi:1 De 1<'1· o mesmo fim da orgulhus'.l ( 'al"ihago ...
E, perto, o c1·cpitar PstrPpi tos o e Yago
Do incendio, que lavrava l' inda rngia activo, Era eomo o rumor de nm pranto convuhivo...
VIA-LACTEA
VIA-LACTEA 39
Tahez sunha-.se, rp1andoa ,i. Mas ,ia Que, ao-; raios <lo luar illuminada, Enti-e as e-;1relia-; tremulas, subia t.:111a infinita e seintillante escada.
E eu olha,a-a de haixo, olhaYa-a Em cada
Degriw, que o ouro mais limpido vestia,
;\Judo e sereno, um anjo a harpa doirada, Hesoante de supplicas, feria...
Tu, miie sagrada ! ,us tambem, formosas lllm,oes ! sonhos meus ! ireis por ella Como um hando 'de sombras vaporosas.
E, o meu amor ! eu te huscava, quando Yi que no alto surgias, calma e bella,
0 olhar celeste para o meu haixando...
V l .'1.- 1..\ CT E.\
Tutlo ouviri1s, pois 1111l' , bondosa " pura,
\It> o uvcs agora com melhor ou,·i, lo : Toda a ancicdad e, todo o mal soll'riilo Em silc ncio , na antiga tlcsrn ntura ...
Boje, qucro, cm lcus bra1;os acolhido, l:(•,·•·r a csh·a<la parnrosa e esem·a Ondc, ladeanllo .o aby s mo 1la loncura ,
.-\ nd l'i de IH' :u l r l o;; pcr sr guido .
Olha- a . : to rc e-sc to<la na infinita
\olla tl s setc circ ul os tlo inferno...
E nota acruc lle vulto : as miios elc\'a,
,("'
Tropci:a, cite, sol m;a , arq ucja , grita, Buscando um cora ao quc foge , e drmo Ou\'indo-o pcrto palpilar na trcrn.
VIA-LACTE.\ 'd
lll
Tantos t•--pal'so-; ,i profusamen1P
f>p)o caminho quo, a cho1·ar, trilha \'a ! T:1ntos haYia, tantos ! E Pll passa,a Pol' Judos elles frio e incliffcrente...
Emfim ! emfim ! pude com a mao tremente
.\char na frpya a<p1elle que hust:a,a ... Pol'que fu3ias, <piando eu te chamaYa,
( ·l':.;o P triste, tacteando, anciosamentp ?
Yim de longe, seguinclo de erl'o e111 erro, Tt•u fugitiYo eorai;ao huscando
E yendo ,1pP11ac; cora oes 1IP fe1·1·0.
Pude, porem, tocal-o solui;amlo...
I·: hoje, feliz, dentro do men o encerro, E oui;o-o, feliz, tlentl'O do meu pulsautlo.
VIA L ACT E.\
I\'
Como a flores1a secular, somhri:i, Virgem do pa-;so lrnmano e do machado, Ondc apenas, horrendo, echoa o hrado Do tigre, c cuja agreste ramaria
Nao atravcssa n1111r,1 a luz do dia,
.\c.;c,im tambcm da luz do amor µriv11do, Tinhas o cora ao ermo e fr«·h:ulo,
Como a florcsta secular; somhria.
Jloje, entrc os ramos, a <'arn:ao sono1:a
:--oltam fes1ivamentP o;; passarinhos. Tinge o cimo <las arvorcs a aurora.. .
Palpitam Jli",res, estrcmel'!cm ninhm,...
E o sol do amor qnc niio entraYa on1r'ora, Entra douraudo a arcia dos camiulio-<.
VIA LACTEA 43
\'
Dizem todo-. : « - Outr'ora como a<; nYPS lnquieta, eomo ns aves tagarela,
J hoje... que tens? Que sisu<lez r1wela Teu a,· ! qne i<leas e que modos gran ' s !
Que tt>1h, para que em pranto os olhoc;; laves Si· mai-; r is onha qu-e ser as · mais bella !
IJizem. l\l as no sileneio e na cautela Fieas finne e t1·anca<la a sete ehavec;;. . .
Ji um <liz : - Toliees-, nada mais ! - mm·mm·a
Outro :, c - C:1priehos de mulher faceira ! - •
E to<los dlt•-; alinal : « - Loueur-a ! - "
Cegos que vos ra11sars a interro al-a !
,m..
\ el-a ha ---1;, vn ; que a paixao pr imP i1· a Nao pel:t mas pelos olho.-; fala.
\ ' l.\ -1..\ l' T t: A
\'I
Em mim tambcm, que dcscnidad o , i,.f es, Encantado e augmentando o proprio encanto, Tcrcis notado quc outras cousas canto
:\I uito di rcrsas das quc outr'ora ouvistes.
:\Li,; amastes, scm duvida .. Portanto, Mcditac nas tristczas quc sentistes :
!Jue cu, por mim, nao conhe o cousas tristcs, ' Qu e mais afllijam, quc torturcm tanto.
Quern ama inrnnta as pcnas em que Yive :
I•: , cm logar de acalmar as pcnas, antes l! u ,ea no,·o prza1· com quc as a,in•.
Pois ,,ahri qur 1: pm· isso quc assi111 ando : (Jue e dos loucos somcntl' e dos amantes
1\ ' a maior all',3Tia andar chorando.
Vl.\ - L .\ CTE A
\'II
:'\ao tern fol1arlo ho:·t·a s 11(' ,-;('q len1C!'< ,
(l )' C',-s a r1ue :111rnm foli ar cit' todo o mun<lo, Ea 1odo o mun<lo ferC'm, mal <l ii c n1C'S)
◄ Jn c d ig am : - :\lata o 1C'u amol' profunclo !
.\ bafa-o, q nc 1eus passos impru<lenks
\' ao- te le, :111<lo a Ulll pela go sem fuo<lo ...
« Yaes-tc pC'n Pl 1' ! - E , a rr cganhando o-. dcnk " ,
!\lon•m para ten la<lo o olh a r immundo :
- e C'lla e tao p ol1n ! , se niio tcm bclleza, Id s dcixar a glol'ia clcs p re zada
L os prazerc::; perd idos por tao pouco?
Pt•n.;a mai"' no fu tur o t ' na riqucza ! -
J•: C'U pf'nso quC' afinal... :\ii.o pC'nso cm nada : l' <·nso :.>pcnas ttHl' 1c amo como 11111 l ouco !
3.
YIA- L. I\ CT E.\
Em que c· •o ;.. ma i.;; azues, mais pm·M ar l'", Y,\a pomba mai,- pu ra ? Em que sombria loita mais niyea 11,11· al'al'it·ia,
A noite, a luz dos limpidos luar<'s?
\"iye;.. assim, como a corrente fria,
Que, intemerata, aos tremulo s olha1·1"i Das es tre llas e a sombra. dos palma.re s,
Cort:, o seio das ma tt a.s, erra.dia.
E envohida de tna Yirgin,larlP,
De ten pudor na candida ar i"uad nra , Foges o amor, guardando a c·a tidade,
- Como as monta nha -;, nos c,;p:u;o-; frant·os Erguendo os alto pill(:aro s, a aJyura Gua.rda.m <la neve que ]hes colJre os lla.ncos,
\' I \ - 1.,\ f:T I•;. \
⦁ \
De out,·a-. ,ci ·rp1e sc mo, ti·a m 111c 11.,, fl'ia-,;, Amando menos do qne amar pa1·,•ce s .
( ' ,-a 111 toda-; de lagrimas !' })!'Cf' <'
Tu de 3f'f'1·l1:;-; ri'-ad:is e ironi,a .
I lf' modo tal mi_nha attem;ao d,·--, · i a-,,
( 'om In) 1wi-if·ia mcu Pn: a no 11'1·,•s , () nc, -.p gcl:i do o corai;ao i in ' -., f''-,
( 0 Pl'l •: , qncrida, ma is ardor ·1e ,·ia;.,
Oli10-tc : f'f' :t aomeu olhar ( p faZ(•-;,.,
Fa l-o t(• - (' eom <1uc fo30 a Yoz IL' Y:111t o!
Em Yao.. . Finges-te ,;urda;.as minims phrases...
Snrda : e nem ouYes mcu amargo p1·anto !
( 'p a c ncm y£,,,. a nova tli1J· qnc irazc;,
,\ 1101· :1 n tiga 11ue dola tanto !
\" IA-L.\L'TE.\
\
Dcixa qal' o olha1· do mundo emfim tlcrns,e Tl'11 ;.;,·aittL• a11101· que e o teu maior ,-,1•;,l'edo !
Que tel'ias JH'nlido, Sl', mais cedo, Todo o affectu quc ..,,•ates se mostras--t• ?
Ilasta <le e113anos ! :\Io... tra-me sem medo
,\ '.J,; bunva,;, aff1·Jatando-os face a l'an• (J.1ero qut• o.; ho111L•n,; todos, qulndo t•a pa,;se, lan·ju o,;, apon(cm-me com o dedo.
Olha : niio posso mais ,!
\ ndo iao l'heio
D'c,;te amor, (Jllt' minh'al111a st' eonsome
De te C\a!lar ;10; olhos do unirnr,;o...
Ou ·o cm t uJo lea 110111c, em I 11d:1 o leio
1:, fati;,;ad:J de <"ala1· tcu nomP,
IJ11asi o 1·e,·clo 110 linal <le u111 , e1·.--o.
·... ',
T od us c,;-.L'" kl!\0 .-1•-. - hem o, j,.,!c -
l\iio 1·u-,11 : • 11in 1m dcmudal'-mc o as pcclo :
:-:t', me tu1·1Jou c-;-.;e lou Yor di--1Tct u
(: 11P n u Yoh-er d : ,; , !!,,,, , tr :1duzistc ...
Inda IJcrn q11e c11lt ' mlcstc o mcu affccto, E, atr:1\'Pz d' p,-,t a -; ri ma s, pre scnt i,-.( c J\!c11 L'rn·a1:au quc 1ialp i t:n a, t1·is t e,
E o ma.I quc Iia,ia tlcnfro cm mim -.ccld' o.
.\i d1· mim , sp 111· Iag1·ima s inut ei,;
⦁ I :,.t L·s ,1•1'-."" lia nha sse, amhici onando
Il a-; 111• -.,·ia -. t111'11as o,; applau sos futc is !
D011-mc pur J':I!!o, -.c um olhar )h es d n' ,;
1-'il-,,.., i:1•11,-,all(lo cm ti, lil-os pensa ndo
i\ a ma i-. pura de tod as a,-, mul Itel''( -,.
VI A- L ACTE A
:\II
Sonhei q uc me e -:1w ra Ya-;. I·:. s ouha ntlo ,
,al i , a tll'ioso por te Ye r : eo rt·ia ...
E t udo , ao, er-me _tao <le p ressa andando , ouhe logo o logar para on<le e u ia.
E tudo me fallou , tndo ! Escuta ntlo
:\lc w; pa,;.;;o,;, atl'a Ye z tla ramaria Jlu, d es perta tlos pass a l'Os o hau<lo :
- Yae mai .,; d e pr essa ! P ara bcns ! - ,, tlizia .
Di sse o ln a r : - E-.p c1•a ! 11111• e n te sigo : Q11e 1·0 ta mh cm beijai· as faces d'e lla ? - "
E d i -,;;;p o aroma: « - \' a e , que e u YOH ('Omtigo ! - "
E ehegu ei. E , ao ehegar , d isse uma es1rella
- (.'u1110 t'.•,; fcliz ! co mo t:,; f'L'l iz, a mi go, Que <le tio p e r to Y.11•-. ouYil-a e ,, , J. ; 1 ! -
YIA-LACTCA r,1
XIII
⦁ Ora 11li 1•pi -, 1 ouvi1· e.;;T;•ellas ! Ce1·to
1'1·nl,· il' o sp11.;;o! - E cu yo-; direi, 110 emtant o, Que , para ouvil-a-;, muita vez desperto
E· abro a; janellas, pallido de espanto...
E conversamos toda a noite, emquanto
A via lactea, como um pallio abel"lo,
S,·in1.illa. E, ao vir do sol, saudoso e em pra nt o, Inda a-; procuro pelo c,'o deserto.
Direi s agora : - Tresloucado amigo! Que conversas com Pila-- ? Que -,pntido Tem o que dizem, (fUando e--iiio comtigo?
E en \th di1•pj : - ,\mae para entendel-as ! Pois ,J, q_.uem ama pt'ide ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender C'-'h•p) las.
...'. \" I . \ -!. . \ CT I ·: .\
\ I \ '
\'iye1· 11:io pmlc -;1"111 <rue o fel pron ,-,,;t•
lf 1•-." t' outr o amor <1uc nos p,r · n •;·l p l' " 11,; a H:1
P or<p 1e homcm sou, l' ho me m nao ha qnc p:1s ,;L'
⦁ \' ir ge m (lp tod o pcla Yid a humaua.
Po1·q11e tanta scrpcntc atra e p1·o fa m Dcntro 1l'alma tlciwi quc SP a ni11 li;1.;se ? Porqnc, ahrazatlo <le uma ,;[•tic i nsa na ,
_\ i111puros la Lio s rnll·cguci a face !
Depois dos la b io ,; sof,•p_:;o.,, t' :11·de n ( p-,, PIii i - duro castigo ;10,; II H'II " tlc sPjos - U ,.:11mc fino tlr ppn ·p1•. o,; tlP11(l'-....
E niio po,-sn tla s focps poll11i1l:i"
. \ p:1 :1r o,-, Yh, i. io ,; tl'p ,, ,-p,; bcijos
E os ,-;;Jll3 1·c nto s ,-i,, 11:1 1' :, 1l'p-.-.as frrida-..
\'I A· L ACT EA 53
ln<la hojc, o lino do 11;1,,;ulo ab1·i11do, Lemliru-a,. (' pun ge- mc a Je mhra lll:,1 d't •l l a,-.;; Lembr o-as, e vejo-as, como as Yi p ar tim lo, J•:,;t a,; canta ndo, solu an<lo aquellas.
I ma s, <le meigo olhar pie<loso·e lin<lo, Sob as rosas <le IJ('H' <las ca pellas; Outras, de labios de coral, sor1·indo, Desnbdo o scio, luhricas c bellas...
Todas formm;as como tu chegaram :
J>artiram ... e, ao partir ·; <lentro em meu 5l'io, Todo o venen o da paix ao dcixaram.
i\l as, alt! ncnhnma tevc o teu e1l!'ant o, Nern tcYe olhar como l'-.-.1• olha1·, t. o 1·!tcio De l11z tiio vi, a, que alJl'aza-.-.e tan to!
YIA-LA.CTEA
.\ \ I
L(1 fora, a voz do vento ulule rouca ! Tu a cnbcc;a no meu hombro inclina, E rs;;;a bocca vermelha r pequenina
.\ pproxima, a sorrir, de minlia horea !
Que PH a fronte reponse anciosa P louea Em tt>11 seio - mais nlvo que a nehlina Que, na-< manhii-; hiemaes, humida e fina, Da scrra a-; grimpas verdejantl s touea.
,,Ila a.;; trarn;as agora, como um man1o! Can1a ! Embala-me, o s omno com.kn c:11110 ! E PH, au" 1·aio,; tranqnillos d'Ps'<r olhar,
J>o,c;-;a dormir sereno, como o rio
Que, 1'111 noites mlmns, soeegado e frio, Dorrne aos n1ios dt> pra1a do luar !..
YIA-LACTEA
Por estas noites frias e brumosas
J'.: quP mclhor se pirtlc amar, qucrida !
Nern uma estrella pallida, perdida
Entre a neyoa, abre as palpehras med 1·0-,as .
l\fas um perfume ealido de rosas Corre a face da terra adormceida...
E a - nevoa c1·c1we, e, em grupos repartida, End1e os ares de somhras vaporosas .
Somhras errante,-s, corpos nus, ardenk,; Carnes lascivas... um rumor vibrante De attritos longos e de beijos quente,;...
E os <·t'·os se estendem, palpitando, <·heios Da tcpida l,r:: ncura fulgurante
De um turbilliiio de bra<;-os e de seio-;.
\'I A-LAC'TE.A
.\\Ill
Dormcs... ,1as quP -.H,-,..;111-ro a hn mpdc id:1 Ten·a de..;pe1·1a ? Que rumor Pulp, a
.\-; PS1rPllas, f{UP no alto a \'oi1P Jprn
1'1•p,-,as, luzimlo, i1 11111i("a cs1cndida ?
:in 11wu-; ycrsos ! Palpita a minha ,ida
\ '<·!l e - phalcnas que a s·11Hl:11IP PlPYa, DP mpu SPio, c quc ,·ao , rompcn1lo a frcn., EnchPr tcus sonh os, pomba adoi·1np1•i,b '
Dormcs, com os scios 1111-;, no fra,ps-,eirn olto o Pa hello 1w3ro... c ci l-os, corrcnilo, llomlP_jantcs, suhti..;. 1cu c01·p11 i111Pi1·0 ...
Beija.m-lc a l11 w (";1 tcpi<la P nrnci a,
1l1e111, dPsrPm, teu halito s·w1 P11<I : .. . J>orquc ,-,:11·_.!;P tao ,·e:k a lnz d:) dia? :. ..
VIA·L\<"1 E.\
.\IX
al' a pa.;spio, mal o dia 1ia-;1·t•,
Bella, na-; -;impll'..., roupas vaporosas; E 1111h11·a ;1,-; r.>-.a,-, do janlim a.; ro,;a.;
F1•('-.;·;1-. P pu1·as que po-.st1C' na face.
)1;1,-;-.a. E todo o jardim, por que dla pa-.,-.1•,
.\tavia-se. Ha falas 111 ,-;tp1•iosas
Pelas moita.;, saudando-a i"l'"Jleitosas...
1:: como -.e uma sylphide pa-;-.a-;.;(' !
Ea luz <·e1·.·:1-:1, beijando-a. 0 Yento <'· 11111 ,·horo.. . t·11l'n1111--.p a-. llores tremulas... 0 bando
Da-. a"'" todas \Pill sa11dal-;1 em coro...
E ella yae, daudo ao ,,;ol o rosto lwamlo,
_\,-; aH•-. dando o olhal', ao yento o louro ( 'alwllo, C' i,-. 11,·,n•-; o.; -.01Ti.;o.;; dando ..
YI A-L ACTE A
Olha-111e !· O teu olhar sereno e hrando Entra-me o peito, corno um largo rio
De ondas de om·o e de luz, lirnpido, entramlu
0 ermo de um bosque tPnebroso e f1·io.
Fala-me! Em grupos doudejantes, quando Falas, pur noites t·alidas de Pstio,
,\,; est1·ellac; aecendem-sP, radiando, Altas, "'('lllPadas pelo e1;u sornbrio.
Otha-me as-;im ! Fala-me a,.,,-;jm l De pranto
\g!/1·,1, ago1·a de ternura cheia,
.\bre em 1-Jii-;pas de fogo e,-;sa pupilla...
E Pmquanto PH ardo em sua luz, emquanto Em ,-,eu fulgor me abrazo, uma sereia Soluce e cante 11e-;-;a voz tranrp1illa !
VI A· LACTE A
A min./i a 1,1( £ ('
Se i que um ili a niio ha ( c i,:,,;o i'· basta nte
.\ "" t a saudade, mae !), e111 que a teu )ado
:-;l' nt i1· nao julgues miuha sombra erraute Pass o a passo a seguir ten vulto amado.
- , 1i11 l w miie ! minha mae-! - a cada .in stan te Ou, e . Tornas, em lagrima s banhado,
< I m,;t iJ, tonhecendo solu i;a nte
,1i11ha voz e meu pa..so costumado.
E ,;e11t e-; alta noite no kn leito
, 1inh 'alma na tua alma repousa ndo, llepousa ndo meu peito no teu pei to...
E em·ho os tens sonho s, cm teus sonhos brilho, E abres os brai;os tremulos, chorando,
Para nos brai;os apcrtar teu filho l
GU \' 1,\ - LACT I•: \
X\11
Quamlo IP leio, a 1·P11:1 a11i11rntla-;
Por ten genio, a-; paiza;.:(•11-; qne imagina"', ( 'heias <le ,·id a, an1ltam repc>ntina-;, Claramentl' aos mem; olhos dP--dol11·;1da-....
\' pjo o (":'·o, vejo as -.p1T,h ("Ol'i,ada-;
fk gelo, e o sol, <pu• o manto da-. nl'11li11a-; Bompe, aquecemlo as; f,·i;.:id:i"' 1·ampi1n"'
E illnminan<lo os ,·a llP (' ,h P 11·ad:,-..
Oll(;o o rumor soturno lla ,·ha1T1°ia,
E os 1·oini11t'1t>s <Jill', no (·a n a lh o ('1°;.:<1ido,
. \ ,·oz modulam d(• jp1•11111·;i-; ,·hPia
E vejo, a luz t1·is1is-.i11ia da lu:i, Hermann, que scisma, pallillo, P111hehido
;\o meigo olhar da lou1·a I hrn:li ·•a.
\ " l. \ · I . Al' rEA GI
.\\Ill
Lam·a ! d i zc, f]IIC Fa bio amla offond ido I•: , apez:u· clP olTemlido, na11101·atlo,
lh1s t·1111d o a e:1.tin1·ta c ha mma do passa do
\ ;i.,1·i11 za -; f1·i:1.; a Yi,·a r do ohi«lo.
\" i1 •111e o fa1:a, e que o fai;a por perd itl o
,J J« ;i111ur ... Creio que o laz por despeita tlo :
Porqup o amo1·, uma Yez a ba ndonado ,
\ :i.o tol'lla a .;;p,• o que j:1' ti 11l1 :1 ,;ido.
X:io lite c reias , nos ol hos ne m na lioeea, Inda mesmo que o.; Yeja s, cou10 pl'11<;a,,
,1enlir enri1·i:1,, de .-;1111•11 l i1· ti-i--teza,...
Porq ue fin e zas so bre a n·ufo.;;, lou ca ,
Fi ncz as podem ser ; 1na ,;, so l.ll'e offo nsas, lai-; pa1·e cem vin anc;as qne fin c zas.
YI.\·I..\ CT E:. \
XXl\'
. l Lui:; Gui ,,ia rcies .
\ cjo- a , 1·,rntt-111plo-a commovido \qnl'ila
CJ1ll' amaste, P, de lP11-. lll'a1:o"' arra11l'ada, lk-.1·r11 d a mor(e a tene l11·osa cscad,t,
( 'alma e pur.1 a1h meus olhos se r,e ela.
\' 1,jo-lhc o r iso plaeid o , a »in ;.;e l a Fe i,:a o , aqnPlla grnc;a d1•li <·a d a,
⦁ 111.• uma diYina miio deixou vas ada
\o c tc 1· no hronze, eternamcnte bella .
, .· , , lhe nao \ Pjo 0 olha1· S('l'l'llO C friste
⦁ Ci"·o, 1iocta, OIHI!' a,; azas , ,-, us pirando, ( 'hora ndo I' rindo loueamenfo al11·i,;11' . . .
⦁ Ci'·. o poYoado de r-;h•cllas, ondc as hordas llo-; ai·chanjos cruza va m- sc> , pulsando
Das I 1·a -; de 0111·0 as c>11wtlo ras corda..;.
\' I A· L ACT EA
.1 Bocage .
Tn, <JH P no J)P;.(O impuro da" ol'gias i\Jprg11lha,:1s a1wio.'-!J P de --1·ont e nte,
E, quamlo a 1ona ,inha" de repent P,
( " hPia-. :1-, m iio-; de perola" fr azia s ;
Tu , <111e , d , amor P p e lo amor ,Yi i:i" ,
I·: qnP, corno (Ip limpi1la na <;rpnfo,
)),.-. l:i hio-. t· tlos olhos a torr ente Ho" \'(' r-.o-. P lia-; lagrim as , ertia-; ;
1<•-.t rc• qupri <lo ! , iw 1·:1' s, pmqnan to
11011\1 ·1· qupm pnbP o nrn ieo ins tr um ento,
E p1·pze a li11 11·1 <[HP pre za, as tanto :
E pm rprnnt o ho11YPr 11'11111 p onto <lo l' ni n.•1·s o Q11P111 anw" sofl'ra, e amor P <;offri me nto
:--:i ilm, 1·111 ,rnn do, ti-aliuzir no yp 1•s o.
.\\\I
Quandu canla-;, mi11h 'a \111a , dc,-\H'P Z/'ll lll o ( I cnYulncru do eoq 1u, a-.,'.'l'tlliP i,.._ hcll:1-;
.\ il:1-; e-;phe1·;i-., d.. 0111·0, 1·, al'ima d'ella-,
Ouye art'haujc·-., a-; eitha1·a,- pubando.
I ·m·1·1· "" paizp.., 1011;.\P-., quc 1·e, 1·l:1-;
.\ o -.,0111 diYino do kn ,·auto c, qnarnlo Bai'\a-; a yoz, Pil:1 1amhcm, eho1·a1ulo,
flp-;1•1', cntrc u-; t'laru.-; 1·11po.., das ,...,,,·..!la-;.
1-: p:1.pira a 1na " :z. Do parai-.,o,
.\ qnc ,-uuira UII Y ind u-1c, t'ahid o, Fico a lil a r-1c pall id u, inclcl'iso...
I·: Pmqnan1o s,•1-.,111:1-;, -;on· idcnic c 1·:1,-L1,
. \ (1•11-; p:• ,- , comu 11111 pa..,-.,a,·o frr:do,
Toda a minha alma 1remnla -,:• :1n·,1-;ta ...
YI.\-LACTEA
llo11te111 - 1ws1·io qne fni ! - maliciosa
Di,-;,t• uma t",1l'ella, a rir, na immcnsa altura
⦁ .\ mi;.:o '. uma tit' nos, a mais formo-;a Ile tmlas nt',", a mai-; formosa e pura,
Faz annos amanhii ... Yamos ! procura
, .\ rima de ouro ma is hrilhante, a rosa De t·/11· mai-; Yi,·a e de maim· frescm·a ! -
E cu mu1·murl'i t·o1111111 0 : , - Mentirosa ! -
1-: sp ni. Pois tiio cego fni por ellas,
fJuC', emfim, cm·aflo pelos sens enganos,
.Ht n:i.o crcio em nenhuma das c-;t1·Pllas...
E - mal de mi111 ! - !'is-me, a tens pes, em pranto... Olha: sf• natla li1. pa1·a os tens annos,
,Culp:t as t11a-; irmiis que enganam tanto !
66 VIA-LACTEA
\.\\lll
Pin1a-lllP a cun a d' l'-.,te-- ci'·c;s \gora
Ercrta, ao fund o, a cord illH' i1·a apl"llma Pi111a a-, 1111,en-- de fogo de unrn e111 u111a, E alto, cnfre as 1111,P1h, o raiar <la aurora.
:-;t',lta, ond ula 11do, o-- Y(;o.;; dP l''-'(ll''-'Sa hrnmn:,
I·: o ,allP pinta, e, pelo vallc cm fora,
A 1·01-rcn1cza till"!Jid:1 e sonora
Do Pa1·ahyba, cm 1orvelins de l''-'p11111a.
Pin1a; ma-; y[• de qnc ma11Pi1·a pin1a-;...
Aull•-., 1111-;f{UC's a-s <·t'11•('-; da 1ri,-,1Pza, Poupando o (' rTinio <la..; ail' rp-; 1in1as
- T,•i-;tpza singula1·, P--tranha rnagua
De q11c vcjo c,:l,Prl:1 a na1111·p1:;1,
Pm·quc a ycjo eom o-; 01110-; 1·a--os <l'agua..•
VIA-LACTE.\ fi7
Por ianto te mp o, d,t." Yai l'ad o e afll i(·i n, Fi1 ni 11°aqnella noi[e o fii·mamento,
Q11P in<la hojt· lllC'-- mo, qnando acaso o fit o, Tudo aqnillo 111(' yem ao }IPihamcnto.
:--:1 hi, no pcito o clerrade ir o griio
( 'nlcan<lo a en,;1o, scm clwrar, YiolPnto... E o cfo ful,.:ia placido e i11li11ito,
I·: ha Yia um choro no rmnor do yento...
Picdoso ceo, qnc a minha dio1· sen1i-;tp !
A anrea esphp1·a da Ina o O(·t·a'-''J c nt rax a, Bompcndo a-. lc\P'-' nun·1b tran-;parenfr-.
.E obrc mim, silcnciosa c tri 1P,
.\ Yia-lactPa ,;<• dP c>m·oJa ya
f'umo um jorro de lagrima-; ardentes.
G8
\.\.\
\o l'::1·: wa o qup .._, Jlfr e , ,-.p pa l'ado
l lo t pu , I!' > l' \ il i:1 Pill t{llP a ehm·a r 11: (' \ 1·,10 ,
\ ;01 li:i ...( a o alfPc t o s i m pJ I'.., P ,-:i .c:r adn
Com l(Hl' da-., dl' -.H ' lltn r;1 -; 111P p 1·ot1•,;:i.
'i o m <' lrn· ,t a -.,: d11' 1· J( HP -.,• n1 a ma ,lo,
,\ , 111 ,J, d, 1•p j o o te n a1110 1· : d PsP jo T P1' 11, ,, bra(,'OS tpn corpo d Plie ado, Ter 11a lio:T:l a 1lo 11l'a tk 1,-11 l1c•ij o.
E ;,i ju...t as a111l1i ,:1H' "' (JIIP 111P 1·ons o111c m
\ ;io 111P p11 ye 1' gonh a111 : p o i,- 111a.ior h a i \l ' J:a
\' :io ha IJIIP a tP1T a p Plo C t' o fr ::1·:i 1· ;
E 111:i i -- l' I P \ :1 fl 1·i,1·: w:io tlP nm li c l l l f' l l l
'-1•1· t!P ho11!1•: 1,1 ,•11JJ >l't' , , 11:i 111a io1· ]Hll"PJ::J ,
Fil'al' 1m 1(•1Ta" h11111a11·:111 P11te a111a1·.
\'IA-1.:\CTJ:A
.\.\.\l
J.onf,:e ,le 1i, ,-,e (',,t:11to, pon·en1ura,
Tt>11 nome, qnc mna bocca imli1Tm·cu1c En1rr on1rn-; nomcs de mulher murmura,
:--ohe-mc o pranto aos ulhos, de l'Cpcntc...
Tai aquclle, quc, mi-,pro, a 1o1·tnra.
:--offt·c de amargo c,ilio, e 1ristemcate A linguagcm nata l, maviosa c pura, On,·c falada pol' c-;t1·. tnha gen1e...
POl'f(UC 1cu no1m• i'· para mim o nomc J)c nma pa1ria tlistan1e " idolatrada, Cnja ,-,amlatlc ardcntc me consomc :
E onYil-o 1,; er a ctcrna primaYcra.
I·: a ctcrna lnz da 1c1Ta ahcn<;oada,
⦁ )ndc, cnfre 11.-11't"', icu amo1· me cspcra.
70 VIA-LACTEA
\\\II
.1 um poeta.
Leio-te : - o prant o tl!'"' ll:e11s 01110-.; rola - :
- Do sC'11 1·:ihello o 1leliC'ado cheiro, De sua yoz o timhre prazen1e ir o,
·T udo 110 Ji, 10· ,-.i111o quo se evola ...
Todo o rn,,.,,.,, , roma nce : - a doee esmola
Do ;..('II primeim olhar, o ,-r•11 primeiro
:--;01Ti-.;o, - 11'!'-,1f' p o e ma veriladeiro, T111lo ao men 11·i-,1e olhar -,p d(',;pn ro la .
:,.;into nnimar-'-c todo omen p:1-,-.;ado : E ffnan1o ma i-.; a -, p:iµ:i11:i-, folhcio,
l\lai,-, vc jo cm 1nilo aqncllc Ynlto a mado .
Ow;o j11n1o d1· mim ha1er-lhe o seio , E euido vcl-a , pla l'id a, a men !ado, Len lo eo111111iµ:o a pagina q111• leio.
VIA-LACTEA
.\\.\]lJ
Como quizesse livre ser, cleixando
,-\,,; paragens nataes, espaf,!O em fora,'
,-\ a n' , ao bafejo tepido da aurora,
.\ hriu as az s e partiu eantanclo.
Es tra nh os climas, longes ceos, cortando Nu\'eu s e nuvens, percorreu : e, agora Que mol'rc o sol, suspende o voo, c (·hora, E (· hora, a vicla antiga recorclanclo. ..
E logo, o olha1· tornando compungi1lo, Atraz vohe, saudosa do carinho,
Do calor cla primeir.a habitac;a.o.
.\ ssim por largo tempo andei pcr<lido :
- ,\ h ! que alegria ver de novo o 11inho,
\'c1·-tc, e heijar-te a pequenina miio !
Q11an<lo a <li, ·inl1a C(ll (' ,·on, 1'1- a , e {1 csratla Ouve-mc a yoz e o 1111·11 andar eonhcec, Fica palli<la, a---;usta-"l', p._ jr c mcc <>,
E nao sci porcine fogc enn • r,0: 11 hada .
Volta 11Ppoi-;. .\. por ta, ah-oro1;a tla , Sorrimlo, cm fogo a" fa1·l'", appa n•p1• E tah<>z enicn<lcn<lo a mmla p1·1•1·l ·
B e mcus olho-., adianta-sl' apn•--,;;11la.
('orrc, tlPli1·a , n111ltiplit·a os p:is,; o-; ;
E o ehao, sob o" spa,; pa""o"' 11m1·11111rando, cguc-a tic um hymno , dl' um 1·11mo1· tic fr•-;ta ...
E - ah! q uc <lcscjo dl' a toma 1· 111,, l11·a1:o "',
0 movimcnto rapitlo su -;ja ntlo
Das tlua -; azas qnc a paixao lhP 1•111prc s ta !
. \ IA-L ACTE . \
.\ \ \ V
P,111 , 0 mr pc-;:i quc m!lfc i ; s o1Ti nd o ll 'c , tt', Yl'1 ·, o., pnri.,-;i1110-; c -;a nto s :
Porq 1w, n' i•-to de amor I' intimo s p1·anto s ,'
On,; lo:n ·m·t•'-' do pu hli1·11 1 11·t· -.1· i ndo.
110;111•11-. de ho nzc ! um h:1n •1·(1, tit• tantos, 1 Ta l \C'z 11111 si, !) 1p11·, P,trr paixao ,-.p11 tindo,
.\ 1p1i ll c morc o olhar, n·ndo c mcdindo
0 ah·a il': P r o, 1·11timc 11 to ll't, • t e -; 1·a n tos.
'- 1·1·.1' l' , •
I' o nw:i pul,lico . E, de ce l'lo,
E,-,-;p d i1·(1 : - Pode YiH·1 · ti-a nq ui ll o
(J11l•111 a,,im aum, -.pndo a-,-.i m arnado ! -
- 1:. t1·l·1111ilo, <le la31·i11w-; cobel'to,
Ila-de c;;t i111a1· 11uem lh :_• co n to n aq111Ilo
Q m• nun1· a ouYiu com t a nto ardor contallo.
5
SAR<;AS DE FOGO
o Jl: LG.\\ IE \ TO DE PHHYSE.\
ln<'zarete - a di,·ina, a pallida Phl'ynea - l'umpa1·C'r<' ante a aust!'ra e rigida assembJ1'.a Do .\ reopa:;o ,;11p1·C'mo .. \ ( ;recia inkira a<lmira Aquella formosura Ol'igi11al, qn<' inspira
E tl;'1 , itla ao g<'nial ci nz ,•l de Praxitt>le«.
D<' II pcridPs :i rnz <' (1 pallwta tic• .\ pel11•-..
t;uan lo o-; ,·inlio-;, na orgia, o-; conYi,a, e:1.alta111, E 1la,-; roupa<;, emfim, lin'l", os 1·0 1·po ,; -.1lfam,
:\'C'nhuma l1ett>r<' sal1<' a pt·i1:10rosa ta a, Tran,hordant!' de (_ t',-., <'rguei· com 111aior gra1:;1,
:\'t•m 1110<;1l'ar, a f.01-rir, r•1;m mais g<'ntil m!'1wio, lais f'rn·1110-;r: quadril, ll<'lll nrnis ne,·a <lo S<'io.
E,tr!'m!'cem nu altar, a·i contemplal-a, o-; dP1l'-L',,
:\ua, entre ac1·ln111a oes, nos festival',; <le El<'a"i- ... Iln,;ta um rapido olhar prorncante <' Ja-;ei,o : Qn<'m na fronlP o SC'ntiu cm•,·a a front<', t·a pti, "·..
78
Na ,la eguala o potlcr de sua ,:, maos pcqucnas :
B, a ta um gc-.t o, - e a sen,;; p es 1·oja-se humilde .\thcna...
Yae se1· julgada. U111 veo, 1ornan,lo imla mai-; hclla ua occulta nmlez, mal os encantos n '·la,
"a I a nudez occulta e sensual di.;fa, r : a.
( ·;\e- llie, espaduas ahaixo, a cabclleira c,-pa1•,;r1 ... (Jueda - sc a multidao. E1·g11c - ,-;c Euthias. Fitla,
E in cita o tribunal scw 10· a c oncle mnal- a :
⦁ Eleu-,is profanou ! E fal-.;1 P tli s ,:;olu t a, Leya ao Jar a sizania e as familias enlu ta !
Dostlcu-;c,; zomba! Eimpia! e m;',! » - (Eopranto arden 1l' Corr e nas faces J'ella, em fios, lenta mc n tc ... )
⦁ Por onde os passos mo Ye a corr up 1:;io sc cspraia L p-.,tcnde-sc a dis cordia ! Ilelios1c,;! concle mnai- a ! -- "
Vaci lla o ti-ilmnal , 011Yi11tlo a ,oz que o doma...
:\ l a-;, de prompto, ent1·c• a turba II pL·1· i tl1•,; :• s -.0111_:i. Dcfcnd,--lhc a i nno ccn,·ia , C'l.1·la ma , 1· '1.01·a, pctll',
:--upplica, ortl,• ua , cxige... 0 .\ rcopago nao n•tJ,,.
⦁ Pois conJ c1 nna i-a agora ! - » E a n:, qne 11·pmp, a 1 Tuni,·a de,-pcda\; 1, c o Yeo, lp1e a e ncolH·e , a1Tan1·:1. ..
Pa,,mam -,u bi1am cntc m; juizP s dc"lumhr adu, ,
- Leuc pc lo calmo olhar ,Jc 111n do ma do l' cunados:
:'111a e branca, tic p , patc ntc ;', lu z do dia Todo o eorpo ideal, Phryn e:1 apparel'ia Diantc <la multid:'io attonita. P suq wcza ,
i\o t1·iumpho immortal da Ca1·11c l' tla Bclleza.
SARQAS DE r-ooo 7f)
l\lARINHA
olH'P as ondas oscilla o l,atcl doccmcntc...
opra o vcnto a gcmer. Tr·cmc pnfunada a ,da. Na agua mansa do mar passam tremulamcntc Aurcos tra os de lnz, brilhando cspar-;oc.; n'clla.
Li dcsponta o luar. Tu, palpitantc c hclla,
⦁ 'auta ! Chega-te a mim ! Di1-me c.:;-;a ho1·1·a ardente 1
oh1•p as ondas oscilla o batel docementc...
op1·:1 o vento a gcmer. T1·p111e enfunada a vda.
Ya;,:v-; azucs, parai! Curvo eL;o franspa1·011tc,
i\11n•11-; de prata, ouvi ! - Ou1;a na altul'a a ,,,trclla,
( )111:a de baixo o occano, one a o luar albentc : Ella l':tnta! - c, cmbalado ao som do canto ,l'clla ohl'l as ondas oseilla o batcl dol'cmente.
80
SOBHE AS EODAS DE [:'II SE .\GE\'.\nIO
Amas. l_j111 novo sol apoulon no ho.wizonlC',
E offnscou-te a pnpilla C' illuminon -tc a frontC'. . .
L i vi tlo , o olhar ,;pm luz, roto o manto, eahida
:-:obrc o pcito, a trcmcr , a harba cncaureitl:i, Dc,:;eia;;, camlmleando, a cncosla p1· tlrr ;.,:o;;a Da velhice. Que miio te offcrc cc u, picdo sa,
l:n1 pictloso hordiio para ampa1·ar tcus pa,-,-.,os? Quern te c;;tendPn a vida, estc11dP111lo-tc os lm11:o" '.
]a.., tlc ;;amparado, cm sangue os pes , ,.,,·,,-,inlio...
E era horrcndo o arredor, lono o r;;pai;o, o cami11l10 Si11i,;1ro, ac1·itlPntado. . . Uirn,a p1•1· to o \'P11to
E 1·o d a Ya m bulctiC';; no tnno firn1amcnto. Enfr:ulo de terror, a calla p:1 --s o o ro s to
Yo]fya a-;, per se rn tantlo o caminho t ra ns po, lo,
E rnhia-; o olhar : c o olhar all m·in ado
\'ia tit• um Iado a fr t• Ya, a frC'\'a di' ontro Iatlo,
S.\R,;.\S DE FOG O
E a-.-.;oml11·1,-,a-; vi,:;,'ies, vultos C.\.t;·aonlinal'ios, De,;<lobran<lo a cor1·c1· os trcmnlos s1Hl:irio.._,
E ou, ia" o 1·nmor tll' urna enxa cla , <·a vanclo Lon;<' a terra ... E parastc exanime.
Foi qn:1 ndo
Jl.11'<'< 0 e u-te cscutar pelo l'.ami11l10 cscu1·0,
i,ar, <le i11o.;tantP a i11-.. ta nte , um pas-..o ma] ,-:•g ll: o Como o teu. E attcntanclo, t•ntre alegl'ia e t•-..p:111t<>, Yi-..t<• quc vinha al3uem ('ompar1inclo o ten JJl':,1110 ,
T1·ill:: : 11<lo a 111p-,111a p,--trnda horri,el qne tr il ha, :h ,
E eu-..:i113nentando os .p· .._ ondc lh e11 -.a ng 11c nta , as.
E -.01Ti-;te. :\o ceo fulgurnva uma est re '. l a . I·: -;t•ntistc falar suhitamente, aii vel-:i,
Ten velho corai:ao clenfro <lo pcito, <·omo lh•,-p<'l'(O muita vez no <lerradeil'o assomo
Da bravura, - sem yoz, dt>t·1·cpito, i m11ot e nt <• , Trnpcgo, scm_ vigol', spm , io.;ta, - <le re p c ntP Hi <: a a jnba, e, abalamlo a solid:io nocturna, Lrra um velho IP:io 11'111na apal'lacla ful'na.
t
S.\.R <;' . \ S DE FOGO
.-\ BYSSUS
Bella l' trnido1·a ! Bcijns e as.,a;;,;ina ;;...
Que rn 1e n nao. km for as que te opponh:t : Ama-te, e dorme no te n scio, e souha ,
E, c1trn1Hlo ac<·o1·tla, accon ln fci1o cm n 1i11 a ,-,. ..
Pc\ nzcs, e con viLl a,;, e fo,,('i11 a,;,
f'omo o ahysmo qne, perficlo, a mcdonha F,11wr apresc nta ni',rida e risonha, Tapc1atla de rosas e boninas.
0 Yiajo1·, Ycm\o a,; 1·1, ,1·1•-;,· fa t i;; aJ o
Fogc o ,;ol , P , 1\c i, a ndo a c.,tr a 1\a pocnla ,
. \ rn.nc; a in ca uto... Subito , cs bro a<lo,
Falla-Ilic o solo ao s p,:,; : 1·ec ua e co:Tc, Vacilla e gri1a, lu cta c se c11:;;w gnc u t a ,
E ro la , c 1omba, e se c,;pcdac;a, e morrc...
SAR AS DE FOGO 83
Quando passaste, ao dedinar do dia, naya na altura inil<·finido arpejo Pallido, o sol do ";o .;;c• dP'-pe<lia, Enviando ;', te1Ta o derradeiro beijo.
oava na altura indefinido arpejo...
t:antava perto um pa --a 1·11, em sc;,;,·eclo; E, enviando a terra o derracleiro beijo,
Esbatia-se a luz pelo arrnre<lo.
( 'antava perto um pa-'saro em segredo; ( 'ortavam fitas de ouro o firmamento...
Esbatia-se a luz pelo arYoredo :
( 'ahira a tarde; socegara o vento.
Col"tavam fitas de om·o o firmamento...
Quedava immoto o coqneiral tranquillo...
S.\ R(_:' AS DE FOGO
( ';1 hi r:1 a tardc. 0t·P,.::'1ra o Yento.
(.!m• magua derrama<la c n 1uclo aquillo !
( u:>tlava immo1o o coqu<'iral 1ranquillo... Pisando a arcia, quc a 1<-'HS pt;S fala,a,
( (Ju·· magua dcrramacla <'lll tudo aqnillo !)
Yi Iii <'Ill baixo o 1cu n1l10 quc pa-;-;a,a.
Pi-;an<lo a ar<'ia, que a 1<-'ns p; t s falaya, En1rc a-; ramadas 11t'irida<; seguistP.
Yi l:'1 em Lai:,,,o o teu n1lto qnc pa-;saya, .. 'J'iio <listrahi<la ! - ncm seq11<'r me ,is1c!
Enfre a'3 ra rnada <; 11oridas scgui-;1e,
J-: cu tin ha a , i-.ta ti<' 1cu ,ulto d1e:a.
l'ao di,-1ralii<la ! - !1cm seqn<'l' rnc ,isle! E cu con1a,a o,.; iP:i-s pns-;o,-; sobn· a areia.
J-:11 tinha a , i,-,ta de 1cn Y11l10 chcia.
I:. quan<lo te snmiste ao fim da e-;t1·ada, Lu con1a, a os icu,- pa,,,-,os sol1re a :1 n•ia : Yinha a noiic a dP><t'PI', muda e pausada ...
Jo:, quan<lo 1c s11111i><1<' ao fim da p-;tr;11la, Oll1ou-mc do al1o uma pequcna l'-;irclla.
\ i.il:a a noiie a d1..,1·cr, mucla P pansada, E n 1ira , estrcll;;s s at·c•<_>11diam 11\·lla.
Olhcu-me <lo alto uma pcqu<'na e-;t1·ella, Ahriudo as aureas iialpcbras luzcnies :
S.\ n r_' AS DE Fc l (; (I
E oulra-. Ps l l'l·lla -.s c ac ec ncl ia m n'clla, Co1110 1w1 pw11: i-. la mp adas I 1·c11 1t' 11( c .
8.-J
A b,·ind o :i-; a111·,•a-. p alp c lir as l11zcn l <'S, Cl:11'<:'ara m a f':\( 1'11-.:io du,; l:1 1· 0 -. c a111 p:h ; I ·oino flC''f lll'nas la111 pada s fr <'lll<'III <',;
Ph osph or <:'a va rn na reh a os pyl'il am po, .
( ·1a n·:i!·a111 a 1•xt1'1h n llos la1·;; 1) -; 1·n11 q01 -;.
\' in ha , enh·<' llll\ l'II'-', o lu a r na-.;·1·11, 11 , ...
P hosp hor cav a m 1m 1·<h:' a o,;; PF il a mpos .. .
E <'II inda l',;t a va a t111 i ma ;;f' m Y<' nd o.
\'iuha, <'lllr l' nuvl'ns, o lm u· 11: i-.1·,• 11,d
.\ l <:'1°1•:t t ,: tla 1'111 <le n· Nlo1· d o rmia ...
L <'II incl:i. 1•...tava :1 t ua imagcm Y<'n<l o ,
<: ua nd o p::s, a, tl' ao d<:'d i1rnr do dia !
86
NA TllEB.\IDA
( 'hc gas, com os olhos humido s, 1rcmen1e
,\ voz, os sei u"- nus, - como a rainha Que ao cr mo fr io d a T hehaida viuh a
T r aze r a ien1a<;ao do amo1·a rd ent c.
Lnc1o : porem ir 11 c orpo "e avizinh a
Do meu, e o cu la r;a c omo uma Sl' l' pr ntc ... Fujo : porem a hocca p1·cu<le .-., qucn(e, (l1eia de heijo s, pal pi1an1e, i, minim...
Beij a, mais , qne o 1cu beijo mP inccn<lci a 1
A p e r ta u-; br a.r;os ma is l r1uc e n 1en ha a 11wri1·
Pre so nos fai;o::; <le p1·i, i'io 1i'io d ot·e !
Aper 1a, ns hm r;os 111a i-; l - ragil r·a,lt·ia Que tan1a fo1·1:a lrm niio '-l·mlo for1c,
E pr cmle mais que se de fc1·1·0 fo._._e !
SARQAS DE FOGO 7
E n'c,;!a ,; noit c-; s occg adas
Em quc o lnar aponta, e a fina l\Iobil c trcmula cortina Rompc tlas nm cn .-; cspalhadas;
Em qnc no azul c.;, p:H: n. Y:l ;;o, Scindindo o ceo, o alado ba11do
\' ae <las cstrcllas cami nha ndo
- .\ ye,- de prnta {1 fl.',1· de nm Ia o - ;
E 11 'c -;t as noites - qnc, perdidn , Lonca de amo1·, minh 'alma yoa Para t en !ado, c tc nhC'n ·i,a,
0 111iuha aurora! 6 minlta Yida !
:'\o hor1·eudo pan( ano profu lltl o Em que ,-in ·mo.:., t'S o (' ) ,.,Ill'
Q11 L' o c1·11za, s cm qnc a aln1ra ti-me Da aza no limo infecto c inunundo.
Anjo cxi la <lo das risonltas Rcgioes sagra clas tlas alturas,
Que pa,, ;i -; p111·0 c n11·c> :i,; impura'- 1111m:111:1-, t"okr;i-. 11w1lo1dw-. !
E-.1rclla tlP 0111·0 ealma " lic>lla , ()111·, alll'i111lo .1 lur i1la pupilln, lh•;llrns ;1 -., i111 elara C' 11'a1up1illa
;\n,-; 1ona,; nun•11-; ,In prorclla !
Ib io de sol tlo:1r n111lo n cs pl1'< 1'n En11·1· as 1wLlin as 1l'l',-;1l' i1n 1•1·110,
I ·: nn,; r<';,:i,-11·-- uo gc>"I c1crno
Fnzrndo rir a p1·i111aycrn !
Li1·io 1k pPtaLi,.; fu1·mosn-; E1·g1wndo ;'1 luz o niYCO "l'io, EnfrP t>-,1p,-; canlo-;, C' no moio l)'p,fa, cuphorhins YCllC'11osa;,, !
Oa..:,-; Ycrdl' no d, ,· 1• rf o '
I ';1,..,;:ro , on udo dc•-,1· 11i d,11l0
Por sohrc um solo c11snn;.:11cnfado
E (Ip cada, e1·1•,-; cobcl'to '.
Eu q111· ho111cm sou, cu 11111• n 1111,1•r1a
Jlo., homp1i-; 1cnho, - cu, n•1·111c ol,,1·11r11, Amc i-1c, fli11· ! C', lodo irnpuro,
Tc>ntci rouh:u·-11· a luz, itl1•1·1•:1.
Yait!n,k· in..;111a ' .\ lll:1 r no dia
A 11•pya l10r 1·e nt!n q11P n,•;.; rPja !
S AR AS DE FOGO
Pedir a ,-p1-pc, que 1·as1e ja,
.\ mor ;1 nuvem fo;i<lia !
Insano amor ! vaidad e ins1:1'.l!
L'. uir n' um beijo o aroma a pe., te !
\' a,:,: tr, u'n:11 JO,'•"• a L1.l (' •l r•, : ,:
!\'a escuridao da noite humana !
\ ,I a , R h '. q11i z,· t (' a pnuta d I aza,
])a pluma !1·e11111b de nevc
lk .-;( · t·r a mim, roc;ar de len •
.\ supe rficie d'esta va -;'.l . ..
J tan1o pomlc ('>ha pieda<lc,
E tanto poude o amor, que o lodo A,.;ora 1i cfo, 1; flores todo,
I·: a noite csr-nra <'· <·ln1·i,la1l:· '.
DO S. \ R<;AS DE FOGO
,\" U:\L\ CO.\ Cl-L\
P111lf'-;..:p en -;c-r a concha nacaratla
Quc-, eufrp os corac-; e a-. al a-;, a infinita
" :111-.iio tlo oL-eano lrnl.iita,
E ,Iorme 1·c-1· l i11a1 la
No fofo leito cla s areias de our o...
Fos-.c• en a concha l' , o pceola ma rin l.in ! Tn fo-...:p-, o men 1111i1· 0 1 J w,0 111·0,
:\linha, somente 111inha !
, \ h ! com 1111c- nmor, no ontleantP lle 3a i:o ,la agua tran parc-ntc e cla1·a.,
( · 01 11 <Jn<' Yolnpin , filha, com <pie aiwcio Eu n-; Yah-ns de 11:icar aperU11·a,
P a ra g ua 1·cl:11·- 1t • loda palpitante
:,.;,> funclu tie meu ,eio !
SAR( .\ S DE FOGO
SUPPLICA
Falhn a o so l. Dizia. :
- .\ cl'on la. ! Que alegria. Pclos 1·i1lente s ceos se espa.l ha ago l'a !
Foge a nehl in a fria ... Pedl'-k a lnz do ili a ,
Pede m- te a" d 1an1111a-; e o s on ii- <la arn·ora !- ,>
Dizia o rio , cheio
De a11101·, ahrindo o "'l' io
- Que r o abr;11::1r-1e a;; ft'.1rn1;1-; p1·im o1·0-a , '.
\' pm tu, que e m hald e , e;o
0 ,-;r,I : so me nte aneeio
l'oi· 1cn cor po, for mo-.a e1111·e a:s for mo,, a '.
Quero-te int eiram en te
;\ iia ! qnero, tr ement e ,
l 'ingi 1· de heijos tuas 1•0,:,e .1,; ponw, ,
,C ,l ._)
S .\ ,1: ,; .
1>1 : FOGO
( 'ohr it· tC'U ,·011· : o ; :r <IC' nl <', I: na agua tt·an pa t·C'n1<'
b uanla1 ·k , u
\ i-,. (; ,, :.,c ;_,:., ;:.;c :;,,
; r ;, 1 . ::;:
E proseguia o vento :
- -..·•n n o n1£l u 1c: n:£lnto !
Yem ! 11 ; 0 q111·,·:, a lo l liag <' m r• 1'11.11w1la ;
( ',a n a Bin· 11:- , : Ille l'ontC'n1o !
Y:ii,-. alt o ,: o rnen in t C'n1o :
tJ11<'10·
C'mh al:u·-t <' n 1·1:11.a dC's nns1ra d:i ! -
Tmlo a cxigia. .. J-:i111 : rnto,
. \ lguem , occu lt o a t:tn can1o
llo jai·clim, a eliu1·a1·, dizia : -
,J;'i te niio P<' O fa ntu : t'1Ti1 ra -,,;t' o 11!e u p1·nn t o
·11 liC'lla !
.,. j..._.._<' a 1 ua somb ra na j:rnella !
.\ ll <J AS DE i:u, _;o e !l :J
CA J\ ('.\ O
Da-me a,; pcta la,; dt• 1•,1-.,:1 D'e ,-,;a hocca pcquc ui ua ,
\' e m com ten riso, for1110:,:i
\"cm com ten l1cij o, tliYina '.
T 1·a ns fo1· nrn n' nm pa r, ti :,u
fJ inf e rn o do mcu de ...Pjo. .. Fu1·mosa , Yem com ten 1·is i ' Di Yiu a , \'l'lll c·i:11 tc11 l,e ij o '.
Oh! 1u, (Jilt' tornas mdio, a
" i11 h' a l111a, que a do1• do. 11i 11:1 ,
:-;,·, c t1m lPH 1·i-rn, for mos a,
:-·;, , e u111 1cu hc ijo , di \°iu a !
Tenho frio, e uao di, i -.,u
l.11z na t1·c,·a crn (jHC l!H,'
·t'J' '
IJ;1' - 111e o e!a1·,10 do 1eu 1·i,,.o !
IH - mc o fogo do tc u hcijo !
94 'i AH ' A S DE FOGO
RIO AR\IXO
Tl'eme o rio a rolal', de va;.:a em y:iga... IJ.ua..,i nc il e .. \o ,-,:1hor tJ,, <0 1 11"-;o lento
Da agna, <(IH' a,; ma1·:;e ns em rPtlrn· ala;.:a, t' ;.:11 i mos . ( 'm•ya o•, hambnap-; o yen1o,
YiYo, ha ponc o, de pnr pnra , sangren1o, lle-;maia agora o OtTa,-,n. A noitP apa. a
.\ derradPira lnz do fin na 11 w111o.. .
Bola o rio, a trenwr, tie ya ;.:a e111 vaga.
1 · 111 ..,jJpncio 11·i-.ti-;-.imo por 1mlo
<' <'spalha. '1a-; 11 Ina kn1amen1e 111-gc na fimbria do hori zon1c mu <lo
I o st>u reflexo pallido, emlwhitlo
·( o mo um glatlio de prala na eoncn1e, Ha-.;.::i o ,.,cio do l'io ador mecido.
SARQAS DE FOGO
SA.TANJA
:\t'm, d.. pt'-, solto o cah..llo as rostas, orri. :\;1 alrnya p<'rfnmada e qn<'ll1<', Pela jandla, romo um rio enorme
D.. aureas ondas framp1illas e illlpalpa, ei-;, Profn,-,anwn1<' a luz do meio clia
J-:ulra e ,-.(• <'Spalha palpitan1<' e YiYa. En1ra, pal°l<'-"'L' <'Ill fL•ixC',; ru1ilan1e-.,,
, \ Yi Ya as ei',n•-; d:1-, 1,qwr,-arias,
Doura os P'-'pellw,; e os <Tys1a<'S inllalllma.
D..pois, 11-enwndo, <00 111•; a ai·far, <h•-.,li,,a
Pdo chiio, d!',P111·ola-se, e, mais l<'n', ('1,mo uma va a pregni<;osa <' lenta, Y<'m-lh<' l,eijar a 1wrp1c>nina ponta
Do p<'quenino I'·. mat·iu <' hranco.
. >'><'.. . 1·iu 1•-lhe a pe1·,n lnngamente.,
o\Jp .. - e t[lll' volta ,-,:•11s11al liP,i'l'P., l'
Par.1 :1lll'111;.!;Pr to1h o (Jll'ldril ! -- p1·ose311e, LamhP-lhe o yentI·t•, :ilwa1;a-lhe a ,·intm·a,
:\lor1lP-lhP o-; l>il'o-; tumidos dos sPi o s,
( 'o l'l' -lhP a p-;padua, pspia-ll1l' o rPt'Dnca,o ll:1 a:xilla, ac rPntiP-lhe o 1·:, 1·.1 \ lia bo:Ta,
E a:1fp, d1· -;:' ir pL·1·d:•r n:1 P,1·.ir.1 nui le ,
\a dP,b:l ll'>itP ti:>-; 1·:1Jipl(o-; 1w31·:H, Pitra eonfu-.:1, a palpita1·, di:1:1te
Da lnz mais bPila d os -;pus ;.;1·andp.; olhos.
1-: au.; 11101·110-; lie ij,o , [1s l':1ricia-; (1•1·:1.15, Da lnz, t·Prrallllo kvemente lh cil i•: ,.;, at:wia o.-; l:1hio, hu111itlo-; enrnna,
E da bo1·1·a 11;1 pnrp:1r;1 s:ing1·enta
.\ hre um cnrto S')1Tiso dP Ynl 11p i.1... Co1Te-lhe /1 lliir th pl'llc nm nJ ..fri1); Todo o ,-,e11 -;:rngm·, alvoro1::1th, o 1·11rs:•
.\ p1• ps-;1 ; l' lH ollw-;, pe!a fp:1da 1·-,t1•pi(a
lbs ahai:x,uh; p:1lp:·IH•.1-; r.1diando,
Tm·,o.-;, <1twlwado-;, lan:.:;nido,, co11(1•111p!a111, Fito-; no vacuo, u111a vis o querida...
Tahez an1c elles, s1:intilla111h ai> vi,o Fogo do ( l1T:1so, o mar se desenri)lc :
Tingem-s<' as ag1rns de um ruhor dP san;.:ne, 11ma caniia pa-;•-n \olargo oscillnm
:\laslros enorllll's, -;:u·n<lindo as flarnmula-....
E, aha<' sono ra , :.t mm·111111·ar, a 1",puma
AR(}AS DE FOGO
Pelas ar ·i.1-; sc insin i',,: , o limo
Dos gros-,cil'Os casca lho s pratcando...
!J7
Tahez aute l'llc>s, l'igida ,; l' immoYci",
\'icc1u, abrindo os leque,;;, a,;; palmcira,;
Calma em tudo. :\'pm serpc sorra te ira ilu , nem aYe inquicta agita as aza,;. E a t c rra <lo1·me n'um torpor, dclmixo
De 1:111 Cl!o de bronze quc a com prime e abal'a .. .
Tahez a-; 1wite-, tro pi1·. w ,.,<' e -,i e 111 '.a111
. \ ute ell.--;: infinito fin 11a111( •n t-..> ,
'1ill1ue-, de p-;l1·ellas sobm as Cl'espa-; a. ua -. De torrentes camlac,, quc, e-;l11·a Y Pja ud :,, Entre alt.i,; ,,e1Tas su1·damc11tc r·: l a111 ...
Ou tahez, em paizc>,; :ipal'tatlu,-, Fitem 1•11-, olhos uma s1·1• na auti.c;a.
Tarde d,· outono. l ' ma ti·is tc za i111111t.•,1 :1 Por tudo . A 11111 )ado , i, so mhra dcle i t o-.·1 Das tama1·eiras, meio ado1·mecido,
Fuma um arauc. A font c ru mo reja Pcrto. .\ 1·ahc1;a o 1'a11tharo replcto,
l'om :i-, miio, more11as suspcu<lcmlo a sa ia ,
·1. ma mulhcr afa -;ta - sc , cantan<lo ...
J-: o aralJc di:n ne 11 uma Ul'11sa nuv c m
De fumo... E o canto perul'·SC i1 d is t a uc ia ... Ea uoite d 1L•g a , tepida 1· <>-<t1·d lad ·1 ...
Certo, lw111 <loce Je, l' "l' ' ' a -,rc>na Que os seus olhos c:-. tat ico s ao lon 6c,
Turros, quebrados, la11g uidos, contcmplam.
G
98 SA R( lc\S DE ·FOGO
Ila pela alco,·a , emtanto, um mm·mul'io De , 01,p-._ A p1·i11eipio (. um sop1·0 p-.1·a-.-.n, l"111 sn,-;s111Tar haixinho... .\ugmenta lo;.:o :
E uma prece, um clamor, um eoro i111111 p1,1-; ►
De ardente,-, ,·ozes, de conn1bo-< f?_rito-<.
i'.: a YOz tla Carne, t'.· a Yoz da :\lot"ida1le,
- ( ·auto .Y i vo tk for{,'a C' dl' helleza, Que sol1e tl'e-,-.e corpo ill nm inad o...
Dizem o:c; hrai_;os : - Quando o insiantt- tlorn Ila-cle che;.:a1·, em que, it p1•p,.;.:; o ane10-<a D'estes la(,'OS de museulos sadio-;,
t·m corpo a111atlo vibrar:1 de gow? - 11
E os seios dizem : « - ()nl' sPdentos lahio", (Jnp avidos l bios SOl'H'l',10 0 vinho
Hubro, f[HC temos n'esta-; chei:1s tai;as? Para Pssa. hocca ffllC e-;peramo'-', p11l-.:1 i\'es1a,c; t·a1•11ps o sanguP, e1wlH· t",ta.:; vei:1-., E entesa e apruma p-.tp-; rosad u,.; Licos... -
E a hoce;i - Eu tenho n'e-.ta fina con('ha Perola,; nivPas clo mais alto prei:o,
E coraes, rnais brilhantes e mais purm,
Que a ruhra sch-a tpie tle um t Tio 1wmto
Colwe o fnndo do-.; mares da. .\h) -.si 11i :1...
,\nlo C' ,.;11,.,piro ! ( '01110 o dia iarda·
Em fJUC 111t•11s lahios pu--sam -.e1· l1Pijadn-<,
:\l:iis •1nc lwijados : JHN,a111 s:•r rnordidn-. '.
SAR('AS DE FOGO
l\Ias, quando, emfim, das regioes desccndo Que, errantc, cm sonhos, peroorrcu,- Satania Olha-sc, c ve-sc nua, e, estrcmecendo,
Ve;;te-se, c aos olhos itVidos do dia Vela os cncantos, e,-sa voz dccli11a Lcnta, abafada, tremula...
Um barulho De linhos frescos, de lirilhantcs sedas Amarrotadas pelas maos nervo-;as, Enclw a alcova, derrama-se nos arcs... E, sob as roupas que a suffocam, inda Por largo tempo, a soluc;ar, se escuta N'um longo choro a entr ecortad a queixa Das deslumbrantes carnes cscondidas ...
If Ii I
QU AREN T.\ .\ Ni\'OS
i 11 ! I 'o mo um dia de Ye r :io , de :w1•e,:1
Luz, d u arl'e,;os e ealitlos fulgor,'s,
f ' 01 111) OS sor r i..;:,..; da <•--(a ao d a s flo re .,;, Foi p ac;c;a ndo tamlwm tua bcllc za.
ll1Jje - <la s garras da de,.,1T e 111: ri p r e za Pt>rdp-; as illusiie..;. Ya o-, ('- ( (.' a-; ('(II' ( '"
IJa fa1·P. E e nt ra m - tc n'a h na o,; d i ,;a ho1•e -;,
:"luhlam-tc o olhar a-; sombras <la fristcza.
E\pirn a. p ri ma rn r:1. 0 sol ful;.:11rn
1· um o hrilho l'\11•prno... E a hi yt'.•m as noites frias,
:\hi H'111 o inH •1·110 da Yelhil'C' (',1·111·a ...
. \ Ii ! p ud sl' ,; • l':i fa zc r - no,·o Eze<p1ia.., IJ1u· o s,,J poente t]p's -;a f<..,1· n1os ur a.
\ "o ln, · ..,,, ,,· aurora do , pri111!·irn-; dia-; !
S A IU ,'.\ S OE FOGO 101
rESTIGfo:,;
Foram - te c,-; annos con-.11111in<lo arp1C'l!a Ilelleza out1-'ora ,irn P hoj e percli tla .. Por; t m teu l'O to da pa s, .;; 1 tla vid ,t
I11tla uns ,est i io-.; 1-re mnlo.;: re ,·pla .
.-\ ,;.;;i m, <lo,; rud1•-.; f111·;1t·,ies lia tid a ,
\"e llrn , expo-.ta ao-. fo1·u1·e da p roc l'i la , l ' ma arvore de p\ sPrena e bella,
Inda se o,-..tenta, 11a floresta erguida .
Ilaivoso o raio a lasea, e a (';;( n la , e a fomll' ..
Haeha-lhe o tronco annoso "a-;, C'lll 1·i111a,
\'e1·1IP folha,_:P1n tr iu mphal sc e-;1C';id,•.
:\lat seg ura no d 1:io,, In<la os ninhos 10· 11"l'1,·
·a1· i lla ... E11 d01 1·a 1
·a , e se r ea n i ma
.\ o chilrear dos pas,-;1ros de ont1-'era.
G.
102
l ; l TRECHO DE G.\-L TIER
(.\file de Jl a11 pin. )
E po1·quc cu sou a,-;sim quc o mumlo me l't'pt>lle,
E e poi· iss •J 1ambem 11ue en nada quel'O d'Plle :
,1inh'al111a 1'• uma rcgiao ridcntc c, e. pl1•111l11 r.,s:L
\11 :tppucneia : porem pull·iJa 1· pa11tanosa, Cl11•:a de c111a 11ac1i t•.-; mephiticas, l't'(>lc•t a
De immunJos ,ilJ1·ic1e,-;, como a n•giiio i11fe1·ta
11:1 B:i.ta,ia, de um a,· pc,tif'e1•,J c 11 0:·i, o . Olha a w;,;c:>1:wao : Tulipas d,· ouro ,ivo, F11l v,!" naga--•-mri-; dc:> ampla ('; )l•i ,a , llol't·,
l)p a11_:;-,·; ka , pompcamlo a opulcnci:1 1las c1,1•1•,,
\' i :u n ; ,ic;am rosae.-; dP p11r p 111·,1 1 -.·11•r in tlo
:: h o limpido azul de nm 1· Jo st•1·eno c i11fi111h. ..
\la-; a /10 1·(•.1 col'tina cnlrcabrc, e , i.· : - \., fo11dn,
.._, ; l ore o s fropegos pis 111ovcndo o corpo imm1111do,
\' ac tic rastos 11m sapo hych-opico c nojcnto...
S.\R(,.\.'-: DE FOGO
Olha e,;ta fon1c agora : 0 claro firmamento Traz no puro cry,;tal, puro eomo um diaman1e.
Viajor ! de louge ,en-;, ardendo em sedP? Adian1e ! Segue ! Fora melhor, ao l"abo da jornada,
De um paufano heber a agua que, e,;ta 11ada 1?nt.re th podres juncaes, em rneio <la llon• 1a
Domw ... Fora melhor beher cl'c,-;,;' a ua ! :\\•-,ta Sc• a'"a"o a incau1a miio mcrgulha um dia a f!,PH1e, Ao sen1ir-lhe a frescura, ao me mo tempo scntt>
As pieada,; mor1al's da-; pec;onhentas cohras, IJ11P colleiam, 1orcendo e destorcendo a,; dobra-;
Da eseama, e da a1ra hocca expellindo o Yeneuo...
1·. 11P: porque L' maldito e ingrato f'.-;te ierreuo : IJnarnlo, cheio tit• f,', na eolhei1a fu!ura, Ante;,osa.ndo o bem da proxima fal"tura,
Na terra, que feeunda P hoa 1e pa1·c•1·t>,
Spmea1·e-; t rigo, - em ,ez cla ambiciouada mt• p,
E111 vez da e-;piga de ouro a ,;1·intillar, - ap1•11;:,; ('olheri1s o meirnc11tlro e a,; calJelluda-; penna-.; (Jue, eomo >'f'l"(>P"', IJl'audt• a mauch·agnra bruta, Entn• ,e,,ptat;iil',., de nsphodelo c· 1"icu1a.
Ninguem log rou jamais a1l'an•-.;,ar em vida A floresta ,-.pm fim, m·;.:ra e de -.;i:onheeid a ,
Que en ie nho dc111ro d'alma. E uma flc1•p-.;(a enorn:P,
Oude - , iq;em iutada - a na1ureza d,:1·me, Como nos ma1tagap-, da America e de .J:l\a f'rcsc•p, erespa e c•prracla, a lac;aria bra Ya
Do-; flexiles eipt',...., e un ·o,; e resi ten1es,
As arvores a1ando em ,oltas de scn.>enlc•-.;;
10', S \RQ.\:'- l>I•: FOGO
L:'t dent I'<>, na e.;;p1''-''-'lll'a, enh·e o esplc1Hlor -,pl\ a p111
Da llora 1ropical, 11m, a1To,-, de folh:1 ge111 Balanc;am-se animal''-' fan1as1i1•0-.;, ,,11..;pe11s11s
',Jorl'e30s de 111na fi'1r111a ext 1·;10nli11a1·ia, e im1111•1isu, Eseara ye]hos qne o a,· l)('":1dn e morno agitam.
',1011-.,tra-; di' h i.1·1·11•1tlo aspedo e (a-.; furna..; 1t,1hi1am:
⦁ Elephan11'-. hrn1a1•-., hr n1ae s r h i11• wP r o 1111•-., 1-:._fl'P_:.:ando ao pa-- 11· c· , m1 ra o-.; 1·.i;..:1"'''" montl',
.\ rn;..:o-.a cour,1c;a P c,-,1wtl:11::rndo os t1·n;11·0..; Has al'\"OI'L'", Ii, , iio; e h ip popu1a1110 ..; l11·011cos De 1umido f0t·i11ho t' rn·pl lt 1,-; e1·i1:ad as,
Batem pausadameate ;i,-; pat:i..; 1·ompa..;s1da--.
:\a clareira, OIHlc o s:il p1•11ctn ao meio-dia
0 a111·i,1'1·tle d o n· l da..; rama: """, c enfia
( 'orno mn a 1·1111lta de om·o 11111 l'aio lumi111,..;,1,
E omll' um cahno 1·P1 ir o a1·lt:ll· eon1a,-;le ancioso,
⦁ T1·;rn..;ido d1• pa Yo r e11C·ont1·:i1·i1s - pis,·ando
( ► olhos n·nk,, e o ar, ..;:ii'1•p, o, l'espil'ando,
I ·111 ti;.;re a dur.nita,·, l'O!O a lingua rnh,·a o pelo Ile , ellmlo l u 1t'a nd CJ, ou, <'Ill 1·al111a, um noyelo DP IHlil'-', tlige l'iud o o 1ouro de,·orado...
Te111 1·e1·eio de t mlo ! U 1· ·o pnro P aznla<lo,
.\ hcn·a, o fl'lw1o urndnl'o, o ,,ol, o ambiente mmlo,
T 1:ch ::•i;ii t• in or 1al.. . TPtn rP1°f'i•) d1• 1ud o !
E t· JIOl''Iue P:1 sou as..;i111 11m' o mumlo lilt' l'CJ.1Pll1·,
]-: ,; pur is,-;u ta.1111Jpm IJHP en nada 1p11•1·0 d'pll,· !
SARQAS DE FOGO I I)-,
O LDII'.\.\R 0.\ :\IOHTE
Granrlc lasci \'O ! cspcr.1-tc a vnl11pl11n,i,I 11lc
do narla.
(Jl acilado de .Is,si , ur: \Z r.:·n \'-.
E'ngelhadas a-., t: i:-l's, C'-' 1",d,cllo" Brancos, ferido, 1"hcgas da jo1•,iath.
Ht>,t''-' da infaneia o-; dias; e, ao rc,Pl-i:-.,, Que fundas maguas na alma lacera1la !
Pitras. Palpns a 11·e,n e111 1oriv,. Os gclo-s Da velhil"c te cP1'!'a111. Y1•-; a c,-11·a1l:t
:\pgra, eheia de somlira-;, po,oa1la De atros Pspectros P clc pesadelo,...
Tu, c1ue 11mas1e c :--offn---dP, agora o-s p a,,., , -;
Para meu lmlo moves.. \Ima Pm pr a n1,:,- , Deixas o-s mlios clo mm11lnno inferno...
Yem I que emfim goza1·/1-s entrc 111p11-; lira•:••• Toda a ,·ol11pia, toclos ,,-; c ncan tos ,
Toda a deli1·ia clo n·pous o eterno 1
10G SAR \ 'AS OE FOGO
P.-\RAPHR.-\SE DE BAUDEL\.1HE
.\ ....,.im ! Quero senfo· sohre a minha ralie(:a
0 pe--u d'e-.,:.a noi1e e m liak 1ma da e e'-pt'""a ... Qne suarn cr.101·, que Yolupia <l iYina
.\ -, canw mepene rr a e O'- nervos me <lomin.a !
.\ h ! deixa-me a.;;pi1·ar indefinidamente
J-:-,le aroma suh1il, e--tl' perfume ar<lente !
De ixa - me ado1·me1·er en Yo lt o e m 1<'11s cabello-. 1 ...
Quero ,-.en1il-os, quero aspiral-os, SOl'Ye l -os,
E n'elle.-,; mergulhar louca mente o meu rosto,
Como quem vem de lon;.:e, e, ,is horas do sol po,lo,
.\ cha a um canto !la e--t r a tla. uma u n -,1-e nt(' pura, Onde 111it i;;:1 :rncio-.o a si•de que o 1or1rn·a .. .
(Ju e ro le l-o s na-- m iio-., e ag il al-o,-, (':111t:111<lo,
1_'0 1110 a um le r wo. 11elo a1· --:1mlad es e-.palha ntlo..
.\h ! -.e p rul( •-,-.p,- Yer tudo o qne n't·l h•,.; Yejo !
⦁ :\leu d,1" rn i1·a do amor ! 111ea in,-.ano 1Je .,l'jo !...
!--_\RQAS DE FOGO
Tl'll" (0 alicl)o-. ('Ollll III uma\ isao rompk•ta
--;- Lnr a-. :1;.:11a-., 1110,t>ndo a -.11perli1·i<' i11,p1i<.'ta, l'heia 1le 111n turbilhiio tie Y<.'la-. t' ,le 111a -.t1•:,-., uh o c-laro docel palpitaote tlo-. a -.t r c,-..
( ';1 Ya--.1· o mar, ru;.:imlo, ao J"I "" du-. u::, j.,...
lit' toda-. a-. 1ia1:1•l'" e todu-. os ]i_,itio-.,
lk -.l'n rola mlo no alto a-. flammnlas ao Y<.'nto,
E 1·t•t·orta1ulo o azul do limpo fil'l11anwnto,
uh o (pial ha nma etl'rna, uma infinita n l111"1.
107
E pr<'\t' lll<'ll olhar <' pr <''-<'1111· minh';dma
l.011;.:l', - 01ule, ma i... profu11do <' mai:,; az11l, -. p a r, Jlll': a
O c i o. nmlP ha mai-. luz <' 01HI<' a at 1111· -.ph <'ra , 1·lwia
l) p ;11•1:111:l"'. ao repoUSO e ao ruyagar l'Oll\' itl;1,
·I m paiz enran ta do, uma l'<'g iao q1w1·itla,
1-'n•, :·a,, 111Ti ndo ao -.ol, enti·e frurto-; <' fli'11·c•--
- T<.'1Ta -.:1111 a <la luz , do !iou ho e d t: -. a11101,'l ' : T ,•1..-;1 1111e nunea Yi, terra ({II<' niio l' Yi, tr ,
" -- da qual, l'11tretauto, eu , tl,·-tl'l'l'a1l0 e tr i- 11•,
:-:;int o no e,:ra,::io, ralado dP- a rn·it>dadl ' , l'ma -. : llllad t> eterna, uma fatal ,-am l:1 dl• I
:\linha p:ttria i1lPal ! t-:m Yi'io r, tl ' 11do o<; br ac,o -; Pa1·a tPu la1lo ! Em Yao pa1-.1 tru l ad o o-. pa -.-.·i -.
" oYo! Em Yi'io ! :\ unea nm i-. <'Ill te u -.pio atlorado Podl'I'<'i 1·epo11sar 111eu rnrpo fat ig ad o...
\ 11nl'a uiai-. ! 111111ea mai-. '. ...
ol1 r', a 111inha <.'a li<':.a ,
Q11eri1la ! al11'l' <'""a uuitP ('11d1a l-.a111:11la <' <'-,.p •-.-.:1 1
D1s•dobra --•1l >1·e mim o:,; te u-; ne ;.:1··:- <.'abello-. '.
Q11<'l't1, "':)1'1<· ',.:o <' lo ul'O, a-- pira l- c,;, mortlel-o • ,
I:, Le li1•1.h> dl' am " l'. n -.e u }l<''>O "'l'III indo,
S_\ !t <_:A:'- DB FOGO
\'cllcs Jon11:i- enrnlto e ,:,l'I' f1•li1. dol'min<lo•. .
.\h' --1• 1111dt•----L•,; \l'r tmlo o 11ue n'clles vejo '.
.\lc11 d1•-;n1:1•ado :u1101· ! -" e 11 i11-;·1110 cle sej o !
S.\ lt ◄ : AS DE FOGO 109
lUOS .E P.\ NTANO S
;\lnita H' z hom·p <;"L o dentro tll' um peito : Geo cobP1·to de p-,fr pll as 1·es plendPntP s, ohrP rios ah·iss i mos , de lPito
OP lina prata e margens flore sce n1t•s...
Um dia ,·e io, em <(UP a dP-sc t·en<;a o aspeilo
,tndou de tudo : em tul'bidas Pndwnte-.,
.\ agua um manto de lotlo P trevas feito EstpndP11 pPla" YPigas 1·p-;[·entlPn te s.
Ea alma que os anjo,i tie aza solta, os sonho-;
E as illusoes cruzal'am revoando,
- DPpoi-s, na supp1•ficip hor1·e11<la e fr ia , .
o ap1·esenta pa ntano s medonhos, Onde, os longos sndarios arrastanclo, Pas-sa da pe-;tP a legiiio som bria ...
7
110 SARQAS DE FOGO
DE YOLTA DO BAILE
Chega <lo bailc. Dcscansa. Mon• a eburnea YPntarola. Que aroma de sua lran<;a Yoluptuoso ;,;c evola !
Ao vel-a, a alcoya {!p,-;prfa
E muda alt'> entao, Pm roda
Sentindo-a\ treme, d1•-.pcrta E e festa e delirio toda.
Despe-se. 0 manto primeiro Retira, as }uya;,; agora, Agora a;,; joias - chuwiro De pedras <la cor da aurnn1.
E pcla,, pcrolas, pelos Rubins de fogo. e diamantes,
SAR( ' AS DE FOGO
Faisc an<lo nos seus <·11 hellos Como e"'trellas <· on N:antes,
t11
Pelos rollares t-rn dohrns Enrolndo--, - pelos fin os Dra<'ele1t-s, corno cobra s
,ror<lendo os Lr:1<:os d ivioo 1< ,
Pela grinalda de flores,
Pela" sedas que se agitam lurmuranclo e asy ar ia s ci1res Yirns do :irr o- i1·i,; i111ita.m,
- Por tudo, as m iios inquie fas Movem-se 1·:ipi cla mente ,
Como um par d<· hor hole tas Sohre um jardim florse cen tl'.
Yoando em tor no , in fini ta s, Precipitacl:i", Yiio solta,; Ilevoltas nuy e ns de fit as , Nuvens de 1·enda s re volta ,;.
E, de entre as rendas e o arminho, Saltam seu,; seios rosaclos,
Como d<> dentro de um ninho Dois pa ssa ros assusta do s.
E da lampada su pensa
Treme o clariio; e ha p111· tudo
112
111a :1:..:i t a1:iio i1111111•11-,:i,
; Il l t•xta--1• i111 t11l' ll" I I C 1nntlo.
E 1·0 1111> quc p 111· encanto,
, ·11111 longo 1·11111or de Lcij o,-,
Ha yoz,·s t•111 ca<la 1·:111111
E c111 1·ada canto de-;ejo,-...
\lai-- 11111 ;..:.1• to ... E,, a:,:a1·o s a>
Dos homhros solta, a 1·;1111i--a Pelo ,-,•u 1·or p11 - a moro sa E seus ua lmentc dt•-<l i-,a .
E o tronco altiYO e di1·Pito,
( I bra-;o, a cur, a macia
Ha cspa<lua, o talhc <lo pcito (Jue de tao lwa neo i1·radia ;
0 Yentrc quc, como a IICH', Firmc e ahi,--,i11111 ,-p ar1p1eia E ap1•11a-; cm haixo nm h·H' Bu1:o 1lo111·atlo somh1·cia ;
.\ 1·11xa firmc quc 111',-1·1·
(:urvamcntc, a perna, o artclho: To<lo o s1·11 1·orpo appart•1·1· uhit;i111e11(1' no 1•,-;pellw .
.Has logo um .Jp-;]11111l11·a11wnt11 Sc e,-pnlha na al<-oYa intei1·a :
SARQAS DE FOGO
Com um rapido mo,imento Destouca-se a 1·a liPlleira.
113
tJue riqni-.;simo tlwsouro
:\'aquelll's fios dardl'ja !
I como uma nu,ern de ouro
Que a e1nohP, e, e111 zelos, a lie iia .
Toda, coutorno a ,·ontoruo,
Da fronte aos pi·s, 1•p1•1·a-a; e e111 omla-; Fnlvas derrama-s,• em torno
De suas fbrm;is redondas;
E depois de apaixonada Beijal-a linha por linha,
t 'ae-lhe :is cost,1s, desdohrada
('.omo um manto dt> rainh:1...
lH SAR<; \S DE FOGO
La yao elles, \(1 Yiio ! 0 e:\o "l' :ll'(fllC'ia Uomo um tel'to de bronze iufi1ido e qnentl', E o sol fuzila P, fuzilando, :11·dl'r1tl'
Criva <le flech:i-- <le :u:o o 111a1· <le areia.
Li\, vao, com os olhos 011lle :i ,-;1•dl' a1l'ia
1· 111 fogo p..;tranho, procurando em frentc Esse o:isis <lo :imo1· <111e, d:irameute, Ah\m, hl'llo c fallaz, se delineia.
i\las o simun da morte ,-;opra : a fromli:1 Convuls enYol,e-os, prosfr:i-o..; ; l' apl:w 1la Sohre si me--ma roda e p:\lwu--t:t tornli:i ...
E o sol de 110\'o no igneo 1·:;o fuzila... E sobre a ,-;1·1·a1;iio e'\te1·rni11:ida
A areia <lorme placida e fr,m1111ill:1.
SARQAS DE FOGO 11G
BEIJO ETERNO
Quero um beijo sem fim,
Que dnre a ,ida inteira e aplaque o meu desejo ! Ferve-me o sa11:-;11e. Acalma-o com teu beijo !
Beija-me assim !
0 ouvido fecha ao rumor Do mundo, e beija-me, querida !
\'ive s6 para mim, "it> para a minha ,ida, S6 para o meu amor !
Fora, repouse em paz
Dormida em calmo somno a calma :\"atureza, Ou se debata, <las tormentas preza, -
Beija inda mais !
E, emquanto o hrando calor Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas boccas febris sl' unam com o mesmo anceio, Com o mp,;1110 ardente amor !
116 ,:; _\ R(' AS DE FOGO
De arrchol a arrcbol,
\'iio-sc os dias sc m conto ! c as noitcs, como os dia ,
:,..cm conto ,·iio- -.l' , calida-.; ou frias !
Rutilc o sol Esplcndido l' ahra zad or !
:\o alto as p-.1 rcllas cor11,-;1•:i nt C's ,
Tauxiando os larg o,; (·t'•o,;, hrilhcrn como diamanirs !
BrilhC' arp1i dcntro o amor !
...;tH'<'C'lla a tren1.- it luz !
\'cle a noite de 1·r<'pt' a cnna do horizonte; Em Yi•os de opala a madrngada aponte
:\'os ceos azucs,
E Yenus, l'orno uma !for, Brilhc, a sorrir, do Occaso ;', porta,
Br il hc a port a do Oriente ! A trern c a luz -- que imporla?
:-;{, nos importa o amor I
Hairn o sol no \'erao !
Yenha o Outono ! do lnverno os fl'igidos vaporC's Toldem o ceo ! da-, an•;; e das !lores
Yenha a C'star;ao !
Que nos importa o 1·splcndor Da Primavera, e o firmamcnto
J.impo , e o sol scint i llante , c n neve, e a chuva , 0 o venlo?
- Bcijcmo-nos, amor !
Beijemo-nos ! quc o mar
:'\ossos beijos ouvind o, cm pasmo a YOZ lernnte ! E cante o sol ! :i ay(' desperte c cante !
Cante o luar,
AfU.,'AS 08 FOGO
( 'h<>io <le nm noYo fulgor !
I 'ante a amplidao ! can1l' a floresla !
E a :\atnreza toda, em delirante festa, ( ·ante, ea111P p-;jp amor !
117
na guc- P, {i noite, o yCo
Oa!-! neblinas, e o vento imruira o monte e o Yallc
--- Qnem l'anta ac;-;i111 ?-)) E uma aurea estrella fa lie Do aIto <lo eeo
.\ o mar, preza <le pavor :
- Que agitai:i'io ""tranha 1\ aqnella? -
I·: o 111:tr adoPe a yoz, e ;'1 cn1·ios:i eslrella Hespon<la l{lie i'· o amor.
E a an•, ao sol da manha,
Tamhem, a aza Yihran<lo, :t estrella l[He palpi1a Hesponda, ao YPl-a dPsmaiada P afllicta
- Que heijo, i1·ma !
Pudpssps , Pl' com que ardor
Elles SP heijam loueamen1e ! -
E inveje-nos a estrella ... P apagnp o olhar dormente,
:Morta, morta de amor !...
Diz tua hoeca : - YP111 ! - »
" - Inda mais ! -» diz a minlia, a sohu;ar... Exl'la111a Todo o mPn eorpo qne o 1eu c01·po d1ama
- '\lo1·1h• tambem ! - "
Ai! morde ! l{l!e doce e a dtir
Que mp entra ac; carnes, e as tortura !
BPija mais ! morde mais ! que en morra de Yentura' '\lorto por ten amor !
7.
118 S.\Rt;'AS DE FUGO
Quero um beijo sem fim,
tJne dure a vi.Ia iutei1·a e aplaque o 111e11 desejo!
h·rve-1111• o sa ugue : aealma-o com teu beijo !
Beija-me ;i-.,-;i111 '.
0 ouvido fecha ao rumor Do muudo, l' beija-me, <p 1erid a·!
\'ive so para mim, st', pa1·a a minha vitla,
:--t'l p1t ra o men amor!
SARQAS DE FOGO 119
POMBA E CHACAL
0 Natureza ! o mae pie dosa e pura !
0 cruel, implacawl assassina !
- Mao, que o Y<' nen o e o balsamo propina, E aos sorri-;o,-; as la grima s mi stura !
Pois o ber o, onde a bocca pecrnenina Abre o infante a sorrir , e a miniatura,
A vaga imagem de uma sepultura ,
0 germen vivo de uma atroz ruina ? !
Sempre o contraste ! Passaros canta ndo Sohre tumnlos... tlores sobre a face
De ascosa,-; agua ,-; putricJa._ boia ndo...
Anda a tr isteza ao lado da alegria...
E esse teu ,-<'io, d' ond e 3: noite na sce, E o mes mo seio d'onde nasce . o dia ...
120 SARQAS DE FOGO
MEDALHA ANTJGA
•
De Lisie.
Este, sim ! YiYcra por spculos l' -.p1•11los,
Vencendo o olvi<lo. Soube a sua mao deixar, Ondeando no negror do onp : poli<lo c rutilo,
A aha espum:t do mar.
Ao sol, bella e ra<liosa, o olhar surpreso c l'xtatico, Ve- se Kypre, a feic:iio de uma jove n princeza, Iollemente emergir a flor da face tremula
Da liquida tun1ucza.
Nua a deusa, na<lan<lo, a oncla dos scios tumidos Leva diante de si, amorosa C' spnsual :
Ea onda mansa do mar honla «le arg cntco s fl,wrul os Seu pc,wo o immol'lal.
· Livre <la s fitas, solto em quc.Jas de ouro, cspalha- se Gottejante o cabello : e scu corpo cncantado
121
lh·il ha nas agna s, como, enfrc Yio lefas humidas, I'm li r io imma cul:ulo .
E nada, e folga, emquanto a-; ba1·batanas asperas
1-: n-; fulvas caudas no ar batendo, c em derredor Tnl'rn111looOcenno,em grupo os delphin ,- atropelam-f-e
Para a fitar 111t>l1 J< : 1·.
122 · SAll AS DE FOGO
NO C.\RCERE
Porque hei-d.., e111 tudo quauto ,ejo, ,el-a? Porr1ue lwi-<le etl'l'lla a-;-.;i111 repro<luzida
\'el-a na a,;ua <lo mal', 11a luz da ps(l'ella,
:'\a lluve111 de ouro <' 11a palmei1·a t•1·;.;11icla '
Fosse possi,<'l st••· a imagem tl'e lla D<'pois <le ta11ta-s ma;, uas e,;11'll'('idn !. . . Poi s acaso sed, para t•,-q11t·•..- l-a,
:\list,·r e fm1:a 1111e 1111· tleixe a vitla?
Negra kmhrarn,a <lo pa-s,;ado ! lento l\Iartyrio, 1, · uto e a1roz ! Pol'Cp1e 11:io ha-tle er dado a tocla a ma ;.;ua o ,·--•111ecimento·?
Por11ue . <J11<'m me encatleia S<'tn pie<la<le No 1·a1·n•1·e sem luz <l' <',;(e tormento,
Com os prsa tlos g1·ilho c-s tl'esta. sautlatle?
SAR(:AS DE FOGO 123
OLHANDO A CORRE TE
Pue-tea margem ! Contt>mpla-a, lentamenk, C1·espa, turva, a rola1·. Em Yiio intlaga-.
A C[Ue parageus, a que longe-; plaga-; Desce, uhtla n<lo , a. luguhn• torrente...
Vern de longe, tic longe Ouve-lhe a-; pragas !
ue infrene grita, que hramir freC[ueote, Que coro dt> blasphemia,; sur<lamente Rolam oa C[Ueda tl'e-.;;as oegra-; yaga-;:
l'ho1·:i-. Tremc-s ? E tanlt'... E,,,-;c-; Yi olen to,; f.rilo-. c·-wuta ! Em lagrim a -s, tr istonh !sJ ,
F echa s os olhos ? Olha ainda o horr o1·
D'aquellas agnas ! Ye ! Te11-. juramentw; La viio ! la Yao lerntlos OS II I CUS sonh os, L:i Yac lerndo to<lo o oosso amor !
124 SAR( -\ S DE FOGO
Tenho frio <' ardo em febre !
0 amor me acalma enclouda I o amor me eleva c al.iat ! Quern ha 1cue os lai;os, 1p1e mP prendp111, quPhrc '? Que ,-ingul:-t1·, qu<' desigual 1·0111batP !
:'\iio "Pi qne hervada fr echa
.\J o PPrteira e fallaz me 1·raYou com tal geito, Que, sem que Pu a senti,;><P, a PstrPita hrecha
.\ IH'in, por 01111P o amo1· entrou men peito.
0 amor me entrou tiio 1·;111to
0 ineauto corai;iio, que eu nem cuiclei 111w <' ,t:l\ a
.-\o 1·ecebel-o, 1•pt•Phendo o arauto D'P><ta loucura 111'-ffairada e hrava.
Entrou. E, apenas cle: 1ti·.i,
Den-me a calma do l' O e a agi tn( ;: fo 110 i11fp1•no...
E hoje... ai ! 1le mim, q11p dentro Pill mim con('('11t1·0 l>,'n·Ps P gostos n' nm lnrtar PtPrno !
0 amor, :-,pnhora, Ye 1le :
Prendeu-me. E111 Yao me P><tori;o, P 111p clebato, e ,,l'it o ;
f-:AR('AS DB FOGO
Em Yao me agito na apertada 1·edc...
.\la1;; me embara<:o ({trnnto mai,; me agito !
12:,
Falta-me o ""11,-,u , a P,;1110,
I 111110 nm cego, a tactear, husco ll<'III ,-pi que porto. E an<lo tao differente de mim mcsmo,
IJn<' n<'m '-<'i "'" cstou Yivo ou "" estou morto.
ei <{UC !'nh·<' a<; nme11;; pai1·a
.\linha fronte, e meus pt•';; an<lam pisan<lo a tcrra; '-ci <1uc tudo me alegra e me dt•srnira,
E a paz de<;fructo, supportando a gucrra.
E a,-,-im peno c assim YiYo: (Ju<' diyerso qucrer ! quc diversa Yonfadc !
'-<• cstou Jiyrc, dcsejo estar captivo;
!'-(' <'aptirn, dcsejo a liberdade !
E a-;,im viYo, P a-.-.im pc110 :
Tcnho a bocca a sorrir c os olhos ehcio-; de agua, E arho o nectar n'um calix (le Yencno,
:\ C'horar de prazer c a rir de magna.
Jnfinda magua ! infindo
Prazcr ! 11ranto gostoso c ;sorrisos conn1J;;o, I Ah ! como doe as<;im YiYcr, sentin<lo
.\ za.;; nos hombros <' grilhoc<; 110,- pulsos !
126 SARQAS DE FOGO
NEL MEZZO DEL L\l\IIN...
Cheguei. Chegaste. Yinhas fat-igada
E fri-.tc, e iri,;te e fatigado en vinha. Tinhas a alma de sonhos po,oada
Ea alma de s011ho,; povoada Pn tinha ...
E pariuno;; dl' subito na estrada
Da ,ida : longos annos, presa :i lllinha
,\ iua mao, a ,i,;ta dc;;lumbrada 'five da luz que 1P11 olhar rnntinha.
Hoje segues de norn...' \'a partida
:'\crn o pranto os teus olhos humedece, i'\e111 te commo,e a dor Ja de-;pe,lida.
E eu, solitario, volto a face, e tremo, Yendo o ten vulto qn<' dt•-;apparece
\'a l':-.11·e111;1 ,·111·va do cami11ho extremo...
SAni;_\S DE FOGO 127
SOLITUDO
J(1 que te ,; grato o solfrimeuto alheio, l
Yae ! :\'iio fique em minh'alllla nem um trai;o
:\'pm um V(",tigio ten ! Por todo o es pai;o (• ('-;ien<la o Int o ear re gado e feio.
Turwm-st> os liu· os ei-os... :\o leiio esca-.;.;,o Dos rios a agua seque.•. E eu tenha o seio C'omo um deserto p:tvoroso, eheio
De horrores, sem signal (le humano pas-,o..
\'ao-se as aY('S e a-; flores juntamente Comtigo... Torre o sol a verde alfombra,
.\ areia e1rrnha. a s11li dao inteira ...
E so fique ('Ill nwu peiio o ahara ardent1.. e111 um oasis, sl'lll a e,qui, ·a sombra
De uma isolada e t remu l a palmeira !
A C.\NCAO DE ROMEU
.\ Jm, a ja,wlla... accorda' Que eu, si, por te accor<lar,
Yon pulsando a guitarra, cor<la a cortla,
.\o luar !
.\s estrPllas surgiram To<las : e o limpo vt'·o,
f'omo lirios alvi-.;sirno.;;, cohriram
Do e:•o.
De to<las a mais hella Nao veio inda, por,:m :
Falta nma estrella... E tu! .\hrP a janella,
E mm!
.\ alva cortina anciosa
Do leito entreahre; P, ao chao
SAR 1; AS DE F OGO
Salta n!lo, o ouvido presta i1 lia n non io-,a
C:rn1; iio .
:-:-blta o-.; cabello,; dl!'io,-; De aroma : <:' sc 111 i-1u1' ",
Sui-jam formo ,;o-.;, tr c mul of;, l<:'11-.; "'l'i11,
, \ ' luz,
nepousa O cspai;o lllll(lO; Ne rn uma aragcm, ves !
Tu<lo t'· s i lcncio, tudo calma, tll(lo
:\l1Hlez.
129
,\ IH'P a ja ne lla , accorda !
Q\le eu, so poi· tc at·c01·<lar,
, ·011 pulsan<lo a guitarra cm·da a conla, Ao luar !
Que puro ct·'o ! que pura i\oite! nem um 1·umor...
,·. a guitarra em minha s maos murmura :
.\11wr '....
Nao foi o vento bran<lo Que ouviste soar a!1ui ·
E o cho1'0 <la guitarra, pe1·gunta11do Por ti.
Ni'io foi a a,c !ill<:' ouvi ,k; ,
( 'hilr antlo 101 j an lim :
130 S .\ H(' .\ S n ! : FOGO
Ea guitarra q11C' ;.:1•11w t' trilla 11•i,-.te,
. \ -.., im.
Yem, !flit' l'--1a , uz -..p1-rt•1a
(: o 1·:1111 0 dP l:Cnwn : Aeeorda I quem t t• cha ma, Julie1a,
:--011 l'll !
Pon; m ... f I t· n1o Yi a ,
jJt,1wio ! a ;1111·o ►1·a, Pill H•o;;
De neyoa e ro--n, , 11;01 d t>, tlol11·e o dia
;:"\o, t·,'·o, .. .
Sileneio ! qne ella aecorda...
Ja fulge O " (' II olh ar...
Adormec;a a gui t a1·1:·1, t·o1·tla a corda,
,\ o l11a1· !
SAR(:AS DE FOGO f31
A TENTA(:AO DE XENOKR.\TES
l'iada turbava aquelbL vida ausiera : Calmo, tra ada a tunica ,-('n•1·a,
(:urva a fronte, cruzando a pa,.,-;n-; lentos As alea-; de platano,-, - dizia
Da-. facuhlat!C'-; <la alma C' ,la theoria De l'latao aos ,di wi pnlos aitC'ntos.
Ora o viam pC'rdPr--.1·, eo1u·C'11trado, '\o laliyriniho C'>'r11,o de inirinulo
f'onirowrso e sophi-.;f ic·o prohlema, Ora o-; pontos obscu,•o-.; e'-plic·ando Do Ti1111neu, e seg uro manejando A lamina higumea do dilemma.
13:J S AIU _: .\ S DE FOl,U
,tuilas , !'LP-., na-; miio"' pou-;ando a front•·, ( 'om o , :1:,.:0 ollwl' p<'nlitlo 110 ho1·izontl', Em pertinaz medit:11:,10 fil'aYa ...
.\s,-;im, junto i,s sa:-:1·atlas oli,ei1·as, Era immoto ,-,p11 corpo hol'as inteil'as,
;\fa-; longe d'elle o e-.pi1·ito p:iil'a,·a.
Longe, :il'inw do humano fel'vedom·o, Sohl'(• a-.; 111tH'll"' radiante:-,
Sohre a pla11icie da-; l'-.tn•ll;is dt• om·o
:\'a alta esphel'a, 110 paramo profumlo Onde nao Yao, t'l'l',lllte,;,
Brami1· a-.; vozes tia-, pai:1.1-,e._ do mundo :
.\hi, na !'lt•1·11:1 calma,
Na eterna luz dos ceos ,-;ilPnl'io:;o-., Yt"ia, abrindo, sua alma As azas imi,,i,Pi",
E interrogando os n1ltos 111;1gc,-;lo-;o-.
Dos deuscs i111p;1s-;i, ci,-;...
Ea noite dc-.;t•r, :11'11111:1 o fiemamenlo ...
(la somcntc, :1 (•,-;pat:w,,
0 prolongado su-.;surr;u· do , l'Hto...
E expira, :,s luzes ultimas do dia, Todo o rumor de passo:;
J>elos ermos jardins da .\l'atil'mia.
E, longe, luz mai;; pura
Que a e:d incta luz d'aquelle dia mol'lo Xenokrates procura :
133
Immortal da1·icla<l('
Que c protN·<;:io e amor, ,icla ,. eo11forto,
Por11ue i· a luz d,i wnladc 1
II
Ora La·1s, a siciliana 1•-,1·1·a, a
IJ1w .\ pelles ,;Nluz i l'a , amada e lJl'll .i Por ('•,;-,i• tempo .\ thena-; clomina,a ...
\e111 o frio Demosthe11(',.; al ti, ·o
Foge-lhe o iutpPrio: do-, euca11to,.; d '1· ll .1 , f'11na-se o prop1·io Diog,•11('-; 1·.rptiYo.
:\ o c 111ai01· l(Ul' a .,,ia a l'111·,rnlado1·a
f;n11: n da -; formas nitida ,.; e pm·as
Da it'l'l'"i"'tirnl Diana ca1;adora;
Ila 110-, ,.;l'11" olhos um pocll•t· di,ino; Ila venenos e perficlas cloi;m·as
Na fit:t de Sl ' ll labio purpuri110 ;
'1'1·111 110,.; >Sl'IO" - cloi,-, p a --,-,:1 1·0 ,.; q111• pula111
:\o conlacio de um beijo, - 110., pe1p1eno-; Pi'•,;, 411e a-, sa nclal ias sofregas u..;1•11l am,
i'ia coxa, no (p1adril, 110 torso air u,;11,
8
134 RAR •_ :\ S DE FOGO
Todo o primor da C':tll yp i g i:1 \'C>nus
- E-;tntua Yi,n e C>--pk1ulida do (; o zo .
f' :1' Pm --lhc aos pt•' ,- a, pei·olas C' :1, 1·1, ,1·1•.-.,
.\ ,- drnchma,; tlP ouro, a" al11ias t• o,; [ H'C '-C'IIIP '-,
Por uma noitc de ft> IJl'i>< 111· do re....
Heliostes c Eupatridns -;agratlos, Artistas e Orntlorc,; C>loquentcs
Leva ao 1·ar1·0 de gloria a1·01·1·entados. ..
E os generaes indomitos, n.mcidos Vendo-a, ,;pnt e m por haixo da,; courac;as Os corat;i'il'S de suhilo feritlos.
III
Certa noitc, ao clamor da fcsla, em gain,
.\ o som continuo das lanadns ta,:as Tinindo cheias na e><pn,;o-;a sa la ,
Yozeava o Cera mico, 1•pp]cto
De corlC>zan, c 11.".rC>s .. \, mai,-; hellns Da-; hci,:, I'( ,; de amos c :\ li l Pfo
Eram to,las na orgia.-1:.,f a-; hcbiam, Ni1' as, a tlc usa C'c rc--;. Longe, aquella-;
SARQAS DE FOGO
Em an imadcs gmpos di-.cutiam.
135
Pen<le ntc,; no ar, em n11n•11s <lensas, Yarios Quentes incensos indicos queimaodo, Oscillavam <le lern os incensa rios.
Tibi os flautins fiu is ,;imos gritaYanl.
E, a,; <·.111· ,11s harp as de ouro :ll'ompanhan<lo, Crotalos clam,; <le me l a l canl:l\arn ...
0 espumeo Chypre a,; faces dos conYi,·as
,\cceu<lia. oarn m <lesrn ira <lo,; Febris acccntos <le can,;ocs lascivas.
Yi a-se a um lado a palli <la Pl u··nca, ProY-0can<lo os olha rc,; tlr s ln mbrado s E os sen,;uae s <le sejos cla a,;,;c1 nbl ea.
La'is alem fala,·a : e, de seus labios Suspem ;os, a bcbcr-lhe a \' OZ ma, iosa, Cerca Ya111- n'a Philo sophos e Sa uios.
l\ 'isto, cntre a turba, ouvin-se a zombeteira
\'oz <le .\1·i ,;tippo : - Es bella c po<le1·osa, LaYs ! 111a,;, poi· quc sejas a p1· i111e i1·a,
,\ mai s il'n •s is f ivel das het i'•l'c,;, l'lllnp1·e <lomar Xenokratcs ! Es bella ... Po<le rils fasciua1-o, se o qnizercs !
Doma- o, e seras 1·ai nha ! - , Ella so1Ti a ...
136
E apo-.1011 que , suh m is ,;o <,'
ii, n'a.qnella
,1esma noite a ,-;p11s p i'•., o p1·ostra1·ia .
.\ postou e partiu...
IY
:\'a al1·m a muda P quieta ,
.\ J)<'llllS "<' (' S f01I faYa.
Len·, a a1·eia, a 1·ahir no, idro da ampulheta ...
_\ern',l,ratC's Yelaya.
,1as qne harmonia p-;j ranha, tJue ,-,us,-111·ro la fbra ! .\gita•'-'<' o a1•,·01•p:I,, tJm· o limpido Ina,· ,-;('t"<'ll'lmente lnnha
Treme, fala em '"'''. t·i'do ...
.\ ... <'Sfrellas, que o ,.:.o cohrem tlP la.do a l:11l0,
. \ agua omle:llttl' do.; lagos
Fi1am, n'ella espalhando o ""11 (·la?·:i o tlonratlo, E111 timitlo.; alfago.;.
t',lta nm ]lll"'-'lll'O O (':lllto.
Ila mn (·lrniro d<' 1·arn<' :'1 h<'ira tlos caminho.;... E a(·(•<wdaw ao luar, como que pot· <'IH"anto,
E-;trC'11tecendo, o.; uinho.;...
SAR AS DE FOGO
Que indistincto rumor '. Yihram na yoz do Yento
137
Crebros,, ·irn s :11·pejos.
E yae da terra e Yem do curYo firmamento Como um damor de beijos.
Com a-; aza-.; de 0111·0, em roda Do ceo, naquella noill' humida l' <'lar:i, Y(>a
Alguem Cflie :i tudo :iccorda e a natnreza toda De desejo-.; pO\oa :
E a Yolupia qne p:i-;-;a e no ar dc>,;lisa; p:i..,a, E os eorai:ues infl:imma ...
L:\ ,al'' E, sobre a 1erra, o .\mor, da cm•ya 1a a Qne tr:iz {i.;; 111ao,-, den·am:i.
E entretanto: deixando
A :ilva barba espalhar-se Pill rblos sobre o leito, Xenokrate-; medita, :is m:igra-; miios cruzamio
Sohre o esc:irnado peito.
,-i..m:i. E tao aturada ,; a "(•i,-ma em quc> llnctu:i ua alma, e que a regiiie-, ignotas o transporta,
- Que nao sente La·i,, que ..urge '-emi-ni'm Da mmla alcoYa :'i porta.
8.
138 SARQAS DE FOGO
V
E bella assim ! Despren1lt• a lrnemi<le. Bernita, Ou<leantr a cal,Plleira, aos nin•o-; hombros ,-;olta, Cobre-lhe os seio,-; m'1-; r a cur\'a <los quaJris, N'um louco turhilhao <le am·ros fiu,-; ,-;uhtis.
Que fogo rm ,:;e11 olhar ! YPl-o i'· a ;.;rns pt;,.. prosiraJa
.\ alma ver ,-.upplicante, rm lagrimas bauhada,
Em de-;rjos a1T1•;.;a ! Olhar tliYino I Olhar
tJue encatlria, e domina, e arrasta ao -;1•u altar
0,-; que morrem por ella., e ao ceo 11edem mais ,iJa, Para trl-a por ella intla nma wz perdida !
Mas Xenukra.ks ;,;t•i-;ma ...
J'.: em Yiio que, a prnmo, o sol D'esse olha.r a.bre a lnz n'um raJianie arrebol...
Em Yao! Yr111 tarde o sol! .Jaz 1•-.ti11cta a cratera; Nao ha Yida, nem ar, nem lnz, m·111 primavera : Gero apenas ! E, em Pio envolto, e1·gue o ,ulcao Os llancos, enfrr a ur,oa r a opa<'a 1·P1Tat:iio...
Scisma o sabio. t)ue impm·ta aquelle corpo ardentc
Que o em·olvc, c cnla\·a, e pre ndc , aper(a loucamente '!
Fus,-;e cadawr frio o mudo a1ll'iao ! talH•z
:\Iais sentisse o calor d'aqudla ebumea foz r •..
SARQAS DE .F(J c. (J 139
En1 viio L, a· s o abrai;a, e o nacar:ulo labio
Chesa-lhe ao labio frio... J-:111 viio ! :\letlit;i o sabio, E nem --t>nte o calor <l\ •s -..e c orpo q111· o attrite,
\l'lll oaroma fehril que d'e ,,.s a lto1·r·a ,,.{1e.
ella : - Yi,·o ui'io t·s ! J 11r e i <lo rna r mn homem, 1'Ja,- <le beijos niio ,-,ei <1ue a 11e<lra fria tlomem !
Xenokrates e11t;10 do leito le, ;1U t o 11
0 corpo, e o olhar no olha1· da co rt ezii erayou :
- Pode rugir a 1·a1·11e ... Emhora ! D'ella aeima Pai ra o espirito ideal <fill' a pu1·ili1·a c anima : Cobl'em nuvem; o espai;o, e, aci111a tlo atr o n;o
Da-< nurnn-<, Lrilha a estn'lln illuminan tlo o eeo ! -
Disse. E outi-a ,·ez, deixa_ndo
A alva barua espalhar-H' em rolos sobre o leito, Que<lo u-s{' a 111e <lit a r, as ma ras 111i'io" cruzan<lo
Sohre o e-wama<lo peito.
ALMA INQUIETA
A AVE\TIDA DAS L\GRil\L\S
..J um Poeta mort o
Quando a primeira vez a harmonia secrr1a
De uma lyra accordou, gemendo, a terra inteira, Dentro do cora iio do primPiro poeta Desabrochou a fli,r da lagrima primeira.
L o poeta sentiu os olhos rasos de agua;
Subiu-lhe n bocca, ancioso, o primeiro queixume ; Tinha nascido a llor da Paixiio e da ?llag ua,
IJue possue, como a rosa, pspinhos e perfunw.
Ena terra, por onde o Sonha1lor passava, Ia a rox:t corolla espalhando as l'mente s : De modo que, a IH"ilhar, pelo solo ficava Uma, egetai:ao de lagrima.c; arden1es.
Foi assim que se fez a Yia Dolorosa,
.\ avenida ensomhrada e triste da Saudade,
AUL\ 11\'<_>UIET.\
t lnde '-'t' a1Ta-;ia, i1 noik, a procissiio chorosa llo" orphaos do carinho e cb ft•li!"idade.
Hecalcando no peiio o-; g1·ilos e os -,uJtu:o,;,
Tu conhec<'>'>k hem ('""'a longa a,euida,
-Tu que, choramlo PIil ,iio, IP <'sfalfaste, de hru os, Para, i nfeliz, galgar o Cal rnrio <la ,icla.
Teu p1; deixou tamhPm um sig11al n'este solo; Tambem por <'"le solo arrasiaslc o l<'n manio... I·:, 6 \lnsa, a harpa infi_,Jiz quc susiinhas ao <·ollu,
l'a--"011 para oufra-; mao-;, molhou--,p dP outl'o pranto.
:\la" tua alma fit•1J11, Ii, re da dc•,-;y(•ntm•;1, Docemente sonhando, i,,-. <·:1ril"ia,-. da Ina : Enire a.; fl111'<'", agora, mna onfra flur fulg111·a, ( uardando na corolla uma IC'mbra1u:a iua...
0 aroma d'«'ssa 1101·, (flll' o t!'u 1u:11·1 rio ('lll"l'l"l'a, Se immortalisara, pelas almas di,-p,•1·so
- Porque purificou a torpeza da fr1Ta
Quern dcixou sol)l'e a terra uma lag1·ima e um H'r,o.
AUIA INQUIETA H5
IN.\NL\ VERBA
.\h ! quern ha-de exprimir, alma impotente e es!'ray:1, 0 quc a bocca nao <liz, 0 ((UC' a mao nao C'Sl'l'eYP?
- ArtlPs, san ras, pregada ;', tua r1·11z, e, cm hr<', P, Olhas, <lesfeito em lodo, o (flt<' te dcsh1mbrava ...
0 Pcnsam!'nto fprve, <' 1\ um turbilhao <le lava :
.\ Forma, fria e espessa, (· um S<'pulrro de 1wn·... Ea Palavra pesa<la ahafa a lde,1 lew,
tJnP, perfume' <' rlarao, rcfulgia <' voaYa.
Quem o mold<' a!'hara para a Px111·1..,,-,iio de tudo?
.\i I qu<'m ha-de <lizcr as aneias infinitas
Do ;;onho? <' 0 ceo ([lit' fogc it mao (fll<' ',(' levanta?
I·: a ira mmla? co asc·o mudo? e o desespero mudo? E as palau11-, (IP fe que nun!'a foram <litas?
E 11s eo11fissiies ti.. amor que mo1•rcm na garganta ? !
U.6 ALMA INQUlETA
?llIDSUl\l lEll'S NIGTH'S DRE.Bl
Quern o encanto dira d'p,-fas noites <l<' cslio'? Col're de estrella a cstrella um leve <'alt>f'rio,
Ila queixas doccs no ar ... Eu, rpc•olhido e sb, E1·go o sonho da terra, ergo a fron1e do po, Para puriticar o corat:iio mand1ado,
Cheio de odio, de fel, de an ustia e de pPec·a,lo...
Que exquisita ,-,audade ! - Uma lembrarn;a cstrirnha De t(•1· ,ivido ja no alto de uma montanha,
Tao alta, que tora,·a o ct'·o... Bello paiz, Onde, cm perpetuo sonho, en vi,·ia feliz, LiYl'e da ingratidao, livre da indilferen(,'a, i'io seio matemal da Illu,.,ao c da ( 'rPn(,'a !
IJue incxora,el mao, sl'm piedade, l'aptivo, Estrella-;, me encerrou no earcere r111 que ,i,o '/ Louco, crn vao ,Jo profundo horror d'p,-;J e a1asl':il
AUIA 1::-S QU IE T A
B1·:iccjo, e peno em viio, para fugir do ma!! Porque, para mna ignota e longinqua paragem,
,\-,tros, niio me leyaco;; nc..;-;a ete1·na viagem
147
Ah ! quern pode saber de que outra,s ·idas veio ?...
Quantas wzc-<, fitando a \'ia Lactea, creio "I'odo o mysterio ver abel'io ao men olhar !
Tremo... e cui1lu sc ntir dcnfr o de mim pcsar [dida, Uma alma alheia, uma alma em miuh a alma escon
- 0 cadarnr de alguem de quern carrego a vida...
V.8 .\ U f A lNQUIETA
:\CATER
Tu, grant.le :\liiP !... <lo amor flp Jpns filhos r.;;<"rarn, Parn tens filhos t'•,;, no caminho da vida,
Como a faixa de luz ([U<' o poyo hehren uia, a
.\. lo11 P Terra Promettida.
Jorra de teu olhar 11111 rio l11mi110-;o ... Pois, para bapJisar p-;-;a-; almas pm fli1r, DPi'\a-; ,·a-<caJcar d'p,;.;;p, olhai· ea1·i11ho-<o
Todo o .Jordan do 1Pn amOI'.
E espalham tanto hrilho a, azas infiniJas
Que <''\ p:11Hle-; sobre os 1Pu-,, 1·arinhosa-< I' hellas, t)nP o s,•11 grand<' elarao sohe, qnando a-; agiJa-;,
E ,:w pPrd,·1•--;1• pnJ 1•p a-; estrrlla-<.
E elles, p<·lo-, degr{10-; da luz a111pla P sag1·ada, Fog,·m <la l111111ana d/11·, fogem do humano pb, E, [1 pro<'ura de Deus, Yao suhindo l'>'>'a 1•-,t':l(Ia,
Que e como a cs<'ada de ,Ja<'oh.
ALMA INQUIET.\ 1,rn
INCONTENT.:\ DO
Paixiio sem grita, amor srm agonw, Que uiio opprime nem magoa o pcito, Que nada mai-; do quc possue que1·i:i, E com tao poueo ,iw saiisfeito...
Amor, '{UC os exaggcros rcpudia,
,tisturado de cstima c de rcspcito, E, tirando das maguas alegria, Fica fartu, ficando sc111 p1·0,eito...
Yi, ·a semp1·p a paixao quc me consome, Scm uma '{Ueixa, -;pm um so lamento !
:\1·da !';Plllprc c-.1.e amor c1uc desanim:i-- '.
E (•n tcnha sempre, ao mm·mlu·a1· tcu nom(·,
0 c·ora<;iio, mao grado o soffrimento, Como um rosal desalwocha1lo cm rima.:;.
150 ALl\lA INQUHITA
SONHO
Quantas Y('Z('S, ('111 sonho, as :izas da saudade Soito para onde ('-;tas, e fico de ti perto !
Como, depois do sonho, t; tri-.;Jp :i re:ilid:ide !
Como tudo, sem ti, fica depois de-,p1•lo !
onho... Minha alma Yoa. 0 ar g01·!-,eia e solnr;a.
:\'oite... A amplidiio se eslen<lP, illuminada e calm:t : De cada (',;trella dP ouro 11111 anjo se debrur;a,
E abre o olhar espantado, ao , Pr pas,;ar minha alma.
Ha por tudo a alegria c o rumor de um noivado. Em torno a cada ninho anda bailando uma aza. E, como -.,o)Jl'e um Ieilo um alvo cortinado,
Alva a lnz do luar cite sobre a tua casa.
-l!orem, ..;11hitamcnte, um relampago ror1a
Todo o espa<:o... 0 rumor de um psalmo ,w h-rnnta. E, sorrindo, serena, app:ireces i1 porta,
Como numa moltlura a imagem de uma anta...
AU IA l '<QU rn T A 1:-.il
PRIMAVERA
Ah! quern nos clt.\ra que i" t o, como outr·ora. lntla nos commoye ,--;t' ! Ah ! quern nos dera Que inda juntos Jll1tle,;,se mos agora
\'pro desabrochar da prima ve r n !
nhi amos com os pa,;;-;a1·os e a n ur ora...
I•: . no chao, ,-oh1•p os troncos chcio5 de hera , Sentavas-ie sorr in do, de hora cm hor a :
,,. Beijemo- nos ! arnem o- nos ! espera !
E cssa cam e de rosa rescendia,
E aos mens bcijos tie fogo pal pita va,
,\ J'lnebrada ill' amor e de cansa -;o ...
.\ :i l ma da terra gorgeiava e ria ... Nascia a prima.Yl'I'a ... E cu tc lcvava , Pri mave ra de ca rnc, 1wlo hr:u;o !
152 ALMA J NQU! El .\
DORl\lINDO
De qual de , ,·,,, IIP l'l'II para o e:1.iliu Jo rnmulu
.\ alma d'e,;;ta mulhl•1· , a"'t 1·0-. do ,·t'·o profundu ? D01·me ial ve z agora... Immacn las, se renas ,
( ' ruza m- se n' nm a 111·.,,·,· a-. sua-. maos p, e 111e 11a" . Para a re;;pirr u; iio "'llllYsi ,.i11 ia lhe om, ·i ·,
A uoi1c sP tll'h ru a... E, a u-willar e a folgir , Bra ntle o gla tlio ,lP l uz, q11<' a, ·s c uri tl iio recor t a ,
1· 111 an·hanjo, lie pe, narJando a s11a pm·ta.
\' cr-.o-. ! podei-. Yi,ar ,•111 iorno ,l'C'""" le i to,
I·: pairar solH' <' o ahor Yiq ,;iual "" s,·u peito,
_ \ y p,; , tonta-, ,ll· luz, sobre um frt's1·0 pomar... Dorm e... Il i ma ,; fc lll'i-< , podci-; fcbri-< Yi1ar...
C o mo cli a , num liYol' de 11,•, o as m -.f 01•io-<a" ,
JJorm e o. ,; l o, cam po azuls 1•11H'ado ell' 10· E cloi s anjos ,lo 1;·, u , ah"" ,. pNp1011 inos ,
-.a-- :
\ "i •m dormir nos tlo is ,·esn dos se n,; ol ho,; 1livi111,.....
Dorme... 1-:.., t rP lla,-, n •l ai , in11ntland11-a ,le luz !
AUi.\ l:'\Ql;!ET.\
Caravana, quc Deus pclo espar,o cond nz , Todo o yosso elarao n'e s ta pcqucna alcova
Sohre ella, comu um nimbo csplendido, se mova E, a sorrir e a sonhar, sua le,·c cabcr,a
Cumo a <la \"i1·gem- liic repousc c resplandc <; a !
\J.
154 :\ LMA INQUTET:\
NOCTlJRNO
Ja toda a terra adormccc. Sae um solu«;o da 11111'.
Ilompe de tudo nm rumor, LeYe como o Je um.a. pr ccc.
A tarde c:ic,. 1y-;tcrio so,
Geme entt·e o-.; r :i mos o H'nto. E ha por to«lo o firmamcnto L'm :inccio Joloroso.
.\.111·eo thurihulo immcnso,
0 occa-.;o cm purpura s artlc, E para a orai;io Ja tarJ? Dcsfaz- se cm rolos de inccn,,c,
, ror ihunJ os c sua Y<'S,
0 vcnto na aza conJuz
AUIA INQUIETA
0 ultimo raio da luz
E o ulti1110 canto das an s.
155
E Dens, na altura infinita, Abre a mao profunda e calma,
Em cuja profunda palma
Todo o Unin·1•,.;o palpita.
'.\las um barulho se eleva... E, no paramo celest.e,
A horda dos a-;fros investe
Contra a murnlha da trcrn.
As estrellas, psalmodiando 0 Pceian ,-.aero, a Yt>ar, Enchem tie ranticos o ar ...
E viio passando... passando...
Agora, maior tristeza, Silen<'io agora mais fundo; Dorml', num somno profundo, em sonhos, a J\'atnreza.
A flor-da-noite abre o calix... E, soltos, os pyrilampos Coln·em a fare tlos (·ampos, Enchem o seio dos vallrs.
Trefegos e alvoroi;ados, Saltam, fantasticos Djinns,
156
De cntrc ;1-; moitas de ja,;mi11-., De pnfrl' os ro-.al's pl'rfumado-..
Um d't>lll'" , pela janclla Entra do ten aposcnto,
E p:1r a, - pla,·ido e atten(o,
, ·l'mlo-tl', - pallida c hcJl;1.
Chega ao ten cnbcllo fin o, re tte- sl' ncllc : e fulgur;t, E arde 111',;-;a noik cseu1·11 , Como um astro pcqncninu.
E fica. Os outr os lit fo1·;1 Deliram. Dormes... Feliz,
!\'iio onn•s o quc ellc diz, Niio ouYe;; como cllc chm·a. . .
Diz cllc'
: 0 pocta cncerra
Uma noitc, cm si, mai-; fri,-,1., Que c,;;;a que, quando clormi-;tt-, Vel a,·11 a face da terra ...
Os outros sacm do mcio Das moitas chcias de l101•e-; :
Mas eu sahi de P11tre as d«",n•-. Que elle tern dcntro do <;eio.
Os outros a toda partc Lemm o vivo dariio :
ALMA INQUIETA 1G7
H cu ,im do scu coraf;iio
,'i para ,c1·-tc e licija1·-k.
Mandou-mc 1,;ua alma louca, Que a dt1r da auscncia consomL•, abc1· sc cm sonho o -;pn non11· Brilha agora cm tua bocca !
Mandou-mc fica1· suspcnso Sohre o ten peito dcscrto,
Por contcmplar de mai..; pCI·to
Todo cssc descrto immenso !"
ls--o diz o pyrilampo... Anda lit fora um rumor De azas rufladas \ flor
Despcrta, dcspcrta o campo...
Todos os outros, prcveudo Que vinha o dia, partiram. Todos os outros fugiram .. .
t', cllc fica gcmcndo.
Fica, aucioso c st'1-;inho,
Sohre o ten somno pairantlo...
E apenas a luz frehando, Volvc de novo ao scu ninho,
Quando vc, inda nao farto De te ver e de tc amar,
IJue o sol descerras do olhar, E o dia nascc em tcu quarto...
158 A L JA I NQUIETA
YIRGE S MORTAS
Quando uma virgem morre, uma C'!'.trella apparece, Nova, no velho engaste azul do firmamento.
Ea alma da que morreu, de momento Pm momento,
:\'a luz da que nasceu palpita e l'P!'.planden'.
() vi,-., que, no silcncio e no recolhimPnto
Do campo, conyersaes a st',-, <f11an1lo anoitecr, Cuiclado L quc J i:l.('is , como um rumor cle prr<·r, Vae sn.:;,;urrar no r·1 0, levaclo pelo vento...
Namorados, que andaes com a bocca t.rnnsbordando De heijo , perturhando o <'.ampo so,·rgado
E o casto cora<;iio das l161•p,; inflamman<lo,
- Piedade ! ellas vem tudo P11tre as moitas Pscuras... Picdade ! essc impudor olfcndc o olhar g-elaclo
Das f[UC vivcram s,'>s, das ffue morreram puras! ,
AUL\ INQUIETA 159
0 C. \ Y. \ LLEIRO POBRE
( Pouchkine)
Nin guem souhe f(nem era o C'aYalle iro Pobre,
Que vin·u solit:u·io, e morr eu scm falar : Era .;;i m ples c sobrio, era valentc e nohre ,
E pallido como o lua r .
Antes de se entregar !ts fadiga s da guel'l'a , Dizem que um dia viu qnalqu er· cou.,a do ct:o :
E achou tudo vazio... e par ece u- lh e a tcrra l'm vasto 1· inutil mansoleo.
Desde entiio, uma atroz dcrnradora chamma Ca.Jeinou-lhc o tlc..;1•jo, c o rcduziu a pt',.
E nunca ma is o Pohre olhou um a st', da m:i,
- :\cm um a s t', ! ncm uma s«'i !
Conscrvou, dcsdc entao, a viseira aha ix ada ; E, fie! a Yisao, C ao" cu amor fie! ,
160
Trazia uma inscrip,;iio d L· frt•z IC'tll'a -.., ;,;1·a \i11la
.\ fogo C' -..111 1w no hr1JquPL
Foi ao-.. pi-Pli o, tla F,.·. :\i;t P; tl L•, t i1nt, '( ,1a1u lo,
:\o al'(l01· tlo ;;1• u ;.,11t>1·1·C'il'O <' p iC'do so 111i -.1c1· ,
t·,111tt filho da ( ·l'l11: ,w batia, invo ca nd o I :111 nome 1:a1·0 d1· mnlhC'r,
1-:ll c , rouco, brantli1Hlo o piqt1<' 110 ar, d ama, ·a :
Lumen er f'li , R egi n a .1 " • "• ao clamor tl'P,,,t " "·, Nas l10-..ie-< d11,; in er; , o-< como mn:t I romha 1·nfra "•',
11·1·1•-.i-..tin ·l P fc1•o z.
i\lil ypzp-; SC'lll 11H,ITL'l' viu a mo1•lp d,·1 11·1·10 ,
E neg ou- llw o dc-;t ino oufra vid:t mell01 1· :
Foi viYL•t· no <lescrto... E C'ra i111111C'1i-o o dP,l'l'lo !
;\la s o sP11 onho P1·.1 111ai01· !
E um tlia, a Sl' bton·e1·, ao.-; s:dtos, t[p, g1·1·11 li ado, Louco, velho, frroz, - naqnella soli tliio
:\l01Te11 : - mntlo, rilhamlo os den ie s, tie, or:ido Pelo spu proprio col'a t; ao.
't
ALMA INQUIET.\ 161
IDA
Pal'a a pol'ta do ceo, pallicla c bella, Id.-, as azas IPvauta c as nuvens coda. ('orrcm o-; :111jos c a crcanc;a morta Fogc dos anjos namorado-; d'clla.
Longe do amor matel'i;io o C'i°·o que imporla?
0 pr:mto o;; olhos Jimpidos ]he estr ella .. .
:--oh a-; ro-.a-; cle neye da eapella, Ida !'-ol1H : a , Ycnclo abri1•-sp I porta.
Quem Ilic tle1·a ouli·a vcz o escul'o eanto Da, <" c11 r:1 tcl'ra, oudc, a -;a ng ra1·, ,-;usinho, l'm corac;ao dt• mae de sfaz- se em pran1o !
I ·,·1Ta-"r a porta : c,-; anjos todos YtJ,llll ...
Como fit·a distantc ac1uelle ninho,
Qnc a,,. 111:i('-; aclornm ... mas a mal cli c;oai n
...
162 AUi.\ TNQUrn T A
NOITE DE INVERNO
onho f{II C p;,t ;',,; ;', porta ...
E-.f ;',s - ahr o-te os 111·:1(: os ! - quasi morta, Quasi mor ta 1lc amor •· d P rmcieda tle.
De ontlc ou ,y i d1i o mcu ;.; l'if u, que voa va,
E sobr c a,; a za-; fl•p1n11J:i-; I PYa \'a
.\ s p 1•p1•p -.; da -;a 11 dad 1• '?
·f 01'1'0 ;', porta... ni nguem ! Silc ncio <' fr p y: 1.
ll ir ta , na sombra, a !-,olid:io (')pya Os lon gos l11"a1:o-.; r i3 i dos, dP Pio... E ha pelo t'01'l'Pdo1· cr mo c l'ompri tlo
0 pe rfum e subtil 1le ten cahello
E o Sml\·1· rumor dP tcu , 1•-.1 ido .
. \Ii! s(• a3 or a d 1P;,::1 -.;<;1 •s !
!-,c c u spn1 i" ,;c lia t c r c·n1 111 i11 l111s fac·c•s
. \ lu z <·c l1·s f1• (f U C 1Pus o lh o,; hanha ;
ALMA INQUIETA
<' este Cfllarto "" <>nche -," <' de 1·epe nte Da melodia, <' dod ;i r:io ard ente
CJue os passos te acompanha :
163
Beijos, JH ' <'"'O" no ea1'<'<'l'(' da bocca, Soffreando a custo toda a setll' louca, Toda a sede infinita que O'- devora,
- Beijos de fogo, pal pitanclo, cheios De gritos, de gemidos e de aneeios,
Transbordariam por lt•n corpo :1 fi,ra !...
flio acc<';-o, barihanclo
Teu corpo, cada beijo, rutilando,
Se apressaria, acaehoado e grosso E, ca-;rnteanclo, em perolas desfeito, ubiria a collina de teu peilo,
Lambendo-t<' o pesco<;o, ..
Estrella humana que do r.eo d<''-C<'St<', Des ter1·ada do t·t'·o, a luz J)(·1· cl <',;;te Dos fuh os raios, amplos e '3f> r <' no.;;;
. E na pelle morena <' perfumacla
(;uardaste apena-; <'%a ei11· doirada
Que e a mesma cor cle i1·i11" e de \' t>nu ,;..
Sob a ehuva (!(' fogo
De meus heijos, amor ! teri:1s logo Todo o <'"plendor do brilho primitivo;
E, eternameute presa entr l' meus hrai;os,
Bella, protegerias os mens pa-;s o...,
- b. t rn formoso c YiYo !
.\ U L\ 1 :-S(_) U IE T A
Ma-., . . . taht•z t1• oll't'Hd,•-.,-;p o mcu tlt",l'jo.. .
E, ao f.t>u cont:wto gt'litlo, llll'U Lcijo Fo-;-;(' cahir por tcrra, dcsprezado. Emhora ! quc cu ao mcnos fr olharia,
E, prt•za do l'l'-<pcito. fiearia
'-iil1·111·io-;o c immovcl a t1·11 l:ulo.
Fitamlo o olha1· ancioso
'\o tt>u, lcndo ('-i'-'l' lin·o my-;tp1•io-;o, Eu dcscortinaria a minha sortt> . ..
.\ t t' f{UC ouyi-;-<I', d'p-;-;p olhar ao fuudo ,
'-ioar, num <loLrc lugulH·c l' profunclo,
A hora da minlrn IIHH'I(• !
Longe cmLora tit' mim tl-u pP1i-;:11nc11to, OuYiria<; aqui, louco c Yiolcnto,
Bater meu eora iio cm catla (·anto; E ouyi1·i11s como uma mclopt;n, Longe ('tuhorn d(• mim a tua itlt'•a,
.\ musica abafada de men pranto.
Dormirias, qucritla...
E cu, guar<lantlo-tc, Lella ( adormce ida , Orgulhoso e feliz com o mcu the-,ourn, Tir:u·ia o-; nwu-; Yer,;o-; 110 abamlono,
E t'llcs cmbalariam o tcu somuo, ( 'm110 uma r[·tlt• de ouro.
.\las niio rnn-; ! 11:i:o Yirits l ,'-iil1•1l('io c tre\'a. Ilirta, na som b ra , a :--iolidiio PIP\'a
:\ L IA J NQL'I E'l'.\ 165
Os longos ln·af:o-s rigidos, de gelo;
E ha, pelo corredor e1·mo e comprido, 0 s11aw rumor tlP 1cu ves1ido
E o p<>rf1m1<> -..11h1 i I de 1<'11 ca hello.
l66 ALMA lNQUIETA
VANITAS
Cego, em telJl'e a cahe <;a, a mao nervosa e fria, T rabalha . A alma lhe ,;[1e <la penna, allucinada, E enc he-lhe , a palpita r , a estrnphe illuminada De gritos de triumpho e gritos de agonia.
Prende a id&a fug-az ; dom a a 1·ima b1·a ,·ia ; Trabalha... E a ol)l'a, poi· fim, 1·e »pla 111lf'et' :icaba,la : " Mund o, que as minl ias m i"ios arrancaram do nadn !
Fi lh, a d o meu trahalho ! 1·1·;.:11e- te ft luz do dia !
Cheia da minha febre c da minlia alma cheia, •
.\ rr anq uei-te ,la Yida ao a,lyto profu ndo,
.\ rranquei- te tlo .\ mor a mina ampla c sP1-rcta 1
Posso agora morrer, porque , in •s ! » E o l'oPfa Pe nsa que vae 1·a lti1·, exhau-;to, ao p de um muudo , J c,tl•-vaidadehnmanal-aop tle um griiode arcia.,.
AL.MA lNQUIBTA l67
TERCETTOS
Noite ain<la, quan<lo ella me pe<lia Eotre dois beijos que me fosse embora. Eu, com os olhos em l rimas, <lizia :
Espera ao menos que <les p on1e II aurora ! Tna alcova e d1ciro,;a como um ninho...
E olha que escw·idao ha la por fora'
Como queres que eu va, tri sie e susinho, Casan<lo a ti-cva e o frio <le men pei1o Ao frio e i treva que ha pelo caminho? !
Ouw s? e o vento ! t; um temporal desfeito I N:io me arrojes a chuva e a 1empes ta <le !
Niio me exiles <lo valle <lo teu leito!
'168 _\L \ I. \ l '-i t_lU IB T .·\
:\lorrm·ci de affitt_:,<;iio c tit' ,-.amlad,,...
- 1 :,-pc1·a I at1; que o dia rcsplantlc<;a,
Aqucce-mc ·com a tua mo1·i1ladc !
ulwe o ten 1·ullo tleixa-111!' a <"al,c1:a Repousar, como ha ponco rcpousava ... Espcra um pouco ! dcixa cine amanhc1:a '.
- E ell a a bria -m'1
o-s hra-;os. E en fi<"arn. -
II
E, j:i manha, quando clla uw pcdia Que do seu claro corpo me afastns,;P, En, com os olhos cm lagrimas, tlizi;1
Nii.o 111'1tlP ;.,p1• 1 n:io y,•-; que o din 11a-.1•p
. \ aurora, cm fogo l' sa11 11c, as 1mn•11-s 1·orta tJuc diria 1lP ti quern me cucontra-;-.;p
. \ h ! nem me di;,;a-; que j,.,.,o ponco importa 1 ...
Que pensariam, Ycmlo-mc, aprc-,,.,ado, Tao cedo as-;im, sahindo a tna port/I,
\' c ndo-mc exha u-sl o, pall i tlo , cau...;11(0,
E todo pclo aroma de teu l1t•ijo 1-:,.,c a111l alos a men tc perfnmado?
_\ L MA INQUIETA
O amor, c1nerida, uao exclue o pejo... Esp<'ra ! att; que o sol Jesappa rer,,a, llrija-mc a. h11r1·a ! mata-m<' o dcse jo !
169
:--obre o teu collo deixa-m<' a cabc a Ilc pous ar, como ha pouco rcpous ava !
Espcra um ponco! deixa que a noitei;a !
- E ella abria-me os hra r; os. E cu ficava.
10
110 AUlA INQUIETA
IN EXTRK\11S
Nunca morrer assim ! Nunca rnorrer num dia Assim 1 de um sol assim !
Tu, de,,:gl'euhada e frrn,
Fria ! post.os nos meus os ten,; olhos molhados, E apertamlo no-; len-; os meu-; dedos gl'l;11lo,;...
E um dia a-;..;j m ! de um sol as-;im ! E a,;,;i111 a e..;phcra Toda aztil, no esplenu.or do fim da primavera !
Azas, tontas de luz, cortando o firmamento !
\finhos cantando ! Em llor a lerra 1oda! 0 Yento De-,pen1·ando o-; ro,;aes, saeudillllo o arvoredo...
E, aqui dentro, O si lL•ncio ... E e--lc es pa nto ! e e,-,le lll t'do 1
Nos doi-;. . . e, enti·e m'i..; doi,;, implaeawl e forte,
.\ arrcd;:r-me de ti, eada yez ma is , a morte ... Eu, com o frio a <"l'C-;t:r1· no eor:H; iio, - Lio cheio
ALMA INQUIETA
De ti, mesmo no horror do del'radeiro anceio! Tu, vendo retorcer-se amarguradamente
.\ hocca que heijava a tua hocca ardente,
A hocca que foi tua !
171
E en morrendo I e eu morrendo, "vendo-te, e vendo o sol, e vend o o ceo, e vendo
Tao hella palpitar 110 ,; teus olhos, querida.,
,.\ delicia da vida ! a delicia <la vida !
17:2 ALMA lNQUJE'IA
A .\.LVO IL \.DA DO A IOH
l'm hol'l'Ol' g1· and e c mudo, um ,;i lencio profumlo
:\'u dia do PL'lTado a mo l'ta lha , a o mun do.
E .\ di'iu, vem lo fechar-se a port.I do Ed!'n, vendo (J ue Eva olhaya o dcser to e hes it: n a fremeudo,
l), j -,l' :
l'hl' a-!e a mim ! enti·a nu 111e11 amor, E :, minim carne eutrcga a tua canw <'Ill ni,r ! P1·cme contra o rneu peito o t e u ,,.l'io agi tado,
I·: aprende a a mar o .\mor, n•110, amlo o pe1Tatl !
.\ lir ni;oo o teu 1..-in w, acolho o ll-11 d1·, ,.:o, io.
Oc uo- te , de uma l'lll llllla, a,; l a l'i111a, do ..., !
, \.· '. t11do nu, 1·.. p el lc : a toda a 1..-ca,:au
- " 11,1·' >Lh- o llll''-lllO horror e a 1ll l' -;lll a iudiguai;,iu...
A 1·u k•1·a d e Deus to1·1'l ' a-; a1·r 01·l',, 1..-1•,ta
( 'omo um tufao de fogu o Scio Lia flore -.ta ,
AUIA IMQUIETA 173
Ahrc a ie1-ra em n1lcoes, encrespa a agua dos rios;
;\..; c-strellas rsliio chcias de calefrio,;;
fluge sotumo o mar; tuna-sl' hediontlo o cco...
\":w1rn;' quc importa Deu..;? Dc;,ata, como um veo, olll'e a tua nuclcz a C':1hcllcira. ! Ya1110,-; !
.\1•da cm chammas o <'hao; rasguem-te a pclie os ramos; Jorda-le o c01·po o sol; injuricm-te o-. ninhos;
Surjam fcras a uirnr de to<los os caminho..;;
E, vendo-te a sangrar das urzcs a1l'avPz, cmmarauhem no l'hao as scr pe..; ao,-; ten,; p,:s...
Que importa? o .\mor, botao a1wnas cutreaberto, lllumina o <legrc<lo e pc1·f'u111a 9 1lc,:;crto !
.\ mo-te ! sou feliz I porquc, do Eden perdi<lo, Lem tudo levando o tcu corpo queri<lo !
Pode, em redor <le ti, tu<lo Sl' anniquillar :
⦁ Tudo re11ascc1·:'1 cantan<lo ao tc11 olh a1·, Tudo, mare,-; e ct'•o,-;, arvores e monta 11 ha,; ,
Porque a Vida perpctua ardc em tuas enfranhas ! Ilosas tc hrotariio da bocca, se ran tares!
flios tc corr1•rao <los olhos, se chorares !
E se, em torno ao tcu corpo encantador e nu, Tudo morrcr, qnc importa? .\ :\'atureza i·s tu,
.\gora quc i·s mulher, ag01·a quc peccastc !
.\h ! bemdito o momento em lfllC me revelaste
0 amor com o tcu pceca.do, c a vida com o tcu crime'. l'orquc, livrc de Deus, redimi<lo e sublime,
Homem fico, na terra, a luz dos olhos teus,
⦁ Terra, melhor que o Ceo! homcm, maior que Deus I
10.
174 ALMA UiQUIETA
YITA NUOVA
Se ao mcsmo gozo anti go me convidas, Com cssPs mcsmo s olhos 11 brazados, Mata a record: H; ao d :i -. horas idas,
Das hora s qne vivPm os npnrtadosl
Nao rne fales da s la gr ima s perdidas, Niio me fates dos hcij os di i p:1du "' !
Ha numa vida huma na cem mi,l illas,
Cabem num corai;iio cem mil pe1T:i dos !
Amo-te 1 .\ fehrP quc su ppunh as morta Rev i, e . EsquecP o meu p:1,-.,-.:i,l o, lo111·a !
Que import.a a ,ida qni> pn<:-s ou ? Qui' imporla,
Se inda 1e amo, dc pois de amorc-. tantos,
E indak nh o, 101 s olhos e na bocca,
Novas fon1e·s dc liP-i jos e di' prnnfos'IJ
AliMA IN(!UIF.TA
MANHA DE VERAO
A mJYens, que, cm bulc,ies, sobre o rio rodavam,
Jii, com o vir da manha, do rio se leYantam.
Como hontem, sob a chuva, estas aguas choravam! E hoje, sau cland o o soJ, como estas aguas cantam !
A estrclla, quc ficou por ultimo YClando,
Noiva que espera o noiYo e suspira em segrcdo,
⦁ Desmaia de pudor, apaga, palpitando,
A pupilla amorosa, c cstremecc de medo.
Ha pelo Parahyba um sussurro de Yozes,
Tremor de scios nus... corpos l1l'a ncos luzindo... E, alrn,s, a cavalgar broncos mons tros ferozes, Passaro, como num sonho, as na yadc s fugindo.
A ro ,:a, que accordou sob as ramas chcirosas,
Diz-me: "Accordacom um bciio as out ,·as tlorcs quictas!
176 AUi.\ INQUIETA
Poeta ! Deu-.; Cl'COll as mulhp1•es c a" ros:h Pam os hcijo-.; do ,ol c os hcijo-; dos pocta"' !
E a an· tliz : .tlws tu! conhe1:o-a bcm... 1';1r1·1·e IJne 1h l Puios dC' Oberon bailam pPlo ar d is ppr-.o, , E que o ceo se ab1•p to<lo, e quc a krra I101•ps1·1•,
⦁ Quando l'lla principia a rccila1· ll-11"' ,cr-.o-.!
E diz a luz : Conhci;o a l'ot· 1l'aq1u·lla hol'l':t ! Bem conhe o a maeicz d'aqm·llas maos pequrna, ! Niio fosse ,·Ila aos ja1·dins roubar, trefrga c lonca,
0 rubor da papoula e o ahor dasa ucenasI
Diz a palmeira : lnvcjo-a ! ao ,i1· a luz radia11l1·, Yem o ,cuto agita1·-mc c desnastrar-111P a coma
E cu pclo vento en, io ao sen cabcllo ondcank Todo o mcu csplcndor e todo o 111L•11 aroma!
E a florc-1la, quc canla, c o sol, quc ahrc a cori,a DL• ouro fuho, espanca1ulo a matulina hruma,
E o lirio, que eslrcmccc, e o passarn, quc ,·i,a, E a agua, chcia de soll-.; e de floccos de espu111a,
Tu<lo, a c111·, o clanio, o perfume e o gorgpio, Tu<lo, elcvando a voz ncsta manha de eslio, Uiz : u PmlPs-.ps dormir, poeta ! no seu seio, ( 'nrvo como c-,tp ceo, manso como esk rio I
ALMA INQUIErA 177
DENTRO DA NOITE
Fir.as a um canto da sala, Olhas-me e fingcs qn<;i le-,:...
Aim.la uma YPL te ou o a fala, Olho-te ainua uma rnz,
Saio... !-,;i[cncio por tmlo : Nem uma folha ,,;e agit:1 ;
E o lit·mamcntu, amplo c mudo, Chcio ue cstrella,,;, palpita.
E cu vou st',sinho, JlL'th:tllllo Em teu amor, a sonhar,
No onvido e no olhar lcvantlo Tua voz L' teu olhar .
!\fas nii.u sei quc luz me hauha Tot.lo de um virn clarao ;
Nao :-;ci que musica cxtranlw i\le so hc do corac:ao.
178 AUL\ INQUIETA
Como que, em 1·a.ntos suayes, Pelo caminho que sigo,
Eu Jpyo todas as ayes,
Todos os astros commigo. E e tanta essa luz, i'· ianta
Essa musica sem par,
Que en nem sei se e a luz que canfa, Se e o som que Yejo hrilhar.
Caminho, cm cx1ase, cheio Da luz de todos OS soes, Levando dentro do seio Um ninho de rom:inoes.
E tanto hrilho tlcrramo, E tania musica espalho,
Que acconlo os uinhos inflammo As gotias frias do orrnlho.
E vou sosinho, pcus a ndo Em ten amor, a sonhar,
No ouYido e no olhar levando Tua yoz e ten olhar.
Caminho. A tPrra dc-.eda Anima-se. Aqni e alli, Por toda pade desper.ta Um corar;iio qne sorri.
Em tudo palpita um heijo, Longo, anl'ioso, apaixonado, E um tleliran1P <lesejo
De amar e de ser amado.
E tudo, - o ceo que se arqueia Cheio de e,;tn·llas, o mar,
Os tronco-; negros, a areia,
- Pergunta, ao n·r-111e passar
0 _\.mor, que a teu lado levas, A que logar te con<luz,
Que entras, coberto de trevas,
'E si1es coberto de luz ?
De onde , ens '? qne firmamento Correste, durante o dia,
Que volta-, lani;audo ao vento Esta inaudita harmonia
Que paiz de mara,ilha,, Que Eldorado singular, Tu vi,;ita,-.te, que hrilhas
Mais do que a esti·ella polar?
E eu continuo a via em, Fantasma 1le,l11mbrador, Seguido por tna imagem, Seguido por teu amor.
Sigo... Di-,-,i po a tristeza, De tudo, por todo o espa,;o,
E ardo, e canto, e a :\'atureza Arde e canta, quando eu passo
- So porqne pa-,-;o p:•n,,a1u'o Em teu amor, a soulia1·,
No ouvido e no olhar le,amlo Tua voz e teu olhar...
180 AUlA INQUIETA
CAMPO SANTO
Os annos matam r clizimam fan1o Como as inu nrla r;t•(' ,; e como :i,; pr s1Ps .
.\ :ilma de (·atla Yelho i·' 11111 Campo a::1:1,
Que a Yelhice cobriu d<' (T11zcs <' ('yp1•este, On alha cio s 1lr pra n1o.
:\Ins as a lm as n:01 morr cm coruo :i, lh T-r ,
Como os home ns, ""' pa ss:110• -; (' a ,; f; , ra,; : Ho1 as , d1•-;pPtl:i(: a das pelas di11·e, ,
Re na sre m para o sol de norn s p1·imaYrr:i,;
E tl(• n o yo ,- a111or1"- .
. \ ss im, :1' s YP zc•s , na amplitl:io silc nlc , No somno funclo, na teri·ivel (·a lm:1
Do Ca111po a n1o , 01n P-'-P nm :,:ri 1 o n n le111,•
Ea. S a ucla cle ! (: a :--audad e !... E o ('(' t11i1P 1·io «la :il111a Accord:i de repe ntl •.
l ; i, am o,; vent os fun e ra es , llll'donho ,;. . . Brilha o lua1·.. . \.,. la pitle,; ,;l' agita 111 .. . F, sob a rama tlos chorues tr istonhos ,
Sonhors morto ,; <le a mo1· de s p e r ta m l' palpit a111 ,
Cada, l' rt ' '- dc- ,;on hos.
II
182 ALMA INQUIETA
DESTERRO
Ji1 me nao amas'? Basta! - ll'(•i, fri,-tr, e cxilado
Do mC'n primeiro amor para outro a mor, si,siuh o...
.\ deus, carne cheiro sa ! .\ dt• us, primcir o ninho Do mcu delirio ! .\ deus, bello t·o1·po adora<lo !
Em ti, como n'um Yallc, adormrt·i tlcitado,
.'io men sonho dP amor, cm 111Pio do caminho ... Bcijo-te inda uma vez, uum ultimo carinho, Como quern rnr sahir <la pa lria dPskrra<lo!
.\ tl!'1ts, corpo gentil, patria do mPn tJp,;pjo !
Ilcrt:o em quc sc Pmplumou o mcu pri11u·irn itlyllio, Terra em quc llon•-wcu o mcu primeirn hcijo !
A<leus ! E,ss!' outro amor ha-de amargar-mP 1an1o f'omo o pao qu J sc come entr!' estranho,, no P,ilio, Amas-,a<lo com I'd e cmbehiclo de pranto...
ALMA INQUIF.TA 183
ROMEU E JULIETA
(Acto III, scc na vn.)
Jl"LIETA.
Porque partir tao 1·<.'1lo? inda wm longe o dia...
Ouves? e o rouxinol. :\'ao e da cotovia Esta encantada voz. Repara, meu amor :
Quern canta e o rouxinol na romanzeira Pm flor.
Toda a noite PSsa voz, quek feriu o ouvido, Pi:noa a solidao wmo um longo gemido.
Abracemo-nos ! fica ! inda vem longe o sol! Nao canta a cotovia : e a VOZ do rouxinol !
R0 1EU.
E a voz tla cotovia annunciando a aurora !
\'i·s? ha um leve tremor pelo horizonte a for a...
Das nuwns do levante ahre-S<.' o argenteo v1:o, E apagam-se de todo as lampadas do ceo.
J;',, s11bre o cimo azul da-,; -,prra-- 11 Phulo-;a -;, lle-;ita11!P, a 1,nanha cor11:ula dr ro-,:1,;
Agita os le, p-; p.·.,.,, P fi('a a pal pita1·
SohrP as aza-; dP luz, ('01110 (1uem que1,· oar .
Otha! mais um monwnto, um rapido momPuio,
E o dia sorri1·:'1 por todo o firmamento'.
.\ dp11-;! de,o pa1·( ir ! J>artir para, i, C' I' ...
Ou fi1·;11· a teas p :,., para a tPIIS p:·s morrer !
JLLIETA.
Nao c'· o dia ! 0 e-;pa<;o inda sP e-,te ude, l'l1eio
Da 11oite caridosa. E,hala do igneo -;rio
0 sol, piPdos,1 e hom, este , i,o clariio ii para 1P ui:u· por cutrP a eprra,,<io ...
Fica um minuto mais ! pon11w parti1· tiio eedo?
HO !El'.
Mandas? niio parti1•pi ! espera1·ei sPm medo
Que a morte, com a manhii, , enha enconfrar-mc aqui I
Succumbirei feliz, sm·1·11111bi11do por ti! l\Iandas? nao parti1•pj ! qur1•ps? di1·ei comti o
Que 1; mentira o rpw , ejo e menti1·a o q11P digo ! i111: tens 1·aziio ! niio· ,. da t·otoyia a Yoz
Est<' <'IH'antarlo som q11e e1Ta em torno de nus! E um renexo da lua a l'laridade e-;(rauha
Que aponta no hOl'izonte at·ima da montanha ! Fico para tP ver, fico para 1P omir,
Fico para te amar, rnorro por nao parti1·! Mandas? nao partirei ! n1mpra-sc a 111i11ha soril'! Julieta a,-.;;im o quiz : henn inda seja a mortP ! Meu amor, meu amor! olha-me assilll ! assim!
AL:\IA INQUIETA 185
\Jo! e o il ia !,
JI 1.11:T .\.
,' a manh ii 1 P a r te ! foge de mim!
(la l'l t• ! ap1•p;;;;a-to ! fogc ! .-\ 1·otm i a r.anta E <lo nasccnte em fogo o dia sc levanta ...
.\h! reconhe i:o emfim est as notas fatae s !
() <lia ! ... a luz do sol c·1•e,-l'C' de mai s em mais h1°l' a noite nupcial do amor e da lon cura !
1: <l \l l-'.l•
Cresrr.. . I·: c1'<''WC com ell a a nossa dcs vl' nt u ra '
186 ALMA I NQUIE TA
VINHA DE N.ABOTI[
\ la ld ito aquclle dia em f{U e aurisl c cm 111Pn sPio, Cruel, e,;;ta paixao, como , ampla c illumin:ida, Uma ela t·(;i ra venlc, a lic1·ta ao so l, no mcio
Da cspl·ss1: es1· 11r i <liio tit• uma se lv a cerradal
.\ It ! trez vezcs maltlito o :tmor q ue me arn,-salla, E me ouri ga a Yivcr tl P ntro tit• um pesa de l o,
Lou co ! por tot.la a p:1..tc on, ·i ndo a tua fala., Vcndo por toda a pa.rte a cor <lo teu caucllo !
De tcu collo no valle e111b:1lsam:ido c puro i\'un ca dese a nsarei, como num Pa raiso,
oh a l e 11da aroma) d 'c;;,-,p ca be llo cs1·11ro, Olhantlo o te u oll rnr , so r rindo ao fen so l'r is o .
Des va ir as - me a ra ziio , f i1·as-1111· a calina co somno!
:\'.u nca te poss uirei, l,cll a P i11, 1· j n1la vinha,
t) \'inha de Nal,oth <JUP_ t:111fo a111l, iciono !
0 al ma que procuro ,. 11111wa sc r as minha !
ALMA INQUIETA 187
SACRILEGJO
Como a alma pu'ra, que teu corpo encerra, Podes, tao bella e sensual, conter?
Pura demais para viver na terr , Bella demais para no ceo viver...
Amo-te assim, - exulta, meu desejo!
E teu grande ideal que te apparece !
Offerecendo loucamente o beijo,
E castamente murmurando a prece!
Amo-te assim, a fronte conservando
A parra e o acantho, sob o alvor do veo, E para a tei·ra os olhos abaixando,
E levantando os bra<;<>s para o ceo.
Mesmo quando, abra9ados, nos enleva
0 amor em que me abrazo e em que te· abrazas,
188 AL)!.\ r:s;QUIET.\
Yejo o teu rcsplandor arder na treva E ow;o a palpita<;ao das tna-; azas.
Em Yao sorrindo, pla<'idos, brilhan1es, Os ceos ,,;e estendcm pclo ten olhar, E, dentro d'PllP, os scraphins erranfrs Pas.;;am nos raio,-. claros do luar :
Em vao ! descerras humidos, e ehcios De promessas, os labios sensuaes,
E i1 flor do peito empinam-se-te os seios, Amea<;adores como do-is punhaes.
Como e cheirosa a 1ua 1·ame arden1e ! Toco-a, e sin1o-a offegar, anciosa e louca... Beijo-a, aspiro-a... Mas sinto, de repentc,
.\s maos geladas e gelada a bocca:
Parecc que uma santa immaculada Desce do a11ar pela primcira wz, E pela vez primeira profanada Tern por olhos lmmanos a nudcz...
Embora ! hei-de adorar-1e II ps(a vida, J:i que, fraco demais para perdel-a, Nao posso um dia, deusa foragida,
Ir amar-te no seio de m11a estrella.
Beija-me ! Ficarei purificado
Com o que de puro no tPn heijo houver;
.\UIA INQUIETA
Ficarci anjo, tendo-tc ao men ]ado : Tu, ao meu lado, fieari1s mulhcr.
!Jul' me fulmine o horror tl'e,,ta impicclade I
ed1s minha ! :--a,...ilego e profano, Hei-dc manchar a tua castidadc
E dar - tc aos laLios um gemido humano 1
E a sombria mudez do sanctua 1·io Prcferiras o caliilo fulgor
De um cantinho da terra, solitar io, llluminado pelo mcu amor...
11
190 AL M..&. JNQUIETA
ESTANCI.\S
Ah ! finda o inverno! adeus, noites , breve esquecidas, Junto ao fogo, com as maos estreitamente unidas! Abracemo- nos muito ! a tll' II"- I um beijo ainda !
Prediz-me o corayao que i'· o nosso amor que finda, • Ha- d e em h rPn i sor rir a primavera. Em breve, Branca, aos beijos do sol, ha-de fundir-se a nevc. E, na li.•,,ta nupcial das alma"' P das llores,
Quando tudo accordar para os novos amores, l\le u amor ! ha Yl'r:'1 dois logares ,asios...
Tu tao longe dP mim ! e ambos, mudo s t• frios, P1·ocura ndo esquecer os hPijo..; 11ue tro camos, E maldiz endo o tempo e111 que 110-,; ador.imos...
ALM A INQUIETA 191
II
Mas, as vezes, osinha, has-de tremer, o vulto
De um fantasma entrevendo, em tua alcova occultc. E pelo corpo todo, a olfegar de desejo,
Pallida, sentiras a caricia de um beijo. Sentiras o calor da minha bocca anciosa,
Na agua que te banhar a carne cur de rosa, No linho do Iell(;ol que te ro<;ar o peito.
E has-de crer que sou cu que procuro o teu Ieito, E has-de crer que sou eu que procuro a tua alma! E abriras a janella... E, pela noite calma,
Ouviras minha voz ·no barulho dos ramos,
E-l_>emdiras o tempo em que nos adoramos...
III
E eu, errante, atravez das paixoes, hei-de, um_ dia, Volver o olhar atraz, para a estrada sombria.
Talvez uma saudade, um dia, inesperada, Me punja o cora ao, como uma punhalada.
192
E agitarei no Yacuo as miio", e um beijo ar<lente
Ha-<le subir-me i, hol'ea : e o beijo e a-; maos somente llao-de o yacuo encontrar, -;em te encontrar, qnerida I E, como tu, tambem me acharPi "'"• na ,ida,
,'i! sem o teu amor e a tua fonnosura :
E chorarei entao a minha dc,-,vcntura, Ouvindo a tua voz no barulho dos ramos,
E bem<lizendo o tempo em que nos adoramos...
lY
Renascei, rP,i,·ci, arvores -,u,;--un·antes ! Todas as azas vao partir, loucas e errantes, A rufl.u·, a ruflar... 0 amor t; um pas-;arinho, Deixemol-o partir : - desertemos o ninho...
A primavera YPm. YaP-SP o inwrno. Que importa Qup a primave1·a Pncontre t•sta ventura morta? Que importa que o esplendor <lo uniwrsal uoivado Venha este noivo a,·har da noiva sPpr.ra<lo?
Esquei;au os o amor que julgamos eterno...
- Dia que illuminaste os meus dias de invPrno ! Esque amos o ardor <los lwijo-; que trocamos, faldigamos o tempo <'Ill qne """' adori,mo.;.,,
ALMA l QUlETA l93
PECCADOR
E;;te L' o altiYo pC'ceador -.e1'C'IIO, Que os solU(:os affoga na garganta, E, calmamente, o copo de Ye neno
Aos labios frios, sem tremer, le rn nta .
Tonto, no escuro pantanal tert'C'llO Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta, Nem assim, miseraYel e pequeno,
Com tao grandes remo1·-.o-. ,;c quebranta.
Fecha a yergonha C' a-.; lagrimas coms ig o... E, o rorai;iio mordendo peni1e nte,
E, o corai;ao rasgando castigado,
Attei1a a enormidade do ea-.1igo,
Com a mesma face com que antigamcnte Acceitava a dclfria do peccado.
194 ALMA INQUIET A
REI DESTHRONADO
0 teu logar vazio !... E esteve cheio, Cheio de mocidade e de ternura ! Como brilharn a tua formosura ! Que luz divina te doirava o seio!
Quando a camisa tepida despias,
- Sob o reflexo do eabello louro, De pe, na alcova, ardias e fulgias
Como um idolo de ouro.
Que fundo o fogo do primeiro heijo,
Que eu 1e arraneava ao labio rescemlente ! Morria o meu desejo... outro desejo
Naseia mai,; ardente.
Domada a febre, languida, em 111eus hrai;os Dormias, sohre os linhos revolvidos,
ALMA INQUIETA
Inda cheios dos ultimos gemidos, Inda quentes dos ultimos abrai;,0s ..•
195
Tudo quanto eu pedira e ambicionara, Tudo meus dedos e meus olhos calmos Goza,·am satisfeitos nos seis palmos De tua carne saborosa e clara :
Reino perdido ! gloria dissipada
Tiu? loucamente ! A alcova e,;tit vazia, Mas inda com o ten cheiro perfumada,
Do teu fulgor coberta...
196 ALMA INQUIETA
so
Este, qnc um deus cruel arremcssou :\. vida,
:\larcando-o com o signal da sua maldi ao,
- E.;;lc desahrochou como a herva mi, 11:i•-ritla
A pe na s para aos pt'•,; ser ca lcada no chiio.
Ue motejo cm motejo arra sta a alma feri,la... em constancia no a mor , dcntro do cora,::io
l' ul c-, crespa, cresccr a selva retorcida Dos pcnsamcntos maos, filhos da - ,lid o.
Longos dias scm sol! noites de !'1:·r 110 Into!
.\ I ma cega, perdida a toa no caminho !
floto c:i,;rn de nao, desprczad" no mar!
E, arvore, acabara scm nunca dar nm fructo... E, homem, ha-de morrer como viveu: soain ho !
t•111 ar!scm luz ! sf'm Deus ! scm fe! sc m p:io! s1•111 lar!
ALMA INQUIETA 197
A UM VJOLI ISTA
I
Quando do 1eu violino, as azas en1reabriodo l\fansamente no espa-;o, iam-se as notas querulas, Anjos de olhos azues, :is duas maos partindo
Os seus cofres de perolas,
- "inhas crenc;as de amor, esquecidas em calma No fnndo da memoria, ouvindo-as recebiam
Norn alento, e outra vez do oec•;u10 de minh'alma, Archipelago wrde, it tona appare ciam.
E eu via rutilar o meu amor perdido, Bello, de nova hi:z e novo encanto cheio,
E um corpo, que suppunha ha muito consumido, Agitar-se de novo e otlerecer-me o seio.
198 AL)L\ I NQU IE T A
Tmlo res11-;t"ita Ya ao teu inn11xo, a1-tista '. E minh'alma revia, allucinada e louca, Olho,, cujo fulgor llll' Pnionh•t·ia a y j,;J,a, Lahios, (·njo sabor me e111ontel"ia a bocca.
Oh milagre ! E, feliz, ajoelhava-uw, em pranto, Como qnem, por acaso, um dia, enlrau<lo as po1·la-; De um t"l'111iic1·io, vae ad1a1· ,·i vas a um (·anto
.\ s suas illn,-,oe-; quc• ac rndit: t,·a mor ta-;...
E ficava a pensar... como se niio partia Essa fraca ma<lcira ao tcu to(p!C, ·iok nl o, Quan<lo com tanta febre a paixiio se estorcia Dentro <lo pequenino e fra il iu,;trumento !
Porque, nesse instrnmeuto, uni<los num st', peito, To<los os cora(:iit>,; tla ten·a palpiiavam;
E ha.Yia <lentro <l'e lle, em lag rimas des l'eito,
0 amor universal <le to<los os que ama,·am.
Rio largo <le sons, tapeta<lo <le flore5,
A harmonia <lo ceo jor i-a,·a ampla c sonora;
E, boian<lo e cantan<lo, alegrias e dores
lam conente em fi',ra ...
A Primavera 1·in<lo esfollrnva as capellas,
E entoroava no chiio as amphoras cheiro,;a,; ; E a ca11t:iio accor<lava as rosa s e a,; estrellas, E enchia <le <lesejo ;is estrellas e :i,; rosas.
AUIA INQUIETA 199
E a agua verde do ma1·, e a agua fresca 1los rios, E as ilhas de e,,meralda, e o ceo resplandecente,
Ea cor<lilheira, e o valle, e os mattagaes sombrios, Cn•spo-s, e a ro1·ha hrnta exposta ao sol ar<lente :
- Tudo, ouvindo essa voz, tudo cantava e amava !
0 amor, caudal de fogo ati-opelada e acce-;a, Enti-arn pelo san e e pela seiva entrava,
E ia de corpo em corpo enchen<lo a l'latureza !
E eil-o triste, no chao, inanimado e frio,
0 teu pobre ,iolino, o teu amor primeiro :
E inda nas cordas ha, como um !eve arrepio,
,\ ultima vibrat;ao do arpejo derradeiro...
Como, ig1 eas e immortae8, num redomoinho insano, Longe, a torvelinhar em ceos inaccessiveis,
Pairam constellayoes virgens do olhar humano, Nehulosas sem Jim de mundos invisiveis :
⦁ Tai no teu violino, artista ! adormeeido
,\ espera do teu arco, em grupos vaporosos, Dorme, como num ceo que nao alcanya o ouvido, Um muntlo interior de sons mysteriosos ...
uspendam-me ao ar livre esse doce instrumento I Dei.\em-n'o ao sol, em gloria, em delirante festa ! E elle se embebera dos perfumes que o vento Traz dos frescos desvaos do ,alle e da floresta.
:200 . \ L !\IA INQU!F.TA
()-. pa"-saros Yi1·iio tecer 11C'lle os sC'us niuhos !
_\ ,._ rosas se ahririio em suas cordas rotas! I·: Pile derranrnrit solwe os YC'rdl's caminhos Da antiga melotlia a'- esqu<'cidas notas!
1-Iiio-<le a<, a,l's !'antar, hao-<le cantar a-; flt'1res...
t I-; astros sorrirao de amor na immensa espbera... E a terra :iccor<lari1 para os novos amores
De noYa prima,era !
II
Porque, como T<'1·pandro accresceutou a lyra, Pam a tornar mais tloce, um:i corda 111ais p11ra, Que e a corda onde a pai:1.iio desprezada suspira,
I•:, em lagrimas, a arder, su-;pira a <lesventura;
Tambem tl'esse instrumento as quatro cordas de ouro,
0 Desespero, o ,\mor, a Colera, a Piedade,
⦁ Tu, nobre alma, chorando accre,;cC'ntaste o 1·horo Eterno C' a eterna d11r da <'orda cla arnlatlt•.
J'.: sautl:itl<' o que sinto, e me cnche <le ais a hocca, E me arrebata o sonho, e os ncnos tn<' 1'11-.ti a, tJ11a1uJo ti' ou<;o tocar : saud:ule aociosa e louca Do primitirn amor e <la helleza :intiga...
AUL\ IN'QUIET \
Para traz ! para traz ! Ba,-,ta um ,-.irnple;; aq1rjo, Basta uma uota so... Todo o r,-,pa1:o e,-,11·r11w<·t> : E, dando am; p s do amatlo o derradt>i1·0 brijo,
. Quasi morta de tli',I", lagdalrna apparP1·e ..
Ao luar de Yrrona, a :rn10ro-.a calw1:a
De Julieta tlesmaia P11tre os lu·:11:os do amantr ao tarda quc a alvorada rm fogo n·splamlri;a, Ena drrnza cm flor a cotovia cantc...
\'ium tristc, quc i1 paz do elan-stro pt>tlc allivio, Para a sua , invrz, para o seu luto irnmcnso, Branca, sob o livor do rs1·apulario nivco,
Hrloisa ergue as miios, nnma nuvcm de i111·1•11-.o ...
Ena suave cspiral <las mclodias puras,
Vao fugindo, fugindo os vnltos infelize", Mostramlo ao men amor as suas amargu1·;1-s, Mostrando ao mcu olhar as snas cica1rizr".
Canta ! o rio de sons que do ,-.eio tr brota
E, cntrc os parceis da dor corre, cascatcarnk•.
E vae, de vaga em vaga, l' vae, de nota em nota, Ao sabor da corrcntc os sonhos arrastando ;
Que pclo valle espalha a cabcllPira inquieta Refrescando os rosacs, e, em lcvr borborinho, . Um gracejo scgreda a cada borboleta,
E segreda um qucixumc a cada passarinho ;
ALMA INQUIETA
Que :i todo o d1'"1·onlill'lo e a totlo o soflrinw•nto
..\111· <> maternalnwnt<> o n • , a : o das aguas,
- I·:o 1·io perfumado e azul tlo Es1111P1·i111<>11to,
Onde s,r ;io hanhar t0tla" "" minhas maguas...
AU[A IXQUIETA 203
EM UMA TARDE DE OUTONO
Outoao. Em frente ao mar. Escancaro as janellac: Sohre o jardim calado, e as aguas miro, absorto. Outono... Ilotlopiando, as folhas amarellas Rodam, eitem. Yiuvez, ,elhil'e, <lesconforto ...
Porque, hello nm io, ao cla1·:i.o tla.;; estrella-;, Yisitaste este mar iuhabitatlo e morto,
Sc logo, ao vir do vento, a!.riste ao vento a-; velas, c logo, ao vir tla luz, abandonaste o porto?
A agua canton. Rotleava, aos beijo"s, os teus flancos A e-;pm11a, tle-,111anchatla em 1·iso e floccos hranco.;;...
⦁ la-; chegaste com a noi1e, e fugi,;tc com o sol.!
E eu olho o ct\o <leserto, e vejo o oceano triste, E contemplo o logar poi· mule te sumi,;te, Banhado no cla1·ao nasr·ente tlo arrebol...
204 AlMA INQU!ETA
B.\LL\DAS RO.\L\lVIICAS
Branca -..
Yi-te r,equena : ia-; rezando Para primeira communhao : Toda d . hranco, murmurando, a fronte o v1:o, rosas na mao.
\'ao ias si, : grandP era o bandu ... l\lac; entre todn.s te Ps1·olhi : Minh'alrna foi IP acompanhando,
A wz primeira Pm que (e ,·i.
Tao branca t' mo<;a ! o olhar tii<J hrando !
Tao innocente o cora<;iio !
Toda de Franco, fulgurantlo,
AL IA l NQ UI ETA
:\lulher em flor ! flor em botao !
Inda, ao lembral-o, a magua ab1·a udo , Esque1:o o mal que , !'111 dt· ti,
I·: , o rne u raneor l'.-,t ra uf;11I a ntlo, Ilemdi go o clia em q11e ti· yj !
Rosas na mao, bra neas... E, q u:1 utlu Tc ,·i pas sa r, hranca vi,;iio,
Yi eom espanto, palpitanclo Dentro de mim, e-;t a paix ao.. . 0 eora c: iio puz ao teu ma n tlo.. . E, porque esera Yo me re ntli ,
Ando gemendo, aos gr it os andu.
⦁ Porr1ue te amei ! porqne te yj !
Depois fugish•... E, inda 1l- ama111h-,
\em te o<liei, nem te esqueei :
⦁ Toda de branco... las rnza n t'.o .. . Maldito o dia em qne k vi !
II
A t ul...
Lcmbra-te bem ! Azul• c·e l cs t e
Era e ss a alcova l'111 que t e a mci.
0 ultimo beijo que me des te Foi nessa alcon1 que o tomei !
l :!
206 AL)IA INQU IE T.
J'.: o fii'tnamento qne a reveste Toda de nm ealiclo fulgor :
- llm fii·mamento, em que ptv:t•st<>. Como uma c,-,t1·clla, o 1eu amor.
Lemhras-te? Um dia, lllP dis-;!'s1c Tudo aeabou I » E en exelamei :
<: Sc yaes partir, porqne viPSI!' ? ,
· E a-; tuas plantas me arrastci...
Beijei a fimbria it tua Yl'ste, Gritci de espanto, uivei de din· :
« Quem ha que IP ame c IP rpq111•-..te Com febre igual ao men amor? "
Por todo o mal que me fizcstc, Por todo o pranto que chorei,
- ('omo uma ea,;a em que en1ra a p1•-..t!', Feeha c-..s;1 casa P111 que fui rei !
Que nada u1ais pcrdurc e rcs(p
I l'essc pa;-;,,ado embriagador :
E eubra a sombra de um c·yp1·t•-..tl'
.\. sepultnra d'este amor !
Desbote-a o inverno ! o estio a er."·s1e !
Abale-a u vento eom fragor !
- Desabe a igreja azul-eeleste Em que offieia rn o men amor I
ALMA INQUIETA 207
111
Ver de...
Como era YC'r1le C'-,;te caminho !
Que calmo o ceo ! q11e Yerde o ma r ' E, PntrC' festues, dP n inh o C'lll ninho,
.\ !'l'imavcra a goq;,C'iar !...
Inda me exalta, como um vinho, Esta fat a l recor<la<;,ioI
C'ccou a flr"u·, ficou o e,-. pinho...
Como me pe,-.a a solidiio !
Orphao de amor e dL· cariuho ' .. .
Orphiio cla luz <lo ten o l har
- Verde tambem, verd e- ma1·inho, Que eu nunca mais hc·i-dc olvidar ! Sob a c::1111is a, aha de linho,
Te palpi'\ava o corac;a o ...
..\ i ! cora<;iio ! pen o e definho, Long e de ti, na soliclao !
Oh ! tu, mais branca <lo que o arminho, i\Iai s palli<la clo que o luar !
- Da sepultura me avizinho, C'mpre que volto a C'ste Iogar...
.\L'.\IA INQUIETA
E digo a cacla pa-;sarinho :
:\:io 1·a11te-. mai-; ! qm· e-.-.a can1:;o
\'cm rnP IPmbrar que Pston sosinho,
:'\o exilio d'p-.ta solidao !
'io tpu jarclim, que t(pc;alinho !
(Jue falta faz a tua 111ao !
Como incla 1; , p1•de este caminho...
:\las eomo o afeia a solidao I
]\'
.Yeura...
f'oc;._a-. 1·ho ra r, arrPJ)('lltlicla,
\'pndo a -.a ud:ulP qrn• aqui \':IP!
, · , q11P inda, nPgro, <la fi_·ritla
.\o-. horhotiiPs o sangue 1·aP ...
IJne a 110-.--a hi ...toria, a-.-;im relicla,
0 11 ;-.-.o amor, lemL1·ado as-;im, l'o----:1111 fazp1•-tp, rommoyida, l111la uma y1•z pp11-;a1· em mim !
:\linlt'alma pobre e dP,Yalida, Orpha d.. m:i.P, orph:i. de pae,
\'a p-;rnridiio Yaga 1)('rdicla,
l)p q111\1Ja Pm qupcfa e cle ai em ai I
AUL\ l'.\QU I E'l'A
E an<lo a ln1scar- fl'. E a minha Iida
\ iio tern tl\'sca nso, nao tern fim : Qnanto.mai s longe andas fugida,
)(ais te vejo en perto de mim !
209
Loueo ! e que J ugubre a deseida Pm·a a loueura que me a1t1·ite !
⦁ Ter rin' is p agi n:1-, d a vicla, l·:-;rn ras pagina, , - eantai !
Vim, emr it,i o, <la minha e1·mi tla ,
l\lorto, <lo men se pulero Yim , Ergner a lapi<le eahida
Sohre a esperan a l{ne hou Ye e m mim '.
Hevivo a magua ja Yivi,la Ea-; wlhas lagrima s... a fim
De que ehorando, arrepen<lida, Possas lembrar-te inda de mim '.
12.
210 ALMA INQUIETA
VELHA PAGINA
( 'hove. Que magna la fbrn !
Que magua ! EmLrnseam--cp os ares Sohre e,;1e rio 11110 ehora
Longos e ett-n10,; peznres.
E sinto o qne a tena senle E a tristeza que <liviso, Eu, de teu,:; olhos ansente, Ansente de teu sor1·iso...
As azas loueas abrin<lo,
Meus yp1•sos, nnm longo aneeio,
:\lorrel'iio, sem qne, sorrindo, Possa acolhel-os 1eu seio !
Ah ! quern man<lou que fizesses Minh'alma <la 1ua escraYa,
AL:\!.\ l:\'QUIETA
E ouvisse,-; as miuhas preces, Choran<lo como eu chorava?
Porque e q11e um dia me ouviste, Tiio pallida e alvoroi;a<la,
E, como quern ama, tristP, Como quern ama, cala<la?
Tu tens um nome celeste... Quern e <lo ceo e sensi ye) ! Porque e que me nao <lisses te
Toda a wrdade terri Yel ?
Porqne, fugindo impie<losa, Desertas o nosso ninho ?
- Era tiio bella esta rosa !...
⦁ J:'1 me tardaYa e-..te espinho !
Fora melhor, porventura, Ficar no antigo degredo QuA conhecer a ventura Para perdel-a tao cedo !
Porque me ouvi,;te, enx-ugando
0 p1·anto das minhas faces ? Viste que eu vinha cho1·an<lo ... Antes assim me deixasses !
Antes! leno1· me seria 0 soffrimento, querida !
211
AUIA ! :'\Q U IE T. \
.\ ntes ! a mao que alli, ia
.\ din·, e c ura a lerida,
\'ao deve depoi-.., 1ranquilla,
\"endo ,-uffol'ada a. magua, Encher de sangue a pupilla. Queja Yira cheia de 11:-;ua ...
:\fas junto a mim que 1t• fal1a? Que gloria maior te chama ?
\'ao Sl'i de gloria mais alta
Do qne a gloria. de quern ama !
Tah-ez te cha11w a riqueza... Despreza-a, heija-me, e fil'-a !
\ 'ed s que a-;,;im, com certeza,
;\f;io ha qnem seja mais ri1·a !
( 'omo e que quehras os la1;os ( 'om que p1·emli o universo,
Ent 1•p os nossos quatro hra1:os,
\'a jaula azul do meu yp1•so?
( 'omo hei-de eu, de boje 1'111 di;111te ,
\"iwr, depois que parti1•p-;? Como q11P1'p-; tu que Pu ca.nte
\'o dia em rp1e nao mt> onvires?
Tern pena de mim ! tern p1·1ia De alma tao fraea ! Como ha-de
l\linh'alma., que e tao pe(flll'll:I,
Poder com tanta. saudade? l
AUL\ INQUIETA 213
,vILFREOO
LENDA DO RIIEXO. GR AND lO UG IN
I
0 Castello.
Sohre os rochedos, longe. , o Castello apparecc, Dominando a extensiio <las florestas somh,·ias. A tarde cae. 0 vento abranda. 0 ar e-;curece. E \\' ilfrc do raminha entre as neblinas frias.
Yac vcl-a ... E estuga o passo. Alto e silencioso,
A brc o Castello, em fogo, os vitraes <las jancllas. Nas ameias, manchando o ceo caliginoso, Aprumam-se perfis de immoveis sentinellas.
\\' ilfred,o
.\ L) IA INQ U! ET .\
:w ou,ir a voz 1la s ua Dama ...
\1;1-.. no ,-p n 1·or a1: ;io pl'rtnrba tlo, par'1 1''1
Q.ue YiH'. l'nl "'Z do amor,, (' -:a li ei l'a ehamma , Que arde apena-,; um dia, arde l' desapparC<'e...
I•: o a1·ruinado ,-olal', rl'llPt' lid o no Hlll'no,
ulw e o qua! paira e JlL'";1 nm sonho --ol11·ehnmano, S t',L e, entn' o-,; astros, ,..-,. furan<lo o 1;' lo s1•1·t•110.
Com a cal ma e o l'splendor tie um wlho sohl'rano.
II
⦁ t.-. fad as da lar;oa.
\\' ilfr edo conh l'l'l'U o amor 110,- brac;o-.; <l' Ella... TP, ·l'-a ni1a, a 11'l'mcr, 110 s b i-:1 0 ,-, nirn l' fri:1 ! Teve-a nos Lra os, lou c-:1, apaixona<la t' bella !
, ta s park, allucinado, a11jp,- qnc aponlP o dia...
f: qnc uma outra paixao o desenida<lo pl'ito
Lhe entrou. Paixiio 1Tul'l , lo1w111·:1 que o atordi'1a, Desde o momento Pm que, for mosas, sohre o Jpito Das agna" l'alma, , ,iu as fadas da lagoa.
P:,.rk... ..\ m:11· 1·111 fatal da lagoa da-- fadas
( ·Jwga, e c·m <". 1a st• fiea , a riha em llin· miraudo. l'm lig l'il'o l'u111or de , ozc,, aLa fada s
Augmenta ... E 1•, ,-11r gl' da agua o apaixonado Lando.
ALMA INQUIETA
f'ol're Wilfre<lo, em felm.-, a apertal-as ao scio, E desprcza o passa<lo e esquecc o juramento : Beija-as, e, na C'xpansii.o <lo ca1·inhoso anceio, lmmola to<la a vi<la aos beijos de urn momento.
215
Para os seus corpos tC'r, toda a alma lhes C'ntrcga; E, na allnein:u;:io do gozo em 'Ille se inflamma, Por esse amor, por Pssa l•mb1·iaguez re neg a
0 Deus <los ,;C'1h a,t',.... o 1uno1· <la sua Dama...
Ill
0 Remor so.
Delir a. :\las , depois 1ln <le l i1·io sublimC',
0 remorso, immorl:il, na!',WC' com o al'rebol.
E elle metle a Pxtcnsiio <lo seu monsfruoso crime, E escon<le a face it luz Yin:;adora <lo sol.
Busca assusta<lo a paz; busea choran<lo o olvi<lo...
.\ volupia infernal o eo1·a1;:i.o ven<leu,
E o inferno !he reclama o eora<;ao Yl'n<li<lo, Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe <leu.
Quer rezar, qucr voltar ao seu fe r \"or primeiro, Quer, nas !age", <le rojo, abominan<lo o :\la!,
er <le novo Christao, Fie! e ( ·ya a fleiro :
:\fas nao encontra pn na paz da eat hed ral.
AUL\ INQUIETA
Pobre ! att'• no pallor das faces man•1•;ulns Das monjas, cuida n'r a" fat·t>-.; quP lwijou :
.\h ! seios de marfim ! ah! hrnTas perfumada" !
Recordai;ao cruel dP um Eden ffUP at·abou !
Parte so, sem de-.;tino, errando, a pa--so ineerto, Por montes P l'eelw11s, no in,Pr110 e no vp1•:10,
E por a11nos SPm conta habitando o tll•,-e1·io, em lagrimas no olhar, -;pm ft'· no corai;iio.
Das florestas sem fim sob a abobada e-;eura Ouve, nos aleantis de em torno, a agua l'olar;
:-,ol11•p elle, a longa voz das arvo1·es murnrnra, E o vendaval reto1Te os ramos m•!p·os 110 al'.
Mas a fera, ao insPdo, ao limo vertlt>, ao \('Ilk. Ao sol, ao rio, ao valll', i1 roeha, a serpe, i1 nor E em vao que Wilfredo implora o esquemmento
Do seu amor cruel, do seu honendo amor...
IV
O Ca8tiuo.
Volta ... Nem lueta jil contra o crime que o attr;'1P... Velho e tropego wm, mendigo esfarrapado.
AUIA INQ U IE T _\
E cxanimc, por fim, num calefrio, cac
-,em conscicncia, ao pe das aguas do Peccatto.
217
Calma.. \. noit<' cahiu. :'{em um pa-;saro voa. Nao piam no sileacio as aves agoircirn-,.
l\las palpitam, luzinclo, a bcira da lagoa,
Fogos fatuos -.11htis sobre a-; hervas rasteiras.
E, entiio, ,vilfredo ,e, prcza de um medo atroz, Do denso turbilhao dos fogos repcntinos,
Com tcntar:t'ie,; no olhar e conyitPs na ,oz Surgircm turbilhoes de corpo s f<'mininos.
E o Inferno pcla yoz dos fogos fatuo,; fala ! Wilfredo foge. 0 horror Yae com elle, inclementc ! Foge. E corre, P- Yacilla, e tropec;a, c resvala,
E levanta-se , <' foge allucinadanwnte...
Em viio ! 1w-.a sobre elle um destino fatal :
E o louco, <'Ill todo o horror dos campos tcnebrosos,
Ye fcchar-s<' <' prendel-o a cadcia iufemal Da infernal multidao dos Elfos amoro-;o.,;...
13
218 ,\LMA INQUJETA
TEDIO
:--obre minh'alma, como sobre um throno, SPnhor brutal, pesa o ahorrecimento.
( '01110 tarda-; em Yir, ultimo ontono, Lan,:ar-me as folha,:; ul1i111a-; ao vento !
Oh! <lormi1·, no --ill'n('io P no aban<lo110,
!-,t'1, sem um sonho, -;pm um 111•11,-,anH•111o, E, no lethargo do an11i,p1ila11wnto,
Ter, i, pe<lra, a <[Uietude do teu somno !
Oh ! <lPixar d,· -;onhar o qne nao vejo ! TPt' o ,;an;.:11e gelado, P a ,·ar1H· fria ! E, de nma luz crepuscular velada,
Deixar a alma dormir sem um dP,-,Pjo,
, \ mpla, funebre, lugubre, vazia
(°01110 uma cathe,lral abandona<la !...
ALMA INQUl'ETA
REQUIESCAT
Porquc me Yens, com o mcsmo riso, Porque me Yens, com o mesmo olhar, Lembrar aquelle Paraiso ,
Extincto para nos '!
Porque levantas esta lousa ! Porque, cntre as sombras fune rac-., Ven« accord:tl' o quc rcpousa,
0 que niio Yi Ye mais ?
Ah! es qu(',: amos, es-que i;amo ;; Que foste minha C que fui tcu :
Nao Iembres mais quc nos :unamos, Qu<' o nosso amor morrcu !
0 amor e uma arvore ampla, e rica De fr uct os de ot N, e tic cm br '.a guez :
220 ALMA INQUIL'J'A
J nfolizmente, fruetifica
Apena -; uma vez...
oh ('s,;;a-; ram a . perfumada'-, Teu-- beijos 1odo,- eram llll'll" Ea..; nossa-; alma;; ahra 1: ad; 1,-
Fu iam para Deus .
la s os teus heijos esfriaram ... Lemhra-te hem! lembra -t t,' l Pm ! I as folhas pallidas murcha1·am,
E o IJ(J..;;;o amor 1:lmhPm.
.\h ! frueto;; de ouro, q11P colhemos, Fructos da cal ida Ps1a(,'iio,
C : o m que deli, ·ia , o,- mordemo s, Com 1111P sofreg ui,I iio !
l. P111 hra B- 1e ? os fructu,- p1•;1m doces...
:-ip inda os pudesBemo-; provar I
:-ip eu fos;;p teu... Sl' minha fo%PS, E eu 1<> pude,-,-p ama1·. . .
J-:111 Yao, p01·e m, mp lu •ij a,-, lou ca !
Ten heijo, a palpitar ,. a a r, lt•i·,
:\' iio aehara, na minha boc,·a,
Outro para o al'olher.
N:'io ha mai;; heijos, ncm mai s pranto !
Lemhras-te ! rpmndo te p.-1·.li,
AUIA INQUrn I'.-\.
Beijei-t.c tanto, chorei tauto,
Com tanto amor, pot• ti,
221
Que OS olhos, ves ? ja tenho enxutos, E a minha bocca s1• cansou :
A arrn1·e j{t nao tern mais fr ucto s !
Adeus ! tudo acabou !
Outras paixoes, ontras idade,; '. Sejam os no-,.,o,;; cora oes
Dois relicarios de saucladcs
E de record:u;ues .
Ah! esque(;amos, esque'ta1110 '. Durma tranqnillo o nosso amm· Na cova 1·asa onde o enter1·amo'5
Entre OS rosaes Clll flol'...
222 AUIA lNQUIETA
SUROINA
No ar socegaclo um sino canta, l :111 sino canta no ar sombr io ... Pallida, Yenus ,;e leYanta ...
Qn,· frio !
1· 111 sino canta. 0 campa nar io Longe, cntre 11,·, oa", appa1·,'1·(•... "i110, que 1·antas solitario,
Que quer dizer a tua prece ·?
(JnC' frio ! f'111h111;am-se a,; collina>< ( 'hbr a, correndo, a agua do rio; E o t'L'O se cobre <le neblina-.;.. .
(J11C' frio !
:\'inguem. .. .\ estra<la, ampla 1· ,-iJente, cm caminhantes, a<lo1·mece...
ALMA INQUIETA
Sino, que cantas docementc, Que quer dizer a tua precc ?
2:!3
Que mcdo panico me apcrta
0 1·orat;iio triste e vazio I
Que esperas mais, alma deserta !
Que frio !
Ja tanto amei ! ja ,-.offri tanto !
Olhos, porque inda ('si:t<'S molhados? Porque t'.· que choro, a ouvir-tc o canto,
:--ino quc dobras a finados ·?
Trevas, cahi ! <inc o dia e morto !
Morre tambcm, sonho 01-ratlio !
- A morte e o ultimo conforto...
Que frio !
Pobrcs amore,,, sem destiuo, Soltos ao vento, c dizimados !
Inda vos choro... E, como um sino,
:\leu cora1:iio dobra a finados.
E com que magua o 1:;ino cant a,
No ar soccgado, no ar sombrio !
- Pallida, Venus se levanta ...
Que frio l
224 Al.MA lNQUIETA
ULTrMA PAGINA
Primavera. l'm sorriso abcrto em 1udo. Os ramos Numa palpitac;ao Je flores e de uinhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos (Lembras-te, Rosa?) c ao sol de ou1ubro nos amamos.
Yerao. (Lcmbras-1c, Dulce ?) a bcira-mar, s,,sinhos, Ten1ou-no8 o pcccado ulhas1e-mc... c peccimws. E o outono desfolhaya os 1·08eiraes vizinhos,
0 Laura, a yez primcira cm que nos abrat;f1mos...
Yeio o inverno. Porem, sPn1aJa cm mcus joclhos, Nua, presos ao8 men8 os tens lahios vermelhos, (Lembras-tc, Branca?) ardia a 1ua carne cm fl6r...
Carne, que queres mais '? l'm·ar:iio, quc mais qucn·s !
Pas-<am as estac;ocs c passam as mulhercs...
E eu 1cnho amado 1anto! e niio conhct;o o Amor!
AS VIAGENS
13.
I
Primeira mig-rar;iio.
Sinto as vezes ferir-me a retina offm,eada
L:m sonho : - .\ natureza alJl'e as perpetuas fontes.
E, ao elarao ereador qne invade os horizontes,
\'ejo a Terra sorrir a p ri meir a ah·orada.
l\os mares c nos c! o.-;, nas reehans c nos montee, A \'ida eanta, ehora, arde, delira, brada...
E arfa a Terra, n11111 parto l10rrendo, earregada De monstros, de mammouths e de rhinoeeron tes _
Rude, uma gera-;ao de gigantes aceorda
Para a conquista. A uirnr, do refugio das furnas A migra-;ao primeira, em torvelins, transborda.
E ou«;o, Ionge, rodar, nas primitirns 1\t-as,
Como uma tempestade cntre as sombras nocturnas, 0 estrupido brutal d'essa inrnsao de feras.
228 AS VIAGENS
1[
Os Pheniews.
A Yida gente, ousada e moi;a,! \ vida g<'uie!
⦁ D'esse esieril torriio, d'esse areal maninho Entre o Libano e o mar da Syria, - que <'a minho Busea, turvo de febre, o yosso olhar ardenie·?
Tyro, do vim azul do pelago m:u·inho,
Branca, nadando em luz, snrg<' resplantl<'<'<'l11£'... l\a agua, al)('rla em da1·ti<'s, d10earn-se de l'qwnle Os rernos. Rangem no ar os rnlames e linho.
Hiram, com o seepiro negro em que artl1•111 pedraria'-, Couia a-; barea-; de eedro, atupitlas de fardos
De ouro, purpura, onyx , ,-;pdas e e--pP1·i:11·ia--.
Sus! ,\o largo! :\lelkhari abeni;oe a parlida Dos que vao de Sidon, de (;<'hd e de Anlardn-; Dilaiar o eornrnereio e propagar a \'ida !
AS VlAGENS 2:20
III
Israel.
Caminhar! caminhar!... 0 deserto p1·imeiro, 0 mar depois....\reia e fogo Foragi<la,
A tua ra a rorre os desastrC'-; da vi<la, Insulta<la na patria e odia<la no estrangeirn !
_Onde o leite, on<le o mel da Terra Prometti<la?
- .\ guerra! a ira de Deus! o exo<lo ! o ca ptiYeiro !
E, molha<la dC' pranto, a oseillar <le um salgueiro, A tua harpa, ISl'ael, a 1ua harpa esqueci<la !
Sem templo. sem alt a1·, Yagas peI'pe tuam ente ...
E, em torno de :-,iiio, do Lihano ao far .Morto, Fulge, de moute em monte, o e,-cal'neo do t.'1·esee nt e :
E, impas.si Ye l, Jehovah k Ye <lo eeo profun<lo,
- Naufrago amal<li oado - errar de porto em port o, Entre as impreea,:iie-; e os 11Urages do mun<lo!
230 AS VIAGENS
IV
Alexandre.
Quem te cantara um dia a ambi<;ao desmarcada, Filho da heraklea <''-'til'pe ! e o clamor infinito
Com <1ue o povo da . Emathia acorreu ao teu grito,
\'oanclo, como um tufao, sobre a terra abrazada!
Do Adriatico-'.\1;11· ao lnd11-.;, e do Egypto
Ao Caucaso, o fulgor do aceiro d'essa ""'Jlada Prosternava, a t1·<>111er, -.;olwl' a lama da estraila, Idolos d<> ouro e bronw, e e-.phiuge-.; tJ,. i ra11itll.
Mar 11ue regonga e estronda, p,;p<>d:wando diques,
- Aos confins da ,h,ia rica as phala11gp,; 1·m-riam, Encrespadas de furia e <>rrii;adas de piques.
E do sangue, do po, dos destroi;os da gnern, Aos teus pes, palpitanclo, as cidades nasciam, Ea ,\Ima Grega, comtigo, aYassallava a Terra!
AS VIAGENS 231
Cezar.
Na ilha de :-:f'yne. 0 mar brame na costa bruta. GPmem os Lardos. Triste, o olhar por ceos em fora Uma dl'Uidiza alonga, e os a,-.tros mira , e chora
De pr, no liminar da tencLrosa gruta.
,\bandonou-te o deus que a tua ral,'a adora, Pobre filha de TP11t ! Cezar ahi ,em ! Esrnta 0 passo das legii, s! ouve o fragor da Juda E o alto e crebro clangor da lml"cina sonora !
Dos Alpes, sacudindo as azas de ouro ao vento, As grandes aguias soLre os dominios gaulezes Descem, escurecendo o azul do firmament0 •. .
E ja, do lnterno Mar ao Mar Armoricano, Retuml,a o entrechocar dos rutilos pa,czf',-; Que carregam it gloria o lmperador romano.
231
n
Os uaruaros.
\ '•·11tre nu, seio,; 111'1,;, ioJa nua, cantamlo Do (',a;morecer da iar<le ao rcsu1·gir «Io dia, noma l;i -.;ei, ·a e louca, ao rebramar da orgia, oulrnrn, ciP friclinio l'lll iriclinio rolando.
!\la<; ji1 <la longc S,·ythia c <la ( t>rmania fria, Esraim ado , ra11gC>11clo os <lcniP", como 11111 l,a nclo J)(' )ohos o sa uo1· da p r c :m a11t .. ;.;oza11do,
t I tl'Opel rugidor Jos Barual'O,; <lcsci:i _
1-:il-o,; ! .\ hcna, aos,;('u,;I 1i'•,;, mirra. I )p sanguc clieiu,, T un ·a m-se o,; 1·io" . Louca, a llol't>,,la farralha ...
E C> il -o ,;, - torvos, hr 11 l a c>-,, cahelln<los c feios!
Dona,·, Pac da Ton11P11ta, i, frentc d'cll<-,; 4• 01· •1 4• :
⦁ 1: a ig n e a ba1·ba Jo cle 1s1 , <(UCO inccn<lio aieia c C",palha, lllumina a agonia ap -.;,;1 i111pcrio <(IIC mo1Tc...
...
. -ts cruzada s.
(Dia nte de um retrato antigo. ) ..
Fulge-te o morriao sobre o cabello louro,
E avultas na moldura, alto, esbelto e memhrudo, Guerreiro que por Deus abandonaste tudo, Desbaratando o Turco, o a1Ta!'.e110 e o :\Jouro !
Brilha-te a lam:a a miio, presa ao guante de couro. l\'o peitoraes de ferro arfa-te o peito ossudo.
E ali;a-se-te o brazao sobre a chapa do escudo,
Nobre : - em campo de blau ;;;('1(> besante s de om·o.
« Diex le Yolt I E, bariio entre os baroes primeii-o, Foste, atraYC'Z da Europa, ao Sepuh.To amea i;ado , Dentro de um turbilhiio tie pagens e escudeiros...
E era-te o gladio ao punho um relampago ardente ! E o teu pendao de guerra ondeou, glorioso, ao lado Do pendiio tie Balduino, lmperador do Oriente.
\•i .. a attrac-:ao da aYentura os sonhos te arrebata,
.,I ( 'onqni,dador, ao largo! .\ tua a\111a se1\enfa
⦁ • (J11t·1· a gloria, a corn1uista, o pel'igo, a tormenta.? ( .\o largo! sacial':'ts a amhii;ao que Jp mata !
AS VIAGBNS 237
0 Polo.
.. Para, Conquistador intimorato e forte!
Para! que buscas mais que te ennobrei;a e eleve? E tao alegre o sol! a exi-.;tc1wia e tao breve!
E e tao fria essa tumha entre OS f;C'los do .\'ortC'I
Dorme o Cl;O. '.\'uma ronda esqualida, de ll'YC', En·am fantasmac;. Reina um -<ilC'neio dt> mortC'.
Phocas de n1lto informe, ursos de Pstranho p01•tp
u Morosamente vao ill' ra,;tros sobre a 11PYP ...
Em vao!. .. E o gelo crC'SCC', C' espeda ·a o navio. E elle, subjugador do perigo e do medo ,
Sem um gemido l'ite, morto de fome C' frio.
E o :\fysterio se fecha aos seus olbos serenos...
Que importa? Outros virao devassar-1he o segredo I Um cadaver demais... um sonhador de menos...
238 AS VlAGF:NS
XII
,1 Morie.
Oh! a jornada negra! A al ma, ,,;c d£>spedar;a ... Tremem as maos... 0 olhar, molhado e ancioso, e--pi , E vii fugir, fugir a ribanceir a fria,
Por oudc a prociss iio <los dia-, mortos passa.
:-,;o ceo gelad o C.\ pira O dt•1-ra.<leir o tlia.
E a ult im a re :,,; iii o quc o tt>u olhar dPva-,sa '. E ,,,,, trevoso e larg o, o mar e-,tartlalha<:a
\Tu indizivel horr or di· uma noit1• va.zia.. .
Pobre! poPcflle, a solfr£>r, a L(•,,;tt> ea 1),;,,tl', ao :\ol'II' E ao Sul, desperdi aste a for,;a <le tua alma•/
Tinha-; tao perto o BeJ11, te n<lo tao perto a '.\Ioi·te!
Paz a tna amhi,_'.ao ! paz a tua 1oucura !
.\ conqui,,;ta melhor e a conqui-,ta <la Calma :
⦁ Conquista,,;k o paiz <lo :-;unmo e da. Yentura !
.-\S VJAGENS 239
XIII
:\ ?\I IS, S \ O DE PURNA
(Do Eoangelho de B uddha )
Ora Buddha, quc, em prol <la no\'a h;, Ie, •a nta Na lndia antiga o <'lamor de uma cruza<la santa l'onfi·a a religiao dos Brahmane.;;, - medita.
Immen a, cm tor 11 0 ao sabi o, a mttltiil iio .;,e agita E ha n'p-.;;a multidao, que en1·he a planicie vasla, Homen-; de toda a esppr•ic, .\ r ·as dP toda a <'a-;Ja.
Todos o-; que (a princip io, enehia Brahma o e-.p:ii;o )
Da cahei;a, do pr\ da r,'ixa ou do anlehrai;o Do den-; ,·ier am i1 luz p...-a poYoar a terra :
-- K,·h atr ia-., de lwai;o fork arrna<lo para a guerra ; (_'n kias, filho-. d,· n •i-; ; leproso-; pe1·,eg11idos
C'omo c-iie-,., como e t'" de Jar em Jar f·o1·riclos :
240 AS YIAGEXS
0;; que vi, em no mal e os que amam a virt ude; ( ,.., ricos de helleza e o-s pobres de sat'Hle; i\Iu]hp1•e-, fort es, - mifr, on pro--t it u t a-;, cheio De tf>nta<:iies o olhar ou d<' alvo lei(<' o "t'io: (,uanladores de lmis ; robustos l:nradrn·P-s,
.\ cnjo arado a ter1·a abre em fruct os e flor <' -; ; ( 'rea nr,a s ; a1 wiiio s ; ,;aep 1•<lotp;; de Brahma ; Piria-,, :--uth•a-; sp1•,·is ra'<(ejando na lama;
⦁ To1lm; acham amor IIPntro da alma de Buddha, E tudo 11Ps-;P amor ,-,p t>ternisa l' traw,muda ...
Porque o sahio, P11vohe1Hlo a tudo, PIii ,;p11 <·aminho,
:\'a me-,111:1 caridade <' no mesmo <0 a1·i nho,
Sem distinc<:ao promettP a toda a 1·ai;a humana
.\ bemave ut nr a nr,a etcrna do :\'in ·a na.
Ora, Buddha medita. ..
.\ maneira do orvalho,
Que, na calma da noitP, anda dl' galho Pill galho Dando ,ida e humidade i1-s an·o1•p-; <-rP-;t adas ,
- .\ o-; 1·01·a<:<1<'" s e m fr· <' :\-; ahna-; desgra<:ada-; ( 'o m•pde O 0 0 \'0 cr edo a espp1·:111<: a do S (Jll lll O :
.\la-;... a-, al111a-; que p-;tii o, no h01·1·ivel ahamlono Dos desertos, de par com o-; animaes fprozPs, Longe de huma no olha:·, longe de humanas vozes,
.\ rola r , a rola r de pP1Tado Pm pet·f•ado ?...
Ergue-se Bnddha :
Chega :
Purna!
0 discipulo amado
, Purna ! P 111i-,tp1· qne a palavra <livina
AS VIAGENS 24.1
Da agua do mar d Oman it agoa do mar da China, Longe do Indus natal e <las margeus do Ganges, Semeies, atravez de dardos, e de alfanges,
E de torturas !
Purna onve ,-,01Tindo, e ,·ala... '.'lo silencio em que cs1i,, um sonho doce o embal:1
⦁ No profnndo clal'iio do sP11 olhar profumlo, Brilham a ancia da morte e o dPsprezo do mumlo. 0 corpo, que o rigor <la-; p1·i ,·:u:iics ,·onsrHne, Esqueletico, m'i, comido pela fome,
Treme, qua-;i a cahir, como um bambn com o Y('nto; E erra-lhe ft flor da hocca a luz do firmamento
Pref.a a um sorriso de anjo...
E ajoelha junto ao Santo: Beija-lhe o pb dos pes, beija-lhe o po do manto.
, Filho amado ! - diz Buddha - c,;.-<a-; barbaras gentes
:io grosseiras e , is, sao rude,; e inclementes;
Seo-; homens(quc, em geral,,-,iio maos o,-; homens todos) Te insulta1·em a creni;a, l' a cobrirem de apodos,
Que diras, que faras contra es':la gente inculta?
;\Jestre ! direi que e boa a gente que me insulta, Pois, poden<lo espancar-me, apenas me injnri:i ...
" Filho amado ! e se, a injuria abandonando, um <lia Um homem te espan,·:ir, ,cndo-te fraco e inerme,
.E sem pie<lade aos p:'•-; tl' pisar, como a um n•1·111c? •
" '.\fostre ! direi que ,: born o homem que me magoa, Pois, podendo ferii--me, apenas me csbordoa...
14
AS VI.\GG:\'S
Filho amado! e '-P alguem, wndo-te agonisarrte, Te furar com um pnnhal a earnp palpitante?
.'\k,,;tre! direi quP i'· bom ·quem minha car ne furn, Poi", podendo matar-mP, apenas mp tortura ...
Fil ho amado! e ,;e, emfim, ,;pdento,,; dP mais s:mgnr,
TP arrancarpm ao l'orpo PnfraquPt·ido C' P-xsangnP () ultimo alPnto, o soprn ultimo th Pxistencia, (Jul' di1·i1"', ao morrer, t·•111( ra taut.a inelpmp1wia '!
.'\lestrP ! direi qnP l; hom CflIPm mP liYl'a da ,idn!
.'\lP-.tn• ! dirPi que adoro a mao boa P querirla, Que, com t:io ponca dt',r, minha 1·ar11P cansada
Enti-ega ao -.nmmo lwm P i1 -.11111ma paz do :\;1da' >>
Filho amado ! - diz Buddha - a palana did'lla, Da agua do ma1· de Oman it agna ,lo ma1· <la Chi11;1, LongP do lndm, na1al C' dos vallP..; tlo Gangt's,
VaP lPva1·, atra,Pz dP ,h n los e de alfangp..; '. Pur11a ! ao fim tla 11P11un1·ia P ao fim da I 'a1·idatl1· f'hpga..;tp, p..;tJ•,111gulan1lo a tua humanidadP !
Tn, -.im ! pt'1dps partir, a po'itol o perfPito,
QuP o '.\'irvana ji1 tp11,; dPntro do proprio peito,
E t'•..; tligno ,h· ir pr; , g a r a totla a rac;a hnmana
.\ bPmMPntnranc;a P1Prna do :\irvana !
AS VIAGENS
XIV
SAGRES
-- Acreditavam os antigos celtas, do Guadiana espalhados ate a costa, que.. no templo circular do Promontorio Sa cro, se reuniam a noite os deuses, em
mysteriosas conversas com esse mar cheio de enganos e tentacoes ,,.
OL. MARTINS. - Hist. de Porrugat.
Em SagrP'-'. Ao tufiio, que se desencacleia,
A agua negra, em cadtt1cs, se precipila, a ui,ar; Hetorcem-,;e gemendo os zimbros sob1·p a areia ...
E, impa:,,,;i ml, oppondo ao mar o vulto enorme, Sob as frPrns do eeo, pelas trcrns do mar,
Be1·-;o de um mundo 110,0, o promontorio dorme.
S<',, na tragica noi1e e no sitio medonho, Inquieto como o mar ,;enti11do o cora1;iio,
.\lai"' largo do que o mar -,putindo o proprio sonho,
- 6, lerrando os pt;-; sobre um penhasco a piqu<', Sorvendo a ,entania e espiando a escuridiio,
Queda, como um fantasma, .o Infante Dom Henrique ..
AS \'IAGENS
Ca-,to, fugi.ntlo o amor, atraYessa a existcncia Immune de paix,-1es, -.t'm um ½rito sequer
Na earne adormecida em plena adoleseencia ; E nunea approximou da faee envelheeida
0 neetario da flor, a boc1·a da mulher, . Nada do quc pei·fuma o ,lese1·to da vida.
Forte, em t'euta, ao clamor dos pifanos de ;.:m·1·ra, Entre as mesnadas (quando a matani:a sem do Dizimava a moirama e estremecia a terra),
Viram-no le.-antar, immortal e brilhanm, Entre O'-' raios do sol, t•111n• as nuv,•ns do p{1, A alma dt• Portugal no ;11·l'iro do montante.
Em Tanger, na jornatla atroz do desbarato,
⦁ Duro, en-;upando os p; L S em s:rngne portugnez, Empedrado na teima e 110 orgulho insen'Jato, Calmo, na confusao do horrendo de.senlan•,
⦁ Yira partir o irmao para as prisues .de F,·1., Sem um tremor na vo1., sem nm tremor na face.
E que o :--onho Ibo traz d,·ntro de um pensamento A alma toda captiYa.. \ alma de um sonbador
Guarda t•m ..,j rnt•sma a terra, o mar, o firmamento, E, 1·e1Tada tie todo it in-;pirai:ao de fora,
Viye como um vulciio, rnjo fogo interi01·
A -,i mesmo immortal ,-,c nutre e se devora :
Terras da Fantasia ! Ilhas Afortunatla-,, Virge11-;, soh a meiguin·" a limpidez do cJo,
AS VIAGENS 24.5
Como nymphas, a flor <las aguas remansadas !
⦁ Pondo o rumo das naos con1ra a noite horrorosa, Quern sondara esse abysmo e rompera esse veo,
O sonho de Platiio, Atlantida formosa !
" Mar tenebroso ! aqui recebes, porventura,
A syncope da vida, a agonia da luz...
Come<:a o Chaos aqui, na orla <la praia escura? E a mortalha do mundo a bruma •rue te veste "!
Mas nao! por traz da bruma, erguemlo ao sol a Cruz, Vos sorrides ao sol, Terras Cl11·istans do Prestc '.
Promontorio Sagrado ! Aos teus pes, amoroso, Chora o monstro Aos teus pes, todo o grande poder,
Toda a forc;a se esvae do Oceano Tenebroso...
Que anciedade lhe agita os tlancos ? Que segredo, Que palavras confia essa boeca, a gemer ,
Entre beijos de espuma, a algidez do rochedo?
Que montauhas mordeu, no seu furor sagrado ?
Que rios, atravez de sehas e areiaes,
Vieram n'elle encontrar um tumulo ignorado? De onde vem elle? ao sol de quc remotas plagas Borbulhou e dormiu? que cidades reaes
Embalou no rega<;o azul de suas vagas?
" Se tudo e morte alem, - em que deser to horrendo, Em que ninho de treva os astros Yao d or mir ?
Em que soidao o sol sepulta-se, morrendo?
Se tudo e morte alem, porque, a soffrer, sem calma,
14.
246 AS YIAGENS
Erguendo os lll'a('.O'- no ar, havemos <le sentir Esta,;; aspirai;oes, eomo azas dentro da alma?
E, tortura<lo e so, sobre o penha,wo a pique, Com os olhos febris furan<lo a escm·idito,
Queda como um fantasma o Infante Dom lleurique... Entre os zimbros e a neyoa, entre o ,·ento ea sabugem, A voz incomprehendida, a voz da Te11ta1:iio
Canta, ao sur<lo bater <los macart'•o,; que rugem :
Ao largo, Ousa<lo ! o segredo E--pera, com ancie<la<le, Algueru p1·i rn1lo de me<lo.
E provido de Yontade...
\'eri1,; d' estes mares largos Dissipar-se a cerr:u;:io !
Agll(;:1 os ten-.; 0ll10--, Argus !
TOOlara corpo a yi,-,:10.,.
Sonha, afastado da guerra, De tndo ! - em tua fra.que:r.a, Tu, <l'essa ponta de ten·a, Dominas a natureza !
Na eseu:ridao qnP te cinge, OE1lipo ! com alti,Pz,
l\o olhar ch li1p1itla -.phinge
0 olha1· mergulha-,, e Ii•,;...
AS VlAGENS
Tu que, casto, entre os teus sahios,
!\foreha ndo a llor dos teus dias, Sohre mappas e astrolahios Encaneces e porfias ;
24.7
Tu, buscando o oceano infindo, Tu. apartado dos teus,
(Para dos homens fugindo, Ficar mais perto de Deus) ;
Tu, no agro templo 1k Sagres, Ninho das na yes esLeltas, Reproduzes cs milagre s
Da edade e-,cura dos f'eha5
re como a noite e,;ta cheia De vagas sombras... A.qui, Deuses pisaram a areia Hoje pisada por ti.
.E, como elles poderoso, Tu, mortal, tu, pequeniuo, Vences o l\Iar TencLroso, Ficas senhor 1!0 De,;tino !
Ja, enfunadas a-; velas,
·Como aza-, a palpitar, Espalham-sc as caravellas,
.Aves tontas pelo mar ...
AS YIAGE'.\"S
N'essas fa.boas oseillante,-, Sob essas aza-; abertas,
A alma dos ten.; naYC;.\ante" PoYoa as aguas desertas.
J,'t, do fundo do mar vario,
Surgem a-; ilhas, as'iim
( '01no as cont as de um rosario, Soltas nas agna-; sem fim.
Ja, como cestas de llin·(•s, Que o mar de leYP halam;a, Abrem-se ao sol os .\t:i,res
\'t>rde", da cur da p.;peranc;a.
\'encida a ponta encantada Do Bojador, tens Jip1•t',Ps l'isam a Africa, abrazada Pela inclemencia dos s,',es.
Nao ba-;ta ! .\ vante !
Tu, morto
Em breve, tn, recolhido
Em ealma, ao ultimo por!o,
- Porto da paz l' <lo ol Yido,
Nao ver.is, com o olha1· em cham111:1,
. \ brir- se, no 01·c·ano azul, I I vi,o das niws do (,ama, De rosfro-; feitos ao sul...
AS VIAGE:.NS
Que importa? Vivo e olfegando No offego das vclas soltas,
Teu sonh o l'stara cantando A flor das aguas rernltas.
249
Vencido, o peito arquepntc, Levanlado cm furacoes, Cheia a bocca e regougautc De cscuma c de irnprc cai;ii::-s,
Rasgando, em furia, i1s unhadas
0 peito, c contra os escolhos GQlfando, em flammas iradas, Os rclarnpagos dos olhos,
Louco, ululante, irnpotente Como um ycrmc, - Adamac;lor Ver:i pela tua gentc
Galgado o Caho do Horror !
Como o reflexo de um astro,
:::icintilla e a frota abeni;oa No tope de cada mastro
0 S,tnt' Elmo de Lisboa.
E alta jlt, de ,\f oi;:1111hi((UC A Calicut, a brilhar,
Olha, Infante Dom Hen1·i<cue !
- Pa ssou a Esphcra .\ rmillar ...
250. AS VI. GEN ,-;
Fartar ! como um sanctuario Zcloso de seu thesouro,
Que, ao toque <le um temera rio•r Largas abre a,; po1•fa -s de ouro,
- Ei-, a,; l<'1-ra,- fcit i,·c-im,, Abertas... Ha agua atraYez, DeslisP111 fustas ligeiras, Corram aYidas galrs !
Ahi Yao, opprimindo o oceano, Toda a pra:ta que fasciu a, Todo o marfim afrieano,
To<las a-, ,-,etl.1,- da l'liina...
Fartar !... Do seio feeumlo Do Ori, •nte abraza<lo em lnz, Derra111Pm-se sol11·e o mun<lo As pc<lraria,; <le Hormuz !
Souha, - afa-.ta<lo da guena, Infante!... Em tua fra<pH •za , Tu, d'e-,-,a ponta de terra, Domina,; a natu1•pz;1 !... "
Longa e cali<la, a-;-,i Ill , fa.la a yoz d:1 Sereia...
- Longe, um roxo C'l:11·:i o rompe o noctu rno n;o. Doro a!,ora, ameigando os ziml)l'o,; sohre a a,·,.ia, Pa !:!sa o n·nto. Sorri pallida1111•11tl' o <lia . ..
E s ubito, como um tabernaeulo. o ceo Entre f'aixas de prata e purpurit, irr:i,lia.. .
AS VIAGENS
Tenue, a priucipio, sobrc as perolas da espuma, Dansa t01Telinhando a dmva de ouro. Alt'·u1, Invadilla do fogo, arde e palpita a bruma,
'.'luma -;1•intilla<;iio de nacar e amcthystas...
E o olhar do Infante ve, na agua que vae e vem, Dcsenrolal"-'-P ,ivo o drama das Conquistas.
251
Todo o oceano refei·n ' , incendido em diamantes, Desmanchado em rubis. Galeues tles<:0111munaes, Cn•spas ,-wlvas '-'<'Ill fim de ma,;tros deslumbrantes, Continenies de fogo, ilhas resplandecendo,
Costas de ambar, parccis de aljofres e coraes,
⦁ Surgcm, redomoinhando e desapparecendo...
E o dia ! - A bruma foge. llluminam-se as grutas. Di.,,-ipam-se as vist1L'S... 0 Infante, a meditar,
Como um fantasma, segue entre as rochas ahrupta.;;... E impassirnl, oppondo ao ma1· o n1lto enorme,
Fim de um mundo --ondando o tleserto do mar,
⦁ Ber<;o tie um mundo novo - o promontorio dorme.
0 CA9ADOR DE ESMERALDAS
EPISODIO Q_\ EPOPE_\ -;rrn.TA:--;1sTA "iO x v u 0 SECULO
0 CACADOR DE ESMERALDAS
I
Foi t•:n mar1;0. ao fin1lar da.;; t·liurn'-, quasi (1 cnir da D,, outono, rpanll.G ;1 tr•r1·a, em -:C•1lC' rcqueimada Bchera longamcnte n.;; a: 1rn.s th est.ai;ao,
- Que, cm brrnrleirrr. bu.,:·an1Io esmcraldas e pratn,
.\ fren1P do, peue fil!10, da rude matta, Ft•rn o Dia,; P,1es Lcrne cntrou pelo sertiio.
.\lt! quern fr Yira a-;-,im, no ahorer·t•r da ,·ula,
Bruta Patria, no her1:o, entI't' as spha-; dormida,
No Yirginal pu1lor da.-; p1·imitiYas <;ras, [anreio IJu:aulo, a.os lwijo·, do -:!JI, ma.I comprehendcn1lo o Do mundo por na,.;1•p1• <ptc 1razi,1s no seio,
Hehoay;1-: ao tropPI <lo..; i111lios c das ft;ra-. !
256 0 C. \ QAD (IR DE ES IERALI• \S
Ja Iii fora, <la ourcla azul da, enscada,-,,
Das angras vt-1•dp,-;, onde as; aguas rcpou-.ada-; Yi·m, borhulluudo, a flor dos cal'hopos eantar;
Das abras e <la foz dos; t umultuosos rios,
- Tomadas <le pavor, dando contra o,-, l,;1i:>.io,-,, As pirt'1k!as dos tPns fugiam 1wlo mar . . .
De longt-, ao duro vcnto oppondo as Jargas vclas, Bailan<lo ao fnracao, vinham as t·;11·avPlla,-,,
Ent1·0 us uivos do mar co -;ilPn!'io <los a!-'trn-;; E tu, do littoral, Jc rojo ua,; arcias,
\"ias o oceano arfar, , ias a, ondas chl'ia-; De uma palpitai;iio <le pri,a-. P de ma-.lrn,.
Pelo dcserto immcnso t> Iiq11i<lo, os pt-nl1;1-.,•uo; Fe1·ia111-n';1-. Pill viiu , roiam-llit•s o-. ,·as,•oo;, ..
. \ quantas, quanta n•z, ro<lab<lo au-; , P11too; mi111s,
0 primciro p,:giiu, •· rnno a baixci'<, (JIIPlirava '. E la iam, no alvor da ,·,pnmara<la lira, ;1, Dcspojo s da amhi1;iio, ca<la n·r1•-; de nim;;,
Ou tr as vinha111, na ft-bre l1t•rni!'a da conq11i-.1a '.
E quando, Jc t•ntrl' os vt'•oo.; da-; ncblinas, ii , ista Dos nautas fulgurava o 1P11 ,·p1·d1· so1'l'iso,
Os sens olhos, o Patria, enchiam-st- dP pranto : E1·a como Sl', erguen<lo a ponta do ten 111anto, Yisscm, ;'i bcira d';1gua, abri1·-s1· o Pa1·;1iso !
.\lais numerosa, mai'l au<laz, dt• <lia em ,lia, Eogrossava a invasao. Coino a enchentc h1·;1, ia,
0 CA(\DOR DB ESMERALDAS 2 7
Que sobre a,;; terras, palmo a palmo, abre o lenc;ol
Da agua deYa,;1adora, - os ]}l'ancos avanc;avam E os teus filhw. de bronze ante elle,; rccuava111, Como a sombra rc1·t'ta ante a invasi'io do sol.
Jit nas faldas da Sc'rra apinha,am-se al<leias; Lcvanta, a-se a cruz sobre as ahas arcias,
Ondc, ao brando mover do,; ll'ques das jus-,i1ra-., Vivcra c progre<lira a tua geute forte...
Sopr,ira a destrui1.:i'io, como um vento de mortc , Desterrando os p:1;.;,:s, abatendo a,; cahic;ara,;.
Mas alem, p,1r dctraz da-, broncas serranias, Na ccrrada regiiio das llorcsta-; sombrias, Cnjos troncos, rompentlo as lianas e os cipi',,;, Alastrayam 110 ceo lcguas de rama escura; Nos mattagaPs, Pm cuja horrivel espcssura So corria a anta lcvc c uivava a onc;a feroz ;
Alem da aspcra brcnha, onclc as trihus errantcs A sombra maternal da.; a1·,·01·L•-; gigantcs AcampaYam; alem da-; soccgadas aguas
Das lagoa;;, dormindo 1mtre aningac,; floridos ; Dos rios, acachoando cm quedas e bramidos, Mordendo os akanti-;, roncanclo pclas fraguas :
⦁ .\hi, n[o ia cchoar o e-,trnpido da lucta .•. E, no seio r.utriz da natureza bruta, Resguardarn o pudor teu Ycrde corac;i'io !
Ah! quern tc Yira assi111, cntre as scha-; sonhando, Quando a banrleira cntrou pclo teu seio, qnando Fernao Dias Pae.s Lcmc inrndiu o sertao !
:.!G8 0 CA<;ADOR DE ES:ltEHALllAS
Para o norte inclinando a lomLad:1 l11'1t1nos11, l·:ntre os na1Piros jaz a !'.erra 111 -.,lprio-,a ;
.\ azul Yupabussu heija-llH' a,-; VPl'(II'" f'alda-;
E aguas <·1·espas, galgando aIi -,1110s P liar,·anro" Atulhados de prata, humeden•m-lh(• os llaiwo-, Em cujos socavoes dormem a-. e,-;11wr:tldas.
\'p1•de sonho !... ,; a jornada ao paiz da Loucura Quantas bandeiras j:i, Jl"la iill',-;ma :n Pntura Levada-;, em tropel, na all(·ia de 1·11riq11Pc1·r !
Em cada frcnwdal, em cada p,-;('arpa, Pill 1";1da 131·P11ha r ude , o luar Leija:', uoi1e 111na o-.,,-,a da, Que vem a uivar de filme, :1-; om:a,-; renw\l'l',
Que importa o desamparo em nwio do dP!--erto E e,-;,-;a vida sem Jar, e l'S"l' vaguear i111•p1•to
De terror em terror, luctamlo Lrat;o a lw:1ro Com a inclemencia do ('L'O e a dureza da -,orll' !
Serra bruta I dar-lhe-has, anJc,-; dP dar-Ihe a morlP,
.\-; pedras cle Cortez que e-,('011dn; 110 1•pga1:o !
E sctP au110 ,, Je fio cm fio tiPsi ramando
0 111 stcrio, tit> pa-.,-.,o Pill pass•• penctrando
i I ,erdc ai·cauo, foi o banrll'i rante audaz...
⦁ :lla l'(·]1a ho1Tc11da ! tlcrrota impla<·avcl c ea Ima, cm nma hora <lc amor, csl ra n;.:ula ndo na alma Toda a 1·pc•m·d:1t,·:io do tpIC fica,·a at1·az !
.\ cada volta, a :l[ol't<', afiando o olhar faminto, lneani;a,Pl no ardil, ro;1dando o la l,yrintho
Em quc ;'i,, tontas erra va a i1andei r a uas ma tt as , i 'prcan,lo-a com o <·rp..,eei' <:os rio .., ira c undos, Espiando-a no pcmlor dos boqucirocs profundo, , Ondc vinham rui1· com fragor as ca-waias.
.\qui, tapanJo o espai:o, cutrcla(:ando as grcnhas Em ncgros paredi,<'", lc,·antayam-sp as hrcnhas Cuja mu1·al ha, em vao, scm a podp1· dohra r, rinham acommetter os tc mporae s, aos roncos;
E os maehatlos, de sol a sol rnordemlo os troncos, ( 'onti-a c-;-;c adarvc hruto cm vao rodavam no ar.
Dcntro, no frio horror <las balseiras l',wura,;, Yi-.,eo,-as <' oscillan<lo, lmmidas colgadura-; PcnJia Ill de cipos na escuridao nocturna :
E um mundo de rcpti.,; sih ·a va no 1wgnrn1P. ( ·ada folha pisa<la exhalava um tp1ci:rn111c, E uma pupilla 111(1 elii.,;pava Pm cada furua.
Depois, uos chapadoes, o rude acampamento :
.\s barracas, voanJo cm frangalhos ao vcnto,
(i() 0 CAgADOR DE ES1I EH A I. D AS
..\o ;.:l'a 11 izo, ;'1 in,·ertn(la, :( (·huYa, ao fomporal..• E qn:mtos d'elle", m·.,_, seqnio,o.'-', 110 aliandono, lam li1·aHtlo a1raz, 110 derradeiro som110,
:--,•m ('h(•g;u· ao sop; t tla colli1);( fotal !
(Jul' impol'ta\'a? .\ o l'!ar('a.r da manh:i., a 1·ompanlw B11-wa, ;( 110 horizon((• o pe1·1il <la 1Honfa11ha. (J11a11do appat'('t't'l'ia emlim, , t'(';.:ando a Pspahl:i, 11,•-.pn hada no e; t o entrt> a-, Ht• hlinas t'la ras ,
. \ ;.:ramie sP1Ta, mii(• tla" ('"-IIIPra.lda,- r:ira ,;, Verd e t' fai-,,·aHtP ('OlllO 11111:1 g(·;u11le p-;111er:ilda !
. \ \'a (l1P (\ o""' ;q.;11:u:ap-..; PgHia 1n - sP lts l101'1'stas . . .
\ 'inham os );( Illa(·iir -,, a-. IP1.ira-; fum•sta ..., Ill' ag11a paraJ ...;11la I' dP('OITIJHl'-'la ao sol,
Em n1Ja fa t· P, 1·omo um l1ando de fant:i...rn;1-,,
l·:1Tn \'a H1 tlia (' 11oitP :is f'ch('l'S I' o,; mias m;(" ,
\''mna ('011da letha l ,;11 h1· p o p,'1dl't' lt•111:ol.
. \ gora , o :i -; pp10• mo ITo, os (':tmi11l1os frago-.o..,...
LP, P, di' qtrnndo ('((I q11a11do, Putrr o.., fronco..; nmlo-,o...,
Pa...,;a 11111 pl11rnPo ('O t' :t(' , t'OHIO 11ma a ,·p q11P ,oa .. . t:111;1 fr(•t"i 1a , s ub til , -.i l va l' /.a1·gundia .. . J'.: a g11Pr1·a 1
:"io o-, Indios I HPtnmha o e('lio da hrnta st'IT;(
.\ o fropt·I ... E o estridor da. hatalha 1'(•1>11;( ,
Hepoi..., os riheir,,P..,, na-, le, ad a,;, t l'a11-.pondo
.b r iha -;, 1·,·l11·amamlo, I' <le es tro n<lo em Ps t rnml o l11chamlo em rn, H' :t l',·' os o sPio d(•-,tl'llidor,
E dest•H1·aiza11do os 11'0 111•0 -;s 1·1·11l a1·c• ,;,
0 CAQADOR DE ES II::H..\ LDAS 261
;\'o t>,;lo d.a alltn-iao e,,tn • mccc ndo os are.;;,
E indo t01·\·os rolar 110-; Yall1_•..; com fragor...
etc annos ! combatcnclo int!ios , feln s, pal11 tlP-- . Ft•1·a-;, n•ptis, -- contcndo o-.; scrianejos rude --, Dominantlo o furor da amotiooda c,;colta...
!--l'te anno,-, ! ... E cil-o Yolt a , cmfim, com o sp11 t he-0., 111·0 '. Com que amor, contra o peito , a sat't'ol;.t tic rnuro Aperta, a transbortlar do ped ra s yc1·de-; ! - Yolta . ..
l\la-; 11um de,-yao da matta, uma tarde, ao sol posto, 1';'11·:1. 1: m frio livor se lhc espalha uo l"O'-IO...
Ea fehrc ! 0 YP11C·cdo1· nao pas.:;a1•:1 d'alli !
l\a terra que venccu ha-de cahir Ye nci<lo !
Ea febre ! t'· a mortc ! E o Hcroe, tropego e cnvelhccido, Roto , e Sl'lll fort;as, cac judto do Guaycnhy ...
15.
262 0 CAQADOR DE ESMER•ALDAS
lil
Fcrniio Dias ,Paes Lemc agonisa. Um lamento Chora 1011 0, a rolar na longa voz <lo vcn1o. "ugPm so1urnamcn1c as agua,-,. 0 ct'·o :u·dc. Trasmonta fulvo o sol. E a na1ureza assist,•, Na mesma solidao 1• na mc,\,ma hora ti·is1<',
.\. agonia do hcroe 1· it agonia da tarde.
Piam pcrto, na somhrn, as an•,; agoin·i1·as.
ih am as cobras. Longe, as fe1·as carnicPiras UiYam nas lapas. Desce a noitl-, como um n;o, Pallido, 110 pallor da luz, o se1·t:11ll'jo
Estor<·P-so no crcLro e derradeiro a1·1pH'jo.
- Ferniio Dias Pac•s Lc•11w agoni-,a, e olha o ci'·o.
Oh! (',-;sc ultimo olhar ao firmamcn1o ! .\ vida Em s111'tos de paixiio I' feh1·1• t'<'pal'tida,
Toda, num so olhar, 1IP,m·a1nlo a-.; p-,(n•llas ! Esse olhar, que site 1·01110 um lleijo dn pupilla,
-- Que a-, implora, <1uc hehc a sua luz 1rnnquilla, . •
Que morrc... c nunca rnais, nunca mai,-; ha-1le vt'l-as !
.,
0 CA.QADOR DE ESMBRALDA.8 26
Eil-as todas,.enehendo o ceo, de canto a canto...
;1/unca assim se espalhou, rcsplan<lecendo tanto, Tanta constella ao pela planicie azul !
:\unca \'enus assim fulgiu ! :\11nca 1iio pcrto,
:\unca com tanto amor sohre o scrtao deserto Pai"1·ou tremulamcnte o ( ·ruzeiro do ul !
;\'oite>< de outr'orn !... Emcfllanto a bandeirrt <lormia Exll'..us:a, e a><pero o vento em derredor zunia•
E a voz do noitibo soava como um agouro,
-·· Quantas yezc,; Ferniio, <lo eaLP('.O <le um monte,
\ ia lenta suhir <lo fun<lo <lo horizonte
.-\. f'lara procissiio <l\•....sas bandei-ras de ouro!
Adens, astros <la noite !, A<leus, frescas ramasens Que a aurora <lesmanchava em perfumes ,;eh agens '. Ninhos cantando no ar \ ,mspcnsos gp1cei•os Resoantes de amor ! ontouos bemfeitores !
Nm en-; C a Ye><, a<leu-; '. a<leu.;;, feras e flores ! Fernao Dias Paes .Lcmt' c;.;pera a morte A<lcm; I
0 Scrtanista ousado agoui,-,a, ,;t'isinho...
Empasta-lhe o suor a barba em <lesalinho;
E com a roupa <le cQuro em farrapos, dcita<lo, Com a garganta afoga<la cm uiYos, ululante,
Entreostroncos <la brcnha hirsuta, - o Bandei-rante
Jaz por 1t•1-ra, :'1 fei(;iio <le um tronco dcrriLa<lo...
E o delirio comei;a. A miio, que a febrc agita, Ergue-se, fremc no ar, sobe, dt•seamba afflieta,
2tH
'i'
O t ' .-\ t;' ADO H u1; l •: :-- IE I. \LDAS
l 'ri, pa ,..., tletlo,;, e -.ontla a terra, (' P::-t·a1·,a o ch:io
a u,.:r a. a-,; unhas, n·, oh" a,; rai l.l'"'• aeerta,
.\ga1Ta o -;:wt'o, e ap:ilpa-o, t' eonfra o pPito o apert a, ( ' omo p:11·.1 o Pnter1·ar dPnfro do t·or:u:iio.
:\ h ! mi--Pro demente ! o ten t111•-.0111·0 ,. fal-;11 !
Tu 1·:t1tti11ha-.te Plll ,:io, pur ,.,t'(p a1111os, 110 l'IH 0 a l1:o De 11111a uun·m falla,., dt• u111 :,;onho 111alfa1.t>,i o I E11ga11011-IP a ambi :io ! 111:11,.; pol11·,· que um 111r 11tl i,.:o,
.\ :-!oui a , e1u 1 11, . e,u a,nor, eiu au,igo ,
L'lll terq uem fr eom·L•tla a l':\l 1•p111a - 11 nc1:iio tit• um beijo'
E foi para mo1Ter tic t·an,.;:1<:0 1· d1• fonH',
l'lll fpr quem, mnrmnrantlo t'lll la:-,:ri111,11,; 1,,11 no111t•,
T L· t;lL nma 01·1:1:iio " nm p1111ha1l0 tit' t'al,
- (Jut• tantos cora1/11•,; t·a lc:1-.11• ,.;oh o-. pa-.;.;o-.,
E 11a alnia tla 11111lhe1· tpw It' p-;{1•11tlia o;.; 111':H: o",
..111 pietlatlP la 111: a -,-1, u111 n•m•no 111ortal !
L ei l-a , a morto! <'Pil-o, o fim! .\ pallitl..1.:rngmenla; Fp1·11iio Ilia-;..,,. ""':'w, 1111111a ,-, 111·op<' le111a ...
:\las, a:-,:ora, um dariio illumina-ll1t• a t'a:•p :
E p-.-,a t'at·c• t':1Yada l' 111a :-,: r;1 , qne a to1·tnra
Da fonw Pa-; pri\':1t/11•-; ma1·Praram, - fulgura, ( ·01110 ,..,. a aza ideal d,· um archanjo a rrn;a,-,-.p_
0 CAQADOR DE ESMERALDAS 265
IV
Ado-;a-sc-lhe o olhar, num fulgor indeciso; Leve, na. bocca affiante, e,;\'o:u:a-lhe um -,on·i-,o .••
-- E adclgac;a-sc o ,.,;o das sombra'-'. 0 luar Abrc no horror da noitc uma vcrdc clareira. Como para abra(,'ar a natureza intcira,
Fernao Dia-. Pa.cs Leme c-.;tim os l>ra(:o,; no ar . . .
YerdP-;, o,; astros no alto ab1°l'lll-'-'C em n•1·des d1a111111a-.;_ Ycrdes, na verde matta, emha.lall(:a111-o.;c as rama-;,
E lfor< s Yerues no ar braudanwnte se mon•m;
Chispam Yerdes fuzis ri,wa1ulo o c1:o sombrio; Em l',..mcraldas flue a agua vcrdf' do rio,
E do <"i•o, todo vcrde, as csmcraldas <"hovern ...
E e uma 1°<''-'lll"J"l'i(:ao ! 0 (0 0! 0 po SC lcvanta :
Nos oll10,-, jit scm luz, a ,.i<la exsurgc c <"anta. !
E esse <le,;t rrn:;o lmmano, <•,....,p pouco de po Contra a <k·struii;ao ,-.e afe1-ra a vida, e liwta,
E trc111l', e cres<·<>, c brilha, e alia o 011,ido, c c :(•11ta
A voz, qnc na soidiio su clle ese11ta, - so :
tjtj O CAQADOR DE l:SJUER.\LD \S
c .\Jorn·! mor1·t•m-lt' :1-.; mao..; a-; pt•tlra,-; tle ..;t•j a tla s ,
1 I 1,,,-.fi• i ta,; como um son ho , t· PIH lodo tit'"'""1whada..;...
<Jut> i11.1po1·ta ·1 do1·11ll' \'111 paz, qne o tt•w. lahol' t'• lindo !
\m, ca111po,-., no penclor tla,-. montanha" fr:t!.;o,-.a",
C1m10 um 1·a11dt' collar de ci,meraldas !..:lol'io-.a,-.,
. \ ,; tua,; I"" o:1t:••t'" -.p t' -.tP 11d t•r iio fulgindo...
IJuamlo do at·a111pamt'nto o bando pP1'P!..:1'ino ahia, ant<' manh:1, ao ,;:tl,or do 1l01,ti110,
, Em l,11-;t•a , ao nortc (' ao ,-.11I, do jazida 111t'll101·,
- ;\o comoro 1lt• ten·a, em que teu pt'· poisara, (),-; t·olmado..; tie palha apruma,arn-se, e clara
.\ luz dl' u111a lareira P pa nt·a,·a o a 1-re d or .
:\p-.,-.e lonco Y:t!.;a1·, lll',;,-.a marcha 11:·rdida, Tu fostf', eo1110 o sol, 11111:1 font<' tit• ,·icla:
C ':u la p:1,-.,-.:ula iua e1·a 11111 t'a111inho ah,-rto !
·( :u la pouso 111mlado, 11111:t 11m a t·.o n1p1is ta !
E e111q11a11to ias, ,-.ouhando o tt•11 sonlio t'!..:oi,-.ta,
Ten pe, como o tit' 11111 d t·1 i-., fi·cuud:na o tlt>-.1·1·111 '.
.\lot'l'C ! tu Yivera-, na..; m;t1·:1da,-. q11t• ahri-.tt• '.
, Ten nome rolara no liu·;;o t·horo fri-.te
u Da agua do Gnay('11h ... .\lon·t·, ·(0 11q u i -.ta d 01·! Viveras quando, feilo em sei , ·a o sa11!.;11e, ao..; arP,; ':iulJin•,-;, e, nutrindo uma ar,on·, t·a11ta1•p,;
i\'uma ramada n,rde enfre um uinho e uma ni,r 1
« .\lo1·1·p ' germinar:io as sa!.;ra d a s ,-,t•111t•11tt•-, Das gottn" de ,;11oi· , <las lagrimas a1·dentp,; !
0 ! ' A<_'A IJO !t IJE l·:S.\I ER AL DAS 267
lliio-d<· fructifica1· as fomcs c as , igilias !
E um <lia, poYoada a frrra cm q,u· le <lc ita -.;, (Juando, aos beijos do sol, sobral'Ctn a-.; co llll'it a -.;, Quando, aos bcijos rlo amor, crcsccrcm a-.; fa111ilia-;,
⦁ Tu rant:iri,,- na YOZ ilos -.inos, nas ,·liarn1a-<, No C'sto da 111ultidiio, no tumultuar da,; rua-;, o ehunor do trabalho ,. 1w-< hymnos da paz !
, E, suhju:-;a11do o olvido, afra,pz d3:s itlad<•-;, Viol do1· d,·s t>r t,i t>-.;, p la ntador de cida<les,
llP11tro do t·o1·, u) .o <la patria ,·i p1•!1 s !
l)i-<-<ipa-sc a vi,-:10. Dormc dt' 110, 0 tudo.
.\go1·a, a 11<'-;li-.ar pelo ar,·orc <lo mu<lo,
I '11mo um d10ro de prata :tl:-;<•11:c o luar csc111·rc. E ,-<•reno, feliz, no matel'llal 1·<· ;.;:u;o
Da tcrra, sob a paz e,;1rt>llada do cspa'ro,
Fcmao Dias Pal' Lcmc os olhos ccrra. E mor l'e.
moo.
IND ICE
PANOPLIAS
Profissiio de fe.
A morte de Tai'·' 1·. 9
.\ Gonc;a lves Dia><. 13
Guerreira. . . 16
.\ um gqrnde homem. 17
.\ sesta de Xcro. 20
0 inrendio de Roma. 21
0 sonho de Marco-Antonio. :!2
Lendo a Ilia d,1 26
:\l essali na . 27
A ronda noctuma. 28
Delenda Car thago !. i ] . 29
YIA-LACTEA
Ta!Yez sonhassc quando a vi. :\l as via. 39
Tudo OU\'ir:is, pois que, bondo sa e pura. 10
Tantos esparsos vi profusa mente . 11
Como a tlo resta secular, sombri a. 42
'Dizem todos : " - Ou t1-'ora comt> as ave:;. 13
Em mim tambem, que desc q,idado vis tes . 41
,X: u 10m faltado boccas de serpentes. 15
Em que ceos mais azucs, mais pur,)s a res . 46
De outras sei gue se mostram menos frias. 17
l:\"DICE
Deixa que o olha r do mundo emfim deYa ss e . T od" s c,s, P,.; l,>uvores - bem o Y is tc -.
Sonhei qu c me es pern.va s . E, s onha ndn .
- Ora r d ir c is ) ouvir ,•s l r,·11::ts ! Ce rto .• Vi, ·er ni\o pude sem quP. " fel 1n·ov:i,-,-,, Inda hoje, o li\To do pas ,.;a <l11 a 1Jri11d11 L:i, f 1!'a , a voz ck vento ulule rou!';1 : . Por e.-.ta s no itc,- frias ,. hrumosas..
Dormes.. . l\Ia s que ,.;11,.;.-.111·1·0 a h umed ceida .
:--ac a pas se io , ma! o <lia nasce.
Olha - me! II to-u olhar sercno ; brando.
:--ci qu o um dia 11[10 ha, e isso t'.· basta nte. Qu:ind o te 1,-i .. , as s ee na s animadas ..
La ura ! Diz es qu e Fa I 1 i, , anda olfondido.
\' c jo-a , eont e mplo-a eommo\'ido. Aq ucl la .
Tu '[ Ue no pl'go impuro d::t,.; 111·;..:ia -;: .
e·
Qua ndo ea ntas , minh' alma, despre zand o. Hont em - nese io que fui ! - mali ei,1 ,.;a . Pinta-me a curva d'es te-s e 6os•. . .\gora. Por tanto tempo, desvairad11 afttic1,o. Ao eora fi•> q uc soffre, scpa rado .
Longe d e ti . s , escuto, porvenfora.
Leio-t e : - o pranto dos meus 11lho s rola - .
:,
59
60
61
Ii
G:,
61
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(jli (jj liX
H9
iO
Co mo 11ui z, •;,, · livr e Set', ddxando. ii
(Juando adivinha q, u · v.. u vol - a , e :i. •· <.:a dn. Pouco me pesa qu e 111ol'eii- s o l'l'ind o.
S AR (' .\ S DE FOf;(J
0 jul . a me nto de P hr ynea .
\ la r i nlw .
Sobre a,; bodas de um sexagena rio . Abyss us .
Pantum ..
i'\:i T hebaida.
E' n'es tas 11 nit cs suc ega llas.
•uma en11,·ha .
:--uppliea.
Can ,;f,o. . ,. _
Itio abaixo.
:--atania. (Jual'enta annos .
12
II
II
2
83
86
87
00
fll
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9:i
100
\'estigi"". .
tJm - t.rccho ·de G,, uti er •
No liminar da morte. Para phrase de Bauclchir,· liios ,. Pa ntano s .
De· volta do bailc.
:--ahara vit:i•. Bcijo eterno . Pomba e Chaeal. Medalha an tig-a .
:\o ea rcere.
Olha ndo a qp,rrentc.
INDICE
271
101
102
10::;
IOii
109
110
111
115
119
l!0
12:!
12:i
..
Ten ho frio e ardo em felJre!. l)l.e l fl ezzo de! camin.
,.;olr. do . . .
A carli;:iio de Romeu. Alten ta ·iio de Xen6kr 3itcs .
124
Wi
1!7
128
131
ADIA I:\ <Jl ' l l-:T A
A AYenida das Lagr i ma:,;. Inania vcrba
Midsumm er's nig th ',; dream
Mater• .
ln co ntentado . So nh o.
P ri ma vera . Dormindo.
:Xodurno. •
Vir gens mor tas
0 Cavallciro pobre.
Ida . . .
Noit e de in verno. Van i tas . •
Tet-cettos •
In extremis . ,.
A a lvorada do Amor.
\' it a nuova . ,
1 Manha de verao. Dentro da noite. Campo Santo..
Desl.eu o.
14'.i
11 ,
146
1r1n8,
150
151
152
];, I
158
lfl9
161
162
166
167
170
17:!
171
17,
177
180
U-:.!
272 , ·, lNDICF:
Romeu e J uli eta Vin ha de ="a both . S acr ileig io .
Es tan c ia c;. Pecca do r.
lki desthronado .
Su. . . ·•·
.\ um violinista.
Em um &' tar de de outouo.
Balladas romanticas. Velha pagina ..
\Vilfred,,. .
T cdi0 . . .; . Requies<':il.
Surdina . . It•
Ultima pagina ;
Primeirn migrac;iio.
C) <; phenicio 'l. Isra el . .
.\ le xa ndr e. Cesar .
183'
186
187
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193,
191
196
l!l?
203
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210
213
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231
(),; ba rba,rn .
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A luneta rnagjca. 2 vol.
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Um passeto pela ·c,daJe do
Rio de Saneiro. 2 vpl;
Os 4, ponlos cardPa£:1. - A
myeloriosa. t vol.
0
Corymlios
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