Poesias Olavo Bilac

 PROFISSAO DE FE


Le poctc est cis eleu r, Le ciseleur est  po et<>.

VICTOR H UGO.




Nao quero o Zeus Capitolino Her caleo e bello

Tallt(,/ , no marmore dioino

Com o camar tello.


Que outro -  new eu! - a pedra corle Pat' a, brutal,

E rgu,e, de Athene o altivo porte

Descom munal.


Mais qne esse onlto extraordinario, Que assombra a vista,

Sed11:;-111 e um leoe relicario De Jino ar tista.


Jnoejo o ourives quando escreoo : Imito o amor


2 PROFlSSAO DE  FE

Com que elle, em ouro, o alto relevo Faz de uma jl6r


Imito-o. E pois, nem de Carrara A ped1'a firo :

0 alvo erustal, a pedra rara,

0 onyx prefiro.


Por isso, corre, por servir-me, Sabre o papel

A penna, com·o em prata ji..rme

Co1·re o cinzel.


Corre; desen!ta, enfeita a imagem,

A. idea veste :

Cinge-lhe ao corpo a amp/a roupagem A:;ul-celeste.


Torce, aprimora, (1/teia, /;,ma

.-l phrase; e, emji..m,

Ho verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.


Quero que a estrophe crystallina, Dobrada ao geito

Do ourives, saia da ojji..eina Scm um defeito :


E que o lavor d-o ·oers o, ac<J>So, Por tao subtil,


PROf IS:SAO   DE   FE 3

I'r)svt o laoor lemurar de um rnso

De /Jecerril.


I•: horas sem conto  passo, mudo, () olhar attento,

A tr((lirtlhar, lfJnr1r· de t11d ,1

{J  f!C/IS(l/Jlf'/1 fo.


/ Jo r qu e o r•.w:r r· cer - tanta perir.:lrt, Tania requ er ,

f.J11e o(licio to/ .. nelli. lia noticia

De 011t1 · fJ qualquer.


, \ ssi m procl'r/(). Jli11h" penI11t

.'-,'r•u1tf' f'Str1 norma,

/Jor te ,-wrrir, /Je11 s rt s r: I'('11" ,

,<.;r· 1·r·w 1 Fril'l11rt !


Deusa!. \ onrlrt ril, r1Ite se r1rulur11(f De w,1 to1·1·,i I,uu·,

Jk ir. a -11 c1·eser•I·, e o lrido e o espu'nlll

/ Jr: i..nr-a 1·0l,11· !



Hl11.,1il,e1,10, em gr·ita s11rdr1 1 horrenclo Jmpeto, o /1(1(1(/0

\ ' ('11 /ia rl,o. /Jaruaros <.: l'e.w.:enrl o,

\', i1·1 j'erando ...


/ Jr •in 1-r > : que venha e uic,afl(/o passe

- Ban do fero..!


PIWFJSSAO DE  FE


Srio se te mude a car da jacc E o tom da ooz !


Olha-os s6mente, armada e prompta, Radiante e bella :

E, ao brar;o o escudo, a raioa affronta D'essa proeella !


Este que dfrente oem, e o todo Possue m inaz

De llln Vandalo ou de um Wisigodo Cruel e auda-::;;


Este, que, dentre os mais, o vulto Ferrenlw alteia,

E, em jaeto, expelle o amargo insulto Que te enlameia :


l!,' em oiio que as forr;as eanr;a, e d lueta Se atira; e em ciio

Que brande no ar a mara /Jruta

A /Jruta miio .


:Vao nwl'rerds, Deusa sublime.' Do tltrono egregio

.hs11:dirds intaeta ao Cl'ime Do sacrilegio.


E, se morr eres poroentura, Possa eu morrer


Pitt 11'1'-.'-,\(J   DE   FE G


r:,)111 ti.r;o, e a mes ma  noite  escura Yo.'i c 111·0 I re r /


. \Ii! rPt'  por /l'rra, profanada, A aNt pru·ti,lo,

Ea :\ r,,t im11,ol'ial ao8 pes colcada,

Prostit11i,lo ! ..•


\'f'r de,·r·il/(/r 1l1J f'terno solio

r J /Icllo, ,, 11 .'ion,.

r J11ri1· rla 11111•1/(f rlo Acropolio,

/J1J l'ru·f/if'111J11 ! ...



.\1'111 . 1/Cl'rrlrde, a ('1·1'/l\'O 111ort" Senti1·, e 11 susto


\ er , e o rr•.

fr r m i n i o , e11/ra111l0 rt  pocta


Do te1111il1J r111r;u. {1Ji ...


i-,,,, estrt lillflll(l, (jllf' 1·11I tiro,

SI' Ill     () /l/'/J/JCi.<;,

.\l i r l'lu /11 ao !talito nocino

1J/J., infil'is .'...


Yrio !  .\]IJI'/'(/    tllrlo  ()  I/Ill'    mee ('(//'(),

Fi,1111• eu . 1,.,in!w!

fJ111· 111111 enconfrl' um s1i (/mparo

Fm 1111•u 1·11111in!w !


fJ111' 11 111i11/i11 ,1,i,· w•111 a 1w1 (/migo

In'!';/'('  ,/ij ..'


6 P R OF ISS .\ 0   DE    FE

Mas, ah! f]_ue cu .fifJ.ue so co rnt i go.

Com tigo so!


V ive! que eu l'iverei, servin clo Teu cu lt o, c, ousc u-ro ,

Tuas  c1l  t1Jr l i11s csculpindo

S u ouro mais pu ro.


::cti:hrarei o teu o f ficio So  altar : por em ,

Se inda e pefJueno o sacri jicio, Morra eu tambem !


Caia eu tambem, sem esper anr;a, Porem tran(Juillo,

Inda , cw cahir, vibrando a lanr;a.

Em prol do Est!}lO !


18 8 G.

















PANOPLIAS


 


 








.\ "OHTE l>E T.\ PYH






I 111a 1·oh111111a d"  0111·0 P  p11rp11ra,-; 011dPa11fp-;

--1il1ia o fi1·ma11ll'nlo. .\1·,·,•--0-; ,·,•11-., nulia11t1•,;

H11hl'a.., 1111 v1•11,-; , do ,-;of :1 , irn  1111., do l' of'11t1•

\'i11ha111,  -.oll :1 -;,  1·oi·1·1·r  o ""   1';11_0·     ,.,,..,pf<•11<h•11tf'.

Foi a p-.-;a hora, - :'1-; 111:io-; o a1To l'"""·111t1·. a l'i nt a llo '""' 1•1ul11ap1• a t:i11 a 1· 111 va 1·i a -; 1·i'11·"" ti11h,

\ ai1w:'1ra ao 111 •-,1·111:11, o l, a ni t a r :'1 '"" l a ,

t,lill'  T:1p.  ,   p1•111•t r1111  o   -;,•io  da   ll rn•,· -,1 : 1.

l•:1•a d11 , ·i'· l- u a -;--i 111, 1·0111 o n ilt o 1•1111r111 (• ;1• , 1"'"11 ll11-- a11110 -; a1'11r vado , o olhar fai,-;l'ando a1·1·l' -,o , Fil'IIH' o p:i...-;•1 a, p •1.a r d:i PX l l'f'tna idadP, f' "l' i"l1'.

\ i11;.:111•111, 1·,11110 Pili•, 1•111 fa ,·,• , a l t i, ·o f' hPr1·11l10• . ;: 111ortf'

·  1 :1 111 :i -,  "'"'" lih   11 ...     \  i11.:;111•111,  10·  1110  ,•11,•,  o   l1 r:11_0·

l.1·;.:111·111lo,  ;1  la11,_-a  :1;.:11da  a tin   l\  a  no  f's p:11:1:.

()11a11ta  "  '' ·, ,lo  uapy  ao  r111110·    iroar,  li,;.:  · iro

t 0·  1110   a  ,·111·,:a ,  ao   rugir  110  ""trPpit11 ;.:11,·1T1·iro () l,H'ap,• l ll'11 t;1l r o da u1lo 110 a1·, 1t•1Ti,d,

1.


10 PANOPLL\S

l11,·,;l1111H', vibrantlo os golp"", - i11,-Pll"iY<'l

_\-; prc•('P"-, ao cla mor do,-  g..-itos, snr<lo ao pranto

Hm; ,i,·ti111a-;, --pa..,-;011, 1·0 11 w 11111 t11 f:i c , o <'Spanto,

0 P:d<'l'lllinio, o l("ITOI' atraz d,• --i d,•i,:11Hh ! l j11a nta \('Z doinimi!..:o o e111hale r(•(·h:H:ando Pm· ..,j ._,,, foi ""ii p.. i t o nma mnr a lha PI'!..:iiida,

Em q1w ,i11lia hatp1• (' (!11('111':11·-,-e Y('Il('ida

lk mna t 1· i ii11 co ntr a ria a rnula me<lo nl m <' bruta ! ()II()(• 11111 pnlso qne, 1al (·1: 1110 -;pu pulso, [1 lucta Co,-;t umaclo,   um  por  um,  ao  cl1ao  a1Tem,•s-;a-;,-;1• DC'z co mhatent <'." ? Ondc um ;i1'('f:, qnc :1 ;;-;;-;._,.

Mais 1·Pkn•, a zu11i1·, a fiiu llt•l'ha h!'r\'a1la ? ljuanta H·z, a va ar 11:1 llor <'s ta ccrr:i_da,

l',•ito a pcit o lnct on ,..:111 a.,; fuh-as 011(:a" h1°:!\:1",

E as oni;as :i "-(':1-; p:'·s t r )111'1,11·a111, como ""r'l':tYa",

:\aclanclo cm --111 m· q1w111P, ,., cm 1·.:d:1, o echo infinito ll<'spertanclo,  ao  111rn·1·p1·,  (':)111  o  <lerracl<'iro   gritoI   •. Quanta vcz ! E hojc vell1::, hojP abat iclo !





II



E o <lia E11t1·l·  o-;  -;a11;.,;11inPn-; tons  do  01'1':i,,;o  d(•t· a h i;i .. .

E t'l';i tudo <'Ill sil!'ncio, aclormcciclo c qnedo... DC' subito  um t1·pm o r ('Ol'l'<'U todo o a r \'o rc clo :

E o fJH<' h:: pouco P1·a (':1Ima, :1,!..::ll':1 1'• movimcnto, Trcme, agita-se, accorcla, e ,;e last.ima ... 0 vento




Falla

P_\'<OPU .\ s 11

Tap T ! Tap r! i-:· finda a t ua  rai:a !


E 1'111 tudo :1 rncsrna \In 111 ·--ll'1·io,a p:i-,-.a;

\.., arYOl'I'.., o 1·li:io d1·,p..1·1a111, l'f'JH"lindo: 'J':1pyr ! Tap r ! Tap 1· ! 0 1 .. 11 poliPr ,: fi111lo !


I., a , .. ...:1 hora,  ao f'1il,.:11r do dcrracleiro raio

Do -.ol, 11uc o di-,1·0 d.. ouro, em 1111:i<lo d ,maio,

tJua-.i 110 P,trC'mo 1·,;o d.. 1odo 111Prg11lhava,

.\ q11P I la  p,-j rauha  Yoz  pPl:1  llorP..;tap   1• hoa , a

\'11111 l'Onf11.;o 1·11111111· 1·11l1•p1•01·t:11lo, i11-;:1110 ...

('01110  lfllP  PIii  l'ada  tronco  ha,iaum   p1•ilo  hurnano t)nP  ....  q111·i,:l\a ...  I·: o \PIiio, hnmido  o olhar, seguia. I·:, a 1·ada pa-.-.o a-.;-.i111 dado 11:i rnatta, Yia

:-;111·;..:ir dP 1·:111:1 1·a11to 11111:i IP111hrani:a, Fi',r:1

ll' ..-.1a i111111p11-;a urnn nPira :'1 sornbra protectora ()111• 11111 di:1 l'Pjl01l•<:1ra ....\l,;m, a :1norP anno..;a,

l-:111 1·11jo.; ;.:a I ho-<, 110 ar p1•;..:11ido", a formosa,

\ do1•p .J nr ru· · a ri•dP "ll"JIPlldi•ra,

-     .\ ri•de 'Jll<', rorn as 111iio-. li11i-....i111a--, IP1°i•ra Par:1 ..11,•, sP11 -.P11li111·P  -.1•11 ;.,:11.. 1·1·.. in,  arna1lo !

.\Iii ... - 1·011lai-o \'i,._, 1·011l:1i-o, 1•111hal-.amado HC'tiro, ni11l1rn; 110 ar "11'-'Jll'II""", a\l''-'. llni·,•-. !...

t '0111:ii-o - o p1wrna id,·:il dos p1·i111ciros amol'P'-', I I..; 1·oi·1111-. 11111 :w 011tro P-<tr1•ita11wnt<' u11ido..;,

t 1-. :il,r:11_·11,._ -.1"111 1·011ta, o..; heijo,, o, ;.,:P111ido"-,

1-: 11 n1111or do noivatlo. p-.l 1·1•1111•p1• 111lo :1 matt:i.,

111, o pl:ll'i1lo ollrnr da..; p-.;lrC'llas di'   prata ...


,11ll':II' ! .J11r:11· ! , 1r;..:1•111 11111rp11a P pura !

Tu t:u11hP111 ! tu ta111h1•111 dP-.cP,.tl' :'1 ..;pp11ltura !...


12 PANOPLIAS





III



E Tapyr caminhaYa ....\utc elle agora urn rio

( 'or1·ia ; c a agua  tambem, ao crebro  murmurio Da corrente, a rolar, gemia a1wiosa c ,·Iara :

Tapyr ! Tapyr ! Tapyr ! Que 1; <la Yeloz igara, Que P dos remos dos tens ? \'au mais as rt'•dc-; finas

\' i,m na pcsca sondar-me as aguas crystallinas...

.\i ! nao mais beijarei os corpos luxurian1c",

< ),-, cunos seios nus, as formas palpitantes Das morenas gentis de tua tribu extincta !

\'iio mais ! Depois dos tc11" de bronzea pelle tinta Com os c;uceos do urucu, de pelle bra1]('a Yieram Outros, que a ti e au-; tc11-; nas seh·as -.ucecdcram ...

.\i ! Tapyr ! ai ! Tap -r ! .\ tua rai;a t' morta ! -

E o indio, tremulo, ou,indo aquillo tudo, ahsorta

.\ alma em sei-.ma-;, seguiu,cuna a calie1;a ao peito... Agora <la floresta o chao nao mai-. direito

Estendia-se, e  piano era urn decli,c ; e quando Pelo tortuoso anfracto, a 1·us1o, caminhando

Ao crepuscnlo, pomle o Yelho, passo a passo,

.\ montanha alcani;ar, Yiu que a noite no espai;o Yinha a negra legiao tla... somhra ... esparzindo...

I 'rescia a freva .. \ medo, entre as nuYens luzimlo, 1'o alto, a primeira estrella o calix de ouro abria... Outra ap1'i,; scintill(?u na esphera immensa e fria.. .


l'ANOPLI.\S 13

On1ras vicram ... ,., 1·111 breve, o c,;o de ]ado a lado Foi ,·01110 11m 1·01'1·1· 1•pa I 11{' pP1·ola.., coalhado.





ff



Ent:io, Tap 1·, d1· pe, no ar1·0 apoiado, a fron1c Lr;.:11,•11, 1· o olhar pn-<-<1•1111 110 infini1o li,wizo11IP :

.\,·i111a o :,l, ..,1110, al,aixo o al, ,-1110, o ah ..,1110 a11ian1c ...

I:, 1011;.:1•, Pnfrp o 111·;.:1·oi· 1la 1toi1P, , i11, di..,la111P,

\h,·jando no ,allP, as 1alia-< 110 1--..1ra11geiro... Tmlo 1·,li111·lo !... 1·ra Pili· o 11lti1110 ;.:111•r1·1•irn 1 I•: do , a IIP, do 1·1;0, do rio, da montan ha,

f>p ludo q111· o 1·1·1·1·:l\·:1, ao 111p-..1110 11•111po, p-..lra11lia, t:rnwa, 1·,tr('nJa, l"OllljlPII :I 1111",llla \OZ

E' li111la

Toda a 1·a1:a do-..1Pn-< ,-/1111 /·s ,1,0 aimla!

Tap 1· ! Tap r ! T:1 p 1· ! 111orrP 1aml,p111 eom Pila !

.J:'1 11iio l':ill:1 T11pan 110 11l11lar da prorPlla ...

\-.. halalha-< d1· onfr'ora, o-.. :11·,·o-< p 1i-.. l:11·apP...,

\-.. 11,w,•-..la-< -..,.111 li111 dP flp1•ha-< P :ll'a11;.:11ap1•-.., Tmlo p:1-.....011 ! \:io 111ais a li•1·:1 i1111hia :'1 luwl'a J>,.... ;.:111·1T1'in1-.., Tap 1·, -..,·,a 111Pdo11ha 1· 1·rnll'a. l·i 1111ulo o 111:11·a1·:·1. \ 1rib11 P,lp1•111i11ada D111·11H• a;.:ora fr•liz 11a :\lo111a11ha "'a;.:rada ...

\p111 1111m ri•d1• o \l'llto l'lltl'I' o-.. ;.::illio-.. a;.:ila

\:io 111ai-< o , i,o  -..,1111 1h• 1·-..11·a11ha da11...:1, 1• a ,.:rila

I >o... l'a ,.:,;..., ao I nar, por haixo da-.. (i1ll1ag1•11-..,


H P.\NOPLL\S


Tiompe  OS  ;11•e--s . . .  v. ,a-o      111:11·-, .1.

\    S   por   ac1•'· -, " eh '•1:-n,en, -;


.b guerras e os fr--s1 ins, tudo passo11 ! E' finJa Toda  ar   a<: a  Jos   tp11s...   i,   tu   t'·s ,i,o ainda  l





V




E n' um Iongo solm:o a ,oz mysteriosa Expirnn ... C'a min li rn a a noite silPncio-;a

E p1·a tranquiilo o ceo; t•1·;1 tranquilla em roda, I111111p1•sa em plumbeo somno, a natureza toda.


E, no tt',p<> do   monte, era de ver erguido ( I vulto de T:1pyr... lnesperado, nm ruido e<To,  snrtlo soon,  e  o corpo do guerreiro De subito rolou pelo despenhadeiro...

E o silencio out.ra vez cahiu.

:\''esse momento, Apontava o Iuar no cun·o firmamento.


PANOPU AS 15










.\ GONGALVES DL\S






1·  1·l1• l,  J,';1   l1·  ,i  1lomi11io  sol11•J'a110


I );1 .., ;.:,rn  11,d

•.., l r ilms , o ll'IJ(ll'I fr1•1111'11l1·


I la !.!111'1'1':i hl'11(a, o 1•11( 1·1·1·l101•a 1· i11...:1 110

Dos l : ll'a p, •-. , ihl':1,I.,.., rij:11111•111,•,


I) 111:i i-:11·:1 1· :,i 111•1· ! 1:1 ,;, o 1·--I rid,•1111'

'l'l'o:01· da i1111l, ia , ,. o l, :111i(a  r i111liano...

I:. l' l1°1'11i ..,:111d11 o povo a1111•1·i1·:11111,

\' i \l ' '- 1'(1'1'110 1'111 11•11 Jllll'l11:1 i1J!,!l'l1(1•.


l•:..1,,.._  l'l'  \ o llo  ..,,   la1·;..:11..;   J' l11"',  ,•..,la, Zo11as li•n1111la,, ••--ta" ,-,4•:·11 la 1·1'-.

\'p1•d,,_j;111I,·-- ,. a11q,li i111a,; 11111'1'"-l : i--


I , 11:rn l n 111 (p11 11m11,· : I' n l Ta q111• JIii i • ::--11· lt11la --1· •·--,·11 l a , a dP 1T:1 111:11· 1111-- :11·1•..,

11, , ..,1 l'id o 1· d:1-- hntalhas 11111' 1•,i nt:1 -.11• .


rn PA:'<OPLIAS







GUERREIHA




E' a encarnai:ao do mal. PnJ,-a-lhe o peito Ermo (!p amor, dl"Sf'rlo de piedath•...

TP111 o olhar de uma dPtl',a l' o altivo as1wito Das cruentas , 1u•1·1·Pi1·as t!P ouh'<l idade.


0  labio ao rid"" dos  1·,· 1->1no alTPito ( 'ri,-pa-sc-lhe mun riso de maldaue,

Quando, tahez, a-, pompas, t·om dl'Sjl!·ito, flp1•ol'(l;1 d a perdida ma: P,1adl'.


E ;is-.im, <·0111 o -;cio a11cio-,o, o porte er;;uido, f't'1rada a face, a r ui, ·a calwllci1·a

ol11·p a-; ampla-, e-;padua-; dc;·:.111111h,


Faltam-lhe :1pt•1n-.; a sa11. 1·t>111a ('-.:,aJa Inda ruhra da g11p1•1·;1 dcl'radPin,

1: o cap:tcl'l<• de metal polido.


PANOPLlAS 17







,\ ff\l GR .\:\'OE HO:WE1I



l f<>urcu sr• au fond du IJois la source

pa11 vrc  et  pure!

LAII A RTI NF..




I >Iha : Ent um 11'11111· lio

l)p    a;.:ua  t"•wa-.-.a.  1 ·1·t'-;1•1·11.  Tornou--;t'  Pm  rro

l )p poi -;.  Ho111•;1-:, :1-:  Y:t!,.::t"'

l·:11;.:l'fl-.-.a a;.:rn·a, I' t'• turhi1lo I' hr:n io, lloc•111lo pP111• do -:, nlngnndo pl a a -:.


ll11miltl1• arl'flio brnntlo !...

'\'PllP, 110 P111lanto, a-: lh 11•p-;, inl'linando I> dc•hil 1·:t1 tl1•, inqniPta-;

\l i ,·:l\ am --....   I•:,  Pill   s1•11  C'laro  PspPlho,  o  hnntlo

..._,, n·, ia da -. I,,,,•-: horl1olPtns.


'1'111111, p m·t'•m : - ,·l11•i1·0-.a-.

Plant a-., ,·un a-. rn1nada-; r11111rn·o-.a-.,

ll11111ida-: l'Ph a-., ni11hn-:


PANOPLIAS


11--pC'n.;;o,-; no ar entre ja -.111i 11-; e ro":i" , T a1·de s clwia-- <la YOZ dos pass a l'in l1os ,


Tu<lo, tu<lo perdido

Atr-a z deixou. ( 0 l'Cs1:P11. l)p-,p11, oh ido, Foi alarga ndo o -,e io ,

E do :il pe,t t'l' rochedo, onde 11a, wi do

Tinha, c1·espo a rola1· .1,.._1•t>nd,o Pio.. .


Cr('-;1·pu. Afropela<las,

olt a,;;, ;,;ross:i.;;, as o mlas ap1·l•,--;ada'< Estenden larga.mente,

Trope,:;ando na-; ped ra s p-;palliada,,;,

:'\o galope impetuoso da corrente...


f' rC'-;<· ('11.  E   i'•  poderoso  : i\las enturba-lhe a face o lodo :is<•o,-o ...


E grande, ; i

la1·go, ; 1

forte :


Ma -;, de   parceis  cortado,  caudaloso, LeY:i nas <lobras <le ,;('11 manto a mor t.-.


Implacawl, violento, Uijo o yergasta o latego do Yento.

Das estrellas,  1·a hind o Soh1·(' elle em iio do d :11·0 firmamento Batem os raios limpidos, luzin<lo...


:\'ada refle cte,  nada !

( 'om o s urdo estrondo P panta  a  ave assusta<la; E turvo, t' triste agora...


PANOPI.I \'- 19

0 11111· a villa de out r 'o ra s111·1•;.;a1la

O11dl' a humild:uk· t• a li111pid.-z .t,, outr'ora?


1101111'111 tpu• o 11111111!0 a1·1·lama ! t·111i-de11-- pod1•ro-;o 1·11ja fa111a

( l 11iund11 1·11111 v:1i il:11 IP

(Ip P.-110 em 1•1·!11; 110 ..,,•1·1110 dP 1·1·:111i;1

.\ o-. q11: d ro \1•1111:s da 1·el1•l11·idad1· !


T u,  q1u· l111111il1le  n,a  1·1·-.I <',

h ·: H'o olN·111·0 mo1· t al, ta111IH"111 1·re, 1·1•,-I I' l)p vidoria 1•111 , il'l •: ria,

I·:, hojr , inll:1110 ,1.. 0 1·;.;11 lh os, as1·1•111p] ,-; jp

.\ o s11lio l''\l'Phm do •·-- pl PIIU OI' !la  µ,l111·ia !...


\l a-;, ah! n'"""''" 11'11"' dia-,

n.. ra, .._1.,, Pntr......-.a-, p0111 pas luzid ia -.,

- Bio ,-;oh{who 1• nol,1·1· ! ll:1 s -d1• d 10 1·ar o l1•111p11 e111 q1u· vi via-.;


(,·

111111 11111 arroio ,-;rn•.-;,;:1110 P pohre...


20 P A NOP L I AS








A S EST.\ DE NERO





Fulge   de luz ·hanh ado,   espl.;ndido e ,-,umplHo-..o, I I palacio impe1·iaJ dl' por phy ro luwu1e

I•: marmor  da  Laconia.  0  tecto capriehoso

'10-.tra,  em  prata  incrustado,  o 11ac-ar  tlo Oriente.


:\p1•:i no ti1ro ehurneo l'SIP11tll'-Sl' in<lolente... ( em m;i-; l'lll profusa o no estragulo custoso

De  011,·n   hi:i-d ado   , 1•111--.,p _  I I  olhar  deslum  hrn ,  ardente, Da pm·pura da Thraeia o hrilh o t>sp k nd o,·rN >.


Fo1·n1tha ancilla canta.. \  aurilavrada  lyra Em -.w1-; rniio,-; solw:a. Os arl'S perfumando,

.\ 1·d t>  a myl'l·ha <la . \ r a hia em rl',-,c-l'1Hlt>ule pyra.


Formas ciuehram, da nsand o, Ps(·1·:1Yas em 1·hu1·1:a ... E :'lc•1·0 dorme P sonha, :i fr onte reclinando

:'lo-. alvos  sPio-.  m'is  da   luhriea  PoppL:a.


PA.NOPLIAS 21










o l\'CE DlO DE RO .\ f.\




l::1 i, a o i111·1•.111li o.. \ ruir, -.11lta-., d1•-.,·011ju111·ta tla -.,

\-; 111111·alhaH d1· p1itl1·.1 -·  o !'-.p:wo :ulor !lle 1·ido

111•  1·1· l1<1   c m  c<'lio  ,u·1·rn·tl:111 do  ao  m<'do11ho 1·-.1 a111p  itlo, ­

t ·.,11111 a 11m -.op1·11 fatal, 1vla111 1·-.p h:w1•l.ida, .


- 1 :  o-.;  t ,•111 plo-:,  o-; 1111i-.P11-.,  o  ( 'a pito lio   c 1·g uid o

l-:111  111:11·11101·  pli•·  ;.:i o,  o  F,11">11     a-: 1•1°1'.-ta-.  a 1·1·a cla -. 11,,-   :1q11,• tl1 w1, 11  ,  tudo  a-: ;.::11"1":h    i11lla111111ada-;

11,, i111•p11tlio 1·i11 ;.:1•111 , tudo p-.(11"c'1a- p-.;   partitlo.


I .1111;.:t' , 1·1•\ 1'1"111'1":I ntlo O l'larao (llll'(Hll'illo,

.\ 1·,,I,  1•111  d1am111a-:  o  T ih 1·1•  t'    :11 T1•11cl,•--.p  o  ho1·i z•111 t1•. ..

111111:1-.-.iH·I ,   pon:   111,  no  nlto  tlo  Palatiuo,


\1·1·0, ,·01,1 o mauto ;.:1·,· 11 1111d!'a 11do au ho111l ll'o, n--.rn11:1 Eut1·1• o,-; lil w1·to -:, I' P l ll"i o, <'ng1·i11altla1la ;1 fr o nt <',

1 . y r:t <'Ill p1111lw, n•l1·h1·a a 11<'-:t 1·11 i1: :io  cle Ho111a.


22 PANOPLIAS








0 SONHO DE l\IAHCO ANTONIO




:\"oite . Por todo o largo firmamento

.\ brem-se  o-; olho s  de ouro  das e,-,fr  d  la'-'...

i,  perturha a mudez do acampamento

0 1rn-;-;o regular das sentinellas.


Ilr ut a l, febril, ent re (·a111:iie,; e bra1los. Entrara   pela   noite   adiante a orgia ; Em hor bol11e'-', dos can taros lan ·ado-;

J orr [1ra o vinh o. 0 ext•1·1·it o dormia.


l ns omne, em ta nto, y,;l;i algu em na tenda Do ;.;-enp1•:1l.  E,;-<1-',  entre os 111a i,,;s   •i-.inl w,

\,' e u·c a fadiga da hata lha horrenda,

Yt•O( 'l' o-; Yapores cali dos do Yi nh '.:.


T or\'o e cerrado o cenh o, o largo peito Da cour3-';a de spid o e arfando ancioso,


PA:-Ui'LL\S 23

Li, ida a f°a(·P, taciturno" a,.,pPito,

:\lan·o-.\11to11io 111Pdi1a -;ilc11('iu-;o,

I>a lampada dP prata a luz p-,r•a-. a

1

l:P..,,ala pPlo (·liiio.. \ '111a11<lo P quan(!o, 'f'lP' 1111• e11fu11ada !1 , i1·a1)1J (flll' pa-..-..·1,

.\ 1·1Jrti11a dP puq1111·a oscillamlo.


I I   1·1w1·al  rne(lita.  ( 0:J1110 ,  -,ofl:1-,

Do ahPo d1· 11111 rio tra11-,, a-..;11l1J, a-.. ag11a-.

I 1·,,..,,.,·111, (':I\'ando o ,mlo, - a-..-..i111, 1•p,·ol1a-., F111Hla-; a al111a  )he ,·:io -..11l1·a11<lo a-< 111ac:11a-...


()11P ,al .. a (;1•1•1·ia, Pa :\lac(•do11ia, Po 1·1101·11w T1·1'1'iti,rio (lo (kiPntP, l' p-;jp i111i11ito

L i11,P1ll'i\l•l (''.1•n·ito <fill' do1·11w?

IJ1w drn•p,- lwa1:1J-< 1pu• (hp (•-..l(•11d1· o 1-:c: pto!...


1,1111• , p111:a I ll'la, io '. P  -..p11 1·;11u·oi· prof111H lo I.(•\(• da lli-..pa11ia :'1 :-- ria a 11101·(p Pa c:111•1'1'1' 1-:lla  ,.  o  (0  i°•1J ...    l)11P  valor  tcm  lodo  o  mundo,

-..,. ""' 111undos todos -..,·11 o l ha r t•111•p1•1·a !


i-:11,· l; ,alP11IP ,. PIia o --.11h,i11,.:a Po doma...

:-.,·, f l1•11palra e ,.:ra1Hll', amada I' ht>lla !

1,>11P i111po!'!a o h 11pe1·  io a ,-ah:u::io dt• Homa?

lt11111a miu , ah Hill ,.,.·, dos 1 ...ij11,- t!'l'ila '. ...


.\-..-.i111 1111•(li1:1. I•: alluci11atlo, lotmu


l)p 111•1.:11·, t·u111 a fadj,.:a e11,1

iio luctantlo,


PA;s;Ol'LL\S


Marco-Antonio a<lormece a pouco  e. pouco, as Iargas maos a fronte reclinantlo.





II



.\ harpa suspira. 0 melo<lioso canto, De uma volupia lan ui<la  e  secreta, Ora inteq)I'eta o tlj..,..,ahor e o pranto, Ora a-; paixoes violeutas interpreta.


Amplo tlocel  de  ;;eda  levantina Por columnas de jasl'e sm,tenta<lo Cohre os setins e a cachemira fina Do 1·egio leito <le ebano lawa<lo.


l\Joye o leque de plumas uma esL·1·ava. Yt;l:t a uarda li1 fora. Recolhida,

Os petreu-; olhos urna e;phinge crava

:\a-, formas cla rainha adormecida.


Ma-; Cleopatra accor<la ... E tu<lo, ao H"l-a Accor<lar, treme em roda, e p·asma , e a admira . Desmaia a luz, no ceo clescora a estrella.

Como que a esphinge moye-se e suspira ...


Accor<la. E o torso arquean<lo, ostenta o lindo Collo opulento e sensna! que oscilla...


P.\:\'OPLL\"i


\111rmura um nomc ", a-; palpcLn1-,  a hr ind (•,

\Io tl'a o fulgor radiante d:t pupilla.





II[




t·:1· 11p--;p \fa1To- \nionio <le I"<')l('11!e .. , O11,P-se um g1·ito p-;tri<lulo f[IH: -;i°,a

0 ,-j)pn("io (·oda 1Hlo, (' longame11tP

)>p)o dp-;(•1·to :H·:1111pa 11H·11to (•1·lii',a.


U olhar Pill fogo, os (·ar1·pgado,; t1·,H:o"' J)o rns(o Pill ('011t1·a(·1:;io, aho P din•ito

0 vulto PII0l'IIH', - no a1· Icvanta o-; li1·:H:o--. E uos lira1:os ap1•da o )ll'O)ll'io pPito.


Olha ('Ill 1onro (' d(•-;vaira. l-:1' 11P a 1·01·1i11a,

.\ vi-,ta alo11ga pt>la noite afora ... i\ada "·.. Lo11 1·, a p01·t:1 p11rp111·ina

Do ( l1·i(•11IP ('Ill (•ham111as, , Pill raiamlo a auro1·a.


I·: a noitP fogP. E111 todo o frrmamcnto Y:io sP fr•dia11do os olhos da-; p-;ln•lla-- :

.-, p(•1·t111·ha a 111mlez ,Io at'ampame11to

0 pa-;so 1·c;.;nl:1r das senti11el)a-;.


2G P.\NOPLIAS








LENDO A ILIADA





Eil-o, o poema de assombros - !'L;o  cortado De relampagos - onde a alma potente

De Romero vin•, e vive eternisado

0 espantoso poder da :u·gi, a ge111e.


_\!'(le Troya... De rastos passa atado

0 herbe ao carro do 1·i,al, c, :11·de1111•, Ilate o sol soh1·l'  um  mar  illimitado De capacetes e de sangue qnente.


:\Iais que a-; armas, porem, 111:ii,:; !(II!' ahatalha,

:\Iais qnc os inccndios, hrilha o :111101· q11e alPia ') odio e entrc o-; povos a disrrn·dia ('spalha :


- E,-;-;p amor quc ora activa, ora ,-;p1•1•11a

,\ guerra, e o heroico Paris encadcia Aos curvos scios da formosa Helena.


PANOPLIAS 27









MESSALINA




l: <:'1·01·d o, ao n·r-te, a-.; <'pochas so mbri:1-; Do  pa--satlo.  ,\Linh ':t.lma  s<:'  tra   nsp orta

. \ ' Homa antiga, e da eidade mort a Dos ( ·e,-,a1·es roanima a,; cinzas fria, ;


T ricl i uios l',   i, <:'nda s luzidia,; Pe1TOI'l'e; para de :--11burrn ll porta ,

E o eonfuso ,·lamor e,;1:11ta., absorta, Das (!,,..,, airadas e felwis orgias .


Ahi, 11 um throno erecto sobn· a ruina

De um povo inteir o, tendo :\ fronte impura

0 di11tll'llla. imperial de ;\l e s -.;a.lin a,


\ 'ejo- te hPlla, <"' ta.tua da loueura !

Ei·guendo no ar a mao ne rvos a l' fina., Tinta d,e . a ugue, '{Ile um punhal segura.


28 PANOPLIAS








A RONDA NOCTURNA




:\' oitr   eerrada,  tormentosa,  eseura,

U1 fora. Dorme em treyas o -conYPnto. Queda immoto o anoredo. N.io fulgur::i

·I ma estrella no tono firmamento.


Dentro e tmlo mudez. Flebil mm·mm·a,

De p-,pa(:n a <''-fla(:o, emtanto, a yoz do yento E ha um rasgar dL• -,ud:11·ios 1wla altura, Passo dl' <•spPctrns pPlo paYi111(•11io ...


:\las, de suhito, o.c; gonzos d:1>' Jl(";ad:i-, Portas rangem... E<·ll('>a s111·da mP111e LeYP rurn!II' d(• yozP ahafacl:is.


E, no d:il'iio dP uma lampa<la frPmPn1e, Do cla ustr o ;.;oh ;i-; tacifa.., :tl'(•ada..,

Pa-;sa a ronda 1Hw111rna, IP111an1p;l1<'.


PANOPLIAS 29








DELEND .\ CARTHAGO !






Fnlgc e <lan lcja o sol nos amplos ho1·i zoni cs

Do ,·t'·o <la . \ fr i(·a. Ao l:11·30 , cm  plena luz, dos montcs I ,l(" l:t(·:1111 - -;e os per fis. Tremulamentc ouJcia,

\'aslo occano <le prata , a r eq ncima <la a rc ia.

U a:·, J H'"'ad o, -;n ll'cwa. E, <lc s fra lda nd o oYantcs Da;; ha udcira  s  ao   yento  as   p1;·1 ga-; ond ulantc s , Dcslil:un as )(' ioc-; do cxcrc it o romano

Di:rntl' Jo ge nera l (·ipi ao Emi li a no.

Ta I s ohlad o -;op c -;a a cla rn de mndcira. Tai, quc a custo sofl'l'i·a a co lcra gucr rci r a,

:\la nc ja a L,ipcnnata e 1·uclc maehadinha. E,;te, a ilharga pcn<lc ntc , a rutila ha in ha

Len t <lo g la <lio .. \ q ucllc a podcro sa 111:1<:a

( 'a1·1·t•g, 1 , c : ,s la1·3 as 111 aus a ensaia.. \ cu-;tu pa ssa ,

<' 11n   ado s oh o peso c de fadiga affia nJ o,

2.


30 l'ANOPLIAS

De guerreiros  um ;,:rnpo,  o-- :11·i c1t "'   lev:rn 1lo . . . Brilham  em confusiio   ,Ti,Lido-.  l':q1;11•ct e ,;;.. • ( ' a Ya l le irn " , co ntemlo  th   ;t l'(lid os ;,:ind••--,

:O::olta  a  ('hlamJdc  ao  homLro ,  ao  Lrn i:o  a liYcl  a do

0 concaYo hroquel d,· 1·ohrt• t·i nzeLu lo ,

Bra nd cm o pilum no ar. l: 1',-,1111:1. a e ,.; p:11:os , ro uca,

A lw ll i(':i b un : i11a . A t11ha ('a,:1 it  h,,o ea

Dos    E nn ea1rn·e -; 1r.-,:1 .  llorda--  tlP ...;a   itt  a r i u-;

Ve m - s,·, de a rco c carcaz :umados. 0  our o t• o...; Y:1riP, Or na mcnt os de p rn1 a t>111l m tP 111- -.P, <'Ill ta11'\ia"

De um co1Tcd o , la , or, 11a-.; a:·111a -.; ]1 11.id ia..;

Dos :• 1 H•1·;11•-- . E, :10 -.;o), lJI H' , P 1d, 1· · n11 ye11",  ,.;1·in t ill:1 ,

Em torno kt ( 'a r l li a.go o exc 1·cito d es fila .


.\ la -;, p a..;-.:id:i a ,-,111·p1 ·c 1 a , :'1s p n •,-,,.;:,1• , a 1·idad1·

.\ us  cs cr a yo -;  c C1l1·1· a  a i·111 a"  e  li hcl'(lad t:>,

E era  tod a  rumo1· c agita<;ao.  Fundindo

Todo o 111e ta l q ue '1,a ·ia , ou,  cclcrcs, ])l'unindo E-,p ad a -. c punli:w-;, t·:1pa1·t•1P:, P l a 1u· a -..,

Via111-,-c a 1rahalhar O'-' ho me ns e as t·1•c;11u:a--.


Il e ru ica ,.;, ahafando os ,.;oliwo..; e as q11t 0 i\ :1, , A,-; m ul he res , 1P t' t•ndo os fios da.-; m:ult•ixa-.;, Cod:n ani-11'a,-.

Col ll'i ndo   Pspaduas  dP...)11 mlJl'ant( •,-, l' twc·a ndo a t·:11·11:11: iio d t•  "" io-. p:i lp it:rntes

Como y,'•o,-; de vclludo , e prO\ ot·a ndo lwijo..;,

Excitaram pa i,,11•-.; e 111 hr i, •o ..; .i., ._,• ,i n-;

Essas  tra1was  tla  cill' .Ja ..;  noitcs  to1· 11H•11to  ,;a-.; Quanto,-; l:1 hio" , :irde m lo cm  ,-.t'•d,. l ux111· io ,-;;1 ..;,

T oca 1·am-n ':is o nt r 'o ra cntrl' f't.•IJ1•i._ abra<:o '. .,


PANOPLIAS 3l

Trnm:a-, q11P tan1a n•z -    fra gci,-; <' doc c ,-; la1:o-, !

Foram cadcia -s d1• o ur o in Ye 11t• iy e i,-;, p r c nd cndo

.\ lnia -s <' c· m·:w(u•,-;,  - agora,   diste ndc 111lo

O,._ ar co-;, <lcs pc<li ndo a ,-; ,._pj1as agm:adas,

lam  l1•ya1·  a  morte...  -     clla ,._,   q  u<>,   t H•1· f11 mada  -s , O ufr' o 1·a ta nt a Ycz dcram a Yid:1 e o a lcn1o

.\ o-;  p 1• p,-;o -;  eo1·a r,·>sP  ! ...


TrislP, t> n11·Pi:in to , le nto,

.\ o pc,.:Hl o lahor do dia. s uct Pd1·1· a

0 ,._j(p1H'iO nod ur no. .\ h·eya se es tc nd 1•rn : Ado r n1l ' l'.l' l'n tudo. E, no oufro dia, qua nd o

\' 1• io (lp    nov o o ,ml , 1• a aurora, rutila ndo,

Lneheu o firmamcn1o e illuminou a tcrra,

.\ lucta comc<;-0u.






II




A-s mach inas de gucr1·a "OY<'tll-'-t' Trcmc, <'""1ala, <' parte-sc a muralha,

H:wha dt• !ado a lado.. \ o clamor da  hatalha

l·:-..trc   mpc•c   o   ar rcdor .  Bra nd in <lo   o   pilum,  promptri  , Confumlc111-,-p  a,-;  )pgi,-,p-..  Pcrdido  o fr<>io  ,  i1,  ton1a-., Dcsboccam-se os 1·01-ct>i,-;. Enrijam-s<>, <>s 1icadas

No-s  a rl'o-. ,  a   ringir,  as 1·1.Jl'das,.   \ 1·<>1·a tln -;,

P a r t c m st•ttas,  zunindo.  Os  dardos,  si hilla ndo ,

C1· uza m-se . Encos hrocluei,-; amoliram-sc, resoando,


l'.\:--iOPLI.\S


,\os pmbatPs bruJaes dos piy:11(·s a1·1·ojado-.;.

I ,oueos, afuzilando  os olhos,  o,-, sohlados,

P1·<•,-,a a rPspira-i:iio , torvo 1• mcdonho o a--peito, PPla fenea sqna mmata ahro11uelatlo o pPito,

:-;p  Pm·1·t'iam  no fnror  ,-,al' nd indo   os  111:H'L'tP-.,

:\iio param, pnfrt>1anto, os golpes dos a,·it>t!•s,

:\iio ,..111sam no traball10 os " '" "(' lllu --os hrac;os Dos g11pr1·ciros. Oscilla o mnro . ( l-; p,-,t ilh:H;o-.

:--altam das }l!'!li·as.  (;ira, inda  uma  H'Z  ,ilJl'ada No  ar, a  mad1i11a bruta... E,  suhito,  quPbrada, Ent ,•p o in -,:1110 clamor do PXPreito e o frenwntc Rnido surdo tla  tp1cda,  - PSfrPpitosamPnte  lhiP, dPs aba a muralha, 1• a pt>tn·a molt• roda,

Hbla,, •pmoinha , e tomba, <' s<' Psphaccla toda...


Rugem  a!'elamac;ii<'s.  ( 'omo  Pm  cael11"ie -.;,  fur ioso , Parte O'-' tliqu<'s o mar, roja-sc impptnoso,

.\ s  ,aga-; <'IHT<'spamlo  an1pelladas,  brutas,

E inunda 110, oa1;11c>-.;, en!'li!• ,allPs !' ;,:1·11tas,

E ,aP spmpa ndo o ho1To1· e  propagando o estra;;o,

Tai o <'X<'l'Pito Pntrou as porta s dP ( 'a rt hago...


0 ar, os "',·itos de diH' <' s11sto, Pspac;o a Pspac;o, Corta,a111. E, a hramir, atropPlado, um pas-.u

0 in,M;or tm·bilhao n:10 deu Yicto1·ioso,

·"-"111 qne d Pi.'\as ,-.c atraz um 1·:1stro payoroso De fl' ri,l os.  \'o  Oc!•a-.;o, o ,-.ol morr ia , l''\a11"'11!' ( ·onw que 1•pflectia o fil'l11a11H·11lo o sangnc

<J111• tingia <lP rnbro a lamina IH'ilhantc

Das p,-.pad:1s. En1iio, hon\l' 11m s np1·emo i11-,ta11tt•, Em q111•, 1·1•:iyando o olh:ir no intn•pido afri1·ano


P.\NOPLIAS 33

AsdrnLal, ordcnou (·ipiao Emiliano :

Deixa-me exccutar a-. ordcns do Senado ! Car1hago morrer{t : pcrturha o illimitado Podcr tla invic1a Homa Entrega-te ! -

Orgulhoso,

A fronte levan1ando, ousado e 1·ancoroso, Disse o ( '.arthagincz :

- Emquan1o cu 1in•1· vitla,

.Juro quc nao s(•1·it ( ·arthago dcmolida !

, Quando o inccndio a cnvohc-1·, o sangue d'P,;1c- povo Ila-de apagal-o. :\ao! fletira-te ! -



Fallou cipiao :

De novo


«-   .\t1ende, Asdrubal! Por mais f(W1P


 Que seja o tcu poder, ha-de prostral-o a  morte ! Olha ! A postos, st>111 eon1a, as legiue,-; de Roma, Que ,Jupiter protcgc c  quc o  pavor  nao  doma, Yao come<;ar em breve a  mortandadc  infrene !

-   Homano, escuta-me ! \,;oll'mne,

0 oulro voh-eu, Pa  raiva cm sua voz rngia)

.btlrnhal P o irmao  de-  .\nnibal ... Houw  um  dia, Em qu(•, ante .\nniLal, floma estremeceu vt>ncida, E ton1a rccuou tie subito fcrida ...

Ficaram no logar da pugna, cnsanguentados, Mais de sP1Pn1a  mil Ilomanos,  trucidados Pelo csfor<;o c- valor tlos punicos gucrreim,-;;

!-iei,; alq1wirp..; de a11eis dos mortos eavallciros Cartha.go al'l'ccadou ... Ye1·i1s que, como outl''ora, Do cterno Baal-Moloch   a   prote  ao  agora Tcrcmos.. \ vido1·ia ha-de scr nossa .•. Escuta :


.", ) 1 P  .\  NOP LI AS

;\landa  quc>  reco   mc>c P  a  <"a r nie c>i1·a   lucta '.


E hor r iv e l, t' fero z, 1h11·a111l' a noitc P o dia, llcconw c,ou a luc1a. l-:111 1·ada (":l":t lia, ia

l m punhado dP lwn·,...... ,:--1 i -. n ' zt•,;, {H'la fo('I'

Do  ct'•.o,    ,;;pg n i n  --1•11  (·111·--o  o   ,;ol ,  ,-;('Ill   que p:11·:1-.._r () mC'<lonl10 C'S1r idor da ,;a11ha da hatalha..• Quando a noil11 d P-;(•i a, a 1re va (•1·a a mortalha

!Jue e nvo h·ia , p iC"dos  a , o-. co r po,;; d o s fC"ridos. Ro lo s  de  sa ng uC' C' pi,,  blasphemias P  gemidos,

P t't ' ( ' l ' "'   e   i111 prl'   l':t (_'«>P-<..  .  . \.;;  proprias  miiC',-,  C'mtanto llProie:1-; 11:1 afllic<;iio, C'nxuto o olhar de pranto,

Yiam cahir sem vida  o-; filhos .  ( '0111batc>ntes

ll ou ve , que, nao querC'ndo aos gol p(•-. i11l'lt>m1•nlt--. Do inimigo cntr C' a r o-. ('01·po-. da-; (·1·e:11u:a-., l\latavam-n'as, C'rgn0ndo as sua ,; proprias la1u;a-. ...


Por   fim,  quando  de  todo  a  vida  desc>rta    ndo

Foi a extincta cidadc   , 1·, lug ubr c> , c>spalmando As aza,; 1w g r a,; no ar, pairon ,;i nis tr a P honc>1ula A morte, ten' umfim a pC'lej a. trc>menda,

E o incendio com   ou.






III



Fraco P mc>droso, o fogo

,\ hranda virai;ao tremeu um pouco, e logo,


PANOPLIAS 35

Inda pallido e tenne, erguen-se. Mais Yiolento,

:\lais  rapido  soprou por  sobrc  a  chamma o  rni;ito  : E o <(11<' era laha1·p1la, :1grn·a, i;,;nPa serpente, (,ig:111t(",a·a, ,•,-,ti1·a1ulo o corpo, de repcnte

I )1",<'m·o-;,·:l o-; anci.;; llammivomos, abra.-,-a

Toda a cidade, p-.;iala a-; pedras, <"l"l'-;cP, pa-,,a,

1!,',p "" muros, estronda, c solapaudo o solo,

Os :tl i, 0 ( ' [  "("   ( '    ',           broca, e p-;fringl' tndo.   L' m rolo

l)p plumbco <' dpn-;o fumo P1megrceitlo  P m  torno '-ie e-..tcndc, como um Yeo, do comburcnte forno. a horrorosa  P\'Pt·siio,  dos  tcmplos arrancado, Vihra o marmore, salt a; abre-se, estill1ac:11lo,

Tudo o que o incendio aperta E a fumarada erc-.,ce,

olw Yertiginosa, espalha-sc, p-..eurccc

0 firmamcnto E, sobrc os rcsios da hatalha,

.\rde, voraz c rulll"a, a colossal fornalha ...


:\ludo <' triste, eipiao, longe dos mais, no emtarrto Deixa livre emT<'r pcla,c; faces o pranto. . .


1:: que, - n·ndo  rolar, mnn  rapido  momento, Para o ab) -.,1110 do olvido e do anniquillamento Homens e tradi,,-ii,•s, 1·,•ypzes c Yil"ioria-.;, Batalhas e tropheus - seis sPeulos de glorias

;\;'um punhado de cinza -,  o general preYia

Que Roma, a  inYida, a  forte,  a  armipotPntP, haYi:1 De 1<'1· o mesmo fim da orgulhus'.l ( 'al"ihago ...

E, perto, o c1·cpitar PstrPpi tos o e Yago

Do incendio, que lavrava l' inda rngia activo, Era eomo o rumor de nm pranto convuhivo...


 

















VIA-LACTEA


 


VIA-LACTEA 39










Tahez sunha-.se, rp1andoa ,i. Mas ,ia Que, ao-; raios <lo luar illuminada, Enti-e as e-;1relia-; tremulas, subia t.:111a infinita e seintillante escada.


E eu olha,a-a de haixo, olhaYa-a Em cada

Degriw, que o ouro mais limpido vestia,

;\Judo e sereno, um anjo a harpa doirada, Hesoante de supplicas, feria...


Tu, miie sagrada ! ,us tambem, formosas lllm,oes !  sonhos  meus ! ireis  por ella Como um hando 'de sombras vaporosas.


E, o meu amor ! eu te huscava,  quando Yi que no alto surgias, calma e bella,

0 olhar celeste para o meu haixando...


V l .'1.- 1..\ CT E.\

















Tutlo ouviri1s, pois 1111l' ,   bondosa "   pura,

\It> o uvcs agora com melhor ou,·i, lo : Toda a ancicdad e, todo o mal soll'riilo Em silc ncio , na antiga  tlcsrn ntura ...


Boje, qucro, cm lcus bra1;os acolhido, l:(•,·•·r a csh·a<la parnrosa e esem·a Ondc, ladeanllo .o aby s mo 1la loncura ,

.-\  nd l'i  de   IH'  :u l r l o;;  pcr sr guido .


Olha- a . : to rc e-sc to<la na infinita

\olla tl s setc circ ul os tlo inferno...

E nota acruc lle vulto : as miios elc\'a,

,("'

Tropci:a, cite, sol m;a , arq ucja , grita, Buscando um cora ao quc foge , e drmo Ou\'indo-o pcrto palpilar na trcrn.


VIA-LACTE.\ 'd








lll




Tantos t•--pal'so-; ,i profusamen1P

f>p)o caminho quo, a cho1·ar, trilha \'a ! T:1ntos  haYia,  tantos !  E Pll  passa,a Pol' Judos elles frio e incliffcrente...


Emfim ! emfim ! pude com a mao tremente

.\char na frpya a<p1elle que hust:a,a ... Pol'que fu3ias, <piando eu te chamaYa,

( ·l':.;o P triste, tacteando, anciosamentp ?


Yim de longe, seguinclo de erl'o e111 erro, Tt•u fugitiYo eorai;ao huscando

E yendo ,1pP11ac; cora oes 1IP fe1·1·0.


Pude, porem, tocal-o solui;amlo...

I·:  hoje,  feliz,  dentro  do  men  o encerro, E oui;o-o, feliz, tlentl'O do meu pulsautlo.


VIA   L ACT E.\










I\'




Como a flores1a secular, somhri:i, Virgem do pa-;so lrnmano e do machado, Ondc apenas, horrendo, echoa  o hrado Do tigre, c cuja agreste ramaria


Nao atravcssa n1111r,1 a luz do dia,

.\c.;c,im tambcm da luz do amor µriv11do, Tinhas o cora ao ermo e fr«·h:ulo,

Como a florcsta secular; somhria.


Jloje, entrc os ramos, a <'arn:ao sono1:a

:--oltam fes1ivamentP o;; passarinhos. Tinge o cimo <las arvorcs a aurora.. .


Palpitam Jli",res, estrcmel'!cm ninhm,...

E o sol do amor qnc niio entraYa on1r'ora, Entra douraudo a arcia dos camiulio-<.


VIA   LACTEA 43







\'




Dizem todo-. : « - Outr'ora como a<; nYPS lnquieta, eomo ns aves tagarela,

J hoje... que tens? Que sisu<lez r1wela Teu a,· ! qne i<leas e que modos gran ' s !


Que tt>1h, para que em pranto os olhoc;; laves Si· mai-; r is onha qu-e ser as · mais bella !

IJizem. l\l as no sileneio e na cautela Fieas finne e t1·anca<la  a sete ehavec;;. . .


Ji um <liz : - Toliees-, nada mais ! - mm·mm·a

Outro :, c - C:1priehos de mulher faceira ! -

E to<los dlt•-; alinal : « - Loueur-a ! - "


Cegos que vos ra11sars a interro al-a !

,m..

\ el-a ha ---1;, vn  ; que a paixao pr imP i1· a Nao pel:t mas pelos olho.-; fala.


\ ' l.\ -1..\ l' T t: A












\'I




Em  mim  tambcm,  que dcscnidad  o  , i,.f es, Encantado e augmentando o proprio encanto, Tcrcis notado quc outras cousas canto

:\I uito di rcrsas das quc outr'ora ouvistes.


:\Li,; amastes, scm duvida .. Portanto, Mcditac nas tristczas quc sentistes :

!Jue cu,  por  mim,  nao conhe o cousas  tristcs, ' Qu e mais afllijam, quc torturcm tanto.


Quern ama inrnnta as pcnas em que Yive :

I•: , cm logar de acalmar as pcnas, antes l! u ,ea no,·o prza1· com quc as a,in•.


Pois ,,ahri qur 1: pm· isso quc assi111 ando : (Jue e dos loucos somcntl' e dos amantes

1\ ' a maior all',3Tia andar chorando.


Vl.\ - L .\ CTE A











\'II




:'\ao tern  fol1arlo  ho:·t·a s  11(' ,-;('q len1C!'< ,

(l )' C',-s a r1ue :111rnm foli ar cit' todo o mun<lo, Ea 1odo o mun<lo ferC'm, mal <l ii c n1C'S)

◄ Jn c d ig am : - :\lata o 1C'u amol' profunclo !


.\ bafa-o, q nc 1eus passos impru<lenks

\' ao- te le, :111<lo a Ulll pela go sem fuo<lo ...

« Yaes-tc pC'n Pl 1' ! - E , a rr cganhando o-. dcnk " ,

!\lon•m para ten la<lo o olh a r  immundo :


- e C'lla e tao p ol1n ! , se niio tcm bclleza, Id s dcixar a glol'ia clcs p re zada

L os prazerc::; perd idos por tao pouco?


Pt•n.;a mai"' no fu tur o t ' na riqucza ! -

J•: C'U pf'nso quC' afinal... :\ii.o pC'nso cm nada : l' <·nso  :.>pcnas  ttHl'  1c amo  como  11111  l ouco !






3.


YIA- L. I\ CT E.\















Em  que  c· •o ;..  ma i.;;  azues,  mais  pm·M ar l'", Y,\a pomba mai,- pu ra ? Em que sombria loita mais niyea 11,11· al'al'it·ia,

A noite, a luz dos limpidos luar<'s?


\"iye;.. assim, como a corrente fria,

Que, intemerata, aos tremulo s olha1·1"i Das es tre llas e a sombra. dos palma.re s,

Cort:, o seio das ma tt a.s, erra.dia.


E envohida de tna Yirgin,larlP,

De ten pudor na candida ar i"uad nra , Foges o amor, guardando a c·a tidade,


- Como as monta nha -;, nos c,;p:u;o-; frant·os Erguendo os alto pill(:aro s, a aJyura Gua.rda.m <la neve que ]hes colJre os lla.ncos,


\' I \ - 1.,\ f:T I•;. \












\




De out,·a-. ,ci ·rp1e sc  mo, ti·a m 111c 11.,,  fl'ia-,;, Amando menos do qne amar pa1·,•ce s .

( ' ,-a 111 toda-; de lagrimas !'   })!'Cf' <'

Tu de 3f'f'1·l1:;-; ri'-ad:is e ironi,a  .


I lf' modo tal mi_nha attem;ao d,·--, · i a-,,

( 'om In) 1wi-if·ia mcu Pn: a no 11'1·,•s , () nc, -.p gcl:i do o corai;ao i in ' -., f''-,

(    0 Pl'l •: , qncrida, ma is ardor ·1e ,·ia;.,


Oli10-tc : f'f' :t aomeu olhar ( p faZ(•-;,.,

Fa l-o t(• - (' eom <1uc fo30 a Yoz IL' Y:111t o!

Em Yao.. . Finges-te ,;urda;.as minims phrases...


Snrda : e nem ouYes mcu amargo p1·anto !

( 'p a c ncm y£,,,. a nova tli1J· qnc irazc;,

,\ 1101· :1 n tiga 11ue dola  tanto !


\" IA-L.\L'TE.\












\




Dcixa   qal'   o  olha1· do   mundo  emfim   tlcrns,e Tl'11 ;.;,·aittL• a11101· que e o teu  maior ,-,1•;,l'edo !

Que   tel'ias  JH'nlido,  Sl',   mais  cedo, Todo o affectu quc ..,,•ates se mostras--t• ?


Ilasta <le e113anos ! :\Io... tra-me sem medo

,\  '.J,;   bunva,;,  aff1·Jatando-os  face  a  l'an• (J.1ero qut• o.; ho111L•n,; todos, qulndo t•a pa,;se, lan·ju o,;, apon(cm-me com o dedo.



Olha : niio posso mais ,!

\ ndo iao l'heio


D'c,;te amor, (Jllt' minh'al111a st' eonsome

De te C\a!lar ;10; olhos do unirnr,;o...


Ou ·o cm t uJo lea 110111c, em I 11d:1 o leio

1:, fati;,;ad:J de <"ala1· tcu nomP,

IJ11asi o 1·e,·clo 110 linal <le u111 , e1·.--o.


 








·... ',



T od us  c,;-.L'"   kl!\0  .-1•-. - hem  o, j,.,!c    -

l\iio 1·u-,11 : • 11in 1m dcmudal'-mc o as pcclo :

:-:t', me tu1·1Jou c-;-.;e lou Yor di--1Tct u

(: 11P  n u  Yoh-er  d : ,;  , !!,,,,  , tr :1duzistc ...


Inda IJcrn q11e c11lt ' mlcstc o mcu affccto, E, atr:1\'Pz d' p,-,t a -; ri ma s, pre scnt i,-.( c J\!c11 L'rn·a1:au quc 1ialp i t:n a, t1·is t e,

E o ma.I quc Iia,ia tlcnfro cm mim -.ccld' o.


.\i d1· mim , sp 111· Iag1·ima s inut ei,;

I :,.t L·s ,1•1'-."" lia nha sse, amhici onando

Il a-; 111• -.,·ia -.  t111'11as  o,; applau  sos  futc is !


D011-mc pur J':I!!o, -.c um olhar )h es d n' ,;

1-'il-,,.., i:1•11,-,all(lo cm ti, lil-os pensa ndo

i\ a ma i-. pura de tod as a,-, mul Itel''( -,.


VI A- L ACTE A










:\II




Sonhei q uc me e -:1w ra Ya-;. I·:. s ouha ntlo ,

,al i , a tll'ioso por te Ye r : eo rt·ia ...

E  t udo ,  ao, er-me  _tao  <le p ressa  andando  , ouhe logo o logar para on<le e u ia.


E tudo me fallou , tndo ! Escuta ntlo

:\lc w; pa,;.;;o,;, atl'a Ye z tla ramaria Jlu, d es perta tlos pass a l'Os o hau<lo :

- Yae mai .,; d e pr essa ! P ara bcns ! - ,, tlizia .


Di sse o ln a r : - E-.p c1•a ! 11111• e n te sigo : Q11e 1·0  ta mh cm  beijai· as faces  d'e lla ?  - "

E d i -,;;;p o aroma: « - \' a e , que e u YOH ('Omtigo ! - "


E ehegu ei. E , ao ehegar , d isse uma es1rella

- (.'u1110 t'.•,; fcliz ! co mo t:,; f'L'l iz, a mi go, Que <le tio p e r to Y.11•-. ouYil-a e ,, , J. ; 1 ! -


YIA-LACTCA r,1







XIII



Ora 11li 1•pi -, 1 ouvi1· e.;;T;•ellas ! Ce1·to

1'1·nl,· il' o sp11.;;o! - E cu yo-; direi, 110 emtant o, Que , para ouvil-a-;, muita vez desperto

E· abro a;  janellas, pallido de espanto...


E conversamos toda a noite, emquanto

A via lactea, como um pallio abel"lo,

S,·in1.illa. E, ao vir do sol, saudoso e em pra nt o, Inda a-; procuro pelo c,'o deserto.


Direi s agora : -     Tresloucado amigo! Que conversas com Pila-- ? Que -,pntido Tem o que dizem, (fUando e--iiio comtigo?


E en \th      di1•pj : - ,\mae para entendel-as ! Pois ,J, q_.uem ama pt'ide ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender C'-'h•p) las.


...'. \"  I . \  -!.   . \  CT    I ·: .\



\ I \ '




\'iye1· 11:io pmlc -;1"111 <rue o fel pron ,-,,;t•

lf 1•-." t' outr o amor <1uc nos p,r · n •;·l p l' " 11,; a H:1

P or<p 1e homcm sou, l' ho me m nao ha qnc p:1s ,;L'

\' ir ge m (lp   tod o pcla Yid a humaua.


Po1·q11e   tanta  scrpcntc  atra  e  p1·o fa m Dcntro 1l'alma tlciwi quc SP a ni11 li;1.;se ? Porqnc, ahrazatlo <le uma ,;[•tic i nsa na ,

_\  i111puros la Lio s rnll·cguci a face !


Depois dos  la b io ,; sof,•p_:;o.,, t'  :11·de n ( p-,, PIii i - duro  castigo  ;10,;   II H'II "   tlc sPjos   - U ,.:11mc fino tlr ppn ·p1•. o,; tlP11(l'-....


E niio po,-sn tla s focps poll11i1l:i"

. \ p:1 :1r o,-, Yh, i. io ,; tl'p ,, ,-p,; bcijos

E os  ,-;;Jll3 1·c nto s  ,-i,, 11:1 1' :,  1l'p-.-.as    frrida-..


\'I A· L ACT EA 53











ln<la hojc, o lino do 11;1,,;ulo ab1·i11do, Lemliru-a,.  ('  pun ge- mc  a  Je mhra lll:,1 d't •l l a,-.;; Lembr o-as, e vejo-as, como as Yi p ar tim lo, J•:,;t a,; canta ndo, solu an<lo aquellas.


I ma s, <le meigo olhar pie<loso·e lin<lo, Sob as rosas <le IJ('H'  <las ca pellas; Outras, de labios de coral, sor1·indo, Desnbdo o scio, luhricas c bellas...


Todas formm;as como tu chegaram :

J>artiram  ...  e,  ao  partir  ·;  <lentro  em  meu  5l'io, Todo o venen o da paix ao dcixaram.


i\l as, alt! ncnhnma tevc o teu e1l!'ant o, Nern tcYe olhar como l'-.-.1• olha1·, t. o 1·!tcio De l11z tiio vi, a, que alJl'aza-.-.e tan to!


YIA-LA.CTEA










.\ \ I




L(1 fora, a voz do vento ulule rouca ! Tu a cnbcc;a no meu hombro inclina, E rs;;;a bocca vermelha r  pequenina

.\ pproxima, a sorrir, de minlia horea !


Que PH a fronte reponse anciosa P louea Em tt>11 seio - mais nlvo que a nehlina Que, na-< manhii-; hiemaes, humida e fina, Da scrra a-; grimpas verdejantl s touea.


,,Ila a.;; trarn;as agora, como um man1o! Can1a !  Embala-me, o s omno com.kn  c:11110 ! E PH, au" 1·aio,; tranqnillos d'Ps'<r olhar,


J>o,c;-;a dormir sereno, como o rio

Que, 1'111 noites mlmns, soeegado e frio, Dorrne aos n1ios dt> pra1a do luar !..


YIA-LACTEA
















Por estas noites frias e brumosas

J'.: quP mclhor se pirtlc amar, qucrida !

Nern uma estrella pallida, perdida

Entre a neyoa, abre as palpehras med 1·0-,as .


l\fas um perfume ealido de rosas Corre a face da terra adormceida...

E a - nevoa c1·c1we, e, em grupos repartida, End1e os ares de somhras vaporosas .


Somhras errante,-s, corpos nus, ardenk,; Carnes  lascivas... um  rumor  vibrante De attritos longos e de beijos quente,;...


E os <·t'·os se estendem, palpitando, <·heios Da tcpida l,r:: ncura fulgurante

De um turbilliiio de bra<;-os e de seio-;.


\'I A-LAC'TE.A










.\\Ill




Dormcs... ,1as quP -.H,-,..;111-ro a hn mpdc id:1 Ten·a de..;pe1·1a ? Que  rumor Pulp, a

.\-; PS1rPllas, f{UP no  alto a  \'oi1P Jprn

1'1•p,-,as, luzimlo, i1 11111i("a cs1cndida ?


:in 11wu-; ycrsos ! Palpita a minha ,ida

\ '<·!l e  - phalcnas  que  a  s·11Hl:11IP PlPYa, DP mpu SPio, c quc ,·ao , rompcn1lo a frcn., EnchPr tcus sonh os, pomba adoi·1np1•i,b '


Dormcs, com os scios 1111-;, no fra,ps-,eirn olto o Pa hello 1w3ro... c ci l-os, corrcnilo, llomlP_jantcs, suhti..;. 1cu c01·p11 i111Pi1·0 ...


Beija.m-lc a l11 w (";1 tcpi<la P nrnci a,

1l1e111, dPsrPm, teu halito s·w1 P11<I : .. . J>orquc ,-,:11·_.!;P tao  ,·e:k a lnz d:) dia? :. ..


VIA·L\<"1 E.\









.\IX




al' a pa.;spio, mal o dia 1ia-;1·t•,

Bella, na-; -;impll'...,   roupas vaporosas; E 1111h11·a ;1,-; r.>-.a,-, do janlim a.; ro,;a.;

F1•('-.;·;1-. P pu1·as que po-.st1C' na face.


)1;1,-;-.a. E todo o jardim, por que dla pa-.,-.1•,

.\tavia-se. Ha falas 111 ,-;tp1•iosas

Pelas moita.;, saudando-a i"l'"Jleitosas...

1:: como -.e uma sylphide pa-;-.a-;.;(' !


Ea luz <·e1·.·:1-:1, beijando-a. 0 Yento <'· 11111 ,·horo.. . t·11l'n1111--.p a-. llores tremulas... 0 bando

Da-. a"'" todas \Pill sa11dal-;1 em  coro...


E ella yae, daudo ao ,,;ol o rosto  lwamlo,

_\,-; aH•-. dando o olhal', ao yento o louro ( 'alwllo, C' i,-. 11,·,n•-; o.; -.01Ti.;o.;; dando ..


YI A-L ACTE A















Olha-111e !· O teu olhar sereno e hrando Entra-me o peito, corno um largo rio

De ondas de om·o e de luz, lirnpido, entramlu

0 ermo de um bosque tPnebroso e f1·io.


Fala-me! Em grupos doudejantes, quando Falas, pur noites t·alidas de Pstio,

,\,; est1·ellac; aecendem-sP, radiando, Altas, "'('lllPadas pelo e1;u sornbrio.


Otha-me as-;im ! Fala-me a,.,,-;jm l De pranto

\g!/1·,1, ago1·a de ternura cheia,

.\bre em 1-Jii-;pas de fogo e,-;sa pupilla...


E Pmquanto PH ardo em sua luz, emquanto Em ,-,eu fulgor me abrazo, uma sereia Soluce e cante 11e-;-;a voz tranrp1illa !


VI A· LACTE A















A min./i a 1,1( £ ('


Se i que  um  ili a  niio ha ( c  i,:,,;o i'· basta nte

.\ "" t a saudade, mae !), e111 que a teu )ado

:-;l' nt i1· nao julgues miuha sombra erraute Pass o a passo a seguir ten vulto amado.


- ,  1i11 l w miie ! minha mae-! - a cada .in stan te Ou, e . Tornas, em lagrima s banhado,

< I m,;t iJ, tonhecendo solu i;a nte

,1i11ha voz e meu pa..so costumado.


E ,;e11t e-; alta noite no kn leito

, 1inh 'alma na tua alma repousa ndo, llepousa ndo  meu peito no teu pei to...


E em·ho os tens sonho s, cm teus sonhos brilho, E abres os brai;os tremulos, chorando,

Para nos brai;os apcrtar teu filho l


GU \'  1,\ - LACT I•:  \






X\11



 


Quamlo IP leio, a 1·P11:1 a11i11rntla-;

Por  ten  genio, a-; paiza;.:(•11-; qne  imagina"', ( 'heias <le ,·id a, an1ltam repc>ntina-;, Claramentl' aos mem; olhos dP--dol11·;1da-....


\' pjo o (":'·o, vejo as -.p1T,h ("Ol'i,ada-;

fk gelo, e o sol, <pu• o manto da-. nl'11li11a-; Bompe, aquecemlo as; f,·i;.:id:i"' 1·ampi1n"'

E illnminan<lo os ,·a llP (' ,h P 11·ad:,-..


Oll(;o o rumor soturno lla ,·ha1T1°ia,

E os 1·oini11t'1t>s <Jill', no (·a n a lh o ('1°;.:<1ido,

. \ ,·oz modulam d(• jp1•11111·;i-; ,·hPia


E  vejo,  a luz  t1·is1is-.i11ia  da   lu:i, Hermann, que scisma, pallillo, P111hehido

;\o meigo olhar da lou1·a  I hrn:li ·•a.


\ " l. \ · I . Al' rEA GI







.\\Ill



 


Lam·a !  d i zc,   f]IIC  Fa bio  amla  offond ido I•: , apez:u· clP olTemlido, na11101·atlo,

lh1s t·1111d o a e:1.tin1·ta c ha mma do passa do

\ ;i.,1·i11 za -; f1·i:1.; a Yi,·a r  do  ohi«lo.


\" i1 •111e o fa1:a, e que o fai;a por perd itl o

,J J« ;i111ur ... Creio que o laz por despeita tlo :

Porqup o amo1·, uma Yez a ba ndonado ,

\ :i.o tol'lla a .;;p,• o que j:1' ti 11l1 :1 ,;ido.


X:io lite c reias , nos ol hos ne m na lioeea, Inda mesmo que o.; Yeja s, cou10 pl'11<;a,,

,1enlir enri1·i:1,, de .-;1111•11 l i1· ti-i--teza,...


Porq ue fin e zas so bre a n·ufo.;;, lou ca ,

Fi ncz as podem ser ; 1na ,;, so l.ll'e offo nsas, lai-; pa1·e cem vin anc;as qne fin c zas.


YI.\·I..\ CT E:. \












XXl\'



. l Lui:; Gui ,,ia rcies .


\ cjo- a , 1·,rntt-111plo-a commovido \qnl'ila

CJ1ll' amaste, P, de lP11-. lll'a1:o"' arra11l'ada, lk-.1·r11 d a  mor(e a tene l11·osa cscad,t,

( 'alma e  pur.1 a1h meus olhos se  r,e  ela.


\' 1,jo-lhc  o  r iso  plaeid o ,  a  »in ;.;e l a Fe i,:a o , aqnPlla grnc;a d1•li <·a d a,

111.• uma diYina miio deixou vas ada

\o  c tc 1· no  hronze, eternamcnte  bella .


, .· , , lhe nao \ Pjo 0     olha1· S('l'l'llO  C friste

Ci"·o, 1iocta, OIHI!' a,; azas , ,-, us pirando, ( 'hora ndo I'   rindo loueamenfo al11·i,;11' . . .


Ci'·. o  poYoado de  r-;h•cllas,  ondc  as  hordas llo-; ai·chanjos  cruza va m- sc> ,  pulsando

Das  I  1·a -; de  0111·0   as    c>11wtlo ras  corda..;.


\' I A· L ACT EA












.1 Bocage .


Tn, <JH P no J)P;.(O impuro da" ol'gias i\Jprg11lha,:1s a1wio.'-!J P de --1·ont e nte,

E, quamlo a 1ona ,inha" de repent P,

( " hPia-. :1-, m iio-; de perola" fr azia s ;


Tu , <111e , d , amor P p e lo amor ,Yi i:i" ,

I·: qnP,  corno (Ip limpi1la  na <;rpnfo,

)),.-. l:i hio-. t· tlos olhos a torr ente Ho" \'(' r-.o-. P lia-; lagrim as , ertia-; ;


1<•-.t rc• qupri <lo ! , iw 1·:1' s, pmqnan to

11011\1 ·1· qupm pnbP o nrn ieo ins tr um ento,

E p1·pze a li11 11·1 <[HP pre za, as tanto :


E pm rprnnt o ho11YPr 11'11111 p onto <lo l' ni n.•1·s o Q11P111 anw"   sofl'ra,  e  amor  P <;offri me nto

:--:i ilm, 1·111 ,rnn do, ti-aliuzir no yp 1•s o.



 









.\\\I




Quandu canla-;, mi11h 'a \111a , dc,-\H'P Z/'ll lll o ( I cnYulncru do eoq 1u, a-.,'.'l'tlliP i,.._ hcll:1-;

.\ il:1-; e-;phe1·;i-., d.. 0111·0, 1·, al'ima d'ella-,

Ouye art'haujc·-., a-; eitha1·a,- pubando.


I ·m·1·1· "" paizp.., 1011;.\P-., quc 1·e, 1·l:1-;

.\ o -.,0111  diYino do kn   ,·auto c, qnarnlo Bai'\a-; a yoz, Pil:1 1amhcm, eho1·a1ulo,

flp-;1•1', cntrc u-; t'laru.-; 1·11po.., das ,...,,,·..!la-;.


1-: p:1.pira a 1na " :z. Do parai-.,o,

.\ qnc ,-uuira UII Y ind u-1c, t'ahid o, Fico a lil a r-1c pall id u, inclcl'iso...


I·: Pmqnan1o s,•1-.,111:1-;, -;on· idcnic c 1·:1,-L1,

. \ (1•11-; p:• ,- , comu 11111 pa..,-.,a,·o frr:do,

Toda a minha alma 1remnla -,:• :1n·,1-;ta ...


YI.\-LACTEA
















llo11te111 -  1ws1·io qne fni ! - maliciosa

Di,-;,t• uma t",1l'ella, a rir, na immcnsa altura

.\ mi;.:o '. uma tit' nos, a mais formo-;a Ile tmlas nt',", a mai-; formosa e pura,


Faz annos amanhii ...  Yamos ! procura

,  .\  rima  de ouro  ma is  hrilhante, a  rosa De t·/11· mai-; Yi,·a e de maim· frescm·a ! -

E cu mu1·murl'i  t·o1111111 0  : , - Mentirosa ! -


1-: sp ni. Pois tiio  cego fni por ellas,

fJuC', emfim, cm·aflo pelos sens enganos,

.Ht n:i.o crcio em nenhuma das c-;t1·Pllas...


E - mal de  mi111 ! - !'is-me, a tens pes, em pranto... Olha: sf• natla li1. pa1·a os tens annos,

,Culp:t as t11a-; irmiis que enganam tanto !


66 VIA-LACTEA








\.\\lll




Pin1a-lllP a cun a d' l'-.,te-- ci'·c;s \gora

Ercrta, ao fund o, a cord illH' i1·a apl"llma Pi111a a-, 1111,en-- de fogo de unrn e111 u111a, E alto, cnfre as 1111,P1h, o raiar <la aurora.


:-;t',lta, ond ula 11do, o-- Y(;o.;; dP l''-'(ll''-'Sa hrnmn:,

I·: o ,allP pinta, e, pelo vallc cm fora,

A 1·01-rcn1cza till"!Jid:1 e sonora

Do Pa1·ahyba, cm 1orvelins de l''-'p11111a.


Pin1a; ma-; y[• de   qnc   ma11Pi1·a pin1a-;...

Aull•-., 1111-;f{UC's a-s <·t'11•('-; da 1ri,-,1Pza, Poupando o (' rTinio <la..; ail' rp-; 1in1as


- T,•i-;tpza singula1·,  P--tranha  rnagua

De q11c vcjo c,:l,Prl:1 a na1111·p1:;1,

Pm·quc a ycjo eom o-; 01110-; 1·a--os <l'agua..•


VIA-LACTE.\ fi7











Por ianto te mp o, d,t." Yai l'ad o e afll i(·i n, Fi1 ni 11°aqnella noi[e o fii·mamento,

Q11P in<la hojt· lllC'-- mo, qnando acaso o fit o, Tudo aqnillo 111(' yem ao }IPihamcnto.


:--:1 hi, no pcito o clerrade ir o griio

( 'nlcan<lo a en,;1o, scm clwrar, YiolPnto... E o cfo ful,.:ia placido e i11li11ito,

I·: ha Yia um choro no rmnor do yento...


Picdoso ceo, qnc a  minha dio1· sen1i-;tp !

A anrea esphp1·a da Ina o O(·t·a'-''J c nt rax a, Bompcndo a-. lc\P'-' nun·1b tran-;parenfr-.


.E  obrc mim, silcnciosa  c tri 1P,

.\  Yia-lactPa  ,;<•  dP  c>m·oJa ya

f'umo um jorro de lagrima-; ardentes.


 G8









\.\.\




\o l'::1·: wa o qup .._, Jlfr e , ,-.p pa l'ado

l lo t pu , I!' > l' \ il i:1 Pill t{llP a ehm·a r 11: (' \ 1·,10 ,

\ ;01 li:i ...( a o alfPc t o s i m pJ I'.., P ,-:i .c:r adn

Com  l(Hl'  da-.,  dl' -.H ' lltn  r;1 -; 111P  p 1·ot1•,;:i.


'i   o m <'  lrn· ,t a  -.,: d11' 1· J( HP  -.,• n1  a ma ,lo,

,\ , 111 ,J, d, 1•p  j o o  te n a1110 1· : d PsP jo T P1' 11, ,, bra(,'OS tpn corpo d Plie ado, Ter 11a lio:T:l a 1lo 11l'a tk 1,-11 l1c•ij o.


E ;,i   ju...t as a111l1i ,:1H' "' (JIIP 111P 1·ons o111c m

\ ;io 111P p11 ye 1' gonh a111 : p o i,- 111a.ior h a i \l ' J:a

\' :io ha IJIIP a tP1T a p Plo C t' o fr ::1·:i 1· ;


E 111:i i -- l' I P \ :1  fl    1·i,1·: w:io  tlP  nm  li  c  l l l f'  l l l

'-1•1·  t!P  ho11!1•: 1,1    ,•11JJ >l't' , ,  11:i  111a io1·  ]Hll"PJ::J ,

Fil'al' 1m  1(•1Ta"    h11111a11·:111 P11te    a111a1·.


\'IA-1.:\CTJ:A











.\.\.\l




J.onf,:e ,le 1i, ,-,e (',,t:11to, pon·en1ura,

Tt>11 nome, qnc mna bocca imli1Tm·cu1c En1rr on1rn-; nomcs de mulher murmura,

:--ohe-mc o pranto aos ulhos, de l'Cpcntc...


Tai aquclle, quc, mi-,pro, a 1o1·tnra.

:--offt·c de amargo c,ilio, e 1ristemcate A linguagcm nata l, maviosa c pura, On,·c falada pol' c-;t1·. tnha gen1e...


POl'f(UC 1cu no1m• i'· para mim o nomc J)c nma pa1ria tlistan1e " idolatrada, Cnja ,-,amlatlc ardcntc me consomc :


E onYil-o 1,;  er a ctcrna primaYcra.

I·: a ctcrna lnz da 1c1Ta ahcn<;oada,

)ndc, cnfre 11.-11't"', icu amo1· me cspcra.


70 VIA-LACTEA







\\\II




.1  um   poeta.


Leio-te : - o prant o tl!'"' ll:e11s 01110-.; rola - :

- Do sC'11 1·:ihello o 1leliC'ado cheiro, De sua yoz o timhre prazen1e ir o,

·T udo 110 Ji, 10· ,-.i111o quo se evola ...


Todo o rn,,.,,.,, , roma nce : - a  doee  esmola

Do ;..('II   primeim olhar, o ,-r•11 primeiro

:--;01Ti-.;o, - 11'!'-,1f' p o e ma veriladeiro, T111lo ao men 11·i-,1e olhar -,p d(',;pn ro la .


:,.;into nnimar-'-c todo omen  p:1-,-.;ado : E ffnan1o ma i-.; a -, p:iµ:i11:i-, folhcio,

l\lai,-, vc jo cm 1nilo aqncllc Ynlto a mado .


Ow;o j11n1o d1· mim ha1er-lhe o seio , E euido vcl-a , pla l'id a, a men  !ado, Len lo eo111111iµ:o a pagina q111• leio.


VIA-LACTEA











.\\.\]lJ




Como quizesse livre ser, cleixando

,-\,,; paragens nataes, espaf,!O em fora,'

,-\ a n' , ao bafejo tepido da aurora,

.\ hriu as az s e partiu eantanclo.


Es tra nh os climas, longes ceos, cortando Nu\'eu s e   nuvens, percorreu : e, agora Que mol'rc o sol, suspende o voo, c (·hora, E (· hora, a vicla antiga recorclanclo. ..


E logo, o olha1· tornando compungi1lo, Atraz vohe, saudosa do carinho,

Do calor cla primeir.a habitac;a.o.


.\ ssim por largo tempo andei pcr<lido :

-  ,\ h ! que alegria ver de novo o 11inho,

\'c1·-tc, e heijar-te a pequenina miio !


 








 




Q11an<lo a <li, ·inl1a C(ll (' ,·on, 1'1- a , e {1 csratla Ouve-mc a    yoz e   o   1111·11    andar   eonhcec, Fica palli<la, a---;usta-"l', p._ jr c mcc <>,

E nao sci porcine fogc enn • r,0: 11 hada .


Volta 11Ppoi-;. .\. por ta, ah-oro1;a tla , Sorrimlo,  cm  fogo a"  fa1·l'",  appa n•p1• E tah<>z  enicn<lcn<lo  a  mmla  p1·1•1·l ·

B e mcus olho-., adianta-sl' apn•--,;;11la.


('orrc, tlPli1·a , n111ltiplit·a os p:is,; o-; ;

E o ehao, sob o" spa,; pa""o"' 11m1·11111rando, cguc-a tic um hymno , dl' um 1·11mo1· tic fr•-;ta ...


E - ah!  q uc <lcscjo dl' a toma 1· 111,, l11·a1:o "',

0 movimcnto rapitlo su -;ja ntlo

Das tlua -; azas qnc a paixao lhP 1•111prc s ta !


. \ IA-L ACTE . \











.\ \ \ V




P,111 , 0 mr pc-;:i quc m!lfc i ; s o1Ti nd o ll 'c , tt', Yl'1 ·, o., pnri.,-;i1110-; c -;a nto s :

Porq 1w,  n' i•-to   de    amor  I'   intimo s  p1·anto s ,'

On,;  lo:n  ·m·t•'-'  do    pu  hli1·11 1 11·t· -.1· i ndo.


110;111•11-. de ho nzc ! um h:1n •1·(1, tit• tantos, 1 Ta l \C'z 11111 si, !) 1p11·, P,trr paixao ,-.p11 tindo,

.\ 1p1i ll c morc  o olhar,  n·ndo c mcdindo

0 ah·a il': P r o,  1·11timc 11 to ll't, • t e -; 1·a n tos.



'- 1·1·.1'  l' , •

I'   o nw:i pul,lico . E, de ce l'lo,


E,-,-;p  d i1·(1  : - Pode  YiH·1   ·  ti-a nq ui ll o

(J11l•111  a,,im aum,  -.pndo a-,-.i m  arnado ! -


- 1:. t1·l·1111ilo, <le la31·i11w-; cobel'to,

Ila-de  c;;t i111a1· 11uem  lh :_•  co  n to n  aq111Ilo

Q m• nun1· a ouYiu  com  t a nto  ardor contallo.






5


 
















SAR<;AS DE FOGO


 


 








o Jl: LG.\\ IE \ TO DE PHHYSE.\




ln<'zarete - a di,·ina, a pallida Phl'ynea  - l'umpa1·C'r<'   ante a   aust!'ra   e   rigida  assembJ1'.a Do .\ reopa:;o ,;11p1·C'mo .. \ ( ;recia inkira a<lmira Aquella formosura Ol'igi11al, qn<' inspira

E tl;'1 , itla ao g<'nial ci nz ,•l de Praxitt>le«.

D<' II pcridPs :i rnz <' (1 pallwta tic• .\ pel11•-..


t;uan lo o-; ,·inlio-;, na orgia, o-; conYi,a, e:1.alta111, E 1la,-; roupa<;, emfim, lin'l", os 1·0 1·po ,; -.1lfam,

:\'C'nhuma l1ett>r<' sal1<' a pt·i1:10rosa ta a, Tran,hordant!' de (_ t',-., <'rguei· com 111aior gra1:;1,

:\'t•m 1110<;1l'ar, a f.01-rir, r•1;m mais g<'ntil m!'1wio, lais f'rn·1110-;r: quadril, ll<'lll  nrnis ne,·a <lo S<'io.


E,tr!'m!'cem nu altar, a·i contemplal-a, o-; dP1l'-L',,

:\ua, entre ac1·ln111a oes, nos festival',; <le El<'a"i- ... Iln,;ta  um  rapido  olhar  prorncante  <' Ja-;ei,o  : Qn<'m na fronlP o SC'ntiu cm•,·a a front<',  t·a pti, "·..


 78

Na ,la eguala o potlcr de sua ,:, maos pcqucnas :

B, a  ta um gc-.t o, -    e  a sen,;; p es 1·oja-se  humilde .\thcna...


Yae se1· julgada. U111 veo, 1ornan,lo imla mai-; hclla ua occulta nmlez, mal os encantos n '·la,

"a  I  a   nudez occulta e  sensual  di.;fa, r : a.

( ·;\e- llie, espaduas ahaixo, a cabclleira c,-pa1•,;r1 ... (Jueda - sc a multidao. E1·g11c - ,-;c Euthias. Fitla,

E in cita o tribunal scw 10· a c oncle mnal- a :


Eleu-,is  profanou !  E fal-.;1  P   tli s ,:;olu t a, Leya ao Jar a sizania e as familias enlu ta !

Dostlcu-;c,; zomba! Eimpia! e m;',! » - (Eopranto arden 1l' Corr e nas faces J'ella, em fios, lenta mc n tc ... )

Por onde os passos mo Ye a corr up 1:;io sc cspraia L p-.,tcnde-sc a dis cordia ! Ilelios1c,;! concle mnai- a ! -- "


Vaci lla o ti-ilmnal , 011Yi11tlo a ,oz que o doma...

:\ l a-;,  de  prompto, ent1·c• a  turba  II  pL·1· i tl1•,; :• s -.0111_:i. Dcfcnd,--lhc  a  i nno ccn,·ia ,  C'l.1·la ma , 1· '1.01·a,  pctll',

:--upplica, ortl,• ua , cxige... 0 .\ rcopago nao n•tJ,,.

Pois conJ c1 nna i-a  agora ! -    » E  a  n:,   qne 11·pmp, a 1 Tuni,·a de,-pcda\; 1, c o Yeo, lp1e a e ncolH·e , a1Tan1·:1. ..


Pa,,mam -,u bi1am cntc m; juizP s dc"lumhr adu, ,

- Leuc pc lo calmo olhar ,Jc 111n do ma do l' cunados:

:'111a e branca, tic p , patc ntc ;', lu z do dia Todo o eorpo ideal, Phryn e:1 apparel'ia Diantc <la multid:'io  attonita. P suq wcza ,

i\o  t1·iumpho  immortal  da  Ca1·11c   l'    tla  Bclleza.


SARQAS  DE  r-ooo 7f)











l\lARINHA




olH'P as ondas oscilla o l,atcl doccmcntc...

opra o vcnto a gcmer. Tr·cmc  pnfunada  a  ,da. Na agua mansa do mar passam tremulamcntc Aurcos tra os de lnz, brilhando cspar-;oc.; n'clla.


Li dcsponta o luar. Tu, palpitantc c hclla,

'auta ! Chega-te a mim ! Di1-me c.:;-;a ho1·1·a ardente 1

oh1•p as ondas oscilla o batel docementc...

op1·:1 o vento a gcmer. T1·p111e enfunada a vda.


Ya;,:v-; azucs, parai! Curvo eL;o franspa1·011tc,

i\11n•11-; de prata, ouvi ! - Ou1;a na altul'a a ,,,trclla,

( )111:a de baixo o occano, one a o luar albentc : Ella l':tnta! - c, cmbalado ao som  do  canto ,l'clla ohl'l as ondas oseilla o batcl dol'cmente.


 80











SOBHE AS EODAS DE [:'II SE .\GE\'.\nIO





Amas. l_j111 novo sol apoulon no ho.wizonlC',

E offnscou-te a pnpilla C' illuminon -tc a frontC'. . .


L i vi tlo ,  o  olhar  ,;pm luz, roto o manto,  eahida

:-:obrc o pcito, a trcmcr , a harba cncaureitl:i, Dc,:;eia;;,  camlmleando,  a  cncosla  p1· tlrr  ;.,:o;;a Da velhice. Que miio te offcrc cc u, picdo sa,

l:n1 pictloso hordiio para ampa1·ar tcus pa,-,-.,os? Quern  te  c;;tendPn  a  vida,  estc11dP111lo-tc  os  lm11:o" '.

]a.., tlc ;;amparado, cm sangue os pes , ,.,,·,,-,inlio...

E era horrcndo o arredor, lono o r;;pai;o, o cami11l10 Si11i,;1ro,  ac1·itlPntado. . .  Uirn,a  p1•1· to  o  \'P11to

E 1·o d a Ya m bulctiC';; no tnno firn1amcnto. Enfr:ulo  de  terror,  a  calla  p:1 --s o   o   ro  s to

Yo]fya  a-;,  per se rn tantlo   o  caminho  t ra ns po, lo,

E rnhia-; o olhar : c o olhar all m·in ado

\'ia  tit•  um  Iado  a  fr t• Ya,  a  frC'\'a  di'  ontro  Iatlo,


S.\R,;.\S DE FOG O


E a-.-.;oml11·1,-,a-; vi,:;,'ies, vultos C.\.t;·aonlinal'ios, De,;<lobran<lo a  cor1·c1· os trcmnlos s1Hl:irio.._,

E ou, ia" o 1·nmor tll' urna enxa cla , <·a vanclo Lon;<' a terra ... E parastc exanime.


Foi qn:1 ndo

Jl.11'<'< 0  e  u-te  cscutar  pelo  l'.ami11l10  cscu1·0,

i,ar, <le i11o.;tantP a i11-.. ta nte , um pas-..o ma] ,-:•g ll: o Como o teu. E attcntanclo, t•ntre alegl'ia e t•-..p:111t<>, Yi-..t<• quc vinha al3uem ('ompar1inclo o ten JJl':,1110 ,

T1·ill:: : 11<lo a 111p-,111a p,--trnda horri,el  qne tr il ha, :h ,

E eu-..:i113nentando  os  .p·  .._  ondc  lh     e11 -.a ng 11c nta  ,  as.


E -.01Ti-;te. :\o ceo fulgurnva uma est re '. l a . I·: -;t•ntistc falar suhitamente, aii vel-:i,

Ten velho corai:ao clenfro <lo pcito, <·omo lh•,-p<'l'(O muita vez no <lerradeil'o assomo

Da bravura,  -    sem yoz, dt>t·1·cpito, i m11ot e nt <• , Trnpcgo,  scm_ vigol',  spm  , io.;ta,  - <le  re  p c ntP Hi <: a a jnba,  e,  abalamlo  a  solid:io  nocturna, Lrra um velho IP:io 11'111na apal'lacla ful'na.


t

S.\.R <;'  . \ S  DE FOGO













.-\ BYSSUS





Bella l' trnido1·a ! Bcijns e as.,a;;,;ina ;;...

Que rn 1e n nao. km for as que te opponh:t : Ama-te, e dorme no te n scio, e souha ,

E, c1trn1Hlo ac<·o1·tla, accon ln fci1o cm n 1i11 a ,-,. ..


Pc\ nzcs,  e con viLl a,;,  e  fo,,('i11 a,;,

f'omo o ahysmo qne, perficlo, a mcdonha F,11wr apresc nta ni',rida e risonha, Tapc1atla de rosas e boninas.


0 Yiajo1·, Ycm\o a,; 1·1, ,1·1•-;,· fa t i;; aJ o

Fogc o ,;ol , P , 1\c i, a ndo a c.,tr a 1\a pocnla ,

. \ rn.nc; a in ca uto... Subito , cs bro a<lo,


Falla-Ilic o solo ao s p,:,; : 1·ec ua e co:Tc, Vacilla e gri1a, lu cta c se c11:;;w gnc u t a ,

E ro la , c 1omba, e se c,;pcdac;a, e morrc...


SAR AS DE FOGO 83










 






Quando passaste, ao dedinar do dia, naya na altura inil<·finido arpejo Pallido, o sol do ";o .;;c• dP'-pe<lia, Enviando ;', te1Ta o derradeiro beijo.


oava na altura indefinido arpejo...

t:antava perto um pa --a 1·11, em sc;,;,·eclo; E, enviando a terra o derracleiro beijo,

Esbatia-se a luz pelo arrnre<lo.


( 'antava perto  um  pa-'saro  em  segredo; ( 'ortavam fitas de ouro o firmamento...

Esbatia-se a luz pelo arYoredo :

( 'ahira a tarde; socegara o vento.


Col"tavam fitas de om·o o firmamento...

Quedava immoto o coqneiral tranquillo...


S.\ R(_:' AS    DE    FOGO


( ';1 hi r:1 a tardc. 0t·P,.::'1ra o Yento.

(.!m• magua derrama<la  c n 1uclo aquillo !


( u:>tlava immo1o o coqu<'iral 1ranquillo... Pisando a arcia, quc a 1<-'HS pt;S fala,a,

( (Ju·· magua  dcrramacla  <'lll  tudo  aqnillo !)

Yi Iii <'Ill baixo o 1cu n1l10 quc pa-;-;a,a.


Pi-;an<lo  a  ar<'ia,  que  a 1<-'ns  p; t s   falaya, En1rc a-; ramadas 11t'irida<; seguistP.

Yi l:'1 em Lai:,,,o o teu n1lto qnc pa-;saya, .. 'J'iio <listrahi<la ! - ncm seq11<'r me ,is1c!


Enfre a'3 ra rnada <; 11oridas scgui-;1e,

J-: cu tin ha a  , i-.ta ti<' 1cu ,ulto d1e:a.

l'ao di,-1ralii<la ! -    !1cm seqn<'l' rnc ,isle! E cu con1a,a o,.; iP:i-s pns-;o,-; sobn· a areia.


J-:11 tinha a , i,-,ta de 1cn Y11l10 chcia.

I:. quan<lo  te  snmiste ao fim  da  e-;t1·ada, Lu con1a, a os icu,- pa,,,-,os sol1re a :1 n•ia : Yinha a noiic a dP><t'PI', muda e pausada ...


Jo:, quan<lo 1c s11111i><1<' ao fim da p-;tr;11la, Oll1ou-mc do al1o uma pequcna l'-;irclla.

\ i.il:a a  noiie a  d1..,1·cr,  mucla  P  pansada, E n 1ira , estrcll;;s s at·c•<_>11diam 11\·lla.


Olhcu-me <lo alto uma pcqu<'na e-;t1·ella, Ahriudo as aureas iialpcbras luzcnies :



S.\ n r_' AS DE Fc l (; (I


E oulra-. Ps l l'l·lla -.s c ac ec ncl ia m n'clla, Co1110 1w1 pw11: i-. la mp adas I 1·c11 1t' 11( c .

8.-J



A b,·ind o :i-; a111·,•a-. p alp c lir as l11zcn l <'S, Cl:11'<:'ara  m  a  f':\( 1'11-.:io  du,;  l:1 1·  0  -. c a111 p:h  ; I ·oino flC''f lll'nas la111 pada s fr <'lll<'III <',;

Ph osph or <:'a va rn na reh a os pyl'il am po, .


( ·1a n·:i!·a111 a 1•xt1'1h n llos la1·;; 1) -; 1·n11 q01 -;.

\' in ha , enh·<'  llll\ l'II'-',  o  lu a r  na-.;·1·11, 11 , ...

P hosp hor cav a m 1m 1·<h:' a o,;; PF il a mpos .. .

E <'II inda l',;t a va a t111 i ma ;;f' m Y<' nd o.


\'iuha,  <'lllr l'  nuvl'ns,  o  lm u· 11: i-.1·,• 11,d

.\  l <:'1°1•:t  t ,: tla  1'111  <le n· Nlo1· d o rmia ...

L <'II incl:i. 1•...tava :1 t ua imagcm Y<'n<l o ,

<:  ua nd o  p::s, a, tl'   ao   d<:'d  i1rnr   do  dia !


 86










NA TllEB.\IDA




( 'hc gas, com os olhos humido s, 1rcmen1e

,\ voz,  os sei u"- nus, - como a rainha Que ao cr mo fr io d a T hehaida viuh a

T r aze r a ien1a<;ao do amo1·a rd ent c.


Lnc1o : porem ir 11 c orpo "e avizinh a

Do meu, e o cu la r;a c omo uma Sl' l' pr ntc ... Fujo : porem a hocca p1·cu<le .-., qucn(e, (l1eia de heijo s, pal pi1an1e, i, minim...


Beij a, mais , qne o 1cu beijo mP inccn<lci a 1

A p e r ta u-; br a.r;os  ma is l r1uc e n 1en ha a 11wri1·

Pre so  nos fai;o::;  <le  p1·i,  i'io 1i'io  d ot·e !


Aper 1a, ns  hm r;os 111a i-; l - ragil r·a,lt·ia Que tan1a fo1·1:a lrm niio '-l·mlo for1c,

E pr cmle mais que se de fc1·1·0 fo._._e !


SARQAS DE FOGO 7









E n'c,;!a ,;  noit c-; s occg adas

Em quc o lnar aponta, e a fina l\Iobil  c  trcmula   cortina Rompc tlas nm cn .-; cspalhadas;


Em  qnc  no azul  c.;, p:H: n.  Y:l ;;o, Scindindo o ceo,  o alado  ba11do

\' ae <las cstrcllas cami nha ndo

- .\ ye,- de prnta {1 fl.',1· de nm Ia o - ;


E 11 'c -;t as noites - qnc, perdidn , Lonca de amo1·, minh 'alma yoa Para t en !ado, c tc nhC'n ·i,a,

0 111iuha aurora! 6 minlta Yida !


:'\o hor1·eudo pan( ano profu lltl o Em que ,-in ·mo.:., t'S o (' ) ,.,Ill'

Q11 L' o c1·11za, s cm qnc a aln1ra ti-me Da aza no limo infecto c inunundo.


Anjo cxi la <lo das risonltas Rcgioes sagra clas  tlas alturas,



 

Que  pa,, ;i -;  p111·0  c n11·c>  :i,;  impura'- 1111m:111:1-, t"okr;i-. 11w1lo1dw-. !


E-.1rclla  tlP 0111·0  ealma  "  lic>lla , ()111·, alll'i111lo .1 lur i1la pupilln, lh•;llrns ;1 -., i111 elara C' 11'a1up1illa

;\n,-; 1ona,; nun•11-; ,In prorclla !


Ib io de sol tlo:1r n111lo n cs pl1'< 1'n En11·1· as 1wLlin as 1l'l',-;1l' i1n 1•1·110,

I ·: nn,;  r<';,:i,-11·--  uo  gc>"I    c1crno

Fnzrndo rir a p1·i111aycrn !


Li1·io 1k pPtaLi,.; fu1·mosn-; E1·g1wndo ;'1 luz o niYCO "l'io, EnfrP t>-,1p,-; canlo-;, C' no moio l)'p,fa, cuphorhins YCllC'11osa;,, !


Oa..:,-; Ycrdl' no d, ,· 1• rf o '

I ';1,..,;:ro  , on udo dc•-,1· 11i d,11l0

Por sohrc um solo c11snn;.:11cnfado

E (Ip cada, e1·1•,-; cobcl'to '.


Eu q111· ho111cm sou, cu 11111• n 1111,1•r1a

Jlo., homp1i-; 1cnho, - cu, n•1·111c ol,,1·11r11, Amc i-1c, fli11· ! C', lodo irnpuro,

Tc>ntci rouh:u·-11· a luz, itl1•1·1•:1.


Yait!n,k· in..;111a '  .\ lll:1 r  no dia

A 11•pya l10r 1·e nt!n q11P n,•;.; rPja !


S AR AS DE FOGO

Pedir a ,-p1-pc, que 1·as1e ja,

.\ mor ;1 nuvem fo;i<lia !


Insano amor ! vaidad e ins1:1'.l!

L'. uir n' um beijo o aroma a pe., te !

\' a,:,: tr, u'n:11 JO,'•"•  a L1.l  (' •l r•, : ,:

!\'a escuridao da noite humana !


\ ,I a , R h '. q11i z,· t (' a pnuta d I aza,

])a pluma !1·e11111b de nevc

lk .-;( · t·r a mim, roc;ar de len •

.\ supe rficie d'esta va -;'.l . ..


J tan1o pomlc ('>ha pieda<lc,

E tanto poude o amor, que o lodo A,.;ora 1i cfo, 1; flores todo,

I·: a noite csr-nra <'· <·ln1·i,la1l:· '.


DO S. \ R<;AS  DE FOGO







,\" U:\L\ CO.\ Cl-L\




P111lf'-;..:p en  -;c-r  a  concha   nacaratla

Quc-, eufrp os corac-; e a-. al a-;, a infinita

" :111-.iio  tlo oL-eano  lrnl.iita,

E ,Iorme 1·c-1· l i11a1 la

No fofo leito cla s areias de our o...

Fos-.c• en a  concha  l' ,   o pceola  ma rin l.in ! Tn  fo-...:p-,  o  men 1111i1· 0 1 J w,0  111·0,

:\linha, somente 111inha !


, \ h ! com 1111c- nmor, no ontleantP lle 3a i:o ,la agua tran parc-ntc e cla1·a.,

( · 01 11 <Jn<' Yolnpin , filha, com <pie aiwcio Eu n-; Yah-ns de 11:icar aperU11·a,

P a ra g ua 1·cl:11·- 1t • loda palpitante

:,.;,> funclu tie meu ,eio !


SAR( .\ S DE   FOGO














SUPPLICA




Falhn a o so l. Dizia. :

- .\ cl'on la. ! Que alegria. Pclos 1·i1lente s ceos se espa.l ha ago l'a !

Foge a nehl in a fria ... Pedl'-k a lnz do ili a ,

Pede m- te  a"  d 1an1111a-;  e  o  s on ii-  <la  arn·ora !-   ,>


Dizia o rio , cheio

De a11101·, ahrindo o "'l' io

-    Que r o  abr;11::1r-1e  a;; ft'.1rn1;1-;  p1·im o1·0-a  , '.

\' pm tu, que e m hald e , e;o

0 ,-;r,I : so me nte aneeio

l'oi· 1cn cor po, for mo-.a e1111·e a:s for mo,, a '.


Quero-te int eiram en te

;\ iia ! qnero, tr ement e ,

l 'ingi 1· de heijos tuas 1•0,:,e .1,; ponw, ,


,C ,l ._)

S .\ ,1: ,; .

1>1 : FOGO


( 'ohr it·  tC'U  ,·011· : o   ; :r   <IC' nl <', I: na agua tt·an pa t·C'n1<'


b uanla1 ·k , u

\ i-,. (; ,, :.,c ;_,:., ;:.;c :;,,

; r ;, 1 .  ::;:



E proseguia o vento :

- -..·•n n o n1£l u 1c: n:£lnto !

Yem ! 11 ; 0 q111·,·:, a lo l liag <' m r• 1'11.11w1la ;

( ',a n a Bin· 11:- , : Ille l'ontC'n1o !

Y:ii,-. alt o ,: o rnen in t C'n1o :


tJ11<'10·

C'mh al:u·-t <' n 1·1:11.a dC's nns1ra d:i ! -


Tmlo a cxigia. .. J-:i111 : rnto,

. \ lguem , occu lt o a t:tn can1o


llo jai·clim, a eliu1·a1·, dizia : -

,J;'i te niio P<' O fa ntu : t'1Ti1 ra -,,;t' o  11!e  u  p1·nn t o

·11 liC'lla !


.,. j..._.._<' a 1 ua somb ra na j:rnella !


.\ ll <J AS     DE    i:u, _;o e !l :J







CA J\ ('.\ O




Da-me a,; pcta la,; dt• 1•,1-.,:1 D'e ,-,;a hocca pcquc ui ua ,

\' e m com ten riso, for1110:,:i

\"cm com ten l1cij o, tliYina '.


T 1·a ns fo1· nrn n' nm pa r, ti :,u

fJ inf e rn o do mcu de ...Pjo. .. Fu1·mosa , Yem com ten 1·is i ' Di Yiu a , \'l'lll c·i:11 tc11 l,e ij o '.


Oh! 1u, (Jilt' tornas mdio, a

" i11 h' a l111a,   que a do1• do. 11i 11:1 ,

:-;,·,  c t1m   lPH  1·i-rn,  for mos a,

:-·;, , e u111 1cu hc ijo , di \°iu a !



Tenho frio, e uao di, i -.,u

l.11z   na  t1·c,·a  crn  (jHC  l!H,'

·t'J' '


IJ;1' - 111e o e!a1·,10 do 1eu 1·i,,.o !

IH - mc o fogo do tc u hcijo !


94 'i AH   ' A S   DE    FOGO








RIO AR\IXO




Tl'eme o rio a rolal', de va;.:a em y:iga... IJ.ua..,i  nc il e ..   \o    ,-,:1hor    tJ,, <0 1 11"-;o    lento

Da agna, <(IH' a,; ma1·:;e ns em rPtlrn· ala;.:a, t' ;.:11 i mos . ( 'm•ya o•, hambnap-; o yen1o,


YiYo, ha ponc o, de pnr pnra , sangren1o, lle-;maia  agora  o OtTa,-,n.  A  noitP  apa. a

.\ derradPira lnz do fin na 11 w111o.. .

Bola o rio, a trenwr, tie ya ;.:a  e111 vaga.


1 · 111 ..,jJpncio 11·i-.ti-;-.imo por 1mlo

<' <'spalha. '1a-; 11 Ina kn1amen1e 111-gc na fimbria do hori zon1c mu <lo


I o st>u reflexo pallido,  emlwhitlo

·( o mo um glatlio de prala na eoncn1e, Ha-.;.::i o ,.,cio do l'io ador mecido.


SARQAS DE FOGO













SA.TANJA






:\t'm, d.. pt'-, solto o cah..llo as rostas, orri. :\;1 alrnya p<'rfnmada e qn<'ll1<', Pela jandla, romo um rio enorme

D.. aureas ondas framp1illas e illlpalpa, ei-;, Profn,-,anwn1<' a luz do meio clia

J-:ulra e  ,-.(• <'Spalha palpitan1<' e YiYa. En1ra, pal°l<'-"'L' <'Ill fL•ixC',; ru1ilan1e-.,,

, \ Yi Ya as ei',n•-; d:1-, 1,qwr,-arias,

Doura os P'-'pellw,; e os <Tys1a<'S inllalllma.

D..pois, 11-enwndo,  <00          111•;  a  ai·far,  <h•-.,li,,a

Pdo chiio, d!',P111·ola-se, e, mais l<'n', ('1,mo uma va a pregni<;osa <' lenta, Y<'m-lh<' l,eijar a 1wrp1c>nina ponta

Do p<'quenino I'·. mat·iu  <' hranco.


 


. >'><'.. . 1·iu 1•-lhe a pe1·,n  lnngamente.,


o\Jp ..  -    e t[lll' volta ,-,:•11s11al liP,i'l'P., l'

Par.1 :1lll'111;.!;Pr to1h o (Jll'ldril ! -- p1·ose311e, LamhP-lhe o yentI·t•, :ilwa1;a-lhe a ,·intm·a,

:\lor1lP-lhP o-; l>il'o-; tumidos dos sPi o s,

( 'o l'l' -lhP a p-;padua, pspia-ll1l'  o  rPt'Dnca,o ll:1 a:xilla, ac rPntiP-lhe o 1·:, 1·.1 \ lia bo:Ta,

E a:1fp, d1· -;:' ir pL·1·d:•r n:1 P,1·.ir.1 nui le ,

\a dP,b:l ll'>itP ti:>-; 1·:1Jipl(o-; 1w31·:H, Pitra eonfu-.:1, a palpita1·, di:1:1te

Da lnz  mais bPila d os -;pus ;.;1·andp.;  olhos.



1-: au.; 11101·110-; lie ij,o , [1s l':1ricia-; (1•1·:1.15, Da lnz, t·Prrallllo kvemente lh  cil i•: ,.;, at:wia o.-; l:1hio, hu111itlo-; enrnna,

E da bo1·1·a 11;1 pnrp:1r;1 s:ing1·enta

.\ hre um cnrto S')1Tiso dP Ynl 11p i.1... Co1Te-lhe /1 lliir th  pl'llc  nm  nJ  ..fri1); Todo o ,-,e11 -;:rngm·, alvoro1::1th, o 1·11rs:•

.\  p1• ps-;1  ;  l'    lH ollw-;,  pe!a  fp:1da  1·-,t1•pi(a

lbs ahai:x,uh;  p:1lp:·IH•.1-; r.1diando,

Tm·,o.-;, <1twlwado-;, lan:.:;nido,, co11(1•111p!a111, Fito-; no vacuo, u111a vis o querida...



Tahez an1c elles, s1:intilla111h ai> vi,o Fogo do ( l1T:1so, o  mar   se  desenri)lc :

Tingem-s<' as ag1rns de um ruhor dP san;.:ne, 11ma caniia pa-;•-n \olargo oscillnm

:\laslros enorllll's, -;:u·n<lindo as flarnmula-....

E, aha<' sono ra , :.t mm·111111·ar, a 1",puma


AR(}AS DE  FOGO


Pelas ar ·i.1-; sc insin i',,: , o limo

Dos gros-,cil'Os casca lho s  pratcando...

!J7



Tahez aute l'llc>s, l'igida ,; l'   immoYci",

\'icc1u, abrindo os leque,;;, a,;;  palmcira,;

Calma em  tudo.  :\'pm  serpc  sorra te ira ilu    ,  nem  aYe  inquicta  agita  as  aza,;. E a t c rra <lo1·me n'um torpor, dclmixo

De 1:111 Cl!o de bronze quc a com prime e abal'a .. .


Tahez  a-; 1wite-,  tro  pi1·. w   ,.,<'  e -,i e 111 '.a111

. \ ute ell.--;: infinito fin 11a111( •n t-..> ,

'1ill1ue-, de p-;l1·ellas sobm as Cl'espa-; a. ua -. De torrentes  camlac,,  quc,  e-;l11·a Y Pja ud :,, Entre alt.i,; ,,e1Tas su1·damc11tc r·: l a111 ...

Ou tahez, em paizc>,; :ipal'tatlu,-, Fitem  1•11-,  olhos  uma  s1·1• na  auti.c;a.

Tarde d,· outono.  l ' ma  ti·is tc za  i111111t.•,1  :1 Por tudo . A 11111 )ado , i, so mhra dcle i t o-.·1 Das tama1·eiras, meio ado1·mecido,

Fuma um arauc. A font c ru mo reja Pcrto. .\ 1·ahc1;a o 1'a11tharo replcto,

l'om :i-, miio, more11as suspcu<lcmlo a sa ia ,

·1. ma mulhcr afa -;ta - sc , cantan<lo ...

J-: o aralJc di:n ne 11 uma Ul'11sa nuv c m

De fumo... E o canto perul'·SC i1 d is t a uc ia ... Ea    uoite  d 1L•g a ,  tepida 1·  <>-<t1·d   lad ·1 ...


Certo, lw111 <loce Je, l' "l' ' ' a -,rc>na Que os seus olhos c:-. tat ico s ao lon 6c,

Turros,  quebrados,  la11g uidos, contcmplam.

G


98 SA R( lc\S DE ·FOGO

Ila    pela   alco,·a ,   emtanto,   um   mm·mul'io De , 01,p-._ A p1·i11eipio (. um sop1·0 p-.1·a-.-.n, l"111 sn,-;s111Tar haixinho... .\ugmenta lo;.:o :

E uma  prece,  um  clamor,  um eoro  i111111 p1,1-; ►

De ardente,-, ,·ozes, de conn1bo-< f?_rito-<.

i'.: a YOz tla Carne, t'.· a Yoz da :\lot"ida1le,

- ( ·auto .Y i vo tk for{,'a C' dl' helleza, Que sol1e tl'e-,-.e corpo ill nm inad o...


Dizem o:c; hrai_;os : - Quando o insiantt- tlorn Ila-cle che;.:a1·, em que, it p1•p,.;.:; o ane10-<a D'estes la(,'OS de museulos sadio-;,

t·m corpo a111atlo vibrar:1 de gow? -   11


E os seios dizem : « - ()nl' sPdentos lahio", (Jnp avidos l bios SOl'H'l',10 0 vinho

Hubro,   f[HC    temos   n'esta-; chei:1s   tai;as? Para Pssa. hocca ffllC e-;peramo'-', p11l-.:1 i\'es1a,c; t·a1•11ps o sanguP, e1wlH· t",ta.:; vei:1-., E entesa e apruma p-.tp-; rosad u,.; Licos... -


E a hoce;i - Eu tenho n'e-.ta fina con('ha Perola,; nivPas clo mais alto prei:o,

E coraes, rnais brilhantes e mais purm,

Que a ruhra sch-a tpie tle um t Tio 1wmto

Colwe o fnndo do-.; mares da. .\h) -.si 11i :1...

,\nlo C' ,.;11,.,piro ! ( '01110 o dia iarda·

Em fJUC 111t•11s lahios pu--sam -.e1· l1Pijadn-<,

:\l:iis •1nc lwijados : JHN,a111 s:•r rnordidn-. '.


SAR('AS DE  FOGO


l\Ias, quando, emfim, das regioes desccndo Que, errantc, cm sonhos, peroorrcu,- Satania Olha-sc, c ve-sc nua, e, estrcmecendo,

Ve;;te-se, c aos olhos itVidos do dia Vela os cncantos, e,-sa voz dccli11a Lcnta, abafada, tremula...


Um barulho De linhos frescos, de lirilhantcs sedas Amarrotadas pelas maos nervo-;as, Enclw a alcova, derrama-se  nos arcs... E, sob as roupas que a suffocam, inda Por largo tempo, a soluc;ar, se escuta N'um longo choro a entr ecortad a queixa Das deslumbrantes carnes cscondidas ...


If Ii I

 









QU AREN T.\ .\ Ni\'OS







i 11 ! I 'o mo um dia de Ye r :io , de :w1•e,:1

Luz, d u arl'e,;os e ealitlos fulgor,'s,

f ' 01 111) OS sor r i..;:,..; da <•--(a ao  d a s flo re .,;, Foi p ac;c;a ndo tamlwm tua bcllc za.


ll1Jje  - <la s   garras  da de,.,1T e 111: ri  p r e za Pt>rdp-; as illusiie..;. Ya o-, ('- ( (.'  a-; ('(II' ( '"

IJa fa1·P. E e nt ra m - tc n'a h na o,; d i ,;a ho1•e -;,

:"luhlam-tc o olhar a-; sombras <la fristcza.


E\pirn a. p ri ma rn r:1. 0 sol ful;.:11rn

1· um o hrilho l'\11•prno... E a hi yt'.•m as   noites frias,

:\hi H'111 o inH •1·110 da  Yelhil'C' (',1·111·a ...


. \ Ii ! p ud sl' ,; • l':i fa zc r - no,·o Eze<p1ia.., IJ1u· o s,,J  poente  t]p's   -;a  f<..,1· n1os  ur a.

\ "o ln, · ..,,, ,,· aurora do , pri111!·irn-; dia-; !


S A IU ,'.\ S  OE  FOGO 101









rESTIGfo:,;





Foram - te c,-; annos con-.11111in<lo arp1C'l!a Ilelleza out1-'ora   ,irn P   hoj e percli tla   .. Por; t m  teu   l'O to  da  pa s, .;; 1 tla  vid ,t

I11tla uns  ,est i io-.; 1-re mnlo.;: re ,·pla .


.-\ ,;.;;i m, <lo,; rud1•-.; f111·;1t·,ies  lia tid a ,

\"e llrn , expo-.ta ao-. fo1·u1·e da   p roc l'i la , l ' ma arvore de p\ sPrena e bella,

Inda se o,-..tenta, 11a  floresta erguida .


Ilaivoso o raio a lasea, e a (';;( n la , e  a  fomll' ..

Haeha-lhe  o  tronco  annoso "a-;, C'lll 1·i111a,

\'e1·1IP folha,_:P1n tr iu mphal sc e-;1C';id,•.



:\lat seg ura no d 1:io,, In<la os ninhos 10· 11"l'1,·

·a1· i lla ...  E11 d01 1·a 1

·a , e se r ea n i ma


.\ o chilrear dos pas,-;1ros de  ont1-'era.

G.


 102










l ; l TRECHO DE G.\-L TIER



(.\file de Jl a11 pin. )



E po1·quc cu sou a,-;sim quc   o mumlo me l't'pt>lle,

E e poi· iss •J 1ambem 11ue en   nada quel'O d'Plle :

,1inh'al111a  1'•  uma rcgiao  ridcntc  c, e.  pl1•111l11 r.,s:L

\11 :tppucneia : porem pull·iJa 1· pa11tanosa, Cl11•:a de c111a 11ac1i t•.-; mephiticas, l't'(>lc•t a

De immunJos ,ilJ1·ic1e,-;, como a n•giiio i11fe1·ta

11:1 B:i.ta,ia, de um a,· pc,tif'e1•,J c 11 0:·i, o . Olha a w;,;c:>1:wao : Tulipas d,· ouro ,ivo, F11l v,!"   naga--•-mri-;  dc:>  ampla  ('; )l•i ,a ,  llol't·,

l)p a11_:;-,·; ka , pompcamlo a opulcnci:1 1las c1,1•1•,,

\' i :u n ; ,ic;am rosae.-; dP p11r p 111·,1 1 -.·11•r in tlo

:: h o limpido azul de nm 1· Jo st•1·eno c i11fi111h. ..

\la-; a /10 1·(•.1 col'tina cnlrcabrc, e , i.· : - \., fo11dn,

.._, ; l ore o s  fropegos  pis 111ovcndo o corpo  imm1111do,

\' ac tic rastos 11m sapo hych-opico c nojcnto...


S.\R(,.\.'-: DE  FOGO


Olha e,;ta fon1c  agora  :  0  claro  firmamento Traz no puro cry,;tal, puro eomo um diaman1e.

Viajor ! de louge ,en-;, ardendo em sedP? Adian1e ! Segue ! Fora melhor, ao l"abo da jornada,

De um paufano heber a agua que, e,;ta 11ada 1?nt.re th podres juncaes, em rneio <la llon• 1a

Domw ... Fora  melhor  beher cl'c,-;,;' a ua ! :\\•-,ta Sc• a'"a"o a incau1a miio mcrgulha um dia a f!,PH1e, Ao sen1ir-lhe a frescura, ao me mo tempo scntt>

As pieada,; mor1al's  da-;  pec;onhentas  cohras, IJ11P colleiam, 1orcendo e destorcendo a,; dobra-;

Da eseama, e da a1ra hocca expellindo o Yeneuo...


1·. 11P: porque L' maldito e ingrato f'.-;te ierreuo : IJnarnlo, cheio tit• f,', na  eolhei1a  fu!ura, Ante;,osa.ndo o bem da proxima fal"tura,

Na terra, que feeunda P hoa 1e pa1·c•1·t>,

Spmea1·e-; t rigo, -    em ,ez cla ambiciouada mt• p,

E111 vez da e-;piga de ouro a ,;1·intillar, - ap1•11;:,; ('olheri1s o meirnc11tlro e a,; calJelluda-; penna-.; (Jue, eomo >'f'l"(>P"', IJl'audt• a mauch·agnra bruta, Entn• ,e,,ptat;iil',., de nsphodelo c· 1"icu1a.


Ninguem log rou jamais a1l'an•-.;,ar   em   vida A  floresta  ,-.pm  fim,  m·;.:ra  e  de -.;i:onheeid a ,

Que en ie nho dc111ro d'alma. E uma flc1•p-.;(a enorn:P,

Oude - , iq;em iutada - a na1ureza d,:1·me, Como nos ma1tagap-, da America e de .J:l\a f'rcsc•p, erespa e c•prracla, a lac;aria bra Ya

Do-;  flexiles  eipt',....,  e un ·o,; e  resi  ten1es,

As arvores a1ando em ,oltas de scn.>enlc•-.;;


10', S \RQ.\:'-  l>I•:   FOGO

L:'t dent I'<>, na e.;;p1''-''-'lll'a, enh·e o esplc1Hlor -,pl\ a p111

Da llora 1ropical, 11m, a1To,-, de folh:1 ge111 Balanc;am-se animal''-' fan1as1i1•0-.;, ,,11..;pe11s11s

',Jorl'e30s de 111na fi'1r111a ext 1·;10nli11a1·ia, e im1111•1isu, Eseara ye]hos qne o a,· l)('":1dn e morno agitam.

',1011-.,tra-; di' h i.1·1·11•1tlo aspedo e (a-.; furna..; 1t,1hi1am:

Elephan11'-. hrn1a1•-., hr n1ae s r h i11• wP r o 1111•-., 1-:._fl'P_:.:ando ao pa-- 11· c· , m1 ra o-.; 1·.i;..:1"'''" montl',

.\ rn;..:o-.a cour,1c;a P c,-,1wtl:11::rndo os t1·n;11·0..; Has al'\"OI'L'", Ii, , iio; e h ip popu1a1110 ..; l11·011cos De 1umido  f0t·i11ho t' rn·pl lt 1,-; e1·i1:ad as,

Batem pausadameate ;i,-; pat:i..; 1·ompa..;s1da--.

:\a clareira, OIHlc o s:il p1•11ctn ao meio-dia

0 a111·i,1'1·tle d o n· l da..; rama: """, c enfia

( 'orno mn a 1·1111lta de  om·o 11111 l'aio lumi111,..;,1,

E omll' um cahno 1·P1 ir o a1·lt:ll· eon1a,-;le ancioso,

T1·;rn..;ido d1• pa Yo r e11C·ont1·:i1·i1s - pis,·ando

( ►  olhos n·nk,, e o ar, ..;:ii'1•p, o,  l'espil'ando,

I ·111 ti;.;re a dur.nita,·, l'O!O a lingua rnh,·a o pelo Ile , ellmlo l u 1t'a nd CJ, ou, <'Ill 1·al111a, um noyelo DP IHlil'-', tlige l'iud o o 1ouro de,·orado...


Te111 1·e1·eio de t mlo ! U 1· ·o pnro P aznla<lo,

.\ hcn·a, o fl'lw1o urndnl'o, o ,,ol, o ambiente mmlo,

T 1:ch   ::•i;ii t• in or 1al.. . TPtn rP1°f'i•) d1• 1ud o !



E t· JIOl''Iue P:1 sou as..;i111 11m' o mumlo lilt' l'CJ.1Pll1·,

]-: ,; pur is,-;u ta.1111Jpm IJHP en nada 1p11•1·0 d'pll,· !


SARQAS DE FOGO I I)-,








O LDII'.\.\R 0.\ :\IOHTE



Granrlc lasci \'O ! cspcr.1-tc a vnl11pl11n,i,I 11lc

do   narla.

(Jl acilado de .Is,si , ur: \Z r.:·n \'-.


E'ngelhadas a-., t: i:-l's, C'-' 1",d,cllo" Brancos, ferido, 1"hcgas da jo1•,iath.

Ht>,t''-' da infaneia o-; dias; e, ao rc,Pl-i:-.,, Que fundas maguas na alma lacera1la !

Pitras. Palpns a 11·e,n e111 1oriv,. Os gclo-s Da velhil"c te cP1'!'a111. Y1•-; a c,-11·a1l:t

:\pgra, eheia de somlira-;,  po,oa1la De atros Pspectros P  clc pesadelo,...


Tu,  c1ue 11mas1e  c  :--offn---dP,  agora  o-s  p a,,., ,    -;

Para meu lmlo moves.. \Ima Pm pr a n1,:,- , Deixas o-s mlios clo mm11lnno inferno...


Yem I que emfim goza1·/1-s entrc 111p11-; lira•:••• Toda a ,·ol11pia, toclos ,,-; c ncan tos ,

Toda a deli1·ia clo n·pous o eterno 1


10G SAR \ 'AS  OE  FOGO










P.-\RAPHR.-\SE DE BAUDEL\.1HE





.\ ....,.im ! Quero senfo· sohre a minha ralie(:a

0 pe--u d'e-.,:.a noi1e e m liak 1ma da e e'-pt'""a ... Qne suarn cr.101·, que Yolupia <l iYina

.\ -, canw mepene rr a e O'- nervos me <lomin.a !

.\ h ! deixa-me a.;;pi1·ar   indefinidamente

J-:-,le aroma suh1il, e--tl' perfume   ar<lente !

De ixa - me ado1·me1·er en Yo lt o e m 1<'11s cabello-. 1 ...

Quero ,-.en1il-os, quero aspiral-os, SOl'Ye l -os,

E n'elle.-,; mergulhar louca mente  o  meu  rosto,

Como quem vem de  lon;.:e, e, ,is  horas do sol po,lo,

.\ cha a um canto !la e--t r a tla. uma u n -,1-e nt(' pura, Onde 111it i;;:1 :rncio-.o a si•de que o 1or1rn·a .. .

(Ju e ro le l-o s na-- m iio-., e ag il al-o,-, (':111t:111<lo,

1_'0 1110   a um le r wo. 11elo a1· --:1mlad es e-.palha ntlo..

.\h  ! -.e  p rul( •-,-.p,- Yer  tudo o qne  n't·l h•,.;  Yejo !

:\leu  d,1"   rn i1·a do  amor ! 111ea  in,-.ano 1Je .,l'jo !...


!--_\RQAS  DE   FOGO


Tl'll" (0 alicl)o-. ('Ollll III   uma\ isao  rompk•ta

--;- Lnr a-. :1;.:11a-., 1110,t>ndo a -.11perli1·i<' i11,p1i<.'ta, l'heia 1le 111n turbilhiio tie Y<.'la-. t' ,le 111a -.t1•:,-., uh o c-laro docel palpitaote tlo-. a -.t r c,-..

( ';1 Ya--.1· o mar, ru;.:imlo, ao J"I "" du-. u::, j.,...

lit' toda-. a-. 1ia1:1•l'" e todu-. os ]i_,itio-.,

lk -.l'n rola mlo no alto a-. flammnlas ao Y<.'nto,

E 1·t•t·orta1ulo o azul do limpo fil'l11anwnto,

uh o (pial ha nma etl'rna, uma infinita n l111"1.

107



E pr<'\t' lll<'ll olhar <' pr <''-<'1111· minh';dma

l.011;.:l', - 01ule, ma i... profu11do <' mai:,; az11l, -. p a r, Jlll': a

O c i o. nmlP ha mai-. luz <' 01HI<' a at 1111· -.ph <'ra ,  1·lwia

l) p ;11•1:111:l"'. ao repoUSO e ao ruyagar l'Oll\' itl;1,

·I m paiz enran ta do, uma l'<'g iao q1w1·itla,

1-'n•,   :·a,,   111Ti ndo  ao  -.ol,  enti·e  frurto-; <'  fli'11·c•--

- T<.'1Ta -.:1111 a <la luz , do !iou ho e d t: -. a11101,'l ' : T ,•1..-;1 1111e nunea Yi, terra ({II<' niio l' Yi, tr ,

" -- da qual, l'11tretauto, eu , tl,·-tl'l'l'a1l0 e tr i- 11•,

:-:;int o  no e,:ra,::io,  ralado  dP- a rn·it>dadl ' , l'ma -. : llllad t> eterna, uma fatal ,-am l:1 dl• I

:\linha p:ttria i1lPal ! t-:m Yi'io r, tl ' 11do o<; br ac,o -; Pa1·a tPu la1lo ! Em Yao pa1-.1 tru l ad o o-. pa -.-.·i -.

" oYo! Em Yi'io ! :\ unea nm i-. <'Ill te u -.pio atlorado Podl'I'<'i 1·epo11sar 111eu rnrpo fat ig ad o...

\ 11nl'a uiai-. ! 111111ea mai-. '. ...

ol1 r',   a  111inha  <.'a li<':.a ,

Q11eri1la  ! al11'l'   <'""a  uuitP  ('11d1a l-.a111:11la  <'  <'-,.p •-.-.:1 1

D1s•dobra  --•1l >1·e   mim  o:,; te u-;  ne ;.:1··:-   <.'abello-. '.

Q11<'l't1, "':)1'1<· ',.:o <' lo ul'O, a-- pira l- c,;, mortlel-o • ,

I:, Le li1•1.h>  dl'    am " l'.  n  -.e u  }l<''>O "'l'III indo,


S_\ !t   <_:A:'-   DB   FOGO


\'cllcs Jon11:i- enrnlto e ,:,l'I' f1•li1. dol'min<lo•. .

.\h' --1• 1111dt•----L•,; \l'r tmlo o 11ue n'clles vejo '.


.\lc11 d1•-;n1:1•ado :u1101· ! -" e 11 i11-;·1110 cle sej o !


S.\ lt ◄ : AS DE FOGO 109









lUOS .E P.\ NTANO S




;\lnita H' z hom·p <;"L o dentro tll' um peito : Geo cobP1·to de p-,fr pll as 1·es plendPntP s, ohrP rios ah·iss i mos , de lPito

OP lina prata e margens flore sce n1t•s...


Um dia ,·e io, em <(UP a dP-sc t·en<;a o aspeilo

,tndou de tudo : em tul'bidas Pndwnte-.,

.\ agua um manto de lotlo P trevas feito EstpndP11 pPla" YPigas 1·p-;[·entlPn te s.


Ea alma que os anjo,i tie aza solta, os sonho-;

E as illusoes cruzal'am revoando,

- DPpoi-s, na supp1•ficip hor1·e11<la e fr ia , .


o ap1·esenta pa ntano s medonhos, Onde, os longos sndarios arrastanclo, Pas-sa da pe-;tP a legiiio som bria ...

7


110 SARQAS DE FOGO









DE YOLTA DO BAILE





Chega <lo bailc. Dcscansa. Mon• a eburnea YPntarola. Que aroma de sua lran<;a Yoluptuoso ;,;c evola !


Ao vel-a, a alcoya {!p,-;prfa

E muda alt'> entao, Pm  roda

Sentindo-a\ treme, d1•-.pcrta E e festa e delirio toda.


Despe-se. 0 manto primeiro Retira,  as }uya;,;  agora, Agora  a;,;  joias -   chuwiro De pedras <la cor da aurnn1.


E  pcla,, pcrolas,  pelos Rubins de fogo. e diamantes,


SAR( ' AS  DE FOGO


Faisc an<lo nos seus <·11 hellos Como e"'trellas <· on N:antes,

t11



Pelos rollares t-rn dohrns Enrolndo--, - pelos fin os Dra<'ele1t-s, corno cobra s

,ror<lendo os Lr:1<:os d ivioo 1< ,


Pela grinalda de flores,

Pela" sedas que se agitam lurmuranclo e asy ar ia s ci1res Yirns do :irr o- i1·i,; i111ita.m,


- Por tudo, as m iios inquie fas Movem-se 1·:ipi cla mente ,

Como um par d<· hor hole tas Sohre um jardim florse cen tl'.


Yoando em tor no , in fini ta s, Precipitacl:i", Yiio solta,; Ilevoltas  nuy   e ns  de  fit as , Nuvens de 1·enda s re volta ,;.


E, de entre as rendas e o arminho, Saltam seu,; seios rosaclos,

Como d<> dentro de um ninho Dois pa ssa ros assusta do s.


E da lampada su pensa

Treme o clariio; e ha p111· tudo


112  

111a :1:..:i t a1:iio i1111111•11-,:i,

; Il l  t•xta--1• i111 t11l' ll" I I C 1nntlo.


E 1·0 1111> quc p 111· encanto,

, ·11111 longo 1·11111or de Lcij o,-,

Ha yoz,·s t•111 ca<la 1·:111111

E c111 1·ada canto de-;ejo,-...


\lai-- 11111  ;..:.1• to ...    E,,    a:,:a1·o s a>

Dos homhros solta, a 1·;1111i--a Pelo ,-,•u  1·or p11 - a moro sa E seus ua lmentc dt•-<l i-,a .


E o tronco altiYO e di1·Pito,

( I bra-;o, a cur, a macia

Ha cspa<lua, o talhc <lo pcito (Jue de tao lwa neo i1·radia ;


0 Yentrc quc, como a IICH', Firmc e ahi,--,i11111 ,-p ar1p1eia E ap1•11a-; cm haixo nm h·H' Bu1:o 1lo111·atlo somh1·cia ;


.\ 1·11xa firmc quc 111',-1·1·

(:urvamcntc, a perna, o artclho: To<lo o s1·11 1·orpo appart•1·1· uhit;i111e11(1' no 1•,-;pellw .


.Has logo um .Jp-;]11111l11·a11wnt11 Sc e,-pnlha na al<-oYa intei1·a :


SARQAS DE FOGO

Com um rapido mo,imento Destouca-se a 1·a liPlleira.

113



tJue riqni-.;simo tlwsouro

:\'aquelll's fios dardl'ja !

I como uma nu,ern de ouro

Que a e1nohP, e, e111 zelos, a lie iia .


Toda, coutorno a ,·ontoruo,

Da fronte aos pi·s, 1•p1•1·a-a; e e111 omla-; Fnlvas derrama-s,• em torno

De suas fbrm;is redondas;


E depois de apaixonada Beijal-a linha por linha,

t 'ae-lhe :is cost,1s, desdohrada

('.omo um manto dt> rainh:1...


lH SAR<; \S  DE   FOGO










 





La yao  elles,  \(1  Yiio !  0  e:\o "l'  :ll'(fllC'ia Uomo um  tel'to  de  bronze iufi1ido  e  qnentl', E o sol fuzila P, fuzilando, :11·dl'r1tl'

Criva <le flech:i-- <le :u:o o 111a1· <le areia.


Li\, vao, com os olhos 011lle :i ,-;1•dl' a1l'ia

1· 111 fogo p..;tranho, procurando em frentc Esse o:isis <lo :imo1· <111e, d:irameute, Ah\m, hl'llo c fallaz, se delineia.


i\las o simun da morte ,-;opra : a fromli:1 Convuls enYol,e-os, prosfr:i-o..; ; l' apl:w 1la Sohre si me--ma roda e p:\lwu--t:t tornli:i ...


E o sol de 110\'o no igneo 1·:;o fuzila... E sobre a ,-;1·1·a1;iio e'\te1·rni11:ida

A areia <lorme placida e fr,m1111ill:1.


SARQAS DE FOGO 11G








BEIJO ETERNO




Quero um beijo sem fim,

Que dnre a ,ida inteira e aplaque o meu desejo ! Ferve-me o sa11:-;11e. Acalma-o com teu beijo !

Beija-me assim !

0  ouvido fecha ao  rumor Do mundo, e beija-me, querida !

\'ive s6 para mim, "it> para a minha ,ida, S6 para o meu amor !


Fora, repouse em paz

Dormida em calmo somno a calma :\"atureza, Ou se debata, <las tormentas preza, -

Beija inda mais !

E, emquanto o hrando calor Sinto em meu peito de teu seio,

Nossas boccas febris sl' unam com o mesmo anceio, Com o mp,;1110 ardente amor !


116 ,:; _\ R(' AS DE FOGO

De arrchol a arrcbol,

\'iio-sc os dias sc m conto ! c as noitcs, como os dia ,

:,..cm conto ,·iio- -.l' , calida-.; ou frias !

Rutilc o sol Esplcndido l' ahra zad or !

:\o alto as p-.1 rcllas cor11,-;1•:i nt C's ,

Tauxiando os larg o,; (·t'•o,;, hrilhcrn como diamanirs !

BrilhC' arp1i dcntro o amor !


...;tH'<'C'lla a tren1.- it luz !

\'cle a noite de 1·r<'pt'  a  cnna  do horizonte; Em Yi•os de opala a madrngada aponte

:\'os ceos azucs,

E Yenus, l'orno uma !for, Brilhc, a sorrir, do Occaso ;', porta,

Br il hc a port a do Oriente ! A trern c a luz -- que imporla?

:-;{, nos importa o amor I


Hairn o sol no \'erao !

Yenha o Outono ! do lnverno os fl'igidos vaporC's Toldem o ceo ! da-, an•;; e das !lores

Yenha a C'star;ao !

Que nos importa o 1·splcndor Da Primavera, e o firmamcnto

J.impo , e o sol scint i llante , c n   neve, e a chuva , 0   o venlo?

- Bcijcmo-nos, amor !


Beijemo-nos ! quc o mar

:'\ossos beijos ouvind o, cm pasmo a YOZ lernnte ! E cante o sol ! :i ay(' desperte c cante !

Cante o luar,



AfU.,'AS   08   FOGO


( 'h<>io <le nm noYo fulgor !

I 'ante  a amplidao ! can1l' a floresla !

E a   :\atnreza toda, em delirante festa, ( ·ante, ea111P p-;jp amor !

117



na guc- P, {i  noite, o yCo

Oa!-! neblinas, e o vento imruira o monte e o Yallc

--- Qnem l'anta ac;-;i111 ?-)) E uma aurea estrella fa lie Do aIto <lo eeo

.\ o mar, preza <le pavor :

-  Que agitai:i'io ""tranha 1\  aqnella? -

I·: o 111:tr adoPe a yoz, e ;'1 cn1·ios:i eslrella Hespon<la l{lie i'· o amor.


E a an•, ao sol da manha,

Tamhem, a aza Yihran<lo, :t estrella l[He palpi1a Hesponda, ao YPl-a dPsmaiada P afllicta

- Que heijo, i1·ma !

Pudpssps , Pl' com que ardor

Elles SP heijam loueamen1e ! -

E inveje-nos a estrella ... P   apagnp o olhar dormente,

:Morta, morta de amor !...


Diz tua hoeca : - YP111 ! - »

" -    Inda mais ! -»    diz a minlia, a sohu;ar... Exl'la111a Todo o mPn eorpo qne o 1eu c01·po d1ama

- '\lo1·1h• tambem ! - "

Ai! morde ! l{l!e doce e a dtir

Que mp entra ac; carnes, e as tortura !

BPija mais ! morde mais ! que en morra de Yentura' '\lorto por ten amor !

7.


118 S.\Rt;'AS  DE  FUGO

Quero um beijo sem  fim,

tJne dure a vi.Ia iutei1·a e aplaque o 111e11 desejo!

h·rve-1111• o sa ugue : aealma-o  com teu beijo !

Beija-me ;i-.,-;i111 '.

0  ouvido  fecha  ao  rumor Do muudo, l' beija-me, <p 1erid a·!

\'ive so para mim, st', pa1·a a minha vitla,

:--t'l p1t ra o men amor!


SARQAS  DE FOGO 119









POMBA E CHACAL




0 Natureza ! o mae pie dosa e pura !

0 cruel, implacawl assassina !

- Mao, que o Y<' nen o e o balsamo propina, E aos sorri-;o,-; as la grima s mi stura !


Pois o ber o, onde a bocca pecrnenina Abre o infante a sorrir , e a miniatura,

A vaga imagem de uma sepultura ,

0 germen vivo  de uma atroz ruina ? !


Sempre o contraste ! Passaros canta ndo Sohre tumnlos... tlores sobre a face

De ascosa,-; agua ,-; putricJa._ boia ndo...


Anda a tr isteza ao lado da alegria...

E esse teu ,-<'io, d' ond e 3: noite na sce, E o mes mo seio d'onde nasce . o dia ...


120 SARQAS DE FOGO










MEDALHA ANTJGA

De Lisie.


Este, sim ! YiYcra por spculos l' -.p1•11los,

Vencendo o olvi<lo. Soube a sua mao deixar, Ondeando no negror do onp : poli<lo c rutilo,

A aha  espum:t do mar.


Ao sol, bella e ra<liosa, o olhar surpreso c l'xtatico, Ve- se Kypre, a feic:iio de uma jove n princeza, Iollemente emergir a flor da face tremula

Da liquida tun1ucza.


Nua a deusa, na<lan<lo, a oncla dos scios tumidos Leva diante de si, amorosa C' spnsual :

Ea onda mansa do mar honla «le arg cntco s fl,wrul os Seu pc,wo o immol'lal.


· Livre <la s fitas, solto em quc.Jas de ouro, cspalha- se Gottejante o cabello : e scu corpo cncantado


 121

lh·il ha nas agna s, como, enfrc Yio lefas humidas, I'm li r io imma cul:ulo .


E nada, e folga, emquanto a-; ba1·batanas asperas

1-: n-; fulvas caudas no ar batendo, c em derredor Tnl'rn111looOcenno,em grupo os delphin ,- atropelam-f-e

Para a fitar 111t>l1 J< : 1·.


122 · SAll AS DE FOGO








NO C.\RCERE





Porque hei-d.., e111 tudo quauto ,ejo, ,el-a? Porr1ue lwi-<le etl'l'lla a-;-.;i111 repro<luzida

\'el-a na a,;ua <lo mal', 11a luz da   ps(l'ella,

:'\a lluve111 de ouro <' 11a palmei1·a t•1·;.;11icla '


Fosse possi,<'l st••· a  imagem  tl'e lla D<'pois <le ta11ta-s ma;, uas e,;11'll'('idn !. . . Poi s acaso sed, para t•,-q11t·•..- l-a,

:\list,·r e fm1:a 1111e 1111· tleixe a vitla?


Negra   kmhrarn,a   <lo   pa-s,;ado ! lento l\Iartyrio, 1, · uto e a1roz ! Pol'Cp1e 11:io ha-tle er dado a tocla a ma ;.;ua o ,·--•111ecimento·?


Por11ue . <J11<'m me encatleia S<'tn pie<la<le No 1·a1·n•1·e sem luz <l' <',;(e tormento,

Com os prsa tlos g1·ilho c-s tl'esta. sautlatle?


SAR(:AS   DE  FOGO 123









OLHANDO A CORRE TE




Pue-tea margem ! Contt>mpla-a, lentamenk, C1·espa, turva, a rola1·. Em Yiio intlaga-.

A C[Ue parageus, a que longe-; plaga-; Desce, uhtla n<lo , a. luguhn• torrente...


Vern de longe, tic longe Ouve-lhe a-; pragas !

ue infrene grita, que hramir freC[ueote, Que coro dt> blasphemia,; sur<lamente Rolam oa C[Ueda tl'e-.;;as oegra-; yaga-;:


l'ho1·:i-. Tremc-s ? E tanlt'... E,,,-;c-; Yi olen to,; f.rilo-. c·-wuta ! Em lagrim a -s, tr istonh !sJ ,

F echa s os olhos ? Olha  ainda o  horr o1·


D'aquellas agnas ! Ye ! Te11-. juramentw; La viio ! la Yao lerntlos OS II I CUS sonh os, L:i Yac lerndo to<lo o oosso amor !


124 SAR( -\ S DE FOGO









Tenho frio <' ardo em febre !

0 amor me    acalma enclouda I o amor me eleva c al.iat ! Quern ha 1cue os lai;os, 1p1e mP prendp111, quPhrc '? Que ,-ingul:-t1·, qu<' desigual 1·0111batP !


:'\iio "Pi qne hervada fr echa

.\J o PPrteira e fallaz me 1·raYou  com  tal  geito, Que, sem que Pu a senti,;><P, a PstrPita hrecha

.\ IH'in, por 01111P o amo1· entrou men peito.


0 amor me entrou tiio 1·;111to

0 ineauto corai;iio, que eu nem cuiclei 111w <' ,t:l\ a

.-\o 1·ecebel-o, 1•pt•Phendo o arauto D'P><ta loucura 111'-ffairada e hrava.


Entrou. E, apenas cle: 1ti·.i,

Den-me a calma do l' O e a agi tn( ;: fo 110 i11fp1•no...

E hoje... ai ! 1le mim, q11p dentro Pill mim con('('11t1·0 l>,'n·Ps P gostos n' nm lnrtar PtPrno !


0 amor, :-,pnhora, Ye 1le :

Prendeu-me. E111 Yao me P><tori;o, P 111p clebato, e ,,l'it o ;


f-:AR('AS DB  FOGO


Em Yao me agito na apertada 1·edc...

.\la1;; me embara<:o ({trnnto mai,; me agito !

12:,



Falta-me o ""11,-,u , a P,;1110,

I 111110 nm cego, a tactear, husco ll<'III ,-pi que porto. E an<lo tao differente de mim mcsmo,

IJn<' n<'m '-<'i "'" cstou Yivo ou "" estou morto.


ei <{UC !'nh·<' a<; nme11;; pai1·a

.\linha  fronte, e  meus  pt•';; an<lam  pisan<lo  a  tcrra; '-ci <1uc tudo me alegra e me dt•srnira,

E a paz de<;fructo, supportando a gucrra.


E a,-,-im peno c assim YiYo: (Ju<' diyerso qucrer ! quc diversa Yonfadc !

'-<• cstou Jiyrc, dcsejo estar captivo;

!'-(' <'aptirn, dcsejo a liberdade !


E a-;,im viYo, P a-.-.im pc110 :

Tcnho a bocca a sorrir c os olhos ehcio-; de agua, E arho o nectar n'um calix (le Yencno,

:\ C'horar de prazer c a rir de magna.


Jnfinda magua ! infindo

Prazcr ! 11ranto gostoso c ;sorrisos conn1J;;o, I Ah ! como doe as<;im YiYcr, sentin<lo

.\ za.;;  nos  hombros  <'  grilhoc<;  110,-  pulsos !


126 SARQAS DE FOGO








NEL MEZZO DEL L\l\IIN...





Cheguei. Chegaste. Yinhas fat-igada

E fri-.tc, e iri,;te e fatigado en vinha. Tinhas a alma de sonhos po,oada

Ea alma de s011ho,; povoada Pn tinha ...


E pariuno;; dl' subito na estrada

Da ,ida : longos annos, presa :i lllinha

,\  iua  mao,  a  ,i,;ta  dc;;lumbrada 'five da luz que 1P11 olhar rnntinha.


Hoje  segues de norn...' \'a  partida

:'\crn o pranto os teus olhos humedece, i'\e111 te commo,e a dor Ja de-;pe,lida.


E eu, solitario, volto a face, e tremo, Yendo o ten vulto qn<' dt•-;apparece

\'a l':-.11·e111;1 ,·111·va do cami11ho extremo...


SAni;_\S  DE  FOGO 127










SOLITUDO




J(1 que te ,; grato o solfrimeuto alheio, l

Yae ! :\'iio fique em minh'alllla nem um trai;o

:\'pm um V(",tigio ten ! Por todo o es pai;o (• ('-;ien<la o Int o ear re gado e feio.


Turwm-st>  os liu·  os ei-os...  :\o  leiio esca-.;.;,o Dos rios a agua seque.•. E eu tenha o seio C'omo um deserto p:tvoroso, eheio

De horrores, sem signal (le humano pas-,o..


\'ao-se as aY('S e a-; flores juntamente Comtigo... Torre o sol a verde alfombra,

.\ areia e1rrnha. a s11li dao inteira ...


E so fique ('Ill nwu peiio o ahara ardent1.. e111 um oasis, sl'lll a e,qui, ·a sombra

De uma isolada e t remu l a palmeira !



 











A C.\NCAO DE ROMEU





.\ Jm, a ja,wlla... accorda' Que eu, si, por te accor<lar,

Yon pulsando a guitarra, cor<la a cortla,

.\o luar !


.\s estrPllas surgiram To<las : e o limpo vt'·o,

f'omo lirios alvi-.;sirno.;;, cohriram

Do e:•o.


De to<las a mais hella Nao veio inda, por,:m :

Falta nma estrella... E tu!  .\hrP a janella,

E mm!


.\ alva cortina anciosa

Do leito entreahre; P, ao chao


SAR 1; AS DE F OGO


Salta n!lo, o ouvido presta i1 lia n non io-,a

C:rn1; iio .


:-:-blta o-.; cabello,; dl!'io,-; De aroma : <:' sc 111 i-1u1' ",

Sui-jam  formo ,;o-.;,  tr  c mul of;,  l<:'11-.;  "'l'i11,

, \ ' luz,


nepousa O cspai;o lllll(lO; Ne rn uma aragcm, ves !

Tu<lo t'· s i lcncio, tudo calma, tll(lo

:\l1Hlez.

129



,\ IH'P a ja ne lla , accorda !

Q\le eu, so poi· tc at·c01·<lar,

, ·011 pulsan<lo a guitarra cm·da a conla, Ao luar !


Que puro ct·'o ! que pura i\oite! nem um 1·umor...

,·. a guitarra em minha s maos murmura :

.\11wr '....


Nao foi o vento bran<lo Que ouviste soar a!1ui ·

E o cho1'0 <la guitarra, pe1·gunta11do Por ti.


Ni'io foi a  a,c   !ill<:'  ouvi ,k;   ,

( 'hilr antlo 101 j an lim :


130 S .\ H(' .\ S n ! : FOGO

Ea guitarra q11C' ;.:1•11w t' trilla 11•i,-.te,

. \ -.., im.


Yem, !flit' l'--1a , uz -..p1-rt•1a

(: o 1·:1111 0 dP l:Cnwn : Aeeorda I quem t t• cha ma, Julie1a,

:--011 l'll !


Pon;   m ...   f I  t· n1o  Yi a ,

jJt,1wio ! a  ;1111·o ►1·a,  Pill   H•o;;

De neyoa e ro--n, ,  11;01 d t>, tlol11·e o dia

;:"\o, t·,'·o, .. .


Sileneio ! qne ella aecorda...

Ja fulge O " (' II olh ar...

Adormec;a a gui t a1·1:·1, t·o1·tla a corda,

,\ o l11a1· !


SAR(:AS DE FOGO f31









A TENTA(:AO DE XENOKR.\TES







l'iada turbava aquelbL vida ausiera : Calmo, tra ada a tunica ,-('n•1·a,

(:urva a fronte, cruzando a  pa,.,-;n-; lentos As alea-; de platano,-, - dizia

Da-. facuhlat!C'-; <la alma C' ,la theoria De l'latao aos ,di wi pnlos aitC'ntos.


Ora o viam pC'rdPr--.1·, eo1u·C'11trado, '\o  laliyriniho C'>'r11,o de inirinulo

f'onirowrso e sophi-.;f ic·o prohlema, Ora o-; pontos obscu,•o-.; e'-plic·ando Do Ti1111neu, e  seg uro manejando A lamina higumea do dilemma.


13:J S AIU _: .\ S   DE FOl,U

,tuilas , !'LP-.,  na-;  miio"'  pou-;ando  a  front•·, ( 'om o , :1:,.:0 ollwl' p<'nlitlo 110 ho1·izontl', Em pertinaz medit:11:,10 fil'aYa ...

.\s,-;im, junto i,s sa:-:1·atlas oli,ei1·as, Era immoto ,-,p11 corpo hol'as inteil'as,

;\fa-; longe d'elle o e-.pi1·ito p:iil'a,·a.


Longe, :il'inw do humano fel'vedom·o, Sohl'(• a-.; 111tH'll"' radiante:-,

Sohre a pla11icie da-; l'-.tn•ll;is dt• om·o

:\'a alta esphel'a, 110 paramo profumlo Onde nao Yao, t'l'l',lllte,;,

Brami1· a-.; vozes tia-, pai:1.1-,e._ do mundo :


.\hi, na !'lt•1·11:1 calma,

Na eterna luz dos ceos ,-;ilPnl'io:;o-., Yt"ia,  abrindo,   sua  alma As azas imi,,i,Pi",

E interrogando os n1ltos 111;1gc,-;lo-;o-.

Dos deuscs i111p;1s-;i, ci,-;...


Ea noite dc-.;t•r, :11'11111:1 o fiemamenlo ...

(la somcntc, :1 (•,-;pat:w,,

0 prolongado su-.;surr;u· do , l'Hto...

E expira, :,s luzes ultimas do dia, Todo o rumor de passo:;

J>elos ermos jardins da .\l'atil'mia.


E, longe, luz mai;; pura

Que a e:d incta luz d'aquelle dia mol'lo Xenokrates procura :


 133

Immortal da1·icla<l('

Que c protN·<;:io e amor, ,icla ,. eo11forto,

Por11ue i· a luz d,i wnladc 1





II



Ora La·1s, a siciliana 1•-,1·1·a, a

IJ1w .\ pelles ,;Nluz i l'a , amada e lJl'll .i Por ('•,;-,i• tempo .\ thena-; clomina,a ...


\e111 o frio Demosthe11(',.; al ti, ·o

Foge-lhe o iutpPrio: do-, euca11to,.; d '1· ll .1 , f'11na-se  o  prop1·io  Diog,•11('-; 1·.rptiYo.

:\ o c 111ai01· l(Ul' a .,,ia a l'111·,rnlado1·a

f;n11: n da -; formas nitida ,.; e pm·as

Da it'l'l'"i"'tirnl Diana ca1;adora;


Ila 110-, ,.;l'11" olhos um pocll•t· di,ino; Ila venenos e perficlas cloi;m·as

Na fit:t de Sl ' ll labio purpuri110 ;


'1'1·111 110,.; >Sl'IO" - cloi,-, p a --,-,:1 1·0 ,.; q111• pula111

:\o conlacio de um beijo, - 110., pe1p1eno-; Pi'•,;, 411e a-, sa nclal ias  sofregas u..;1•11l am,


i'ia coxa, no (p1adril, 110 torso air u,;11,

8


134 RAR  •_ :\   S     DE FOGO

Todo o primor da C':tll yp i g i:1 \'C>nus

- E-;tntua  Yi,n  e  C>--pk1ulida  do  (;   o  zo    .


f' :1' Pm --lhc aos pt•' ,- a, pei·olas C' :1, 1·1, ,1·1•.-.,

.\ ,- drnchma,; tlP ouro, a" al11ias  t•   o,; [ H'C '-C'IIIP '-,

Por   uma   noitc  de  ft> IJl'i>< 111· do re....


Heliostes c Eupatridns -;agratlos, Artistas e Orntlorc,; C>loquentcs

Leva ao 1·ar1·0 de gloria a1·01·1·entados. ..


E os  generaes  indomitos,   n.mcidos Vendo-a, ,;pnt e m  por haixo da,; courac;as Os corat;i'il'S de suhilo feritlos.





III



Certa noitc, ao clamor da fcsla, em gain,

.\ o som continuo das lanadns ta,:as Tinindo cheias na e><pn,;o-;a sa la ,


Yozeava o Cera mico, 1•pp]cto

De corlC>zan, c 11.".rC>s .. \, mai,-; hellns Da-;  hci,:, I'( ,; de    amos  c  :\ li l Pfo


Eram  to,las  na  orgia.-1:.,f a-;  hcbiam, Ni1' as, a tlc usa C'c rc--;. Longe, aquella-;


SARQAS DE FOGO

Em an imadcs gmpos di-.cutiam.

135



Pen<le ntc,; no ar, em n11n•11s <lensas, Yarios Quentes incensos indicos queimaodo, Oscillavam <le lern os incensa rios.


Tibi os flautins fiu is ,;imos gritaYanl.

E, a,; <·.111· ,11s  harp as  de  ouro :ll'ompanhan<lo, Crotalos clam,; <le me l a l canl:l\arn ...


0 espumeo Chypre a,; faces dos conYi,·as

,\cceu<lia.  oarn m <lesrn ira <lo,; Febris acccntos <le can,;ocs lascivas.


Yi a-se a um lado a palli <la Pl u··nca, ProY-0can<lo os olha rc,; tlr s ln mbrado s E os sen,;uae s <le sejos cla a,;,;c1 nbl ea.


La'is alem fala,·a : e, de seus labios Suspem ;os, a bcbcr-lhe a \' OZ ma, iosa, Cerca Ya111- n'a Philo sophos e Sa uios.


l\ 'isto, cntre a turba, ouvin-se a  zombeteira

\'oz <le .\1·i ,;tippo : - Es bella c po<le1·osa, LaYs  !  111a,;,  poi· quc sejas  a  p1· i111e i1·a,


,\  mai s  il'n •s is f ivel   das   het i'•l'c,;,  l'lllnp1·e <lomar Xenokratcs ! Es bella ... Po<le rils fasciua1-o, se o qnizercs !


Doma- o, e seras 1·ai nha ! - , Ella so1Ti a ...


 136

E apo-.1011 que ,  suh m is ,;o <,'


ii,  n'a.qnella


,1esma  noite a  ,-;p11s  p i'•., o  p1·ostra1·ia .


.\ postou  e  partiu...





IY




:\'a al1·m a muda P quieta ,

.\ J)<'llllS "<'  ('  S f01I faYa.

Len·, a  a1·eia, a 1·ahir  no,  idro da  ampulheta ...

_\ern',l,ratC's Yelaya.


,1as   qne   harmonia   p-;j  ranha, tJue ,-,us,-111·ro la fbra ! .\gita•'-'<' o a1•,·01•p:I,, tJm· o limpido Ina,· ,-;('t"<'ll'lmente lnnha

Treme, fala em '"'''. t·i'do ...


.\ ... <'Sfrellas, que o ,.:.o cohrem tlP la.do a l:11l0,

. \  agua omle:llttl' do.; lagos

Fi1am, n'ella espalhando  o ""11  (·la?·:i o tlonratlo, E111 timitlo.; alfago.;.


t',lta nm ]lll"'-'lll'O O (':lllto.

Ila mn (·lrniro d<' 1·arn<' :'1 h<'ira tlos caminho.;... E a(·(•<wdaw ao luar, como que pot· <'IH"anto,

E-;trC'11tecendo, o.; uinho.;...



SAR  AS  DE  FOGO


Que indistincto rumor '. Yihram na yoz do Yento

137


Crebros,, ·irn s :11·pejos.

E yae da terra e Yem do curYo firmamento Como um damor de beijos.


Com a-; aza-.; de 0111·0, em roda Do ceo, naquella noill' humida l' <'lar:i, Y(>a

Alguem Cflie :i  tudo :iccorda e a natnreza toda De desejo-.; pO\oa :


E a Yolupia qne p:i-;-;a e no ar dc>,;lisa; p:i..,a, E os eorai:ues infl:imma ...

L:\ ,al'' E, sobre a 1erra, o .\mor, da cm•ya 1a a Qne tr:iz {i.;; 111ao,-, den·am:i.


E entretanto: deixando

A :ilva barba espalhar-se Pill rblos sobre o leito, Xenokrate-; medita, :is m:igra-; miios cruzamio

Sohre o esc:irnado peito.


,-i..m:i. E tao aturada ,; a "(•i,-ma em quc> llnctu:i ua alma, e que a regiiie-, ignotas o transporta,

- Que nao sente La·i,, que ..urge '-emi-ni'm Da mmla alcoYa :'i porta.









8.


138 SARQAS DE  FOGO





V




E bella assim ! Despren1lt• a lrnemi<le. Bernita, Ou<leantr a cal,Plleira, aos nin•o-; hombros ,-;olta, Cobre-lhe os seio,-; m'1-; r a cur\'a <los quaJris, N'um louco turhilhao <le am·ros fiu,-; ,-;uhtis.

Que fogo rm ,:;e11 olhar ! YPl-o i'· a ;.;rns pt;,.. prosiraJa

.\ alma ver ,-.upplicante, rm  lagrimas bauhada,

Em de-;rjos a1T1•;.;a  ! Olhar tliYino I   Olhar

tJue encatlria, e domina, e arrasta ao -;1•u altar

0,-; que morrem por ella., e ao ceo 11edem mais ,iJa, Para trl-a por ella intla nma wz perdida !

Mas Xenukra.ks ;,;t•i-;ma ...


J'.: em  Yiio que,  a  prnmo, o sol D'esse olha.r a.bre a lnz n'um raJianie arrebol...

Em Yao! Yr111 tarde o sol! .Jaz 1•-.ti11cta a cratera; Nao ha Yida, nem ar, nem lnz, m·111 primavera : Gero apenas ! E, em    Pio envolto, e1·gue o ,ulcao Os llancos, enfrr a ur,oa r a opa<'a 1·P1Tat:iio...


Scisma o sabio. t)ue impm·ta aquelle corpo ardentc

Que o em·olvc, c cnla\·a,  e  pre ndc , aper(a loucamente '!

Fus,-;e cadawr frio o mudo a1ll'iao ! talH•z

:\Iais sentisse o calor d'aqudla ebumea  foz r •..


SARQAS DE .F(J c. (J 139

En1 viio L, a· s o abrai;a, e o nacar:ulo labio

Chesa-lhe ao labio frio... J-:111 viio ! :\letlit;i o sabio, E nem --t>nte o calor <l\ •s -..e c orpo q111· o attrite,

\l'lll oaroma fehril que d'e ,,.s a lto1·r·a ,,.{1e.


ella : - Yi,·o ui'io t·s ! J 11r e i <lo rna r mn homem, 1'Ja,- <le beijos niio ,-,ei <1ue a 11e<lra fria tlomem !


Xenokrates e11t;10 do leito le, ;1U t o 11

0 corpo, e o olhar no olha1· da  co rt ezii erayou :


- Pode rugir a 1·a1·11e ... Emhora ! D'ella aeima Pai ra o espirito ideal <fill' a pu1·ili1·a c anima : Cobl'em nuvem; o espai;o, e, aci111a tlo atr o n;o

Da-<  nurnn-<,  Lrilha  a  estn'lln  illuminan  tlo o eeo ! -


Disse. E outi-a ,·ez, deixa_ndo

A alva barua espalhar-H' em rolos sobre o leito, Que<lo u-s{' a 111e <lit a r, as ma ras 111i'io" cruzan<lo

Sohre o e-wama<lo peito.


 

















ALMA INQUIETA


 


 









A AVE\TIDA DAS L\GRil\L\S



..J um Poeta mort o


Quando a primeira vez a harmonia secrr1a

De uma lyra accordou, gemendo, a terra inteira, Dentro do cora iio  do primPiro  poeta Desabrochou a fli,r da lagrima primeira.


L o poeta sentiu os olhos rasos de agua;

Subiu-lhe n bocca, ancioso, o primeiro queixume ; Tinha nascido a llor da Paixiio e da ?llag ua,

IJue possue, como a rosa, pspinhos e perfunw.


Ena  terra,  por onde  o Sonha1lor  passava, Ia a rox:t corolla espalhando as l'mente s : De modo que, a IH"ilhar, pelo solo ficava Uma, egetai:ao de lagrima.c; arden1es.


Foi assim que se fez a Yia Dolorosa,

.\ avenida ensomhrada e triste da Saudade,


AUL\ 11\'<_>UIET.\


t lnde '-'t' a1Ta-;ia, i1 noik, a procissiio chorosa llo" orphaos do carinho e cb ft•li!"idade.


Hecalcando no peiio o-; g1·ilos e os -,uJtu:o,;,

Tu conhec<'>'>k hem ('""'a longa a,euida,

-Tu que, choramlo PIil  ,iio, IP <'sfalfaste, de hru os, Para, i nfeliz, galgar o Cal rnrio <la ,icla.


Teu p1; deixou tamhPm um sig11al n'este solo; Tambem por <'"le solo arrasiaslc o l<'n manio... I·:, 6 \lnsa, a harpa infi_,Jiz quc susiinhas ao <·ollu,

l'a--"011 para oufra-; mao-;, molhou--,p dP outl'o pranto.


:\la" tua alma fit•1J11, Ii, re da dc•,-;y(•ntm•;1, Docemente sonhando, i,,-. <·:1ril"ia,-. da Ina : Enire a.; fl111'<'", agora, mna onfra flur fulg111·a, ( uardando na corolla uma IC'mbra1u:a iua...


0 aroma d'«'ssa 1101·, (flll' o t!'u 1u:11·1 rio ('lll"l'l"l'a, Se immortalisara, pelas almas di,-p,•1·so

- Porque purificou a torpeza da fr1Ta

Quern dcixou sol)l'e a terra uma lag1·ima e um H'r,o.


AUIA   INQUIETA H5








IN.\NL\ VERBA





.\h ! quern ha-de exprimir, alma impotente e es!'ray:1, 0 quc a bocca nao <liz, 0 ((UC' a mao nao C'Sl'l'eYP?

- ArtlPs, san ras, pregada ;', tua r1·11z, e, cm hr<', P, Olhas, <lesfeito em lodo, o (flt<' te dcsh1mbrava ...


0 Pcnsam!'nto fprve, <' 1\ um turbilhao <le lava :

.\ Forma, fria e espessa, (· um S<'pulrro de 1wn·... Ea Palavra pesa<la ahafa a lde,1 lew,

tJnP, perfume' <' rlarao, rcfulgia <' voaYa.


Quem o mold<' a!'hara para a Px111·1..,,-,iio de tudo?

.\i I qu<'m ha-de <lizcr as aneias infinitas

Do ;;onho? <' 0 ceo ([lit' fogc it mao (fll<' ',(' levanta?


I·: a ira mmla? co asc·o mudo? e o desespero mudo? E as palau11-, (IP fe que nun!'a foram <litas?

E 11s eo11fissiies ti.. amor que mo1•rcm na garganta ? !


U.6 ALMA  INQUlETA









?llIDSUl\l lEll'S NIGTH'S DRE.Bl





Quern o encanto dira d'p,-fas noites <l<' cslio'? Col're de estrella a cstrella um leve <'alt>f'rio,

Ila queixas doccs no ar ... Eu, rpc•olhido e sb, E1·go o sonho da terra, ergo a fron1e do po, Para puriticar o corat:iio mand1ado,

Cheio de odio, de fel, de an ustia e de pPec·a,lo...


Que exquisita ,-,audade ! - Uma lembrarn;a cstrirnha De t(•1· ,ivido ja no alto de uma montanha,

Tao alta, que tora,·a o ct'·o... Bello paiz, Onde, cm perpetuo sonho, en vi,·ia feliz, LiYl'e da ingratidao, livre da indilferen(,'a, i'io seio matemal da Illu,.,ao c da ( 'rPn(,'a !


IJue incxora,el mao, sl'm piedade,  l'aptivo, Estrella-;, me encerrou no earcere r111 que ,i,o '/ Louco, crn vao ,Jo profundo horror d'p,-;J e a1asl':il


AUIA   1::-S QU IE T A


B1·:iccjo, e peno em viio, para fugir do ma!! Porque, para mna ignota e longinqua paragem,

,\-,tros, niio me leyaco;; nc..;-;a ete1·na viagem

147



Ah ! quern pode saber de que outra,s ·idas veio ?...

Quantas wzc-<, fitando a \'ia Lactea, creio "I'odo o mysterio ver abel'io ao men olhar !

Tremo... e cui1lu sc ntir dcnfr o de mim pcsar [dida, Uma alma alheia, uma alma em miuh a alma escon­

-  0 cadarnr de alguem de quern carrego a vida...


V.8 .\ U  f A   lNQUIETA








:\CATER




Tu,   grant.le :\liiP !... <lo amor flp Jpns filhos r.;;<"rarn, Parn tens filhos t'•,;, no caminho da vida,

Como a faixa de luz ([U<' o  poyo hehren  uia, a

.\. lo11 P Terra  Promettida.


Jorra  de teu olhar  11111  rio  l11mi110-;o ... Pois, para bapJisar p-;-;a-; almas pm fli1r, DPi'\a-; ,·a-<caJcar d'p,;.;;p, olhai· ea1·i11ho-<o

Todo o .Jordan do 1Pn amOI'.


E espalham tanto hrilho a, azas infiniJas

Que <''\ p:11Hle-; sobre os 1Pu-,, 1·arinhosa-< I' hellas, t)nP o s,•11 grand<' elarao sohe, qnando a-; agiJa-;,

E ,:w pPrd,·1•--;1• pnJ 1•p a-; estrrlla-<.


E elles, p<·lo-, degr{10-; da luz a111pla P sag1·ada, Fog,·m  <la  l111111ana d/11·, fogem  do  humano pb, E, [1 pro<'ura de Deus, Yao suhindo l'>'>'a 1•-,t':l(Ia,

Que e como a cs<'ada de ,Ja<'oh.


ALMA  INQUIET.\ 1,rn









INCONTENT.:\ DO





Paixiio sem grita, amor srm  agonw, Que uiio opprime nem magoa o pcito, Que nada mai-; do quc possue que1·i:i, E com tao poueo ,iw saiisfeito...


Amor, '{UC os exaggcros rcpudia,

,tisturado de cstima c de rcspcito, E, tirando  das  maguas  alegria, Fica fartu, ficando sc111 p1·0,eito...


Yi, ·a semp1·p a paixao quc me consome, Scm uma '{Ueixa, -;pm um so lamento !

:\1·da !';Plllprc c-.1.e amor c1uc desanim:i-- '.


E (•n tcnha sempre, ao mm·mlu·a1· tcu nom(·,

0 c·ora<;iio, mao grado o soffrimento, Como um rosal desalwocha1lo cm rima.:;.


150 ALl\lA  INQUHITA









SONHO



Quantas Y('Z('S, ('111 sonho, as :izas da saudade Soito para onde ('-;tas, e fico de ti perto !

Como, depois do sonho, t; tri-.;Jp :i re:ilid:ide !

Como tudo, sem ti, fica depois de-,p1•lo !


onho... Minha alma Yoa. 0 ar g01·!-,eia e solnr;a.

:\'oite... A amplidiio se eslen<lP, illuminada e calm:t : De cada (',;trella dP ouro 11111 anjo se debrur;a,

E abre o olhar espantado, ao , Pr pas,;ar minha alma.


Ha por tudo a alegria c o rumor de um noivado. Em torno a cada   ninho anda   bailando uma aza. E, como -.,o)Jl'e um Ieilo um alvo cortinado,

Alva a lnz do luar cite sobre a tua casa.


-l!orem, ..;11hitamcnte, um relampago ror1a

Todo o espa<:o... 0 rumor de um  psalmo  ,w  h-rnnta. E, sorrindo, serena, app:ireces i1 porta,

Como numa moltlura a imagem de uma anta...


AU IA  l '<QU rn T A 1:-.il










PRIMAVERA





Ah! quern nos clt.\ra que i" t o, como outr·ora. lntla nos commoye ,--;t' ! Ah ! quern nos dera Que inda  juntos  Jll1tle,;,se mos agora

\'pro desabrochar da prima ve r n !


nhi amos com os pa,;;-;a1·os e  a  n ur ora...

I•: . no chao, ,-oh1•p  os troncos  chcio5 de  hera  , Sentavas-ie sorr in do, de hora cm hor a :

,,. Beijemo- nos ! arnem o- nos ! espera !


E cssa cam e de rosa rescendia,

E aos mens bcijos tie fogo pal pita va,

,\ J'lnebrada  ill'  amor  e  de  cansa -;o ...


.\ :i l ma da terra gorgeiava e ria ... Nascia a prima.Yl'I'a ... E cu tc lcvava , Pri mave ra de ca rnc, 1wlo hr:u;o !


152 ALMA   J NQU! El .\









DORl\lINDO




De qual de , ,·,,, IIP l'l'II para o e:1.iliu Jo rnmulu

.\ alma d'e,;;ta mulhl•1· , a"'t 1·0-. do ,·t'·o profundu ? D01·me ial ve z agora... Immacn las, se renas ,

( ' ruza m- se  n' nm a  111·.,,·,·  a-. sua-. maos  p, e 111e 11a" . Para a re;;pirr u; iio "'llllYsi ,.i11 ia lhe om, ·i ·,

A uoi1c sP tll'h ru a...   E,  a   u-willar e a folgir , Bra ntle  o  gla tlio  ,lP  l uz,  q11<'  a,    ·s c uri tl iio  recor   t a ,

1· 111 an·hanjo, lie pe, narJando a s11a pm·ta.

\' cr-.o-. ! podei-. Yi,ar ,•111 iorno ,l'C'""" le i to,

I·: pairar solH' <' o ahor Yiq ,;iual "" s,·u peito,

_ \ y p,; , tonta-, ,ll· luz, sobre um frt's1·0 pomar... Dorm e...   Il i ma ,; fc lll'i-< ,  podci-; fcbri-<  Yi1ar...

C o mo  cli a ,  num  liYol'  de  11,•,   o as  m  -.f 01•io-<a" ,


JJorm  e  o. ,; l o,    cam po azuls  1•11H'ado  ell' 10· E  cloi s  anjos ,lo 1;·, u ,  ah"" ,. pNp1011 inos  ,

-.a-- :


\ "i •m dormir nos tlo is ,·esn dos se n,; ol ho,; 1livi111,.....

Dorme... 1-:.., t rP lla,-, n •l ai , in11ntland11-a ,le luz !



AUi.\ l:'\Ql;!ET.\


Caravana, quc Deus pclo espar,o cond nz , Todo o yosso elarao n'e s ta pcqucna alcova

Sohre ella, comu um nimbo csplendido, se mova E, a sorrir e a sonhar, sua le,·c cabcr,a

Cumo a <la \"i1·gem- liic repousc c resplandc <; a !






























\J.


154 :\ LMA   INQUTET:\








NOCTlJRNO




Ja toda a terra adormccc. Sae um solu«;o da 11111'.

Ilompe de tudo nm rumor, LeYe como o Je um.a. pr ccc.


A tarde c:ic,. 1y-;tcrio so,

Geme entt·e o-.; r :i mos o H'nto. E ha por to«lo o firmamcnto L'm :inccio Joloroso.


.\.111·eo thurihulo immcnso,

0  occa-.;o cm  purpura s  artlc, E para a  orai;io  Ja tarJ? Dcsfaz- se cm rolos de inccn,,c,


, ror ihunJ os c sua Y<'S,

0 vcnto na aza conJuz



AUIA INQUIETA


0 ultimo raio da luz

E o ulti1110 canto das an s.

155



E Dens, na altura  infinita, Abre a mao profunda e calma,

Em cuja profunda palma

Todo o Unin·1•,.;o palpita.


'.\las um barulho se eleva... E, no paramo celest.e,

A horda dos a-;fros investe

Contra a murnlha da trcrn.


As estrellas,  psalmodiando 0 Pceian ,-.aero, a Yt>ar, Enchem tie ranticos o ar ...

E viio passando...  passando...


Agora,  maior  tristeza, Silen<'io agora mais fundo; Dorml', num somno profundo, em sonhos, a J\'atnreza.


A flor-da-noite abre o calix... E, soltos, os pyrilampos Coln·em a fare tlos (·ampos, Enchem o seio dos vallrs.


Trefegos e alvoroi;ados, Saltam, fantasticos Djinns,


 156

De cntrc ;1-; moitas de ja,;mi11-., De pnfrl' os ro-.al's pl'rfumado-..


Um  d't>lll'" ,  pela  janclla Entra do ten aposcnto,

E p:1r a, - pla,·ido e atten(o,

,   ·l'mlo-tl', - pallida c hcJl;1.


Chega ao ten cnbcllo fin o, re tte- sl'  ncllc  :  e fulgur;t, E  arde 111',;-;a   noik  cseu1·11 , Como um astro pcqncninu.


E fica. Os outr os lit fo1·;1 Deliram. Dormes... Feliz,

!\'iio onn•s  o  quc ellc  diz, Niio ouYe;; como cllc chm·a. . .



Diz cllc'

: 0 pocta cncerra


Uma noitc, cm si, mai-; fri,-,1., Que c,;;;a que, quando clormi-;tt-, Vel a,·11 a face da terra ...


Os  outros  sacm   do  mcio Das moitas chcias de l101•e-; :

Mas eu sahi de P11tre as d«",n•-. Que elle tern dcntro do <;eio.


Os outros a toda partc Lemm o vivo dariio :


ALMA   INQUIETA 1G7

H cu ,im do scu coraf;iio

,'i para ,c1·-tc e licija1·-k.


Mandou-mc 1,;ua alma louca, Que a dt1r da auscncia consomL•, abc1· sc cm sonho o -;pn non11· Brilha agora cm tua bocca !


Mandou-mc fica1· suspcnso Sohre o ten peito dcscrto,

Por contcmplar de mai..; pCI·to

Todo cssc descrto immenso !"


ls--o diz o pyrilampo... Anda lit fora um rumor De azas rufladas \ flor

Despcrta, dcspcrta o campo...


Todos os outros, prcveudo Que vinha o dia, partiram. Todos os outros fugiram .. .

t', cllc fica gcmcndo.


Fica, aucioso c st'1-;inho,

Sohre o ten somno pairantlo...

E apenas a luz frehando, Volvc de novo ao scu ninho,


Quando vc, inda nao farto De te ver e de tc amar,

IJue o sol descerras  do olhar, E o dia nascc em tcu quarto...


158 A L JA  I NQUIETA









YIRGE S MORTAS





Quando uma virgem morre, uma C'!'.trella apparece, Nova, no velho engaste azul do firmamento.

Ea  alma da que morreu, de momento Pm momento,

:\'a luz da que nasceu palpita e l'P!'.planden'.


() vi,-., que, no silcncio e no recolhimPnto

Do campo, conyersaes a st',-, <f11an1lo anoitecr, Cuiclado L quc J i:l.('is , como um rumor cle prr<·r, Vae sn.:;,;urrar no r·1 0, levaclo pelo vento...


Namorados, que andaes com a bocca t.rnnsbordando De heijo , perturhando o <'.ampo so,·rgado

E o casto cora<;iio das l161•p,; inflamman<lo,


- Piedade ! ellas vem tudo P11tre as moitas Pscuras... Picdade ! essc impudor olfcndc o olhar g-elaclo

Das f[UC  vivcram  s,'>s,   das ffue  morreram  puras! ,


AUL\  INQUIETA 159









0 C. \ Y. \ LLEIRO POBRE


( Pouchkine)




Nin guem souhe f(nem era o C'aYalle iro Pobre,

Que vin·u solit:u·io, e morr eu scm falar : Era .;;i m ples c sobrio, era valentc e nohre ,

E pallido como o lua r .


Antes de se entregar !ts fadiga s da guel'l'a , Dizem que um dia viu qnalqu er· cou.,a do ct:o :

E achou tudo vazio... e par ece u- lh e a tcrra l'm vasto 1· inutil mansoleo.


Desde entiio, uma atroz dcrnradora chamma Ca.Jeinou-lhc o tlc..;1•jo, c o rcduziu a pt',.

E nunca ma is o Pohre olhou um a st', da m:i,

-    :\cm  um a  s t', !  ncm  uma  s«'i !


Conscrvou, dcsdc entao, a viseira aha ix ada ; E, fie! a Yisao, C ao" cu amor fie! ,


 160

Trazia uma inscrip,;iio d L· frt•z IC'tll'a -.., ;,;1·a \i11la

.\ fogo C' -..111 1w no hr1JquPL


Foi ao-.. pi-Pli o, tla F,.·. :\i;t P; tl L•, t i1nt, '( ,1a1u lo,

:\o al'(l01· tlo ;;1• u ;.,11t>1·1·C'il'O <' p iC'do so 111i -.1c1· ,

t·,111tt filho da ( ·l'l11: ,w batia, invo ca nd o I :111  nome 1:a1·0 d1· mnlhC'r,


1-:ll c , rouco, brantli1Hlo o piqt1<' 110 ar, d ama, ·a :

Lumen er f'li , R egi n a .1 " • "• ao clamor tl'P,,,t " "·, Nas  l10-..ie-<  d11,; in er; , o-<  como  mn:t  I romha 1·nfra "•',

11·1·1•-.i-..tin  ·l P  fc1•o z.


i\lil  ypzp-; SC'lll  11H,ITL'l'  viu  a  mo1•lp  d,·1  11·1·10  ,

E neg ou- llw o dc-;t ino oufra vid:t mell01 1· :

Foi viYL•t· no <lescrto... E C'ra i111111C'1i-o o dP,l'l'lo !

;\la s o sP11 onho P1·.1 111ai01· !


E um  tlia,  a  Sl'  bton·e1·,  ao.-;  s:dtos,  t[p, g1·1·11 li ado, Louco, velho, frroz, - naqnella soli tliio

:\l01Te11 : - mntlo, rilhamlo os den ie s, tie, or:ido Pelo spu proprio col'a t; ao.


't

ALMA   INQUIET.\ 161









IDA





Pal'a a pol'ta do  ceo,  pallicla  c  bella, Id.-, as azas IPvauta c as nuvens coda. ('orrcm o-; :111jos c a crcanc;a morta Fogc dos anjos namorado-; d'clla.


Longe do amor matel'i;io o C'i°·o que imporla?

0 pr:mto o;; olhos Jimpidos ]he estr ella .. .

:--oh a-; ro-.a-; cle neye  da  eapella, Ida !'-ol1H : a , Ycnclo abri1•-sp I porta.


Quem Ilic tle1·a ouli·a vcz o escul'o eanto Da, <"  c11 r:1  tcl'ra,  oudc,  a  -;a ng ra1·,  ,-;usinho, l'm corac;ao dt• mae de sfaz- se em pran1o !


I ·,·1Ta-"r  a  porta  :  c,-;  anjos  todos  YtJ,llll ...

Como fit·a distantc ac1uelle ninho,

Qnc a,,. 111:i('-; aclornm ... mas a mal cli c;oai n


...

162 AUi.\  TNQUrn T A








NOITE DE INVERNO






onho f{II C p;,t ;',,;  ;',  porta ...

E-.f ;',s  - ahr  o-te  os 111·:1(: os ! -    quasi  morta, Quasi mor ta 1lc amor •· d P rmcieda tle.

De  ontlc  ou ,y i d1i  o  mcu  ;.; l'if u,  que  voa va,

E sobr c a,; a za-;  fl•p1n11J:i-; I PYa \'a

.\ s p 1•p1•p -.; da  -;a 11 dad 1• '?


·f 01'1'0 ;', porta... ni nguem ! Silc ncio <' fr p y: 1.

ll ir ta , na sombra,  a  !-,olid:io (')pya Os lon gos l11"a1:o-.; r i3 i dos, dP Pio... E ha pelo t'01'l'Pdo1· cr mo c l'ompri tlo

0 pe rfum e subtil 1le ten cahello

E o Sml\·1· rumor dP tcu , 1•-.1 ido  .


. \Ii! s(• a3 or a d 1P;,::1 -.;<;1 •s !

!-,c c u spn1 i" ,;c lia t c r c·n1 111 i11 l111s fac·c•s

. \  lu z <·c l1·s f1• (f U C  1Pus o lh o,; hanha ;


ALMA  INQUIETA


<' este Cfllarto  ""  <>nche -," <' de  1·epe  nte Da melodia, <' dod ;i r:io ard ente

CJue os passos te acompanha :

163



Beijos, JH ' <'"'O" no ea1'<'<'l'(' da bocca, Soffreando a custo toda a setll' louca, Toda a sede infinita que O'- devora,

- Beijos de fogo, pal pitanclo, cheios De gritos, de gemidos e de aneeios,

Transbordariam por lt•n corpo :1 fi,ra !...


flio acc<';-o, barihanclo

Teu corpo, cada beijo, rutilando,

Se  apressaria,  acaehoado  e  grosso E, ca-;rnteanclo, em perolas desfeito, ubiria a collina de teu peilo,

Lambendo-t<'  o  pesco<;o, ..


Estrella humana que do r.eo d<''-C<'St<', Des ter1·ada  do  t·t'·o,  a  luz  J)(·1· cl <',;;te Dos fuh os  raios,  amplos  e  '3f> r <' no.;;;

. E na pelle morena <' perfumacla

(;uardaste apena-; <'%a ei11· doirada

Que e a mesma cor cle i1·i11" e de \' t>nu ,;..

Sob a ehuva (!(' fogo

De meus heijos, amor ! teri:1s  logo Todo o <'"plendor do brilho primitivo;

E, eternameute presa entr l' meus hrai;os,

Bella, protegerias os mens pa-;s o...,

- b.  t rn formoso c YiYo !


.\ U L\  1 :-S(_) U IE T A


Ma-., . . . taht•z t1• oll't'Hd,•-.,-;p o mcu tlt",l'jo.. .

E, ao f.t>u cont:wto gt'litlo, llll'U Lcijo Fo-;-;(' cahir por tcrra, dcsprezado. Emhora ! quc cu ao mcnos fr olharia,

E, prt•za do  l'l'-<pcito.  fiearia

'-iil1·111·io-;o c immovcl a t1·11 l:ulo.



Fitamlo o olha1· ancioso

'\o tt>u, lcndo ('-i'-'l' lin·o my-;tp1•io-;o, Eu dcscortinaria a minha sortt> . ..

.\ t t' f{UC  ouyi-;-<I',  d'p-;-;p  olhar ao fuudo ,

'-ioar, num <loLrc lugulH·c l' profunclo,

A hora da minlrn IIHH'I(• !


Longe cmLora tit' mim tl-u pP1i-;:11nc11to, OuYiria<; aqui, louco c Yiolcnto,

Bater  meu  eora   iio   cm   catla  (·anto; E ouyi1·i11s como  uma  mclopt;n, Longe ('tuhorn d(• mim a tua itlt'•a,

.\  musica abafada de men pranto.



Dormirias, qucritla...

E cu, guar<lantlo-tc, Lella ( adormce ida , Orgulhoso e feliz com o mcu the-,ourn, Tir:u·ia o-; nwu-; Yer,;o-; 110 abamlono,

E t'llcs  cmbalariam  o  tcu  somuo, ( 'm110 uma r[·tlt• de ouro.


.\las niio rnn-; ! 11:i:o Yirits l ,'-iil1•1l('io c tre\'a. Ilirta, na som b ra , a :--iolidiio  PIP\'a


:\ L IA   J NQL'I E'l'.\ 165

Os longos ln·af:o-s rigidos, de gelo;

E ha, pelo corredor e1·mo e comprido, 0  s11aw   rumor  tlP 1cu  ves1ido

E o p<>rf1m1<> -..11h1 i I de 1<'11 ca hello.


l66 ALMA  lNQUIETA









VANITAS




Cego, em telJl'e a cahe <;a, a mao nervosa e fria, T rabalha . A alma lhe ,;[1e <la penna, allucinada, E enc he-lhe , a palpita r , a estrnphe illuminada De gritos de triumpho e gritos de agonia.


Prende a id&a fug-az ; dom a a 1·ima b1·a ,·ia ; Trabalha... E a ol)l'a, poi· fim, 1·e »pla 111lf'et' :icaba,la : "   Mund o,  que  as  minl ias  m i"ios arrancaram  do nadn !

Fi lh, a d o meu trahalho ! 1·1·;.:11e- te ft luz do dia !

Cheia da  minha febre c da minlia alma cheia,

.\ rr anq uei-te ,la Yida ao a,lyto profu ndo,

.\ rranquei- te tlo .\ mor a mina ampla c sP1-rcta 1


Posso agora  morrer,  porque  , in •s ! » E o l'oPfa Pe nsa que vae 1·a lti1·, exhau-;to, ao p de um muudo , J c,tl•-vaidadehnmanal-aop tle um griiode arcia.,.


AL.MA  lNQUIBTA l67









TERCETTOS





Noite ain<la, quan<lo ella me pe<lia Eotre dois beijos que me fosse embora. Eu, com os olhos em l rimas, <lizia :


Espera ao menos que <les p on1e II aurora ! Tna alcova e d1ciro,;a como um ninho...

E olha que escw·idao ha la por fora'


Como queres que eu va, tri sie e susinho, Casan<lo a ti-cva e o frio <le men pei1o Ao frio e i treva que ha pelo caminho? !


Ouw s? e o vento ! t; um temporal desfeito I N:io me arrojes a chuva e a 1empes ta <le !

Niio me exiles <lo valle <lo teu leito!


'168 _\L \ I. \   l '-i t_lU IB T .·\

:\lorrm·ci de affitt_:,<;iio c tit' ,-.amlad,,...

- 1 :,-pc1·a I  at1; que  o dia rcsplantlc<;a,

Aqucce-mc ·com a tua mo1·i1ladc !


ulwe o ten 1·ullo tleixa-111!' a <"al,c1:a Repousar, como ha ponco rcpousava ... Espcra um pouco ! dcixa cine amanhc1:a '.



- E ell a a bria -m'1

o-s hra-;os. E en fi<"arn. -





II




E, j:i manha, quando clla  uw  pcdia Que do seu claro corpo me afastns,;P, En, com os olhos cm lagrimas, tlizi;1


Nii.o 111'1tlP ;.,p1• 1 n:io y,•-; que o din 11a-.1•p

. \ aurora, cm fogo l' sa11 11c, as 1mn•11-s 1·orta tJuc diria 1lP ti quern me cucontra-;-.;p


. \ h ! nem me di;,;a-; que j,.,.,o ponco importa 1 ...

Que pensariam, Ycmlo-mc, aprc-,,.,ado, Tao cedo as-;im, sahindo a tna port/I,


\'  c ndo-mc   exha u-sl o,  pall i tlo ,  cau...;11(0,

E todo pclo aroma de teu l1t•ijo 1-:,.,c a111l alos a men tc perfnmado?



_\ L MA  INQUIETA


O amor, c1nerida, uao exclue o pejo... Esp<'ra !  att; que o sol  Jesappa rer,,a, llrija-mc a. h11r1·a ! mata-m<' o dcse jo !

169



:--obre o teu collo deixa-m<' a cabc a Ilc pous ar, como ha pouco rcpous ava !

Espcra um ponco! deixa que a noitei;a !


-   E ella abria-me os hra r; os. E cu ficava.


























10


110 AUlA INQUIETA









IN EXTRK\11S




Nunca morrer assim ! Nunca rnorrer num dia Assim 1 de um sol assim !

Tu, de,,:gl'euhada e frrn,

Fria ! post.os nos meus os ten,; olhos molhados, E apertamlo no-; len-; os meu-; dedos gl'l;11lo,;...


E um dia a-;..;j m ! de um sol as-;im ! E a,;,;i111 a e..;phcra Toda aztil, no esplenu.or do fim da primavera !

Azas,  tontas de luz, cortando  o firmamento !

\finhos cantando ! Em llor a lerra 1oda! 0 Yento De-,pen1·ando o-; ro,;aes, saeudillllo o arvoredo...


E, aqui dentro, O si lL•ncio ... E e--lc es pa nto ! e e,-,le lll t'do 1

Nos doi-;. . . e, enti·e m'i..; doi,;, implaeawl e forte,

.\ arrcd;:r-me de ti,  eada  yez  ma is , a morte ... Eu, com o frio a <"l'C-;t:r1· no eor:H; iio, -    Lio cheio


ALMA  INQUIETA


De ti, mesmo no horror do del'radeiro anceio! Tu, vendo retorcer-se amarguradamente

.\ hocca que heijava a tua hocca ardente,

A hocca que foi tua !

171



E en morrendo I e eu morrendo, "vendo-te, e vendo o sol, e vend o o ceo, e vendo

Tao hella palpitar 110 ,; teus olhos, querida.,

,.\ delicia da vida ! a delicia <la vida !


17:2 ALMA     lNQUJE'IA









A .\.LVO IL \.DA DO A IOH




l'm    hol'l'Ol'  g1· and e  c  mudo,  um  ,;i lencio   profumlo

:\'u dia do PL'lTado a mo l'ta lha , a o mun do.

E .\ di'iu, vem lo fechar-se a port.I  do  Ed!'n, vendo (J ue Eva olhaya o dcser to e hes it: n a fremeudo,

l), j -,l' :



l'hl' a-!e a mim ! enti·a nu 111e11 amor, E :, minim carne eutrcga a tua canw <'Ill ni,r ! P1·cme contra o rneu peito o t e u ,,.l'io agi tado,

I·: aprende a a mar  o .\mor,  n•110, amlo o  pe1Tatl !

.\ lir ni;oo o teu 1..-in w, acolho o ll-11 d1·, ,.:o, io.

Oc uo- te , de uma l'lll llllla, a,; l a l'i111a, do ..., !


, \.· '. t11do nu, 1·.. p el lc : a toda a 1..-ca,:au

- " 11,1·' >Lh-   o llll''-lllO horror e a 1ll l' -;lll a   iudiguai;,iu...

A 1·u k•1·a d e Deus to1·1'l ' a-; a1·r 01·l',, 1..-1•,ta

( 'omo um tufao de fogu o Scio Lia flore -.ta ,


AUIA   IMQUIETA 173

Ahrc a ie1-ra em n1lcoes, encrespa a agua dos rios;

;\..; c-strellas rsliio chcias de calefrio,;;

fluge sotumo o mar; tuna-sl' hediontlo o cco...


\":w1rn;' quc importa Deu..;? Dc;,ata, como um veo, olll'e a tua nuclcz a C':1hcllcira. ! Ya1110,-; !

.\1•da cm chammas o <'hao; rasguem-te a pclie os ramos; Jorda-le o c01·po o sol; injuricm-te o-. ninhos;

Surjam fcras a uirnr de to<los os caminho..;;

E, vendo-te a sangrar das  urzcs a1l'avPz, cmmarauhem no l'hao as scr pe..; ao,-; ten,; p,:s...

Que importa? o .\mor, botao a1wnas cutreaberto, lllumina o <legrc<lo e pc1·f'u111a 9 1lc,:;crto !

.\ mo-te ! sou feliz I porquc, do Eden perdi<lo, Lem tudo levando o tcu corpo queri<lo !


Pode, em redor <le ti,  tu<lo Sl'   anniquillar :

Tudo re11ascc1·:'1 cantan<lo ao tc11 olh a1·, Tudo, mare,-; e ct'•o,-;, arvores e monta 11 ha,; ,

Porque a Vida perpctua ardc em tuas enfranhas ! Ilosas tc hrotariio da bocca, se ran tares!

flios tc corr1•rao <los olhos, se chorares !

E se, em torno ao tcu corpo encantador e nu, Tudo morrcr, qnc importa? .\ :\'atureza i·s tu,

.\gora quc i·s mulher, ag01·a  quc  peccastc !


.\h ! bemdito o momento em lfllC me revelaste

0 amor com o tcu pceca.do, c a vida com o tcu crime'. l'orquc, livrc de Deus, redimi<lo e sublime,

Homem fico, na terra, a luz   dos   olhos teus,

Terra, melhor que o Ceo! homcm, maior que Deus I

10.


174 ALMA   UiQUIETA








YITA NUOVA





Se ao mcsmo gozo anti go me convidas, Com cssPs mcsmo s olhos 11 brazados, Mata a record: H; ao d :i -. horas idas,

Das hora s qne vivPm os npnrtadosl


Nao rne fales da s la gr ima s perdidas, Niio me fates dos hcij os di i p:1du "' !

Ha numa vida huma na cem mi,l  illas,

Cabem num corai;iio cem mil pe1T:i dos !


Amo-te 1 .\     fehrP quc su ppunh as morta Rev i, e . EsquecP o meu p:1,-.,-.:i,l o, lo111·a !

Que import.a  a  ,ida  qni>  pn<:-s ou ?  Qui' imporla,


Se inda 1e amo, dc pois de amorc-. tantos,

E indak nh o, 101 s olhos e na bocca,

Novas fon1e·s dc liP-i jos e di' prnnfos'IJ


AliMA IN(!UIF.TA













MANHA DE VERAO




A mJYens, que, cm bulc,ies, sobre o rio rodavam,

Jii, com o vir da manha, do rio se leYantam.

Como hontem, sob a chuva, estas aguas choravam! E hoje, sau cland o o soJ, como estas aguas cantam !


A estrclla, quc ficou por ultimo YClando,

Noiva que espera o noiYo e suspira em segrcdo,

Desmaia de pudor, apaga, palpitando,

A pupilla amorosa, c cstremecc de medo.


Ha pelo Parahyba um sussurro de Yozes,

Tremor de scios nus... corpos l1l'a ncos luzindo... E, alrn,s, a cavalgar broncos mons tros ferozes, Passaro, como num sonho, as na yadc s fugindo.


A ro ,:a, que accordou sob as ramas chcirosas,

Diz-me: "Accordacom um bciio as out ,·as tlorcs quictas!


176 AUi.\ INQUIETA

Poeta ! Deu-.; Cl'COll as mulhp1•es c a" ros:h Pam os hcijo-.; do ,ol c os hcijo-; dos pocta"' !


E a an· tliz : .tlws tu! conhe1:o-a bcm... 1';1r1·1·e IJne 1h l Puios dC' Oberon bailam pPlo ar d is ppr-.o, , E que o ceo se ab1•p to<lo, e quc a krra I101•ps1·1•,

Quando l'lla principia a rccila1· ll-11"' ,cr-.o-.!


E diz a luz : Conhci;o a l'ot· 1l'aq1u·lla hol'l':t ! Bem conhe o a maeicz d'aqm·llas maos pequrna, ! Niio fosse ,·Ila aos ja1·dins roubar, trefrga c lonca,

0  rubor  da papoula  e o ahor  dasa ucenasI


Diz a palmeira : lnvcjo-a ! ao ,i1· a luz radia11l1·, Yem o ,cuto agita1·-mc c desnastrar-111P a coma

E cu pclo vento en, io ao sen cabcllo ondcank Todo o mcu csplcndor e todo o 111L•11 aroma!


E a florc-1la, quc canla, c o sol, quc ahrc a cori,a DL• ouro fuho, espanca1ulo a matulina hruma,

E o lirio,  que  eslrcmccc,  e  o  passarn,  quc ,·i,a, E a agua, chcia de soll-.; e de floccos de espu111a,


Tu<lo, a c111·, o clanio, o perfume e o gorgpio, Tu<lo, elcvando a voz ncsta  manha  de eslio, Uiz : u  PmlPs-.ps dormir, poeta ! no seu seio, ( 'nrvo como c-,tp ceo, manso como esk rio I


ALMA  INQUIErA 177








DENTRO DA NOITE




Fir.as a um canto da sala, Olhas-me  e  fingcs qn<;i  le-,:...

Aim.la uma YPL te ou o a fala, Olho-te ainua uma rnz,

Saio... !-,;i[cncio por tmlo : Nem uma folha ,,;e agit:1 ;

E o lit·mamcntu, amplo c mudo, Chcio ue cstrella,,;, palpita.

E cu vou st',sinho, JlL'th:tllllo Em teu amor, a sonhar,

No onvido e no olhar lcvantlo Tua voz L' teu olhar .


!\fas nii.u sei quc luz me hauha Tot.lo de um virn clarao ;

Nao :-;ci que musica cxtranlw i\le so hc do corac:ao.


178 AUL\  INQUIETA

Como que, em 1·a.ntos suayes, Pelo caminho que sigo,

Eu Jpyo todas as ayes,

Todos os  astros  commigo. E e tanta essa luz, i'· ianta

Essa musica sem par,

Que en nem sei se e a luz que canfa, Se e o som que Yejo hrilhar.


Caminho, cm cx1ase, cheio Da luz de todos OS soes, Levando  dentro  do seio Um ninho de rom:inoes.

E tanto hrilho tlcrramo, E tania musica espalho,

Que acconlo os uinhos inflammo As gotias frias do orrnlho.

E vou sosinho, pcus a ndo Em ten amor, a sonhar,

No ouYido e no olhar levando Tua yoz e ten olhar.



Caminho. A tPrra dc-.eda Anima-se. Aqni  e alli, Por toda pade desper.ta Um corar;iio qne sorri.

Em tudo palpita um heijo, Longo, anl'ioso, apaixonado, E um tleliran1P <lesejo

De amar e de ser amado.


 


E tudo, - o ceo que se arqueia Cheio de e,;tn·llas, o mar,

Os tronco-; negros, a areia,

- Pergunta, ao n·r-111e passar


0 _\.mor, que a teu lado levas, A que logar te con<luz,

Que entras, coberto de trevas,

'E si1es coberto de luz ?

De onde , ens '? qne firmamento Correste, durante o dia,

Que volta-, lani;audo ao vento Esta inaudita harmonia

Que paiz de mara,ilha,, Que Eldorado singular, Tu vi,;ita,-.te, que hrilhas

Mais do que a esti·ella polar?


E eu continuo a via em, Fantasma 1le,l11mbrador, Seguido por tna imagem, Seguido por teu amor.

Sigo... Di-,-,i po a tristeza, De tudo, por todo o espa,;o,

E ardo, e canto, e a :\'atureza Arde e canta, quando eu passo

- So porqne pa-,-;o p:•n,,a1u'o Em teu amor, a soulia1·,

No ouvido e no olhar le,amlo Tua voz e teu olhar...


180 AUlA   INQUIETA








CAMPO SANTO





Os   annos matam   r   clizimam   fan1o Como as inu nrla r;t•(' ,; e como :i,; pr s1Ps .

.\ :ilma de (·atla Yelho i·' 11111 Campo a::1:1,

Que a Yelhice cobriu d<' (T11zcs <' ('yp1•este, On alha cio s 1lr pra n1o.


:\Ins as a lm as n:01 morr cm coruo :i, lh T-r ,

Como  os  home  ns,  ""'  pa ss:110•  -; ('  a ,;   f; , ra,; : Ho1 as ,  d1•-;pPtl:i(: a das  pelas  di11·e,  ,

Re na sre m para o sol de norn s p1·imaYrr:i,;

E tl(• n o yo ,- a111or1"- .


. \ ss im, :1' s YP zc•s , na amplitl:io silc nlc , No somno funclo, na teri·ivel (·a lm:1

Do Ca111po  a n1o , 01n P-'-P nm :,:ri 1 o n n le111,•

Ea. S a ucla cle ! (: a :--audad e !... E o ('(' t11i1P 1·io «la :il111a Accord:i de repe ntl •.


 


l ; i, am o,; vent os fun e ra es , llll'donho ,;. . . Brilha o lua1·.. .  \.,. la pitle,; ,;l' agita 111 .. . F, sob a rama tlos chorues tr istonhos ,

Sonhors morto ,; <le  a mo1· de  s p e r ta m  l'    palpit  a111 ,

Cada, l' rt ' '- dc- ,;on hos.































II


182 ALMA  INQUIETA









DESTERRO




Ji1 me nao amas'? Basta! -  ll'(•i, fri,-tr, e cxilado

Do mC'n primeiro amor para outro a mor, si,siuh o...

.\ deus, carne cheiro sa ! .\ dt• us, primcir o ninho Do mcu delirio ! .\ deus, bello t·o1·po adora<lo !


Em ti, como n'um Yallc, adormrt·i tlcitado,

.'io men sonho dP amor, cm 111Pio do caminho ... Bcijo-te inda uma vez,  uum  ultimo carinho, Como quern rnr sahir <la pa lria dPskrra<lo!


.\ tl!'1ts, corpo gentil, patria do mPn tJp,;pjo !

Ilcrt:o em quc sc Pmplumou o mcu pri11u·irn itlyllio, Terra em quc llon•-wcu o mcu primeirn hcijo !


A<leus ! E,ss!' outro amor ha-de amargar-mP 1an1o f'omo o pao qu J sc come entr!' estranho,, no P,ilio, Amas-,a<lo com I'd e cmbehiclo de pranto...


ALMA  INQUIF.TA 183








ROMEU E JULIETA


(Acto III, scc na vn.)






Jl"LIETA.


Porque partir tao 1·<.'1lo? inda wm longe o dia...

Ouves? e o rouxinol. :\'ao e da cotovia Esta encantada voz. Repara, meu amor :

Quern canta e o rouxinol na romanzeira Pm flor.

Toda a noite PSsa voz, quek feriu o ouvido, Pi:noa a solidao wmo um longo gemido.

Abracemo-nos ! fica ! inda vem longe o sol! Nao canta a cotovia : e a VOZ do rouxinol !

R0 1EU.

E a voz tla cotovia annunciando a aurora !

\'i·s? ha um leve tremor pelo horizonte a for a...

Das nuwns do levante ahre-S<.' o argenteo v1:o, E apagam-se de todo as lampadas do ceo.


 


J;',, s11bre o cimo azul da-,; -,prra-- 11 Phulo-;a -;, lle-;ita11!P, a 1,nanha cor11:ula dr ro-,:1,;

Agita os le, p-; p.·.,.,, P fi('a a pal pita1·

SohrP as aza-; dP luz, ('01110  (1uem que1,·  oar .

Otha! mais um monwnto, um rapido momPuio,

E o dia sorri1·:'1 por  todo o firmamento'.

.\ dp11-;! de,o pa1·( ir ! J>artir para, i, C' I' ...

Ou fi1·;11· a teas p :,., para a tPIIS p:·s morrer !


JLLIETA.


Nao c'· o dia ! 0 e-;pa<;o inda sP e-,te ude, l'l1eio

Da 11oite caridosa. E,hala do igneo -;rio

0  sol,  piPdos,1 e  hom,  este , i,o  clariio ii para 1P ui:u· por cutrP a eprra,,<io ...

Fica um  minuto mais ! pon11w  parti1· tiio eedo?


HO !El'.


Mandas? niio parti1•pi ! espera1·ei sPm medo

Que a morte, com a manhii, , enha enconfrar-mc aqui I

Succumbirei feliz, sm·1·11111bi11do por ti! l\Iandas? nao parti1•pj ! qur1•ps? di1·ei comti o

Que 1; mentira o rpw , ejo e menti1·a o q11P digo ! i111: tens 1·aziio ! niio· ,. da t·otoyia a Yoz

Est<' <'IH'antarlo som q11e e1Ta em torno de nus! E um renexo da lua  a l'laridade e-;(rauha

Que aponta no hOl'izonte at·ima  da montanha ! Fico para tP ver, fico para 1P omir,

Fico para  te amar,  rnorro por  nao  parti1·! Mandas? nao partirei ! n1mpra-sc a 111i11ha soril'! Julieta a,-.;;im o quiz :  henn inda seja a  mortP ! Meu amor, meu amor! olha-me assilll ! assim!


AL:\IA   INQUIETA 185


\Jo! e o il ia !,

JI   1.11:T .\.

,' a manh ii 1 P a r te ! foge de mim!


(la l'l t• ! ap1•p;;;;a-to ! fogc ! .-\ 1·otm i a r.anta E <lo nasccnte em fogo o dia sc levanta ...

.\h! reconhe i:o emfim est as  notas fatae s !

() <lia ! ... a  luz  do sol c·1•e,-l'C' de mai s em mais h1°l'  a  noite  nupcial  do  amor  e da  lon cura  !


1: <l \l l-'.l•


Cresrr.. . I·: c1'<''WC com ell a a nossa dcs vl' nt u ra '


186 ALMA I NQUIE TA








VINHA DE N.ABOTI[




\ la ld ito aquclle dia em f{U e aurisl c cm 111Pn sPio, Cruel, e,;;ta paixao,  como ,  ampla c  illumin:ida, Uma ela t·(;i ra venlc, a lic1·ta ao so l, no mcio

Da cspl·ss1:  es1· 11r i <liio  tit•  uma se  lv a  cerradal


.\ It ! trez  vezcs  maltlito  o :tmor  q ue  me arn,-salla, E me ouri ga a Yivcr tl P ntro tit• um pesa de l o,

Lou co ! por tot.la a p:1..tc on, ·i ndo a tua fala., Vcndo por  toda a pa.rte a cor <lo teu caucllo !


De tcu collo no valle e111b:1lsam:ido c puro i\'un ca dese a nsarei, como num Pa raiso,

oh a l e 11da aroma) d 'c;;,-,p ca be llo cs1·11ro, Olhantlo o te u oll rnr , so r rindo ao fen so l'r is o .


Des va ir as - me a ra ziio , f i1·as-1111· a calina co somno!

:\'.u nca te poss uirei, l,cll a  P i11, 1· j n1la vinha,

t) \'inha de Nal,oth <JUP_ t:111fo a111l, iciono !

0 al ma que procuro ,. 11111wa sc r as minha !


ALMA   INQUIETA 187










SACRILEGJO




Como a alma pu'ra, que teu corpo encerra, Podes, tao bella e sensual, conter?

Pura demais para viver na terr , Bella demais para no ceo viver...


Amo-te assim,  -  exulta, meu desejo!

E teu grande ideal que te apparece !

Offerecendo loucamente o beijo,

E castamente murmurando a prece!


Amo-te assim, a fronte conservando

A parra e o acantho, sob o alvor do veo, E para a tei·ra os olhos abaixando,

E levantando os bra<;<>s para o ceo.


Mesmo quando, abra9ados, nos enleva

0 amor em que me abrazo e em que te· abrazas,


188 AL)!.\   r:s;QUIET.\

Yejo o teu rcsplandor arder na treva E ow;o a palpita<;ao das tna-; azas.


Em Yao sorrindo, pla<'idos, brilhan1es, Os  ceos  ,,;e estendcm  pclo  ten  olhar, E, dentro d'PllP, os scraphins erranfrs Pas.;;am nos raio,-. claros do luar :


Em vao ! descerras humidos, e ehcios De promessas, os labios sensuaes,

E i1 flor do peito empinam-se-te os seios, Amea<;adores como do-is punhaes.


Como e cheirosa a 1ua 1·ame arden1e ! Toco-a, e sin1o-a offegar, anciosa e louca... Beijo-a, aspiro-a... Mas sinto, de repentc,

.\s maos geladas e gelada a bocca:


Parecc que uma santa immaculada Desce do a11ar  pela primcira  wz, E pela  vez primeira  profanada Tern por olhos lmmanos a nudcz...


Embora ! hei-de adorar-1e II ps(a vida, J:i que, fraco demais  para  perdel-a, Nao posso um dia, deusa foragida,

Ir amar-te no seio de m11a estrella.


Beija-me ! Ficarei  purificado

Com o que de puro no tPn heijo houver;


.\UIA INQUIETA


Ficarci anjo, tendo-tc ao men ]ado : Tu, ao meu lado, fieari1s mulhcr.


!Jul' me fulmine o horror tl'e,,ta impicclade I

ed1s minha ! :--a,...ilego e profano, Hei-dc manchar a tua castidadc

E dar - tc aos laLios um gemido humano 1


E a sombria mudez do sanctua 1·io Prcferiras o caliilo fulgor

De um cantinho da terra, solitar io, llluminado pelo mcu amor...






















11


190 AL M..&. JNQUIETA








ESTANCI.\S






Ah ! finda o inverno! adeus, noites , breve esquecidas, Junto ao fogo, com as maos estreitamente unidas! Abracemo- nos muito ! a tll' II"- I um beijo ainda !

Prediz-me o corayao que i'· o nosso amor que finda, • Ha- d e em h rPn i sor rir a primavera. Em breve, Branca,  aos  beijos  do sol,  ha-de  fundir-se  a  nevc. E, na li.•,,ta nupcial das alma"' P das llores,

Quando tudo accordar para os novos amores, l\le u amor ! ha Yl'r:'1 dois logares ,asios...

Tu tao longe dP mim ! e ambos, mudo s t• frios, P1·ocura ndo esquecer os hPijo..; 11ue tro camos, E maldiz endo o tempo e111 que 110-,; ador.imos...


ALM A   INQUIETA 191





II



Mas, as vezes, osinha, has-de tremer, o vulto

De um fantasma entrevendo, em tua alcova occultc. E pelo corpo todo, a olfegar de desejo,

Pallida, sentiras a caricia de um beijo. Sentiras o calor da minha bocca anciosa,

Na agua que te banhar a carne cur de  rosa, No linho do Iell(;ol que te ro<;ar o peito.

E has-de crer  que sou  cu  que  procuro  o teu  Ieito, E has-de crer que sou eu  que  procuro  a  tua  alma! E abriras a janella... E, pela noite calma,

Ouviras minha voz ·no barulho dos ramos,

E-l_>emdiras o tempo em que nos adoramos...





III



E eu, errante, atravez das paixoes, hei-de, um_ dia, Volver o olhar atraz, para a estrada sombria.

Talvez uma saudade, um dia, inesperada, Me punja o cora ao, como uma punhalada.


 192

E agitarei no Yacuo as miio", e um beijo ar<lente

Ha-<le subir-me i, hol'ea : e o beijo e a-; maos somente llao-de o yacuo encontrar, -;em te  encontrar, qnerida I E, como tu, tambem me acharPi "'"• na ,ida,

,'i! sem o teu amor e a tua fonnosura :

E chorarei entao a minha dc,-,vcntura, Ouvindo a tua voz no barulho dos ramos,

E bem<lizendo o tempo em que nos adoramos...





lY



Renascei, rP,i,·ci, arvores -,u,;--un·antes ! Todas as azas vao partir,  loucas  e  errantes, A rufl.u·, a ruflar... 0 amor t; um pas-;arinho, Deixemol-o partir : - desertemos o ninho...

A primavera YPm. YaP-SP o inwrno. Que importa Qup a primave1·a  Pncontre t•sta  ventura  morta? Que importa que o esplendor <lo uniwrsal uoivado Venha este noivo a,·har da noiva sPpr.ra<lo?

Esquei;au os o amor que julgamos eterno...

- Dia que illuminaste os meus dias de invPrno ! Esque amos o ardor <los lwijo-; que trocamos, faldigamos o tempo <'Ill qne """' adori,mo.;.,,


ALMA   l QUlETA l93









PECCADOR





E;;te L' o altiYo pC'ceador -.e1'C'IIO, Que os solU(:os affoga na garganta, E, calmamente, o copo de Ye neno

Aos labios frios, sem tremer, le rn nta .


Tonto, no escuro pantanal tert'C'llO Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta, Nem assim, miseraYel e pequeno,

Com tao grandes remo1·-.o-. ,;c quebranta.


Fecha a yergonha C' a-.; lagrimas coms ig o... E, o rorai;iio mordendo peni1e nte,

E, o corai;ao rasgando castigado,


Attei1a a enormidade do ea-.1igo,

Com a mesma face com que antigamcnte Acceitava a dclfria do peccado.


194 ALMA  INQUIET A








REI DESTHRONADO




0 teu logar vazio !... E esteve cheio, Cheio de mocidade e de ternura ! Como brilharn  a tua  formosura ! Que luz divina te doirava o seio!


Quando a camisa tepida despias,

- Sob o reflexo do eabello louro, De pe, na alcova, ardias e fulgias

Como um idolo de ouro.


Que fundo o fogo do primeiro heijo,

Que eu 1e arraneava ao labio rescemlente ! Morria o meu desejo... outro desejo

Naseia mai,; ardente.


Domada a febre, languida, em 111eus hrai;os Dormias, sohre os linhos revolvidos,


ALMA INQUIETA


Inda cheios dos ultimos gemidos, Inda quentes dos ultimos abrai;,0s ..•

195



Tudo quanto eu pedira e ambicionara, Tudo meus dedos e meus olhos calmos Goza,·am satisfeitos nos seis palmos De tua carne saborosa e clara :


Reino perdido ! gloria dissipada

Tiu? loucamente ! A alcova e,;tit vazia, Mas inda com o ten cheiro perfumada,

Do teu fulgor coberta...


196 ALMA  INQUIETA









so



Este, qnc um deus cruel arremcssou  :\. vida,

:\larcando-o com o signal da sua maldi ao,

- E.;;lc desahrochou como a herva mi, 11:i•-ritla

A pe na s para aos pt'•,; ser ca lcada no chiio.


Ue motejo cm motejo arra sta a  alma feri,la... em constancia no a mor , dcntro do cora,::io

l' ul c-, crespa, cresccr  a selva retorcida Dos pcnsamcntos maos, filhos da - ,lid o.


Longos dias scm sol! noites de !'1:·r 110 Into!

.\ I ma cega, perdida a toa no caminho !

floto c:i,;rn de nao, desprczad" no mar!


E, arvore, acabara scm nunca  dar  nm  fructo... E, homem, ha-de morrer como viveu: soain ho !

t•111 ar!scm luz ! sf'm Deus ! scm fe! sc m p:io! s1•111 lar!


ALMA   INQUIETA 197









A UM VJOLI ISTA





I


Quando do 1eu violino, as azas en1reabriodo l\fansamente no espa-;o, iam-se as notas querulas, Anjos de olhos azues, :is duas maos partindo

Os seus cofres de perolas,


- "inhas crenc;as de amor, esquecidas em calma No fnndo da memoria, ouvindo-as recebiam

Norn alento, e outra vez do oec•;u10 de minh'alma, Archipelago wrde, it tona appare ciam.


E eu via rutilar o meu amor perdido, Bello, de nova hi:z e novo encanto cheio,

E um corpo, que suppunha ha muito consumido, Agitar-se de novo e otlerecer-me o seio.


198 AL)L\  I NQU IE T A

Tmlo res11-;t"ita Ya ao teu inn11xo, a1-tista '. E minh'alma revia, allucinada   e louca, Olho,, cujo fulgor llll' Pnionh•t·ia a y j,;J,a, Lahios, (·njo sabor me e111ontel"ia a bocca.


Oh milagre ! E, feliz, ajoelhava-uw,   em pranto, Como qnem, por acaso, um dia, enlrau<lo as po1·la-; De um t"l'111iic1·io, vae ad1a1· ,·i vas a um (·anto

.\ s suas illn,-,oe-; quc• ac rndit: t,·a mor ta-;...



E  ficava  a  pensar...  como  se  niio  partia Essa  fraca  ma<lcira  ao  tcu  to(p!C,   ·iok nl o, Quan<lo com tanta febre a paixiio se estorcia Dentro <lo pequenino e fra il iu,;trumento !


Porque, nesse instrnmeuto, uni<los num st', peito, To<los os cora(:iit>,; tla ten·a palpiiavam;

E ha.Yia <lentro <l'e lle, em lag rimas des l'eito,

0 amor universal <le to<los os que ama,·am.


Rio largo <le sons, tapeta<lo <le flore5,

A harmonia <lo ceo jor i-a,·a ampla c sonora;

E, boian<lo e cantan<lo, alegrias e dores

lam  conente  em  fi',ra ...


A Primavera 1·in<lo esfollrnva as capellas,

E entoroava no chiio as amphoras cheiro,;a,; ; E a ca11t:iio accor<lava as rosa s e a,; estrellas, E enchia <le <lesejo ;is estrellas e :i,; rosas.


AUIA  INQUIETA 199

E a agua verde do ma1·, e a agua fresca 1los rios, E as ilhas de e,,meralda, e o ceo resplandecente,

Ea cor<lilheira, e o valle, e os mattagaes sombrios, Cn•spo-s, e a ro1·ha hrnta exposta ao sol ar<lente :


- Tudo, ouvindo essa voz, tudo cantava e amava !

0 amor, caudal de fogo ati-opelada e acce-;a, Enti-arn pelo san e e pela seiva entrava,

E ia de corpo em corpo enchen<lo a l'latureza !


E eil-o triste, no chao, inanimado e frio,

0 teu pobre ,iolino, o teu amor primeiro :

E inda nas cordas ha, como um !eve arrepio,

,\ ultima vibrat;ao do arpejo derradeiro...


Como, ig1 eas e immortae8, num redomoinho insano, Longe, a torvelinhar em ceos inaccessiveis,

Pairam constellayoes virgens do olhar humano, Nehulosas sem Jim de mundos invisiveis :


Tai no teu violino, artista ! adormeeido

,\ espera do teu arco, em  grupos  vaporosos, Dorme, como num ceo que nao alcanya o ouvido, Um muntlo interior de sons mysteriosos ...


uspendam-me ao ar livre esse doce instrumento I Dei.\em-n'o ao sol, em gloria, em delirante festa ! E elle se embebera dos  perfumes  que o vento Traz dos frescos desvaos do ,alle e da floresta.


:200 . \ L !\IA   INQU!F.TA

()-. pa"-saros Yi1·iio tecer 11C'lle os sC'us niuhos !

_\ ,._ rosas se ahririio em suas cordas rotas! I·: Pile derranrnrit solwe os YC'rdl's caminhos Da antiga melotlia a'- esqu<'cidas notas!


1-Iiio-<le a<, a,l's !'antar, hao-<le cantar a-; flt'1res...

t I-; astros sorrirao de  amor  na  immensa  espbera... E a terra :iccor<lari1 para os novos amores

De noYa prima,era !





II



Porque, como T<'1·pandro accresceutou a lyra, Pam a tornar mais tloce, um:i corda 111ais p11ra, Que e a corda onde a pai:1.iio desprezada suspira,

I•:, em  lagrimas,  a arder,  su-;pira  a  <lesventura;


Tambem  tl'esse  instrumento as quatro cordas de ouro,

0 Desespero, o ,\mor, a Colera, a Piedade,

Tu, nobre alma, chorando accre,;cC'ntaste o 1·horo Eterno C' a eterna d11r da <'orda cla arnlatlt•.


J'.: sautl:itl<' o que sinto, e me cnche <le ais a hocca, E me arrebata o sonho, e os ncnos tn<' 1'11-.ti a, tJ11a1uJo ti' ou<;o tocar  :  saud:ule aociosa  e louca Do primitirn amor e <la helleza :intiga...


AUL\  IN'QUIET \


Para traz ! para traz ! Ba,-,ta um ,-.irnple;; aq1rjo, Basta uma uota so... Todo o r,-,pa1:o e,-,11·r11w<·t> : E, dando am; p s do amatlo o derradt>i1·0 brijo,

. Quasi morta de tli',I", lagdalrna apparP1·e ..


Ao luar de Yrrona, a :rn10ro-.a calw1:a

De Julieta tlesmaia P11tre os lu·:11:os do amantr ao tarda quc a alvorada rm fogo n·splamlri;a, Ena drrnza cm flor a cotovia cantc...


\'ium tristc, quc i1 paz do elan-stro pt>tlc allivio, Para a sua , invrz, para o seu luto irnmcnso, Branca, sob o livor do rs1·apulario nivco,

Hrloisa ergue as miios, nnma nuvcm de i111·1•11-.o ...


Ena suave cspiral <las mclodias puras,

Vao fugindo, fugindo os vnltos infelize", Mostramlo ao men amor as suas amargu1·;1-s, Mostrando ao mcu olhar as snas cica1rizr".


Canta ! o rio de sons que do ,-.eio tr brota

E, cntrc os parceis da dor corre, cascatcarnk•.

E vae, de vaga em vaga, l' vae, de nota em nota, Ao sabor da corrcntc os sonhos arrastando ;


Que pclo valle espalha a cabcllPira inquieta Refrescando os rosacs, e, em lcvr borborinho, . Um gracejo scgreda a cada borboleta,

E segreda um qucixumc a cada passarinho ;


ALMA  INQUIETA


Que :i todo o d1'"1·onlill'lo e a totlo o soflrinw•nto

..\111· <> maternalnwnt<> o n • , a : o  das aguas,

- I·:o 1·io perfumado e azul tlo Es1111P1·i111<>11to,

Onde s,r ;io hanhar t0tla" "" minhas maguas...


AU[A   IXQUIETA 203










EM UMA TARDE DE OUTONO





Outoao. Em frente ao mar. Escancaro as janellac: Sohre o jardim calado, e as aguas miro, absorto. Outono...  Ilotlopiando,  as  folhas  amarellas Rodam, eitem. Yiuvez, ,elhil'e, <lesconforto ...


Porque, hello nm io, ao cla1·:i.o tla.;; estrella-;, Yisitaste este mar iuhabitatlo e morto,

Sc logo, ao vir do vento, a!.riste ao vento a-; velas, c logo, ao vir tla luz, abandonaste o porto?


A agua canton. Rotleava, aos beijo"s, os teus flancos A e-;pm11a, tle-,111anchatla em 1·iso e floccos hranco.;;...

la-; chegaste com a noi1e, e fugi,;tc com o sol.!


E eu olho o ct\o <leserto, e vejo o oceano triste, E contemplo o logar poi· mule te sumi,;te, Banhado no cla1·ao nasr·ente tlo arrebol...


204 AlMA     INQU!ETA








B.\LL\DAS RO.\L\lVIICAS






Branca -..



Yi-te r,equena : ia-; rezando Para primeira communhao : Toda d . hranco, murmurando, a fronte o v1:o, rosas na mao.

\'ao ias si, : grandP era o bandu ... l\lac; entre todn.s te Ps1·olhi : Minh'alrna foi IP acompanhando,

A wz primeira Pm que (e ,·i.


Tao branca t' mo<;a ! o olhar tii<J hrando !

Tao innocente o cora<;iio !

Toda de Franco, fulgurantlo,


AL IA  l NQ UI ETA


:\lulher em flor ! flor em botao !

Inda, ao lembral-o, a magua ab1·a udo , Esque1:o o mal que , !'111 dt· ti,

I·: , o rne u raneor l'.-,t ra uf;11I a ntlo, Ilemdi go o clia  em q11e ti· yj !


Rosas na mao, bra neas... E, q u:1 utlu Tc ,·i pas sa r, hranca vi,;iio,

Yi eom espanto, palpitanclo Dentro de mim, e-;t a paix ao.. . 0 eora c: iio puz ao teu ma n tlo.. . E, porque esera Yo me re ntli ,

Ando gemendo, aos  gr it os  andu.

Porr1ue te amei ! porqne te  yj  !


Depois fugish•... E, inda 1l- ama111h-,

\em   te o<liei, nem te esqueei :

Toda de branco... las rnza n t'.o .. . Maldito o dia em qne k vi !




II


A t ul...



Lcmbra-te bem ! Azul• c·e l cs t e

Era  e ss a alcova l'111  que  t e a mci.

0 ultimo  beijo  que  me  des te Foi nessa alcon1 que o tomei !

l :!


206 AL)IA  INQU IE T.

J'.: o fii'tnamento qne a reveste Toda de nm ealiclo fulgor :

- llm fii·mamento, em que ptv:t•st<>. Como uma c,-,t1·clla, o 1eu amor.


Lemhras-te? Um dia, lllP dis-;!'s1c Tudo aeabou I » E en exelamei :

<: Sc yaes partir, porqne viPSI!' ? ,

· E a-; tuas plantas me arrastci...

Beijei a fimbria it  tua Yl'ste, Gritci de espanto,  uivei de din· :

« Quem ha que IP ame c IP rpq111•-..te Com febre igual ao men amor? "


Por todo o mal que me fizcstc, Por todo o pranto que chorei,

- ('omo uma ea,;a em que en1ra a p1•-..t!', Feeha c-..s;1 casa P111 que fui rei !

Que nada u1ais  pcrdurc e rcs(p

I l'essc pa;-;,,ado embriagador :

E eubra a sombra de um c·yp1·t•-..tl'

.\. sepultnra d'este amor !


Desbote-a o inverno ! o estio a er."·s1e !

Abale-a u vento eom fragor !

- Desabe a  igreja  azul-eeleste Em que offieia rn o men amor I


ALMA    INQUIETA 207




111


Ver de...



Como era YC'r1le C'-,;te caminho !

Que calmo o ceo ! q11e Yerde o ma r ' E, PntrC' festues, dP n inh o C'lll ninho,

.\ !'l'imavcra a goq;,C'iar !...

Inda me exalta, como um vinho, Esta  fat a l  recor<la<;,ioI

C'ccou a flr"u·, ficou o e,-. pinho...

Como me pe,-.a a solidiio !


Orphao de amor e dL· cariuho ' .. .

Orphiio cla luz <lo ten o l har

- Verde tambem, verd e- ma1·inho, Que eu nunca mais hc·i-dc olvidar ! Sob a c::1111is a, aha de linho,

Te palpi'\ava o corac;a o ...

..\ i ! cora<;iio ! pen o e definho, Long e de ti, na soliclao !


Oh ! tu, mais branca <lo que o arminho, i\Iai s palli<la clo que o luar !

- Da sepultura me avizinho, C'mpre que volto a C'ste Iogar...


.\L'.\IA INQUIETA


E digo a cacla pa-;sarinho :

:\:io 1·a11te-. mai-; ! qm· e-.-.a can1:;o

\'cm rnP IPmbrar que Pston sosinho,

:'\o exilio d'p-.ta solidao !


'io tpu jarclim, que t(pc;alinho !

(Jue falta faz a tua 111ao !

Como incla 1; ,  p1•de este caminho...

:\las eomo o afeia a solidao I





]\'



.Yeura...



f'oc;._a-. 1·ho ra r, arrPJ)('lltlicla,

\'pndo a -.a ud:ulP qrn• aqui \':IP!

, · , q11P inda, nPgro, <la fi_·ritla

.\o-. horhotiiPs o sangue 1·aP ...

IJne a 110-.--a hi ...toria, a-.-;im relicla,

0 11 ;-.-.o amor, lemL1·ado as-;im, l'o----:1111 fazp1•-tp, rommoyida, l111la uma y1•z pp11-;a1· em mim !


:\linlt'alma pobre e dP,Yalida, Orpha d.. m:i.P, orph:i. de pae,

\'a p-;rnridiio Yaga 1)('rdicla,

l)p q111\1Ja Pm qupcfa e cle ai em ai I



AUL\  l'.\QU I E'l'A


E an<lo a ln1scar- fl'. E a minha Iida

\ iio tern tl\'sca nso, nao tern fim : Qnanto.mai s longe andas fugida,

)(ais te vejo en perto de mim !

209



Loueo ! e que J ugubre a deseida Pm·a a loueura que me a1t1·ite !

Ter rin' is p agi n:1-, d a vicla, l·:-;rn ras pagina, , - eantai !

Vim,  emr    it,i o, <la  minha  e1·mi tla ,

l\lorto, <lo men se pulero Yim , Ergner a lapi<le eahida

Sohre a esperan a l{ne hou Ye e m mim '.


Hevivo a magua ja Yivi,la Ea-; wlhas lagrima s... a fim

De que ehorando, arrepen<lida, Possas lembrar-te inda de mim '.
















12.


210 ALMA   INQUIETA








VELHA PAGINA




( 'hove. Que magna la fbrn !

Que magua ! EmLrnseam--cp os ares Sohre e,;1e rio 11110 ehora

Longos e ett-n10,; peznres.


E sinto o qne a tena senle E a  tristeza  que  <liviso, Eu, de teu,:; olhos ansente, Ansente de teu sor1·iso...


As azas loueas abrin<lo,

Meus yp1•sos, nnm longo aneeio,

:\lorrel'iio, sem qne, sorrindo, Possa acolhel-os 1eu seio !


Ah ! quern man<lou que fizesses Minh'alma <la 1ua escraYa,


AL:\!.\ l:\'QUIETA


E ouvisse,-; as miuhas preces, Choran<lo como eu chorava?


Porque e q11e um dia me ouviste, Tiio pallida e alvoroi;a<la,

E, como quern ama, tristP, Como quern ama, cala<la?


Tu tens um nome celeste... Quern e <lo ceo e sensi ye) ! Porque e que me nao <lisses te

Toda a wrdade terri Yel ?


Porqne, fugindo impie<losa, Desertas o nosso ninho ?

-   Era tiio bella esta rosa !...

J:'1 me tardaYa e-..te espinho !


Fora melhor, porventura, Ficar no antigo degredo QuA conhecer a ventura Para perdel-a tao cedo !


Porque me ouvi,;te, enx-ugando

0 p1·anto das minhas faces ? Viste que eu vinha cho1·an<lo ... Antes assim me deixasses !


Antes!  leno1· me seria 0 soffrimento, querida !

211


AUIA ! :'\Q U IE T. \


.\ ntes ! a mao que alli, ia

.\ din·, e c ura a lerida,


\'ao deve depoi-.., 1ranquilla,

\"endo ,-uffol'ada a. magua, Encher de sangue a pupilla. Queja Yira cheia de 11:-;ua ...


:\fas junto a mim que 1t• fal1a? Que gloria maior te chama ?

\'ao Sl'i de gloria mais alta

Do qne a gloria. de quern ama !


Tah-ez te cha11w a riqueza... Despreza-a, heija-me, e fil'-a !

\ 'ed s que a-;,;im, com certeza,

;\f;io ha qnem seja mais ri1·a !

( 'omo e que quehras os la1;os ( 'om que p1·emli o universo,

Ent 1•p os nossos quatro hra1:os,

\'a jaula azul do meu yp1•so?


( 'omo hei-de eu, de boje 1'111 di;111te ,

\"iwr, depois que parti1•p-;? Como q11P1'p-; tu que Pu ca.nte

\'o dia em rp1e nao mt> onvires?


Tern pena  de  mim ! tern p1·1ia De alma tao fraea ! Como ha-de

l\linh'alma., que e tao pe(flll'll:I,

Poder com tanta. saudade? l


AUL\  INQUIETA 213








,vILFREOO


LENDA DO   RIIEXO.   GR AND   lO UG IN







I


0 Castello.



Sohre os rochedos,  longe. ,  o Castello  apparecc, Dominando a extensiio <las florestas somh,·ias. A tarde cae.  0  vento  abranda.  0  ar  e-;curece. E  \\'  ilfrc do raminha  entre  as  neblinas  frias.


Yac vcl-a ... E estuga o passo. Alto e silencioso,

A brc o Castello, em fogo, os vitraes <las jancllas. Nas ameias, manchando o ceo caliginoso, Aprumam-se perfis de immoveis sentinellas.




\\' ilfred,o

.\ L) IA     INQ U! ET .\


:w ou,ir a voz 1la s ua Dama ...


\1;1-.. no ,-p n 1·or a1: ;io pl'rtnrba tlo, par'1 1''1

Q.ue YiH'. l'nl "'Z      do amor,, (' -:a li ei l'a ehamma , Que arde apena-,; um dia, arde l' desapparC<'e...


I•: o a1·ruinado  ,-olal',  rl'llPt' lid  o  no  Hlll'no,

ulw e o qua! paira e JlL'";1 nm sonho --ol11·ehnmano, S t',L e,  entn' o-,; astros,  ,..-,.  furan<lo  o 1;' lo s1•1·t•110.

Com a cal ma e o l'splendor tie um wlho sohl'rano.




II


t.-. fad as da lar;oa.



\\' ilfr edo conh l'l'l'U o amor 110,- brac;o-.; <l' Ella... TP, ·l'-a ni1a, a 11'l'mcr, 110 s b i-:1 0 ,-, nirn l' fri:1 ! Teve-a nos Lra os, lou c-:1, apaixona<la t' bella !

,   ta s park, allucinado, a11jp,-  qnc aponlP o dia...


f: qnc uma outra paixao o desenida<lo pl'ito

Lhe entrou. Paixiio 1Tul'l , lo1w111·:1 que o atordi'1a, Desde o momento Pm que, for mosas, sohre o Jpito Das agna" l'alma, , ,iu as fadas da lagoa.


P:,.rk... ..\ m:11· 1·111 fatal da lagoa da-- fadas

( ·Jwga,  e  c·m  <".  1a st•  fiea ,  a  riha em  llin· miraudo. l'm lig l'il'o l'u111or de , ozc,, aLa fada s

Augmenta ... E 1•, ,-11r gl' da agua o apaixonado Lando.


ALMA INQUIETA


f'ol're Wilfre<lo,  em  felm.-,  a   apertal-as ao scio, E desprcza o passa<lo e esquecc o juramento : Beija-as, e, na C'xpansii.o <lo ca1·inhoso anceio, lmmola to<la a vi<la aos beijos de urn momento.

215



Para os seus corpos tC'r, toda a alma  lhes C'ntrcga; E, na allnein:u;:io  do gozo em  'Ille  se  inflamma, Por esse amor, por Pssa l•mb1·iaguez re neg a

0 Deus <los ,;C'1h a,t',.... o 1uno1· <la sua Dama...




Ill


0 Remor so.



Delir a. :\las   ,  depois 1ln  <le l i1·io  sublimC',

0 remorso, immorl:il, na!',WC' com o al'rebol.

E elle metle a Pxtcnsiio <lo seu monsfruoso crime, E escon<le a face it luz Yin:;adora <lo sol.


Busca assusta<lo a paz; busea choran<lo o olvi<lo...

.\ volupia infernal o eo1·a1;:i.o ven<leu,

E o inferno !he reclama o eora<;ao Yl'n<li<lo, Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe <leu.


Quer rezar, qucr voltar ao seu fe r \"or primeiro, Quer, nas !age", <le rojo, abominan<lo o :\la!,

er <le novo Christao, Fie! e ( ·ya a fleiro :

:\fas nao encontra pn na paz da eat hed ral.


AUL\ INQUIETA


Pobre ! att'• no pallor das faces man•1•;ulns Das monjas, cuida n'r a" fat·t>-.; quP lwijou :

.\h ! seios de marfim ! ah!  hrnTas perfumada" !

Recordai;ao cruel dP um Eden ffUP at·abou !


Parte so, sem de-.;tino, errando,  a pa--so ineerto, Por montes P l'eelw11s, no in,Pr110 e no vp1•:10,

E por a11nos SPm conta habitando o tll•,-e1·io, em lagrimas no olhar, -;pm ft'· no corai;iio.


Das florestas sem fim sob a abobada e-;eura Ouve, nos aleantis de em torno, a agua l'olar;

:-,ol11•p elle, a longa voz das arvo1·es murnrnra, E o vendaval reto1Te os ramos m•!p·os 110 al'.


Mas a fera, ao insPdo, ao limo vertlt>, ao  \('Ilk. Ao sol, ao rio, ao valll', i1 roeha, a serpe, i1 nor E em vao que Wilfredo implora o esquemmento

Do seu amor cruel, do seu honendo amor...






IV


O Ca8tiuo.



Volta ... Nem lueta jil contra o crime que o attr;'1P... Velho e tropego wm, mendigo esfarrapado.


AUIA  INQ U IE T _\


E cxanimc, por fim, num calefrio, cac

-,em conscicncia, ao pe das aguas do Peccatto.

217



Calma.. \. noit<' cahiu. :'{em um pa-;saro voa. Nao piam no sileacio as aves agoircirn-,.

l\las palpitam, luzinclo, a bcira da lagoa,

Fogos fatuos -.11htis sobre a-; hervas rasteiras.


E, entiio, ,vilfredo ,e, prcza de um medo atroz, Do denso turbilhao dos fogos repcntinos,

Com tcntar:t'ie,; no olhar e conyitPs na ,oz Surgircm turbilhoes de corpo s f<'mininos.


E o Inferno pcla  yoz dos fogos  fatuo,; fala ! Wilfredo foge. 0 horror Yae com elle, inclementc ! Foge. E corre, P- Yacilla, e tropec;a, c resvala,

E levanta-se , <' foge allucinadanwnte...


Em viio ! 1w-.a sobre elle um destino fatal :

E o louco, <'Ill todo o horror dos campos tcnebrosos,

Ye fcchar-s<' <' prendel-o a cadcia iufemal Da infernal multidao dos Elfos amoro-;o.,;...











13


218 ,\LMA     INQUJETA








TEDIO





:--obre minh'alma, como sobre um throno, SPnhor brutal, pesa o ahorrecimento.

( '01110 tarda-; em Yir, ultimo ontono, Lan,:ar-me as folha,:; ul1i111a-; ao   vento !


Oh! <lormi1·, no --ill'n('io P no aban<lo110,

!-,t'1, sem um sonho, -;pm um 111•11,-,anH•111o, E, no lethargo do an11i,p1ila11wnto,

Ter, i, pe<lra, a <[Uietude do  teu  somno !


Oh ! <lPixar d,· -;onhar o qne nao vejo ! TPt' o ,;an;.:11e gelado, P a ,·ar1H· fria ! E, de nma luz crepuscular velada,


Deixar a alma dormir sem um dP,-,Pjo,

, \ mpla,    funebre,  lugubre,  vazia

(°01110 uma cathe,lral abandona<la !...


ALMA   INQUl'ETA













REQUIESCAT




Porquc me Yens, com o mcsmo riso, Porque me Yens, com o mesmo olhar, Lembrar aquelle Paraiso ,

Extincto para nos '!


Porque levantas esta  lousa  ! Porque, cntre as sombras fune rac-., Ven« accord:tl' o quc rcpousa,

0 que niio Yi Ye mais ?


Ah! es qu(',: amos, es-que i;amo ;; Que foste minha C   que fui  tcu :

Nao Iembres mais quc nos :unamos, Qu<' o nosso amor morrcu !

0  amor  e uma  arvore  ampla,  e  rica De fr uct os de ot N,     e tic cm br '.a guez :


220 ALMA  INQUIL'J'A

J nfolizmente,   fruetifica

Apena -; uma vez...


oh ('s,;;a-; ram a . perfumada'-, Teu-- beijos 1odo,- eram llll'll" Ea..;  nossa-;  alma;;  ahra 1: ad; 1,-

Fu iam para Deus .


la s os teus heijos esfriaram ... Lemhra-te hem! lembra -t t,' l Pm ! I as folhas pallidas murcha1·am,

E o IJ(J..;;;o amor 1:lmhPm.


.\h ! frueto;; de ouro, q11P colhemos, Fructos da cal ida Ps1a(,'iio,

C : o m que deli, ·ia , o,- mordemo s, Com 1111P sofreg ui,I iio !


l. P111 hra B- 1e ? os fructu,- p1•;1m doces...

:-ip  inda os pudesBemo-;  provar I

:-ip eu  fos;;p  teu...  Sl'  minha  fo%PS, E eu 1<> pude,-,-p ama1·. . .


J-:111 Yao, p01·e m, mp lu •ij a,-, lou ca !

Ten heijo, a palpitar ,. a a r, lt•i·,

:\' iio aehara, na minha boc,·a,

Outro para o al'olher.


N:'io ha mai;; heijos, ncm  mai s pranto !

Lemhras-te ! rpmndo te p.-1·.li,


AUIA   INQUrn I'.-\.


Beijei-t.c tanto, chorei tauto,

Com tanto amor, pot• ti,

221



Que OS olhos,  ves ?  ja tenho enxutos, E a minha bocca s1• cansou :

A arrn1·e j{t nao tern mais fr ucto s !

Adeus ! tudo acabou !


Outras paixoes, ontras idade,; '. Sejam os no-,.,o,;; cora oes

Dois relicarios de saucladcs

E de record:u;ues .


Ah! esque(;amos, esque'ta1110 '. Durma tranqnillo o nosso amm· Na cova 1·asa onde o enter1·amo'5

Entre OS rosaes Clll flol'...


222 AUIA    lNQUIETA








SUROINA




No ar  socegaclo  um  sino canta, l :111  sino canta  no ar  sombr io ... Pallida, Yenus ,;e leYanta ...

Qn,· frio !


1· 111 sino canta. 0 campa nar io Longe, cntre 11,·, oa", appa1·,'1·(•... "i110, que 1·antas solitario,

Que quer dizer a tua prece ·?


(JnC' frio ! f'111h111;am-se a,; collina>< ( 'hbr a, correndo,   a agua do rio; E o t'L'O se cobre <le neblina-.;.. .

(J11C' frio !


:\'inguem. .. .\ estra<la, ampla 1· ,-iJente, cm caminhantes, a<lo1·mece...


ALMA INQUIETA


Sino, que cantas docementc, Que quer dizer a tua precc ?

2:!3



Que mcdo panico me apcrta

0 1·orat;iio triste e vazio I

Que esperas mais, alma deserta !

Que frio !


Ja tanto amei !  ja ,-.offri tanto !

Olhos, porque inda ('si:t<'S molhados? Porque t'.· que choro, a ouvir-tc o canto,

:--ino quc dobras a finados ·?


Trevas, cahi ! <inc o dia e morto !

Morre tambcm, sonho 01-ratlio !

-   A morte e o ultimo conforto...

Que frio !


Pobrcs amore,,, sem destiuo, Soltos ao vento, c dizimados !

Inda vos choro... E, como um sino,

:\leu cora1:iio dobra a finados.


E com que magua o 1:;ino cant a,

No ar  soccgado, no ar sombrio !

-   Pallida, Venus se levanta ...

Que frio l


224 Al.MA lNQUIETA










ULTrMA PAGINA





Primavera. l'm sorriso abcrto em 1udo. Os ramos Numa palpitac;ao Je flores e de uinhos.

Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos (Lembras-te, Rosa?) c ao sol de ou1ubro nos amamos.

Yerao. (Lcmbras-1c, Dulce ?) a bcira-mar, s,,sinhos, Ten1ou-no8 o pcccado ulhas1e-mc...  c peccimws. E o outono desfolhaya os 1·08eiraes vizinhos,

0 Laura, a yez primcira cm que nos abrat;f1mos...


Yeio o inverno. Porem, sPn1aJa cm mcus joclhos, Nua, presos ao8 men8 os tens lahios vermelhos, (Lembras-tc, Branca?) ardia a 1ua carne cm fl6r...


Carne, que queres mais '? l'm·ar:iio, quc mais qucn·s !

Pas-<am as estac;ocs c passam as mulhercs...

E eu 1cnho amado 1anto! e niio conhct;o o Amor!

















AS VIAGENS




















13.


 


 










I


Primeira mig-rar;iio.



Sinto as vezes ferir-me a retina offm,eada

L:m sonho : -  .\ natureza  alJl'e as  perpetuas fontes.

E, ao elarao ereador qne invade os horizontes,

\'ejo a Terra sorrir a p ri meir a ah·orada.

l\os mares c nos c! o.-;, nas reehans c nos montee, A \'ida eanta, ehora, arde, delira, brada...

E arfa a Terra, n11111 parto l10rrendo, earregada De monstros, de mammouths e de rhinoeeron tes _


Rude, uma gera-;ao de gigantes aceorda

Para a conquista. A uirnr, do refugio das furnas A migra-;ao primeira, em torvelins, transborda.


E ou«;o, Ionge, rodar, nas primitirns 1\t-as,

Como uma tempestade cntre as sombras nocturnas, 0 estrupido brutal d'essa inrnsao de feras.


228 AS   VIAGENS







1[



Os Pheniews.




A Yida gente, ousada e moi;a,! \ vida g<'uie!

D'esse  esieril  torriio,  d'esse  areal  maninho Entre o Libano e o mar da Syria, - que <'a minho Busea, turvo de febre, o yosso olhar ardenie·?


Tyro, do vim azul do pelago m:u·inho,

Branca, nadando em luz, snrg<' resplantl<'<'<'l11£'... l\a agua, al)('rla em da1·ti<'s, d10earn-se de l'qwnle Os rernos. Rangem no ar os rnlames e linho.


Hiram, com o seepiro negro em que artl1•111 pedraria'-, Couia a-; barea-; de eedro, atupitlas de fardos

De ouro, purpura, onyx , ,-;pdas e e--pP1·i:11·ia--.


Sus!  ,\o  largo!  :\lelkhari  abeni;oe  a   parlida Dos que vao de Sidon, de (;<'hd e de Anlardn-; Dilaiar o eornrnereio e propagar a \'ida !


AS   VlAGENS 2:20







III


Israel.



Caminhar! caminhar!... 0 deserto p1·imeiro, 0  mar depois....\reia e fogo Foragi<la,

A tua ra a rorre os desastrC'-; da vi<la, Insulta<la na patria e odia<la no estrangeirn !


_Onde  o leite,  on<le o  mel da  Terra  Prometti<la?

-  .\  guerra!  a ira de Deus! o exo<lo !  o ca ptiYeiro !

E, molha<la dC' pranto, a oseillar <le um salgueiro, A tua harpa, ISl'ael, a 1ua harpa esqueci<la !


Sem templo. sem alt a1·, Yagas peI'pe tuam ente ...

E, em  torno de :-,iiio,  do  Lihano  ao   far .Morto, Fulge, de moute em monte, o e,-cal'neo do t.'1·esee nt e :


E, impas.si Ye l, Jehovah k  Ye <lo eeo profun<lo,

- Naufrago amal<li oado - errar de porto em port o, Entre as impreea,:iie-; e os 11Urages do mun<lo!


230 AS  VIAGENS








IV


Alexandre.




Quem te cantara um dia a ambi<;ao desmarcada, Filho da heraklea <''-'til'pe ! e o clamor infinito

Com <1ue o povo da . Emathia acorreu ao teu grito,

\'oanclo, como um tufao, sobre a terra abrazada!


Do Adriatico-'.\1;11· ao lnd11-.;, e do Egypto

Ao Caucaso, o fulgor do aceiro d'essa ""'Jlada Prosternava, a t1·<>111er, -.;olwl' a lama da estraila, Idolos d<> ouro e bronw, e e-.phiuge-.; tJ,. i ra11itll.


Mar 11ue regonga e estronda, p,;p<>d:wando diques,

- Aos confins da ,h,ia rica as phala11gp,; 1·m-riam, Encrespadas de furia e <>rrii;adas de piques.


E do sangue,  do  po, dos destroi;os  da  gnern, Aos  teus  pes,  palpitanclo,  as  cidades  nasciam, Ea ,\Ima Grega, comtigo, aYassallava a Terra!


AS  VIAGENS 231











Cezar.



Na ilha de :-:f'yne. 0 mar brame na costa bruta. GPmem os Lardos. Triste, o olhar por ceos em fora Uma dl'Uidiza alonga, e os a,-.tros mira , e chora

De pr, no liminar da tencLrosa gruta.


,\bandonou-te o deus que a tua ral,'a adora, Pobre filha de TP11t ! Cezar ahi ,em ! Esrnta 0 passo  das legii, s!  ouve  o  fragor  da  Juda E o alto e crebro clangor da lml"cina sonora !


Dos Alpes, sacudindo as azas de ouro ao vento, As grandes aguias soLre os dominios gaulezes Descem, escurecendo o azul do firmament0 •. .


E ja, do lnterno Mar ao Mar Armoricano, Retuml,a o entrechocar dos rutilos pa,czf',-; Que carregam it gloria o lmperador romano.


 231








n

Os uaruaros.



\ '•·11tre nu,    seio,; 111'1,;, ioJa  nua, cantamlo Do (',a;morecer da iar<le ao rcsu1·gir «Io dia, noma  l;i -.;ei, ·a  e  louca,  ao  rebramar  da  orgia, oulrnrn, ciP friclinio l'lll iriclinio rolando.


!\la<; ji1 <la longc S,·ythia  c  <la ( t>rmania  fria, Esraim ado , ra11gC>11clo os <lcniP", como 11111 l,a nclo J)(' )ohos o sa uo1· da p r c :m a11t .. ;.;oza11do,

t I tl'Opel  rugidor  Jos  Barual'O,; <lcsci:i _


1-:il-o,; ! .\  hcna, aos,;('u,;I  1i'•,;,    mirra. I )p  sanguc clieiu,, T un ·a m-se o,; 1·io" . Louca, a llol't>,,la farralha ...

E C> il -o ,;, - torvos, hr 11 l a c>-,, cahelln<los c feios!


Dona,·, Pac da Ton11P11ta, i, frentc d'cll<-,; 4• 01· •1 4• :

1: a ig n e a ba1·ba Jo cle 1s1 , <(UCO inccn<lio aieia c C",palha, lllumina  a  agonia  ap    -.;,;1    i111pcrio <(IIC mo1Tc...


 







...

. -ts cruzada s.



(Dia nte de um retrato antigo. ) ..

Fulge-te o morriao sobre o cabello louro,

E avultas na moldura, alto, esbelto e memhrudo, Guerreiro que por Deus abandonaste tudo, Desbaratando o Turco, o a1Ta!'.e110 e o :\Jouro !

Brilha-te a lam:a a miio, presa ao guante de couro. l\'o peitoraes de ferro arfa-te o peito ossudo.

E ali;a-se-te o brazao sobre a chapa do escudo,

Nobre : - em campo de blau ;;;('1(> besante s de om·o.


« Diex le Yolt I E, bariio entre os baroes primeii-o, Foste, atraYC'Z da Europa, ao Sepuh.To amea i;ado , Dentro de um turbilhiio tie pagens e escudeiros...


E era-te o gladio ao  punho  um  relampago  ardente ! E o teu pendao de guerra ondeou,  glorioso,  ao lado Do pendiio tie Balduino, lmperador do Oriente.


 













\•i .. a  attrac-:ao  da  aYentura  os  sonhos  te  arrebata,

.,I ( 'onqni,dador, ao largo! .\  tua a\111a  se1\enfa

(J11t·1· a  gloria, a corn1uista,  o pel'igo,  a  tormenta.? ( .\o largo! sacial':'ts a amhii;ao que Jp mata !


AS   VIAGBNS 237









0 Polo.



.. Para, Conquistador intimorato e forte!

Para! que buscas mais que te ennobrei;a e eleve? E tao alegre o sol! a exi-.;tc1wia e tao breve!

E e tao fria  essa  tumha  entre OS f;C'los  do .\'ortC'I

Dorme o Cl;O. '.\'uma ronda esqualida, de ll'YC', En·am fantasmac;. Reina um -<ilC'neio dt> mortC'.

Phocas de n1lto informe, ursos de Pstranho p01•tp

u Morosamente vao ill' ra,;tros sobre a 11PYP ...


Em vao!. .. E o gelo crC'SCC', C' espeda ·a o navio. E elle, subjugador do perigo e do medo ,

Sem um gemido l'ite,  morto de fome C' frio.


E o :\fysterio se fecha aos seus olbos serenos...

Que importa? Outros virao devassar-1he o segredo I Um cadaver demais... um sonhador de menos...


238 AS   VlAGF:NS







XII


,1 Morie.



Oh! a jornada negra! A al ma, ,,;c d£>spedar;a ... Tremem as maos... 0 olhar, molhado e ancioso, e--pi , E vii fugir, fugir a ribanceir a fria,

Por oudc a  prociss iio <los dia-, mortos passa.


:-,;o ceo gelad o C.\ pira O dt•1-ra.<leir o tlia.

E a ult im a re :,,; iii o quc o tt>u olhar dPva-,sa '. E ,,,,, trevoso e larg o, o mar e-,tartlalha<:a

\Tu indizivel horr or di· uma noit1• va.zia.. .


Pobre! poPcflle, a solfr£>r, a L(•,,;tt> ea 1),;,,tl', ao :\ol'II' E ao Sul, desperdi aste a for,;a <le tua alma•/

Tinha-; tao perto o BeJ11, te n<lo tao perto a '.\Ioi·te!

Paz a tna amhi,_'.ao ! paz a tua 1oucura !

.\ conqui,,;ta melhor e a conqui-,ta <la Calma :

Conquista,,;k o paiz <lo :-;unmo e da. Yentura !


.-\S  VJAGENS 239








XIII


:\   ?\I IS, S \ O  DE  PURNA


(Do Eoangelho de B uddha )







Ora Buddha, quc, em prol <la no\'a h;, Ie, •a nta Na lndia antiga o <'lamor de uma cruza<la santa l'onfi·a a religiao dos Brahmane.;;, - medita.


Immen a, cm tor 11 0 ao sabi o, a mttltiil iio .;,e agita E ha n'p-.;;a multidao, que en1·he a planicie vasla, Homen-; de toda a esppr•ic, .\ r ·as dP toda a <'a-;Ja.


Todos o-; que (a princip io, enehia Brahma o e-.p:ii;o )

Da cahei;a, do pr\ da r,'ixa ou do anlehrai;o Do den-; ,·ier am i1 luz p...-a poYoar a terra :

-- K,·h atr ia-., de lwai;o fork arrna<lo para a guerra ; (_'n kias, filho-. d,· n •i-; ; leproso-; pe1·,eg11idos

C'omo c-iie-,., como e t'" de Jar em Jar f·o1·riclos :


240 AS     YIAGEXS

0;; que vi, em no  mal  e  os  que  amam  a  virt ude; ( ,.., ricos de helleza e o-s pobres  de  sat'Hle; i\Iu]hp1•e-,  fort es,  - mifr, on pro--t it u t a-;,  cheio De tf>nta<:iies o olhar ou d<' alvo lei(<' o "t'io: (,uanladores de lmis ; robustos l:nradrn·P-s,

.\  cnjo arado  a  ter1·a  abre  em fruct os  e  flor <' -; ; ( 'rea nr,a s ;  a1 wiiio s ;  ,;aep 1•<lotp;; de   Brahma ; Piria-,, :--uth•a-; sp1•,·is ra'<(ejando na lama;

To1lm; acham amor  IIPntro  da  alma  de  Buddha, E tudo 11Ps-;P amor ,-,p t>ternisa l' traw,muda ...

Porque o sahio, P11vohe1Hlo a tudo, PIii ,;p11 <·aminho,

:\'a  me-,111:1  caridade  <'  no   mesmo  <0  a1·i nho,

Sem distinc<:ao promettP a toda a 1·ai;a humana

.\ bemave ut nr a nr,a etcrna do :\'in ·a na.


Ora, Buddha medita. ..

.\ maneira do orvalho,

Que, na calma da noitP, anda dl' galho Pill galho Dando  ,ida  e  humidade  i1-s  an·o1•p-; <-rP-;t adas  ,

-  .\ o-; 1·01·a<:<1<'" s e m fr· <' :\-;  ahna-; desgra<:ada-; ( 'o m•pde   O  0 0   \'0     cr edo  a  espp1·:111<: a  do  S (Jll lll O   :

.\la-;... a-, al111a-; que p-;tii o, no h01·1·ivel ahamlono Dos  desertos,  de  par  com  o-; animaes  fprozPs, Longe de huma no olha:·, longe de humanas vozes,

.\ rola r , a rola r de pP1Tado Pm pet·f•ado ?...



Ergue-se Bnddha :



Chega :

Purna!


0 discipulo amado


, Purna ! P 111i-,tp1· qne a palavra <livina


AS    VIAGENS 24.1

Da agua do mar d Oman it agoa do mar da China, Longe do Indus natal e <las margeus do Ganges, Semeies, atravez de dardos, e de alfanges,

E de torturas !

Purna onve ,-,01Tindo,  e  ,·ala... '.'lo silencio em que cs1i,, um sonho doce o embal:1

No profnndo  clal'iio  do  sP11 olhar  profumlo, Brilham a  ancia da  morte  e o dPsprezo  do  mumlo. 0 corpo, que o rigor <la-; p1·i ,·:u:iics ,·onsrHne, Esqueletico, m'i, comido pela fome,

Treme, qua-;i a cahir,  como um  bambn com o  Y('nto; E erra-lhe ft flor da hocca a luz do firmamento

Pref.a a um sorriso de anjo...

E ajoelha junto ao Santo: Beija-lhe o pb dos pes, beija-lhe o po do manto.


,  Filho amado ! -   diz Buddha -   c,;.-<a-; barbaras gentes

:io grosseiras e , is, sao rude,; e inclementes;

Seo-; homens(quc, em geral,,-,iio maos o,-; homens todos) Te insulta1·em a creni;a, l' a cobrirem de apodos,

Que diras, que faras contra es':la gente inculta?


;\Jestre ! direi que e boa a gente que me insulta, Pois, poden<lo espancar-me, apenas me injnri:i ...


" Filho amado ! e se, a injuria abandonando,  um <lia Um homem te espan,·:ir, ,cndo-te fraco e inerme,

.E sem pie<lade aos p:'•-; tl' pisar, como a um n•1·111c? •


" '.\fostre ! direi que ,: born o homem que me magoa, Pois, podendo ferii--me, apenas me csbordoa...

14


AS  VI.\GG:\'S


Filho amado! e '-P alguem, wndo-te agonisarrte, Te furar com um pnnhal a earnp palpitante?


.'\k,,;tre! direi quP i'· bom ·quem minha car ne furn, Poi", podendo matar-mP, apenas mp tortura ...


Fil ho amado! e ,;e, emfim, ,;pdento,,; dP mais s:mgnr,

TP arrancarpm ao l'orpo  PnfraquPt·ido  C'  P-xsangnP ()   ultimo  alPnto,  o  soprn  ultimo   th   Pxistencia, (Jul' di1·i1"', ao morrer, t·•111( ra taut.a inelpmp1wia '!


.'\lestrP ! direi qnP l; hom CflIPm mP liYl'a da ,idn!

.'\lP-.tn• ! dirPi que adoro a mao boa P querirla, Que, com t:io ponca dt',r, minha 1·ar11P cansada

Enti-ega ao -.nmmo lwm P i1 -.11111ma paz do :\;1da' >>


Filho amado ! -     diz Buddha - a palana   did'lla, Da agua do ma1· de Oman it agna ,lo ma1· <la Chi11;1, LongP do lndm, na1al  C' dos vallP..; tlo Gangt's,

VaP lPva1·, atra,Pz  dP ,h n los e de alfangp..; '. Pur11a ! ao fim tla 11P11un1·ia P ao fim da I 'a1·idatl1· f'hpga..;tp, p..;tJ•,111gulan1lo a tua humanidadP !

Tn, -.im ! pt'1dps partir, a po'itol o perfPito,

QuP o '.\'irvana ji1 tp11,; dPntro do proprio peito,

E t'•..;  tligno  ,h· ir  pr; , g  a r  a  totla  a  rac;a  hnmana

.\ bPmMPntnranc;a  P1Prna  do  :\irvana !


AS VIAGENS











XIV


SAGRES


-- Acreditavam os antigos celtas, do Guadiana  espalhados  ate a costa, que.. no templo circular do Promontorio Sa­ cro, se reuniam a noite os deuses, em

mysteriosas conversas com esse mar cheio de enganos e tentacoes ,,.

OL.    MARTINS. -     Hist. de Porrugat.



Em SagrP'-'. Ao tufiio, que se desencacleia,

A agua negra, em cadtt1cs, se precipila, a ui,ar; Hetorcem-,;e gemendo os zimbros sob1·p a areia ...

E, impa:,,,;i ml, oppondo ao mar o vulto enorme, Sob as frPrns do eeo, pelas trcrns do mar,

Be1·-;o de um mundo 110,0, o promontorio dorme.


S<',, na tragica noi1e e no sitio medonho, Inquieto como o mar ,;enti11do o cora1;iio,

.\lai"' largo do que o mar -,putindo o proprio sonho,

- 6, lerrando os pt;-; sobre um penhasco a piqu<', Sorvendo a ,entania e espiando a escuridiio,

Queda, como um fantasma, .o Infante Dom Henrique ..


AS  \'IAGENS


Ca-,to, fugi.ntlo o amor, atraYessa a existcncia Immune de paix,-1es, -.t'm um ½rito sequer

Na earne  adormecida  em  plena adoleseencia ; E nunea approximou da faee envelheeida

0 neetario da flor, a boc1·a da mulher, . Nada do quc pei·fuma o ,lese1·to da vida.


Forte, em t'euta, ao clamor dos pifanos de ;.:m·1·ra, Entre as mesnadas (quando a matani:a sem do Dizimava a moirama e estremecia a terra),

Viram-no le.-antar,   immortal   e   brilhanm, Entre O'-' raios do sol, t•111n• as nuv,•ns do p{1, A alma dt• Portugal no ;11·l'iro do montante.


Em Tanger, na jornatla atroz do desbarato,

Duro, en-;upando  os  p; L S   em  s:rngne  portugnez, Empedrado na teima e 110 orgulho insen'Jato, Calmo, na confusao do  horrendo de.senlan•,

Yira partir o irmao para as prisues .de F,·1., Sem um tremor na vo1., sem nm tremor na face.


E que o :--onho Ibo traz d,·ntro de um pensamento A alma toda captiYa.. \ alma de um sonbador

Guarda t•m ..,j rnt•sma  a  terra,  o mar, o  firmamento, E, 1·e1Tada tie todo it in-;pirai:ao de fora,

Viye como um vulciio, rnjo fogo interi01·

A -,i mesmo immortal  ,-,c nutre e se devora :


Terras da Fantasia ! Ilhas Afortunatla-,, Virge11-;, soh a meiguin·" a limpidez do cJo,


AS   VIAGENS 24.5

Como nymphas, a flor <las aguas remansadas !

Pondo o rumo das naos con1ra a noite horrorosa, Quern sondara esse abysmo e rompera esse veo,

O sonho de Platiio, Atlantida formosa !


"  Mar tenebroso ! aqui recebes,  porventura,

A syncope da vida, a agonia da luz...

Come<:a o Chaos aqui, na orla <la praia escura? E a mortalha do mundo a bruma •rue te veste "!

Mas nao! por traz da bruma, erguemlo ao sol a Cruz, Vos sorrides ao sol, Terras Cl11·istans do Prestc '.


Promontorio Sagrado !  Aos  teus pes,  amoroso, Chora o monstro Aos teus pes, todo o grande poder,

Toda a forc;a se esvae do Oceano Tenebroso...

Que anciedade lhe agita os tlancos ? Que segredo, Que palavras confia essa boeca, a gemer ,

Entre beijos de espuma, a algidez do rochedo?


Que montauhas mordeu,  no seu furor sagrado ?

Que rios, atravez de sehas e areiaes,

Vieram n'elle  encontrar  um  tumulo  ignorado? De onde vem elle? ao sol de quc remotas plagas Borbulhou e dormiu? que cidades reaes

Embalou no rega<;o azul de suas vagas?


" Se tudo e morte alem, - em que deser to horrendo, Em que ninho de treva os astros Yao d or mir ?

Em que soidao o sol sepulta-se, morrendo?

Se tudo e morte alem, porque, a soffrer, sem  calma,

14.


246 AS  YIAGENS

Erguendo os lll'a('.O'- no ar, havemos <le sentir Esta,;; aspirai;oes, eomo azas dentro da alma?



E, tortura<lo e so, sobre o penha,wo a pique, Com os olhos febris furan<lo a escm·idito,

Queda como um fantasma o Infante Dom lleurique... Entre os zimbros e a neyoa, entre o ,·ento ea  sabugem, A voz incomprehendida, a voz da Te11ta1:iio

Canta, ao sur<lo bater <los macart'•o,; que rugem :


Ao largo, Ousa<lo ! o segredo E--pera,   com ancie<la<le, Algueru p1·i rn1lo de me<lo.

E provido de Yontade...


\'eri1,; d' estes mares largos Dissipar-se a cerr:u;:io !

Agll(;:1 os ten-.; 0ll10--, Argus !

TOOlara corpo a yi,-,:10.,.


Sonha,  afastado   da   guerra, De tndo ! - em tua fra.que:r.a, Tu, <l'essa ponta de ten·a, Dominas a natureza !


Na eseu:ridao qnP te cinge, OE1lipo ! com alti,Pz,

l\o olhar ch li1p1itla -.phinge

0 olha1· mergulha-,, e Ii•,;...


AS   VlAGENS


Tu que, casto, entre os teus sahios,

!\foreha ndo a llor dos teus dias, Sohre mappas e astrolahios Encaneces e porfias ;

24.7



Tu, buscando o oceano infindo, Tu. apartado dos teus,

(Para dos homens fugindo, Ficar mais perto de Deus) ;


Tu, no agro templo 1k Sagres, Ninho das na yes esLeltas, Reproduzes cs milagre s

Da edade e-,cura dos f'eha5


re como a noite e,;ta cheia De vagas sombras... A.qui, Deuses pisaram  a  areia Hoje pisada por ti.


.E, como  elles poderoso, Tu, mortal, tu, pequeniuo, Vences o l\Iar TencLroso, Ficas senhor 1!0 De,;tino !


Ja, enfunadas a-; velas,

·Como aza-, a palpitar, Espalham-sc as caravellas,

.Aves tontas pelo mar ...


AS YIAGE'.\"S


N'essas fa.boas oseillante,-, Sob essas aza-; abertas,

A alma dos ten.; naYC;.\ante" PoYoa as aguas desertas.


J,'t, do fundo do mar vario,

Surgem a-; ilhas, as'iim

( '01no as cont as de um rosario, Soltas nas agna-; sem fim.


Ja, como cestas de llin·(•s, Que o mar de leYP halam;a, Abrem-se ao sol os .\t:i,res

\'t>rde", da cur da p.;peranc;a.


\'encida a ponta encantada Do Bojador, tens Jip1•t',Ps l'isam a Africa, abrazada Pela inclemencia dos s,',es.


Nao ba-;ta ! .\ vante !

Tu, morto

Em breve, tn, recolhido

Em ealma, ao ultimo por!o,

-   Porto da paz l'   <lo ol Yido,


Nao ver.is, com o olha1· em cham111:1,

. \ brir- se, no 01·c·ano azul, I I vi,o das  niws do (,ama, De rosfro-; feitos ao sul...



AS  VIAGE:.NS


Que importa? Vivo e olfegando No offego das vclas soltas,

Teu sonh o l'stara cantando A flor das aguas rernltas.

249



Vencido, o peito arquepntc, Levanlado cm furacoes, Cheia a bocca e regougautc De cscuma  c  de  irnprc  cai;ii::-s,


Rasgando, em furia, i1s unhadas

0 peito, c contra os escolhos GQlfando, em flammas iradas, Os rclarnpagos dos olhos,


Louco, ululante, irnpotente Como um ycrmc, - Adamac;lor Ver:i pela tua gentc

Galgado o Caho do Horror !


Como o reflexo de  um astro,

:::icintilla e a frota abeni;oa No tope de cada mastro

0 S,tnt' Elmo de Lisboa.



E alta jlt, de ,\f oi;:1111hi((UC A Calicut, a brilhar,

Olha,  Infante  Dom  Hen1·i<cue !

-   Pa ssou a Esphcra .\ rmillar ...


250. AS VI. GEN ,-;

Fartar ! como um sanctuario Zcloso de seu thesouro,

Que,  ao  toque  <le  um  temera    rio•r Largas abre a,; po1•fa -s de ouro,


- Ei-, a,; l<'1-ra,- fcit i,·c-im,, Abertas... Ha agua atraYez, DeslisP111 fustas ligeiras, Corram aYidas galrs !


Ahi Yao, opprimindo o oceano, Toda  a  pra:ta  que fasciu a, Todo o marfim afrieano,

To<las a-, ,-,etl.1,- da l'liina...


Fartar !...   Do seio   feeumlo Do Ori, •nte abraza<lo em lnz, Derra111Pm-se sol11·e o mun<lo As pc<lraria,; <le Hormuz !


Souha, - afa-.ta<lo da guena, Infante!...  Em  tua  fra<pH  •za , Tu, d'e-,-,a ponta de terra, Domina,; a natu1•pz;1 !... "


Longa e cali<la, a-;-,i Ill , fa.la a yoz d:1 Sereia...

-   Longe, um roxo C'l:11·:i o rompe o noctu rno n;o. Doro a!,ora, ameigando os ziml)l'o,; sohre a a,·,.ia, Pa !:!sa o n·nto. Sorri pallida1111•11tl' o <lia . ..

E    s ubito,   como um tabernaeulo. o ceo Entre f'aixas de prata e purpurit, irr:i,lia.. .


AS VIAGENS


Tenue, a priucipio, sobrc as perolas da espuma, Dansa t01Telinhando a dmva de ouro. Alt'·u1, Invadilla do fogo, arde e palpita a bruma,

'.'luma -;1•intilla<;iio de nacar e amcthystas...

E o olhar do Infante ve, na agua que vae e vem, Dcsenrolal"-'-P ,ivo o drama das Conquistas.

251



Todo o oceano refei·n ' , incendido em diamantes, Desmanchado em rubis. Galeues tles<:0111munaes, Cn•spas ,-wlvas '-'<'Ill fim de ma,;tros deslumbrantes, Continenies de fogo, ilhas resplandecendo,

Costas de ambar, parccis de aljofres e coraes,

Surgcm, redomoinhando e desapparecendo...


E o dia ! - A bruma foge. llluminam-se as grutas. Di.,,-ipam-se as vist1L'S... 0 Infante, a meditar,

Como um fantasma, segue entre as rochas ahrupta.;;... E impassirnl, oppondo ao ma1· o n1lto enorme,

Fim de um mundo --ondando o tleserto do mar,

Ber<;o tie um mundo novo -  o promontorio dorme.


 















0 CA9ADOR DE ESMERALDAS


EPISODIO   Q_\  EPOPE_\   -;rrn.TA:--;1sTA  "iO  x v u 0    SECULO


 


 










0 CACADOR DE ESMERALDAS





I



Foi t•:n mar1;0. ao fin1lar da.;; t·liurn'-,  quasi  (1 cnir da D,, outono, rpanll.G ;1 tr•r1·a, em -:C•1lC' rcqueimada Bchera longamcnte n.;; a: 1rn.s th est.ai;ao,

-   Que, cm  brrnrleirrr. bu.,:·an1Io  esmcraldas e pratn,

.\ fren1P  do,  peue  fil!10, da  rude  matta, Ft•rn o Dia,; P,1es Lcrne cntrou pelo sertiio.


.\lt! quern fr Yira a-;-,im, no ahorer·t•r da ,·ula,

Bruta Patria, no her1:o, entI't' as spha-; dormida,

No Yirginal pu1lor da.-; p1·imitiYas <;ras, [anreio IJu:aulo,  a.os  lwijo·,  do  -:!JI, ma.I  comprehendcn1lo  o Do mundo por na,.;1•p1• <ptc 1razi,1s no seio,

Hehoay;1-: ao tropPI <lo..; i111lios c das ft;ra-. !


256 0   C. \ QAD (IR    DE    ES IERALI• \S

Ja Iii fora, <la ourcla azul da, enscada,-,,

Das angras vt-1•dp,-;, onde as; aguas rcpou-.ada-; Yi·m, borhulluudo, a flor dos cal'hopos eantar;

Das abras e <la foz dos; t umultuosos rios,

- Tomadas <le pavor, dando contra o,-, l,;1i:>.io,-,, As pirt'1k!as dos tPns fugiam 1wlo mar . . .


De longt-, ao duro vcnto oppondo as Jargas vclas, Bailan<lo ao fnracao, vinham as t·;11·avPlla,-,,

Ent1·0 us uivos do mar co -;ilPn!'io <los a!-'trn-;; E tu, do littoral, Jc rojo ua,; arcias,

\"ias o oceano arfar,  , ias a,  ondas  chl'ia-; De uma palpitai;iio <le pri,a-. P de ma-.lrn,.


Pelo dcserto immcnso t> Iiq11i<lo, os pt-nl1;1-.,•uo; Fe1·ia111-n';1-. Pill viiu , roiam-llit•s o-. ,·as,•oo;, ..

. \ quantas, quanta n•z, ro<lab<lo au-; , P11too; mi111s,

0 primciro p,:giiu, •· rnno   a baixci'<, (JIIPlirava '. E la iam,  no alvor  da  ,·,pnmara<la  lira, ;1, Dcspojo s da amhi1;iio, ca<la n·r1•-; de nim;;,


Ou tr as vinha111, na ft-bre l1t•rni!'a da conq11i-.1a '.

E quando, Jc t•ntrl' os vt'•oo.; da-; ncblinas, ii , ista Dos nautas fulgurava o 1P11 ,·p1·d1· so1'l'iso,

Os sens olhos, o Patria, enchiam-st- dP pranto : E1·a como Sl', erguen<lo a ponta do ten 111anto, Yisscm, ;'i bcira d';1gua, abri1·-s1· o Pa1·;1iso !


.\lais numerosa, mai'l au<laz, dt• <lia em ,lia, Eogrossava a invasao. Coino a enchentc  h1·;1, ia,


0 CA(\DOR DB   ESMERALDAS 2 7

Que sobre a,;; terras, palmo a palmo, abre o lenc;ol

Da agua deYa,;1adora, - os ]}l'ancos avanc;avam E os teus filhw. de bronze ante elle,; rccuava111, Como a sombra rc1·t'ta ante a invasi'io do sol.


Jit nas faldas da Sc'rra apinha,am-se al<leias; Lcvanta, a-se a cruz sobre as ahas arcias,

Ondc, ao brando mover do,; ll'ques das jus-,i1ra-., Vivcra c progre<lira a tua geute forte...

Sopr,ira a destrui1.:i'io, como um vento de mortc , Desterrando os p:1;.;,:s, abatendo a,; cahic;ara,;.


Mas alem, p,1r dctraz da-,  broncas  serranias, Na ccrrada  regiiio  das  llorcsta-; sombrias, Cnjos troncos, rompentlo as lianas e os cipi',,;, Alastrayam  110  ceo  lcguas  de  rama  escura; Nos  mattagaPs,  Pm cuja  horrivel  espcssura So corria a anta lcvc c uivava a onc;a feroz ;

Alem da aspcra brcnha, onclc as trihus errantcs A sombra maternal da.; a1·,·01·L•-; gigantcs AcampaYam; alem da-; soccgadas aguas

Das lagoa;;, dormindo 1mtre aningac,; floridos ; Dos rios, acachoando cm quedas e bramidos, Mordendo os akanti-;, roncanclo pclas fraguas :


.\hi, n[o ia cchoar o  e-,trnpido  da  lucta .•. E, no seio r.utriz da natureza bruta, Resguardarn o pudor teu Ycrde corac;i'io !

Ah! quern tc Yira assi111, cntre as scha-; sonhando, Quando a banrleira cntrou pclo teu seio, qnando Fernao Dias Pae.s Lcmc inrndiu o sertao !


:.!G8 0   CA<;ADOR       DE       ES:ltEHALllAS












Para o norte inclinando a lomLad:1 l11'1t1nos11, l·:ntre os na1Piros jaz a !'.erra 111 -.,lprio-,a ;

.\ azul Yupabussu  heija-llH' a,-; VPl'(II'" f'alda-;

E aguas <·1·espas, galgando aIi  -,1110s P     liar,·anro" Atulhados de  prata,   humeden•m-lh(•  os  llaiwo-, Em cujos socavoes dormem a-. e,-;11wr:tldas.


\'p1•de sonho !... ,; a jornada ao paiz da Loucura Quantas bandeiras j:i, Jl"la iill',-;ma :n Pntura Levada-;, em tropel, na all(·ia de 1·11riq11Pc1·r !

Em cada frcnwdal, em cada p,-;('arpa, Pill 1";1da 131·P11ha  r ude ,  o  luar  Leija:',  uoi1e 111na  o-.,,-,a da, Que vem a uivar de filme, :1-; om:a,-; renw\l'l',


Que importa o  desamparo  em  nwio  do  dP!--erto E e,-;,-;a vida sem Jar, e l'S"l' vaguear i111•p1•to

De terror em terror, luctamlo Lrat;o a lw:1ro Com a inclemencia do ('L'O e a dureza da -,orll' !

Serra bruta I dar-lhe-has, anJc,-; dP dar-Ihe a morlP,

.\-; pedras cle Cortez que e-,('011dn; 110 1•pga1:o !


 

E sctP au110 ,, Je fio cm fio tiPsi ramando

0 111 stcrio, tit> pa-.,-.,o Pill pass•• penctrando

i I ,erdc ai·cauo, foi o banrll'i rante audaz...

:lla l'(·]1a ho1Tc11da !  tlcrrota impla<·avcl c ea Ima, cm nma hora <lc amor, csl ra n;.:ula ndo na   alma Toda a 1·pc•m·d:1t,·:io do tpIC fica,·a at1·az !


.\ cada volta, a :l[ol't<', afiando o olhar faminto, lneani;a,Pl no ardil, ro;1dando o la l,yrintho

Em quc ;'i,, tontas erra va a  i1andei r a uas  ma tt as , i 'prcan,lo-a com o <·rp..,eei' <:os rio .., ira c undos, Espiando-a  no pcmlor  dos  boqucirocs  profundo,    , Ondc vinham rui1· com fragor as ca-waias.


.\qui, tapanJo o espai:o, cutrcla(:ando as  grcnhas Em ncgros paredi,<'", lc,·antayam-sp as  hrcnhas Cuja mu1·al ha, em vao, scm a podp1· dohra r, rinham acommetter os tc mporae s, aos roncos;

E os maehatlos, de  sol  a  sol  rnordemlo os troncos, ( 'onti-a c-;-;c adarvc hruto cm vao rodavam no ar.


Dcntro, no frio horror <las balseiras l',wura,;, Yi-.,eo,-as <' oscillan<lo, lmmidas colgadura-; PcnJia Ill de cipos na escuridao nocturna :

E um mundo de rcpti.,; sih ·a va no 1wgnrn1P. ( ·ada folha pisa<la exhalava  um tp1ci:rn111c, E uma pupilla 111(1 elii.,;pava Pm cada furua.


Depois, uos chapadoes, o rude acampamento :

.\s barracas,  voanJo cm frangalhos ao vcnto,


(i() 0  CAgADOR   DE  ES1I EH A I. D AS


..\o ;.:l'a 11 izo, ;'1 in,·ertn(la, :( (·huYa, ao fomporal..• E qn:mtos  d'elle",  m·.,_, seqnio,o.'-',  110 aliandono, lam li1·aHtlo a1raz, 110 derradeiro som110,

:--,•m  ('h(•g;u· ao  sop; t   tla  colli1);(  fotal !


(Jul' impol'ta\'a? .\ o l'!ar('a.r da manh:i., a 1·ompanlw B11-wa, ;( 110 horizon((• o pe1·1il <la 1Honfa11ha. (J11a11do appat'('t't'l'ia emlim, , t'(';.:ando a Pspahl:i, 11,•-.pn hada   no e; t o entrt>  a-,  Ht• hlinas    t'la ras ,

. \ ;.:ramie sP1Ta, mii(• tla" ('"-IIIPra.lda,- r:ira ,;, Verd e t' fai-,,·aHtP ('OlllO 11111:1 g(·;u11le p-;111er:ilda !


. \ \'a (l1P (\ o""' ;q.;11:u:ap-..; PgHia 1n - sP lts l101'1'stas . . .

\ 'inham os );( Illa(·iir -,, a-. IP1.ira-; fum•sta ..., Ill' ag11a paraJ ...;11la I' dP('OITIJHl'-'la ao sol,

Em n1Ja fa t· P, 1·omo um l1ando de fant:i...rn;1-,,

l·:1Tn \'a H1 tlia (' 11oitP :is f'ch('l'S I'  o,; mias m;(" ,

\''mna ('011da letha l ,;11 h1· p o p,'1dl't' lt•111:ol.


. \ gora ,  o :i -; pp10•    mo ITo,  os (':tmi11l1os  frago-.o..,...

LP, P, di' qtrnndo ('((I  q11a11do, Putrr o.., fronco..; nmlo-,o...,

Pa...,;a 11111 pl11rnPo ('O t' :t(' , t'OHIO 11ma a ,·p q11P ,oa .. . t:111;1 fr(•t"i 1a , s ub til , -.i l va l'   /.a1·gundia .. . J'.: a g11Pr1·a 1

:"io o-, Indios I   HPtnmha o e('lio da hrnta st'IT;(

.\ o  fropt·I ...   E o  estridor  da.  hatalha  1'(•1>11;( ,


Hepoi..., os riheir,,P..,, na-, le, ad a,;, t l'a11-.pondo

.b r iha -;, 1·,·l11·amamlo, I' <le es tro n<lo em Ps t rnml o l11chamlo em rn, H' :t l',·' os o sPio d(•-,tl'llidor,

E dest•H1·aiza11do os 11'0 111•0 -;s 1·1·11l a1·c• ,;,


0   CAQADOR   DE   ES II::H..\ LDAS 261

;\'o t>,;lo d.a alltn-iao e,,tn • mccc ndo os are.;;,

E indo t01·\·os rolar 110-; Yall1_•..; com fragor...

etc annos ! combatcnclo  int!ios , feln s,  pal11 tlP-- . Ft•1·a-;, n•ptis, -- contcndo o-.; scrianejos rude --, Dominantlo o furor da amotiooda c,;colta...

!--l'te anno,-, ! ... E cil-o Yolt a , cmfim, com o sp11 t he-0., 111·0 '. Com que amor, contra o peito , a sat't'ol;.t tic rnuro Aperta, a transbortlar  do ped ra s  yc1·de-; ! - Yolta . ..

l\la-; 11um de,-yao da matta, uma tarde, ao sol posto, 1';'11·:1. 1: m frio livor se lhc espalha uo l"O'-IO...

Ea fehrc ! 0 YP11C·cdo1· nao pas.:;a1•:1 d'alli !

l\a terra que venccu ha-de cahir Ye nci<lo !

Ea febre ! t'· a mortc ! E o Hcroe, tropego e cnvelhccido, Roto , e Sl'lll fort;as, cac judto do Guaycnhy ...


















15.


262 0 CAQADOR DE ESMER•ALDAS





lil




Fcrniio Dias ,Paes Lemc agonisa. Um lamento Chora 1011 0, a rolar na longa voz <lo vcn1o. "ugPm so1urnamcn1c as agua,-,. 0 ct'·o :u·dc. Trasmonta fulvo o sol.   E a na1ureza assist,•, Na mesma solidao 1• na mc,\,ma hora ti·is1<',

.\. agonia do hcroe 1· it agonia da tarde.


Piam pcrto, na somhrn, as an•,; agoin·i1·as.

ih am as cobras. Longe, as fe1·as carnicPiras UiYam nas lapas. Desce a noitl-, como um n;o, Pallido, 110 pallor da luz, o se1·t:11ll'jo

Estor<·P-so no crcLro e derradeiro a1·1pH'jo.

- Ferniio Dias Pac•s Lc•11w agoni-,a, e olha o ci'·o.


Oh! (',-;sc ultimo olhar ao firmamcn1o ! .\ vida Em s111'tos de paixiio I' feh1·1• t'<'pal'tida,

Toda, num so olhar, 1IP,m·a1nlo a-.; p-,(n•llas ! Esse olhar, que site 1·01110 um lleijo dn pupilla,

--    Que a-, implora, <1uc hehc a sua luz 1rnnquilla, .

Que morrc... c nunca rnais, nunca mai,-; ha-1le vt'l-as !


.,

0 CA.QADOR DE ESMBRALDA.8 26

Eil-as todas,.enehendo o ceo, de canto a canto...

;1/unca assim se espalhou, rcsplan<lecendo tanto, Tanta constella ao pela planicie azul !

:\unca \'enus assim fulgiu ! :\11nca 1iio pcrto,

:\unca com tanto amor sohre o scrtao deserto Pai"1·ou tremulamcnte o ( ·ruzeiro do ul !


;\'oite>< de outr'orn !... Emcfllanto a bandeirrt <lormia Exll'..us:a, e a><pero o vento em derredor zunia•

E a voz do noitibo soava como um agouro,

-·· Quantas yezc,; Ferniio, <lo eaLP('.O <le um monte,

\ ia lenta suhir <lo fun<lo <lo horizonte

.-\.  f'lara  procissiio  <l\•....sas bandei-ras  de  ouro!


Adens, astros <la noite !, A<leus, frescas ramasens Que a aurora <lesmanchava em perfumes ,;eh agens '. Ninhos cantando no ar \ ,mspcnsos gp1cei•os Resoantes de amor ! ontouos bemfeitores !

Nm en-; C a Ye><, a<leu-; '. a<leu.;;, feras e flores ! Fernao Dias Paes .Lcmt' c;.;pera a morte A<lcm; I


0 Scrtanista ousado agoui,-,a, ,;t'isinho...

Empasta-lhe o suor a barba em <lesalinho;

E com a roupa <le cQuro em farrapos, dcita<lo, Com a garganta afoga<la cm uiYos, ululante,

Entreostroncos <la brcnha hirsuta, - o Bandei-rante

Jaz por 1t•1-ra, :'1 fei(;iio <le um tronco dcrriLa<lo...


E o delirio comei;a. A miio, que a febrc agita, Ergue-se, fremc no ar, sobe, dt•seamba afflieta,


2tH

'i'

O  t ' .-\ t;' ADO H  u1;  l •: :-- IE I. \LDAS


l 'ri, pa ,..., tletlo,;, e -.ontla a terra, (' P::-t·a1·,a o ch:io

a u,.:r a. a-,; unhas, n·, oh" a,; rai l.l'"'• aeerta,

.\ga1Ta  o -;:wt'o, e  ap:ilpa-o, t' eonfra o pPito o apert a, ( ' omo p:11·.1 o Pnter1·ar dPnfro do t·or:u:iio.


:\ h ! mi--Pro demente ! o  ten t111•-.0111·0 ,. fal-;11 !

Tu 1·:t1tti11ha-.te Plll ,:io, pur ,.,t'(p a1111os, 110 l'IH 0 a l1:o De 11111a  uun·m  falla,.,  dt•  u111 :,;onho  111alfa1.t>,i o I E11ga11011-IP a ambi :io ! 111:11,.; pol11·,· que um 111r 11tl i,.:o,

.\ :-!oui a , e1u 1 11, . e,u a,nor,   eiu au,igo ,

L'lll terq uem fr eom·L•tla a l':\l 1•p111a - 11 nc1:iio tit• um beijo'


E foi para mo1Ter tic t·an,.;:1<:0 1· d1• fonH',

l'lll fpr quem, mnrmnrantlo t'lll la:-,:ri111,11,; 1,,11 no111t•,

T L·  t;lL  nma  01·1:1:iio  "   nm  p1111ha1l0  tit'  t'al,

-  (Jut• tantos cora1/11•,; t·a lc:1-.11• ,.;oh o-. pa-.;.;o-.,

E 11a alnia tla 11111lhe1· tpw It' p-;{1•11tlia o;.; 111':H: o",

..111 pietlatlP la 111: a -,-1, u111 n•m•no 111ortal !


L ei l-a , a morto! <'Pil-o, o fim! .\ pallitl..1.:rngmenla; Fp1·11iio  Ilia-;..,,. ""':'w,  1111111a  ,-,  111·op<'  le111a ...

:\las, a:-,:ora, um dariio illumina-ll1t• a t'a:•p  :

E p-.-,a t'at·c• t':1Yada l' 111a :-,: r;1 , qne a to1·tnra

Da fonw Pa-; pri\':1t/11•-; ma1·Praram, - fulgura, ( ·01110 ,..,. a aza ideal d,· um archanjo a rrn;a,-,-.p_


0 CAQADOR DE ESMERALDAS 265







IV



Ado-;a-sc-lhe   o  olhar,   num  fulgor  indeciso; Leve, na. bocca affiante, e,;\'o:u:a-lhe um -,on·i-,o .••

-- E adclgac;a-sc o ,.,;o das sombra'-'. 0 luar Abrc no horror da noitc uma vcrdc clareira. Como para abra(,'ar a natureza intcira,

Fernao Dia-. Pa.cs Leme c-.;tim os l>ra(:o,; no ar . . .


YerdP-;, o,; astros no alto ab1°l'lll-'-'C em n•1·des d1a111111a-.;_ Ycrdes, na verde matta, emha.lall(:a111-o.;c as rama-;,

E lfor< s Yerues  no ar  braudanwnte se mon•m;

Chispam  Yerdes  fuzis  ri,wa1ulo  o  c1:o    sombrio; Em l',..mcraldas flue a agua vcrdf' do rio,

E do <"i•o, todo vcrde, as csmcraldas <"hovern ...


E  e uma  1°<''-'lll"J"l'i(:ao !  0  (0    0!   0     po   SC  lcvanta :

Nos oll10,-, jit scm luz, a ,.i<la exsurgc c <"anta. !

E esse <le,;t rrn:;o lmmano, <•,....,p pouco de po Contra a <k·struii;ao ,-.e afe1-ra  a vida, e liwta,

E trc111l', e cres<·<>, c brilha, e alia o 011,ido, c c :(•11ta

A voz, qnc na soidiio su clle ese11ta, - so :


tjtj O CAQADOR DE  l:SJUER.\LD \S


c .\Jorn·! mor1·t•m-lt' :1-.; mao..; a-; pt•tlra,-; tle ..;t•j a tla s ,

1    I 1,,,-.fi• i ta,; como um son ho , t· PIH    lodo tit'"'""1whada..;...

<Jut> i11.1po1·ta ·1 do1·11ll' \'111 paz, qne o tt•w. lahol' t'• lindo !

\m,   ca111po,-.,  no   penclor  tla,-. montanha" fr:t!.;o,-.a",

C1m10 um  1·a11dt'  collar de ci,meraldas !..:lol'io-.a,-.,

. \ ,; tua,; I"" o:1t:••t'" -.p t' -.tP 11d t•r iio fulgindo...


IJuamlo do at·a111pamt'nto o bando pP1'P!..:1'ino ahia, ant<' manh:1, ao ,;:tl,or do 1l01,ti110,

, Em l,11-;t•a , ao nortc (' ao ,-.11I, do jazida 111t'll101·,

- ;\o comoro 1lt• ten·a, em que teu pt'· poisara, (),-; t·olmado..; tie palha apruma,arn-se, e clara

.\ luz dl' u111a lareira P pa nt·a,·a o a 1-re d or .



:\p-.,-.e lonco Y:t!.;a1·, lll',;,-.a marcha 11:·rdida, Tu fostf', eo1110 o  sol, 11111:1 font<' tit• ,·icla:

C ':u la p:1,-.,-.:ula iua  e1·a 11111 t'a111inho ah,-rto !

·( :u la pouso 111mlado, 11111:t 11m a t·.o n1p1is ta !

E e111q11a11to ias, ,-.ouhando o tt•11 sonlio t'!..:oi,-.ta,

Ten pe, como o tit' 11111 d t·1 i-., fi·cuud:na o tlt>-.1·1·111 '.


.\lot'l'C ! tu Yivera-, na..; m;t1·:1da,-. q11t• ahri-.tt• '.

, Ten nome rolara no liu·;;o t·horo fri-.te

u Da agua do Gnay('11h ... .\lon·t·, ·(0 11q u i -.ta d 01·! Viveras quando, feilo em sei , ·a o sa11!.;11e, ao..; arP,; ':iulJin•,-;, e, nutrindo uma ar,on·, t·a11ta1•p,;

i\'uma ramada  n,rde enfre um uinho e uma  ni,r 1


« .\lo1·1·p ' germinar:io  as  sa!.;ra d a s ,-,t•111t•11tt•-, Das  gottn" de ,;11oi· , <las lagrimas a1·dentp,; !


0    ! ' A<_'A IJO !t    IJE    l·:S.\I ER AL DAS 267

lliio-d<· fructifica1· as fomcs c as , igilias !

E  um  <lia,  poYoada  a  frrra  cm  q,u· le  <lc ita -.;, (Juando,  aos  beijos  do  sol,  sobral'Ctn  a-.;  co llll'it a -.;, Quando, aos bcijos rlo amor, crcsccrcm a-.; fa111ilia-;,


Tu rant:iri,,-  na  YOZ  ilos -.inos,  nas  ,·liarn1a-<, No C'sto da  111ultidiio, no tumultuar da,; rua-;, o ehunor do trabalho ,. 1w-< hymnos da paz !

, E, suhju:-;a11do o olvido, afra,pz d3:s itlad<•-;, Viol do1· d,·s t>r t,i t>-.;, p la ntador de cida<les,

llP11tro do t·o1·, u) .o <la patria ,·i p1•!1 s !


l)i-<-<ipa-sc a vi,-:10. Dormc dt' 110, 0 tudo.

.\go1·a, a 11<'-;li-.ar pelo ar,·orc <lo mu<lo,

I '11mo um d10ro de prata :tl:-;<•11:c o luar csc111·rc. E ,-<•reno,  feliz,  no  matel'llal  1·<· ;.;:u;o

Da tcrra, sob a paz e,;1rt>llada do cspa'ro,

Fcmao Dias Pal' Lcmc os olhos ccrra. E mor l'e.


moo.


 


 







IND ICE




PANOPLIAS










Profissiio de fe.

A morte de Tai'·' 1·. 9

.\ Gonc;a lves Dia><. 13

Guerreira. . . 16

.\ um  gqrnde homem. 17

.\ sesta de Xcro. 20

0  inrendio de  Roma. 21

0 sonho de Marco-Antonio. :!2

Lendo a Ilia d,1 26

:\l essali na . 27

A ronda noctuma. 28


Delenda Car thago !. i ] . 29

YIA-LACTEA


Ta!Yez sonhassc quando a vi. :\l as via. 39

Tudo OU\'ir:is, pois que, bondo sa e pura. 10

Tantos esparsos vi profusa mente . 11

Como a tlo resta secular, sombri a. 42

'Dizem todos : " - Ou t1-'ora comt> as ave:;. 13

Em mim tambem, que  desc q,idado vis tes . 41

,X: u 10m faltado boccas de serpentes. 15

Em que ceos  mais azucs,  mais pur,)s a res . 46

De outras sei gue se mostram menos frias. 17


l:\"DICE



Deixa que o olha r do mundo emfim deYa ss e . T od" s c,s, P,.; l,>uvores - bem o Y is tc -.

Sonhei qu c me  es pern.va s .  E,  s onha ndn .

-     Ora   r d  ir c is ) ouvir   ,•s l r,·11::ts  !   Ce rto .• Vi, ·er ni\o pude sem quP. " fel 1n·ov:i,-,-,, Inda hoje, o li\To do pas ,.;a <l11 a 1Jri11d11 L:i, f 1!'a , a voz ck vento  ulule  rou!';1 : . Por e.-.ta s no itc,- frias ,. hrumosas..

Dormes.. . l\Ia s que ,.;11,.;.-.111·1·0 a h umed ceida .

:--ac a pas se io , ma!  o <lia nasce.

Olha - me! II to-u olhar sercno ; brando.

:--ci qu o  um dia 11[10  ha, e isso t'.· basta nte. Qu:ind o te 1,-i .. , as s ee na s animadas ..

La ura ! Diz es qu e Fa I 1 i, , anda olfondido.

\' c jo-a , eont e mplo-a  eommo\'ido.   Aq ucl la .

Tu '[ Ue no pl'go impuro d::t,.;  111·;..:ia -;: .

Qua ndo ea ntas , minh' alma, despre zand o. Hont em - nese io que fui ! - mali ei,1 ,.;a . Pinta-me a  curva  d'es te-s  e 6os•.  .  .\gora. Por tanto  tempo,  desvairad11 afttic1,o. Ao eora fi•> q uc soffre, scpa rado .

Longe   d e ti . s ,   escuto, porvenfora.

Leio-t e : -   o  pranto dos meus 11lho s  rola -  .






:,

 59

60

61

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G:,

61

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(jli (jj liX

H9

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Co mo  11ui z, •;,,   · livr e  Set',   ddxando. ii


(Juando  adivinha  q, u ·   v.. u  vol - a ,  e   :i.  •·  <.:a  dn. Pouco me pesa qu e 111ol'eii- s o l'l'ind o.


S AR (' .\ S DE  FOf;(J

0 jul . a me nto de P hr ynea .

\ la r i nlw .

Sobre a,; bodas de um sexagena rio . Abyss us .

Pantum ..

i'\:i T hebaida.

E' n'es tas 11 nit cs suc ega llas.

•uma  en11,·ha .

:--uppliea.

Can ,;f,o. . ,. _

Itio abaixo.

:--atania. (Jual'enta annos .

12

II












II

2

83

86

87

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9:i

100




\'estigi"". .

tJm - t.rccho ·de G,, uti er •

No  liminar  da   morte. Para phrase de Bauclchir,· liios ,. Pa ntano s .

De· volta do  bailc.

:--ahara  vit:i•. Bcijo eterno . Pomba e Chaeal. Medalha an tig-a .

:\o ea rcere.

Olha ndo a qp,rrentc.

INDICE

271

101

102

10::;

IOii

109

110

111

115

119

l!0

12:!

12:i


..

Ten ho frio e ardo em felJre!. l)l.e l fl ezzo de! camin.

,.;olr.  do . . .

A  carli;:iio  de  Romeu. Alten ta ·iio de Xen6kr 3itcs .

124

Wi

1!7

128

131




ADIA I:\ <Jl ' l l-:T A

A AYenida das Lagr i ma:,;. Inania vcrba

Midsumm er's nig th ',; dream

Mater• .

ln co ntentado . So nh o.

P ri ma vera . Dormindo.

:Xodurno. •

Vir gens mor tas

0 Cavallciro pobre.

Ida . . .

Noit e de in verno. Van i tas .

Tet-cettos •

In extremis . ,.

A a lvorada do  Amor.

\' it a nuova . ,

1 Manha de verao. Dentro da noite. Campo Santo..

Desl.eu o.

14'.i

11 ,

146

1r1n8,

150

151

152

];, I

158

lfl9

161

162

166

167

170

17:!

171

17,

177

180

U-:.!


272 , ·, lNDICF:

Romeu e J uli eta Vin ha de ="a both . S acr ileig io .

Es tan c ia c;. Pecca do r.

lki desthronado .

Su. . .  ·•·

.\ um  violinista.

Em um &' tar de de outouo.

Balladas romanticas. Velha pagina ..

\Vilfred,,. .

T cdi0 . . .; . Requies<':il.

Surdina . . It•

Ultima pagina ;

 

Primeirn migrac;iio.

C) <; phenicio 'l. Isra el . .

.\ le xa ndr e. Cesar .


183'

186

187

rno

193,

191

196

l!l?

203

:!01

210

213

218

1.9.

222

2..2,J


228

:!Z!l

230

231


(),; ba rba,rn .

,\ ,; cn1zad n-,

..\s Ind ia. .

0 Bra ,;i l.

0 \' oa <lo "

o Polo .

A 111ort e : .

A missii0  de  Purna

agT(''"'·


0 l

CAQaD

"I, OR DE ES IE R;AL O.\ S

2:32

233

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2:Jj

236

237

2S8

239

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l'at is , ··- Tip. H. GARNIER, I• , TUil des Saint-Peres . 3i!J.2.1902.


 


B.. iiARNlE\, ivrP.iro-Edit.or, rua do Ouyidor, 71


, ,

BI BLIOT HE .CA UNi'VERSAL .

· 'Cpllec In-So a !!$ll00, 3tOQO e 1.e<JCO brocl\-   EncaJ6rnado, l 'I

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Gµimaraes  (Berna•l-1 l,tndas  e Romapcel!"'<vol. cri rmitao de Muquem t vd!. A Escra\.-n Isaura. f vol.

O Gh.ri111peiro. l vol.

A llha mal,!ita. -  0 P4o  de

Laurindo  R.abello .•

Obras poolicllj. f vol.

Liais  (E.).  •·

Sup1·am11ci.i_ i ulelleclua de

Fat;l\ latifffi t vol.

Lucio de· MendonQa

Alveradu. f ml.

Macedo (D' J. M. de).

Mulhcres celebres. f vol.

A j;:arteir'll de meu tio. t fol.

Q.Cu f do Dever. t vol. Os  don  am res.  2  vol. 0 fora leiro: 3 vol,

A luneta rnagjca. 2 vol.

Mambrias do sobrioho   dr


Ouro. t  vol.

met\; t.io. 2 vo l"!.-

0


Mauricio, 2 vol.,

Jlosaora, a engeitada. f  vol.

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Ilislorias e lrarlicocs da pro- vincia de Minas-Gerae11. f..V.

Guimaraes Junior (Lui . Contos Mm prelern;i10. t vol. Cunas e zies•zags. I ml.

Filananas, t vol.

.Moc;o loiro. 2 Vol.

A MorP-ninha.

As M ulheres de mantilha. 2 v.

A Namoq deira-. 2 vol Nina. t l1J1. .

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Rio de Saneiro. 2 vpl;

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0


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