Resignação

 
Pular do precipício dos teus beijos
Ao traiçoeiro Mar dos meus ardores!...
Viver, só para o sim dos teus Desejos,
Sendo o teu Zeus na ilha dos Amores!...

Bradar aos colibris que beijam flores,
E aos Zéfiros que passam em cortejo,
Que aticem teus singelos despudores,
E em teu ouvido, digam: - Eu te vejo!...

Oh! Egrégia Mãe Olímpica Suprema!
Guardiã dos verdadeiros matrimônios.
Teus lábios trazem a Paz da alfazema,

E um teu olhar, derruba mais demônios,
Do que nesta sangrenta guerra extrema!
Entre a Hélade e os velhos macedônios!...

(Queiroz Filho)












LVI


Não te condeno pela indiferença
Que fatalmente tu me impuseste,
E se o meu Amor nunca quiseste
Não ouso tomar isso por ofensa.

Apenas me impus esta sentença
De não fitar mais tua cor Celeste.
Contigo eu não serei o cafajeste
Que cínico espera a recompensa

Pela sinceridade com que amei,
Sem um só beijo ter de tua boca,
Senão, o que em sonho te roubei...

E, aqui, resignado e de voz rouca,
Da traiçoeira Paz, logo, ouvirei
A gargalhada farta, acerba e louca...

(Queiroz Filho)

LXI


Deusa Morta

No coração de todas as Mulheres,

Crepita algum mistério insondável,
Mas tu, pacóvio moço, não esperes
Vencer-lhe o régio fogo formidável!

Pois ele jaz ao cofre impenetrável
Da mística opulência dos prazeres...
Por todo o Amor, inútil é tu sofreres
Se o etéreo Bem é sonho fatigável!...

Acalma-te nos braços dessa Amante
Que as tuas solidões, sempre conforta!
E aos teus deslizes, vive irrelevante.

E nem de outros Carinhos, te aborta...
Que amar uma só mulher e ser constante,
É como que adorar uma Deusa morta...

(Queiroz Filho)

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