SONETOS NOVOS DE 2020 A 2023
QUISERA PRA FUGIR DO CLAUSTRO TRISTE
Quisera, pra fugir do claustro triste,
De estranhos… Melancólicos delírios!
Ser o homem solitário que resiste
A nunca pôr em versos, seus martírios..
Mas o Demônio mudo que me assiste,
Não quer pra si o sono astral dos Lírios…
Por isso, como quem do amor, desiste,
Exclamo a dar adeus a luz dos Círios…
Existo, sofro, creio e assim procedo,
Mas sei que a vida é túmulo vazio…
E o pranto, água vã em vil rochedo,
E a Morte, o inexorável e insano rio
Que corre em direção ao nosso medo…
Dizendo: - O teu destino se cumpriu!...
(Queiroz Filho)
Necrófagos Isópodes gigantes!
Destarte em profundezas abissais,
Percebo, somos monstros semelhantes:
Nas trevas e distantes dos mortais…
Oh! Sugadores seres rastejantes!
Oh! Aquáticos abutres Infernais!
Nossos feiosos olhos causticantes,
Enxergam só a Dor e nada mais!...
Pois neste leito rude aonde habito,
Meus versos, asquerosos como ratos,
Não sabem que a feiúra é um delito.
E sob o breu de sonhos insensatos,
E ensanguentados restos de meu grito…
Só um suicídio paga os meus atos...
(Queiroz Filho)
ANTÍGONA! SOU TEU DEVER PIEDOSO
Antígona! Sou teu dever piedoso…
Depois de em meio a trevas, conduzir-me,
Prepara-me, oh! Irmã, de esquife firme
Um brônzeo touro quente e vaporoso!...
Pois de menor suplício, vivo a rir-me...
Quero sugar-te, oh! Letes! Rio precioso…
Previ o teu pavor, Mãe, ao parir-me:
- Moderno Minotauro? Que asqueroso!
Qual quem o caro sonho, defenestra,
De arder, um dia, ao sol do seu Recife,
Lanço-me à espada, amor, em tua destra!...
Oh! Erínias, vão domar outro patife!
Sou o Orestes que poupou Clitemnestra…
Mas foi por Zeus jogado neste esquife
(Queiroz Filho)
SAUDADE, EPIMETEU PESANDO AFETOS
Saudade, Epimeteu pesando afetos,
Depois dos corações já machucados!
De beijos renegados!... incompletos...
Que após raciocinar, viram sagrados!...
Remorso e solidão ganhando netos,
De Éris e Ares, Deuses desgraçados…
E a Culpa, essa Cassandra dos decretos,
Profetizando aos moucos e dopados…
Enquanto rolo a pedra da piedade,
Pepita de ouro puro que não brilha!
De novo ao precipício da Saudade…
Dando ira a paz e luz à Maravilha…
Como quem leva a Dor da humanidade,
Depois de assassinar a própria filha…
(Queiroz Filho)
FALSAS VOZES
Já te conheço, amor, faz tantas Heras!...
Desde os antigos cantos imortais...
E amando as raras confissões sinceras,
Sou teu Pavão à beira de outro cais...
E exausta pelas dores das esperas,
Como que posso eu, amar-te mais?...
Se do meu sonho e céu, tu te apoderas;
E deixas minha ira, em grande paz?...
Sem ver, do amor, o lírio, reabrir-se,
Claro e imponente como os albatrozes,
Liberto de Odisseu, mais outra Circe!...
E presa a um trono, puno vãs algozes...
Pra ver o amor leal, por mim, cumprir-se,
Dos cucos vou filtrando as falsas vozes...
(Laura Alves Coimbra)
Pular do precipício dos teus beijos
Ao traiçoeiro mar dos meus ardores!...
Viver só para o sim dos teus Desejos,
Sendo o teu Zeus na ilha dos Amores!...
Bradar aos colibris que beijam flores,
E aos Zéfiros que passam em cortejo,
Que aticem teus singelos despudores,
E em teu ouvido, digam: - Eu te vejo!...
Oh! Egrégia Mãe Olímpica suprema!
Guardiã dos verdadeiros matrimônios,
Eros reluz em nós, sua Luz extrema!
Fatal aos corações mortais; errôneos!...
Teus lábios: - Ambrosias de alfazema;
Meus olhos: - Cemitérios de demônios...
(Queiroz Filho)
Ao pé do Douro, nosso confidente!
Trocaram nossas Almas, raras juras:
Amo o teu dono; O seu corpo me sente!
E eleva o gozo às máximas alturas…
Segunda mais feliz das criaturas?
Perdeste!... Estou no topo, claramente!
Foram-se ao léu as vis manhãs escuras...
Meu coração - Vulcão adolescente,
Sobre o teu corpo lança erupções:
Ferventes lavas mais roseiras bravas...
Mais de Eros, duas últimas poções…
Além de, em cada íris, quatro aljavas!
Que é igual a dezesseis mil sensações...
E eis o Amor mandando tudo às favas!...
(Queiroz Filho)
Ser este melancólico poeta:
Sensível ser sozinho sem sossego!
Dado ao Amor; fadado ao desapego…
De espedaçada alma incompleta...
Ser vida no teu lábio e aconchego...
Ardente Poetisa de Alma inquieta!
Lábio este que atravessa-me qual seta,
Servida de indireta que eu não nego…
À cova dos Amores desgraçados,
Tardio Estro meu, bem alto, brade:
Os nossos corações foram trocados.
Herdei o teu carinho e tua bondade;
herdaste os meus trejeitos enrolados!...
Que agora eu amo e vivo de Saudade...
(Queiroz Filho)
Valente Borboleta solitária,
De frágeis asas mágicas; garridas!
Que Esfinge devorou as nossas vidas?
Que Nêmesis me fez teu anjo pária?...
Se nossas almas vivem prometidas,
Lá desde a mais vetusta Luz primária?...
Se Deus - Constelação extraordinária!
No Céu de nossas crenças destruídas...
(Oh! Inigualável Anjo Imaculado!)
Deu brilho às tuas Lágrimas cadentes,
E deu ao nosso D'ouro, rio Amado!
Voz e ouvidos sãos e onipresentes,
Pra que eu daqui, só seja devorado,
Por teus versos de Amor, inconsequentes...
(Queiroz Filho)
E só mais uma vez, hoje eu te peço,
Depois que já me for, não peças nada.
O quanto eu te chorei, não te confesso,
Nem mesmo se outra vez, fosse beijada!...
Se essa vasta mágoa já nem meço,
Após ser desdenhada e desdenhada!
E ver-te um Casa Nova de sucesso;
E ver-me Soror Dor, tão maculada!
Eu, que sem existir, calada, existo…
Eu, que dei sopa e manta a esperança;
Eu, que te esquecer, jurei a Cristo…
Não meço a mágoa, essa aguda lança,
Pois a alma que te dei vendo a Mefisto,
Em troca dos meus sonhos de criança…
( Laura Alves Coimbra)
Artistas Brasileiros, meus irmãos!
Chorai comigo em luto à Marília!
Guerreira, Musa, Mãe, cantora, filha!
O bálsamo aos Espíritos Cristãos.
Partiu ao céu a estrela que rebrilha,
Em nossos corações tristes, mas sãos!
Cantemos a enlaçar as nossas mãos,
Seu hino da igualdade em cada trilha!...
Do oprimido Amor que à mão covarde,
Já se ergue outra vez sem mais vergonha…
Enquanto o choro sobre a face que arde,
Evapora-se ao tocar a alma tristonha...
Mas a onça Mendonça, ao fim da tarde,
Leva força e paz a dor da mãe que sonha...
(Queiroz Filho)
Que angustiante falta tu me causas.
Não sei mais nesta vida ser sozinho,
Porque sem Ti os dias são só pausas
Na espera pela Luz de teu carinho.
E nesta impaciência eu me definho
Nas tétricas visões de Almas falsas,
Prostradas, como eu, no descaminho
Da inércia de que tu não te exalças...
Pois neste calabouço é onde habito,
E nele infaustas horas me extraviam
Esta ânsia de sorver bem do infinito
Os sonhos que de nós tanto sabiam,
E eram em minha vida um ledo rito,
Onde em teus olhos Céus se erigiam...
(Queiroz Filho)
No vão de tuas pálpebras sombrias,
E em meio ao teu olhar enigmático,
É onde prostro o meu anseio apático
De crer na insensatez das alegrias...
Supondo que macabras fantasias,
Dum solitário moço sorumbático,
Que desprezou o tal sorriso sádico
De seu destino atado às letargias,
Recriariam mil Sonhos defuntos,
E no caminho nos poriam juntos
Daquelas Almas bem-aventuradas,
Que ao êxtase Fantástico da vida,
Renascem qual a Fênix abatida
Para a unção das bestas expurgadas...
(Queiroz Filho)
Severa discussão; tapas trocados;
Insultos. berros; lágrimas... É o fim!
E do intragável ódio, eis o estopim,
De espíritos felizes, destroçados...
A lira de Orfeu geme mais linda,
E banha por inteiro o monte Olimpo,
Onde o rancor dos vivos, será limpo,
Pois dois ouvidos bons, temos ainda!...
Fora rancores! Fora inimizades!
Fora o pranto falso do Deus Hades!...
Vais-te! extremosa mágoa vingativa...
Nos pélagos macabros da loucura,
Cravei sobeja e ufana esta escritura:
- Morrer d'amor é mais do que estar viva!
(Lúcia Monteiro)
Sentir-se transbordado de vazio,
É como ouvir de Deus: - Não somos nada!...
Cinzento céu severo assaz sombrio,
Mortalha a essa vã alma cansada!...
Teu último abandono se cumpriu
Sob ósculos de Adeuses, Ex-Amada!...
E o Amor: - Trágica chama, se extinguiu!
Na pausa entre um Sono e a Cilada...
E hoje a casa esquife que me habita:
- Extinta; Estranha, Estrábica; Estreita!...
É um Súcubos devasso que me grita:
- Do lodaçal imundo que te espreita,
Só quem há de salvar-te é a Benedita,
Da pura Luz do Amor, chama perfeita!...
(Queiroz Filho)
Ouçam meu rogo, flores de brinquedo,
Que fingem tomar sol nessa sacada…
Velhas amigas, tenho tanto medo!
De aceitar fingir que sou Amada!
Se pra gozar a vida é sempre cedo,
Porque minh' Alma, Lebre assustada!
Pressente o Lobo atrás do arvoredo?...
E presa ao temor da emboscada...
Entre palores; entre vãos ressábios;
Na espera dos teus beijos, os meus lábios!
No altar da Esperança, a Fé restaura...
Pois sou a Borboleta derradeira,
A Ninfa; a Musa; a Deusa Condoreira!...
- Fenrir, vens devorar a tua Laura!...
( Laura Alves Coimbra)
Nas movediças lágrimas que choras,
Afundam-se os teus olhos submersos,
Quão duas vermelhíssimas Amoras,
Oh! Suicida Tisbe dos meus versos!...
A Dor tingiu de sangue nossas horas
E a mágoa revelou seus dons perversos….
Pois hoje, o beijo meu, que tu deploras,
É gume aos teus lábios controversos...
Quisera ser pra sempre a tua vida!
E ser a voz do Amor nos Sonhos teus!
Trocar aquele Adeus sem despedida,
Por rugidos d'Amor dos nossos Eus...
Fitar-te entre lençóis, toda despida!
Sorrindo ao hino astral dos Himeneus...
(Queiroz Filho)
Raquítico Poeta misantropo,
Sinistro Midas!... Zeus da Podridão!...
Morcego ardil de assaz clarivisão
Perpétua qual as Fábulas de Esopo...
Nesta esplancnológica missão...
Meu encéfalo de ser pitecantropo,
Fez do teu EU, seu fúnebre canopo:
De fígado e um teu meio pulmão…
Pois eu, terráqueo espírito enfermo,
De Encélado, do Augusto metanógeno,
Sorvi metanos gazes já sem termo!
Vencendo a ilusão do gozo algógeno,
Mostrando ao coração funesto e ermo!
Que é da razão, o amor, mortal patógeno.
(Queiroz Filho)
Tarde frienta; Céu assaz nublado;
Manga gostosa; Beijos e edredom;
O meu Amor deitado ao meu lado;
Televisor ligado, mas sem som.
Eu colocando meias em seus pés;
Ela a sorrir por simples gratidão.
Vida sonhada sem nenhum revés?...
Cabeça ao ombro; Deus no coração;
Lua rosada; Filme em preto e branco;
Cão a uivar um réquiem muito franco!
Olhos pesados; Ronco repentino...
Dois pesadelos... Trágicos retiros!...
Mundo prostrado aos pés do infame vírus!
Cálido ponto azul... Fatal destino!...
(Queiroz Filho)
Não ter para o Amor, mais coração!
Perder da vida, o derradeiro o brilho.
Nem ter um só afeto ou mesmo um filho!
A quem pudesse dar minha emoção.
Ser sombra sob a lápide do trilho…
Poeta dos escravos, meu irmão!
Se a musa Lusa é a minha volição
E por bem mais querê-la, me humilho;
Se a rara auréola rósea do pecado,
Ao meu Céu sem estrelas, traz saudade…
Por que ela não dorme ao meu lado?
Por que faz do silêncio, iniquidade?
Oh! Inquieto coração: - Eis o teu Fado!
A esperarás por toda a eternidade!...
( Queiroz Filho)
Qual bioluminescentes cogumelos,
Devoradores de hidrocarbonetos,
Reluzem, sem razão, os meus sonetos,
Já fartos da ilusão de serem belos…
Setenta e duas virgens d'olhos pretos,
Sobre o cadáver frio dos meus anelos,
Boiando ao D'ouro e ao Letes paralelos,
São espectros de covardes Admetos,
Vendo morrer por um, a sua Alceste!
De quem ouviu: - Que algo além te reste
Dos beijos sem amor d'outras mulheres...
Senti a Dor do Mundo em cada poro!...
Portanto, assaz ingrato Amor, te imploro!
Honres meu Sacrifício, Rei de Feres!
(Queiroz Filho)
Se é todo o teu Amor, calor supremo,
De intensas labaredas de afago!
Sob os teus beijos cálidos, me esmago,
E em doloroso gozo, à vida, gemo….
No suor dos teus gemidos, me alago,
E singro os seios teus com um só remo!...
Oh! Morte é dela o Adeus que tanto temo!
E um dia deito ao Mar esse pressago…
Pois seus etéreos olhos de tigresa,
E os seus ardentes lábios de candura,
São do Amor, a altiva chama acesa!
Filha do Céu que em tímida doçura,
Tornou-se a minha Laura Portuguesa,
Essência do meu ser; a Paz e a cura!
(Queiroz Filho)
Teus olhos são nenúfares sagrados,
Divina Imperatriz das Borboletas!
E neles, meus Desejos naufragados,
São cantos de Epopeias Lisboetas…
Por trágicos Rabelos, triturados!...
Tripeira mensageira das violetas!
Ah! nossos sonhos, vejo-os sepultados
No Taj Mahal das juras obsoletas!...
E eu lavo qual Monet, a dura Mágoa,
Quão se me fosse frágeis lírios d'água,
Florindo ao sol dos nossos corações…
E bebo a tua Alma em cada poro...
Mas como um Zeus cruel, nunca deploro,
Das Cortesãs, as frívolas paixões!...
(Queiroz Filho)
Feliz Natal, espelho retrincado;
Feliz Natal, quarenta e um Natais,
Sem chaminé; sem árvore ao lado.
Sem risos; sem abraços fraternais!
Feliz Natal, Gabriel empoeirado;
Feliz Natal, baratas joviais;
Feliz Natal, fantasma assombrado,
Feliz Natal pra mim e ninguém mais!
Hoje o mundo se enche de esperança;
E qualquer dor terráquea, é pequenina…
Hoje que a luz do sol enfim me alcança,
Eu reabro, outra vez, uma cortina,
Pra dar Feliz Natal a quem não cansa
De ser do joelho meu o chão e a quina…
(Laura Alves Coimbra)
Maria, doce filha! Meu tesouro!
Incandescente lume terno e brando!
Anjinho meu! Peixinho do rio D’ouro!...
Só tu que fazes eu sorrir chorando,
Oh! esse teu lindo cabelinho louro,
Que desarrumas sem notar, bem quando
O teu papai, um bobo pai calouro!
Timidamente, diz: -Sou eu que mando!...
Vais atrasar, Criança, a própria festa?
Oh! Não emboles mais teu cabelinho!
Não grudes outra goma em tua testa!...
Fortuna vã! Eu sou o teu paizinho…
Porém, mamãe pra nós, é a deusa Vesta!
A Eterna fonte ardente de carinho!
(Queiroz Filho)
Se a dor que não explode e silencia,
Mister é que em mágoa se transforme!
Douda amargura e, então, melancolia;
Brado voraz; por fim, silêncio enorme.
Se acaso, o causador, apetecia,
O peito tal, que ora, em ira, dorme!
Porém, de ti, mil tapas, preferia,
Que essa gutural queixa disforme.
Findou-se o piquenique de Burguês...
Passou-me a brisa dessa Juventude...
Rompeu-se a Tempestade, mas de vez!...
"Dos loucos, o silêncio é a Virtude!"
Mas para os sãos, o berro é insensatez.
Que um louco, só calado, nos ilude…
(Queiroz Filho)
Não ser jamais na vida o que se quer,
Mesmo que o que se quer é apenas ser…
Depois de se anular pra enfim viver,
Em além-mar a Amar minha mulher!
Não quero nada! Deixem-me morrer
Sobre as Flores do Mal de Baudelaire!…
Que importa cada Espinho que vier
Se meu sonho não quer mais renascer?...
Nada me vale, Amor, se não me vales!
Nada em mim vive, se em mim não vives!...
Vou com Laura aos caninos de Fenrir
Achar a cura abrupta aos meus males!...
Sem teu Amor, sou feno entre declives…
“Não quero nada! Deixa-me dormir!...”
(Queiroz Filho)
Platônica gangorra do Desejo:
É o duelo entre a Alma e a carne espúria,
A carne quer o suor, a Alma, o beijo!
A Alma quer Paz; a carne, dor e fúria!
E atrás de vãs trincheiras, eu rastejo!
Berrando à má saudade, outra lamúria.
Mas ante o eco vazio, paro e antevejo!
Do Amor ausente, essa rara incúria...
Enquanto, do relógio, a vil pancada,
Do meu suspiro fundo, bem debocha!
Eu levo a Alma toda ensanguentada,
E esfumaçada feito uma fria tocha,
Até o colo macio da minha Amada,
Qual Sísifo a empurrar a sua rocha!...
(Queiroz Filho)
Natal!... O coração do Nazareno,
Regendo, em nosso peito, as batidas.
Jesus, Oh! Esplendor de nossas vidas!
Em pranto, a olhar Marias, te aceno!
Com lépidas piscadas repetidas,
Porém, com o genuíno olhar sereno!
De quem fez de sua Fé, o riso pleno.
Idêntico ao das Almas já subidas...
Ascendam-se, portanto, galardões!
Na forma de ardentíssimos Louvores.
Pois a Paixão de todas as paixões;
O Salvador dos próprios opressores;
É o círio ingente em nossos corações;
Jesus, purificando as nossas Dores...
(Queiroz Filho)
SONETO DE ADEUS AO PURO AMOR
Hoje, que a alma paira feito incenso,
Sobre as Idálias ruínas da memória,
Penso em teu beijo e em teu sorriso, penso
Que teu Amor foi toda a minha glória!
E sem que sejas minha, te pertenço,
Descomprazendo a cega Fé simplória...
E enforcando a Saudade com teu lenço,
Perfumo a espiral Paz merencória...
O Amor que me era tudo, disse adeus!
Adeus meu D’ouro! Adeus, oh sábio monge!
São vossas águas, lágrimas que Deus
Cedeu ao peito meu pra que eu esponje,
Dos sepulcros de Dor dos olhos meus,
O puro Amor que amei mesmo de longe!...
(Queiroz Filho)
Feliz aniversário, Spider-Léo!
Que o dia dos teus anos, seja lindo!
Tão lindo quanto és, ave do Céu!...
E acordes, amiguinho, já sorrindo!
Pois teu sofá é hoje o "aranha-céu!"
E nele, bravo herói, tu vais subindo!
Num faz-de-conta onde um rio de mel
Sob os teus pés, verás já se abrindo...
- Não bebas desse rio, herói menino!
Assim, gritou mamãe, já preocupada.
Pois quem isto fizer, tem por destino
Ter, de Poesia, a Alma enfeitiçada!
Duas asas, a ganhar, de Anjo Divino,
E uma pedra ver, em rosa, transformada!...
(Queiroz Filho)
Na irônica lição da morte adusta,
Habita a alta verdade imaculada...
Mas nossa consciência é atrofiada,
E para ver além, muito lhe custa.
Mas, a mão de Deus, a mão Augusta!
Reerguendo cada fronte estiolada,
Lá mostra-nos, na árvore sagrada!
O fruto remissor da mágoa injusta...
Porém, se isso apenas nos bastasse
E nos fizesse ver dentre os umbrais
Onde a glória de Deus, nos enlaçasse,
Eu te amaria oh! Musa, muito mais!
Tocando docemente a tua face,
Só pra morrer depois, pleno de Paz!...
(Queiroz Filho)
João gostoso: Negro Apolíneo!
De hirsuta barba e olhar abespinhado,
E um bíceps braquial tão curvilíneo,
Que ao vê-lo, disse Alcides: - Pai amado!...
Tanto afeito a octógonos ilhados
Quanto a ilhar meigo corpo Cupidíneo
Filho único d'enlace consanguíneo...
No oásis dos amores fracassados...
Certo dia, se achando desgostoso
Da vida e da crueza de seu peito...
Parou num Lupanar indecoroso!
Entrou, bebeu, cantou, dançou de jeito
Que parecia um Deus pecaminoso
Morrendo entre um peito e outo peito!...
(Queiroz Filho)
Tingido pelas máculas da Ira,
Sentindo a Alma já amaldiçoada...
Choro abraçado a Dor da minha Amada,
A quem o olhar do Mal, atou a mira...
- Que miserável vida desgraçada!
Assim me vocifera e se retira…
De rojo volta e diz: - Teu Deus, respira!?...
Respira e sente dor, alma enlutada!...
Recordação macabra, não me leves
Ao desvairado Inferno novamente! …
Velozes; enganosos risos breves
À volatilidade de um descrente,
São frios quão o epitáfio que me escreves:
" Aqui, vive um poeta. finalmente!..."
(Queiroz Filho)
SER DA LOUCURA, PRÍNCIPE VASSALO!
Ser da loucura, Príncipe vassalo!
Neste Elsinor dos Cláudios invisíveis...
- Triste Yorick, Silêncio!... Outro galo
A plagiar solilóquios incabíveis
Do aquático convento... Um estalo!...
É Ofélia e as más coroas intangíveis!...
Que o lodo e as flores sejam-te regalo,
Freira sereia de olhos impassíveis...
Que a Fenomenológica equação,
Da marcha putrefata dos Vencidos
Reduza-me a inócua assombração
Dos reticentes sonhos subtraídos...
A dar-nos, minha Ofélia, a solução:
Um Reino por dois Reis apodrecidos...
(Queiroz Filho)
Bendita Bety Bleite, boquiaberto,
Bem deixam-me teus ternos comentários!
Pois dão aos versos meus, vãos e ordinários!
O mágico valor que julgo incerto...
Porém, a ingrata mão dos mercenários,
Oh! creias-me Poetisa, eu não aperto,
Prefiro, ao arrastar-me num deserto,
Da Morte, ter as mãos, como velários!...
Pois chegas-me qual doce Rouxinol,
E lês, do Réquiem meu, a partitura...
Depois partes veloz de encontro sol.
Quão se fosses um Anjo de candura,
Transformado em flor e ave e mel em prol
De encher as tristes almas, de Ternura!...
(Queiroz Filho)
Se o tempo desta vida fosse apenas
O do orvalho a pender da folha inflada...
Tombando sobre as rosas e açucenas,
Que toda a noite, o céu da madrugada,
Inflamam com suas cores tão amenas...
Se bem assim nos fosse, essa jornada
Em busca de ilusões sempre pequenas,
Seria em qualquer Dor, recompensada.
O Amor, a Paz, em paz, desposaria...
E a Dor: - Sino da Vida, sem proveito!
De pó e mais ferrugem se encheria...
E tu, colada às fibras do meu peito,
Já a olhar-me com tristíssima alegria,
- Dirias: E até já... Casulo eleito!...
(Queiroz Filho)
E eis aí a estrambótica mortalha
Da imperiosa Nix: – Deusa arcana!
Rainha astral! Carrasca soberana,
Que o meu infuso cérebro retalha...
O que será de nós, Bruxa venusta
Quão em fantasmagórica viagem,
Eu te render, prostrado em vassalagem,
O gozo que me apraz e me assusta?
Se em Fibonacci, o código secreto,
É o Partenon; É a Ceia de Da Vinci!
É o número de ouro em si completo;
É a perfeição em máximo requinte!
E é Zeus na frágil forma vã d'um feto,
Temendo ser de Cronos, o seguinte?...
(Queiroz Filho)
Se, morto, o Amor está, ressuscitemos!
A glória Astral do ardor fero e sublime;
Em sensações de Paz que aqui vivemos...
Sem que com Dor, o Amor, apenas rime!
Nas Odes de prazer que já não lemos...
Quem sabe assim a Vida nos redime
Dos crimes de Amor que cometemos!...
Pois se a tua boca pode e nada exprime,
Os teus olhos de amar, eles me beijam!
E aos meus, os lábios teus, quedos, proferem:
" Deus quer, então, reais, os sonhos sejam!..."
Mas teus versos de Luz, dizem: - Esperem!
Aos meus que são pardais que só solfejam
Canções de Amor que dão prazer e ferem!...
(Queiroz Filho)
Escrevo neste instante sem motivo,
Sentado à escrivaninha empoeirada.
De livros tal e qual abarrotada...
Defronte a este inerte morto-vivo!...
Nós cômodos, ecoa a voz da Amada
Que me matou e a quem do Amor, me privo.
Se é mesmo Amor ao que hoje estou cativo,
De vez reviva ou morra ave inflamada!...
Se não só restará, na Dor, achar,
A enferma Paz, irmã da tua ausência...
Que é a cura ou um lenitivo salutar
À funda Mágoa afeita a resistência!
Oposta a este papel que hei legar
A vã lixeira ou ao vento, sem clemência!
(Queiroz Filho)
MEU ÓBOLO A CARONTE NÃO PAGASTE!
Meu óbolo a Caronte não pagaste!
Privaste-me dos teus Campos Elíseos...
Maria! Porquê foi que me furtaste
Se não nasci irmão do Rei Acrisius?
Paupérrimo poeta; Infausto traste!
Nesse barco dos mortos, mil rodízios
Virão até que um Cérbero me arraste
Ao Tártaro voraz, por meus fornízios!...
E entre o vazio atroz que me aniquila
E a indubitável mágoa que em ti cresce,
Ficou a Dor de nunca mais senti-la...
E a pura paz que ainda te aborrece!...
Restou-me da alma gêmea, a errada fila...
E um triste amor que dor, só me parece...
(Queiroz Filho)
A memória; o Amor; duas gavetas;
Três corações batendo em desalinho...
"Os mais belos sonetos", bem velhinho!
Nogueira do Almada em camisetas...
E o teu poeta, enfermo passarinho!
Cantando Dores dentre mil caretas,
Ouviu de ti, guardiã das Borboletas:
" Desde o êxtase do último Carinho,
A minh' Alma na ânsia de tocar-te!...
O Atlântico transpôs com meus olores...
Mas, Mimado cortês, me vi destarte
Como os Parassuicidas sonhadores...
Presa e infeliz na Torre de tua Arte!
Fitando em frestas, vultos voadores..."
(Queiroz Filho)
Pacífico; epiléptico Argonauta!
Penélope Tripeira é a tua Joia,
É o Anjo mudo que faz tanta falta;
E em teu mar de ilusões, foi tua boia...
Se a lua da saudade, brilha incauta,
Nos olhos teus, de imensa claraboia...
É indício da Verdade que anda à malta:
- Mais vale o seu Amor, que toda Tróia!
Assim, irmãos de espada, concluímos:
Se a Vida e a Morte à Hélade, já demos,
E a Vós, Deus Ares, mais almas pedimos,
Raquel, formoso Anjo, cá sabemos,
Muito este Amor, excede o que sentimos,
Matei-o sem saber... Anjo, choremos!...
(Queiroz Filho)
A sincronicidade na Saudade
Dos seres que se amam na ausência...
Fundiu, à tua, a minha consciência,
Levando-nos à etérea Unidade...
Teu Onze sou na vasta imanência;
És Trinta e Três na mais sacra trindade!...
E, assim, se fez Amor, minha vontade;
E, assim, teu coração, se fez clemência!...
Pois beijo as tuas lágrimas sentidas,
E ouço os teus silêncios, doce Amada.
Hoje Deus veio dar-me mais mil vidas,
Para pôr-me em Atlântica jornada...
Teu Leandro sob forças renascidas!
Indo Amar a sua Hero desposada...
(Queiroz Filho)
Inerte e preguiçoso Argonauta!
Penélope Tripeira é a tua Joia,
É o Anjo mudo que faz tanta falta!
E em teu mar de ilusões, foi tua boia...
Se a lua da saudade, brilha incauta,
Adentro a assaz ciumenta paranoia,
Mas salva-me a Verdade que anda à malta:
Mais vale o seu Amor, que toda Tróia!
Assim, filhos dos mares, concluímos,
Se nossa Alma, à Hélade, já demos,
E a Ti, tonante Zeus, fiéis seguimos,
Raquel! Anjo divino!... Nós sabemos:
O nosso Amor excede o que sentimos;
E a alma só revela o que escondemos...
(Queiroz Filho)
Quando te foste, lá, de mim, querida!
Não contive, esta Alma, de tristeza.
Pois me deixaste só, naquela lida,
Erguendo-te altares sem beleza...
Conquanto, revivi o hausto da vida
Na fervorosa chama, em ti, acesa!
Oh, como me doera a atroz partida,
Que esta vista ferira com rusteza!...
Mas, se chamar-me oiço, voz airosa,
Pasmada, a face minha, se congela.
Crendo ser tua, a Prece langorosa,
Que ora me diz: - Oh, tolo, tagarela!
Acalma-te, que assim fora queixosa,
Os teus beijos clamar à sua janela!...
(Laura Alves Coimbra/Queiroz Filho)
De nefastas calúnias, travestido!
Ao meu pesar, me noto aferrolhado…
Pois neste torpe vício estou metido,
Por ser de ti, Razão, o condenado!
E hoje, que me escoas o sentido,
Inclino-me a viver mais engajado!
Da culpa, persuadindo, o ofendido,
Pendendo ao chão, o olhar apiedado...
Oh! Ovídio, Casa Nova e Balsac,
No Amor, sejam os meus arquirrivais!
Que eu serei Cyrano de Bergerac,
Oculto atrás de arbustos surreais...
A banhar o meu puído e verde fraque,
Da crueza de Roxanne: - Tú, jamais!...
(Queiroz Filho)
No transe magnânimo da morte,
Teu devassado invólucro agoniza;
E, enfim, de vez, se desmaterializa,
Voando solitária em seu transporte...
Agora, transmutado em leve brisa.
Mais livre que um condor, audaz e forte!
Nem o limiar macabro de tua Sorte,
Já não é mais feroz; nem te horroriza.
E a solidão astral que te domava,
Era o chamado, apenas, de tua cova!
Era o clamor da consciência escrava!
Tentando revelar-te em dura prova,
Que Benedita, a Deusa que te amava!
Agora é a voz da Consciência Nova...
(Queiroz Filho)
Rache um chocolate cloroquínio
Com teu circense rei miliciano!
Acéfalo Pinóquio Bolsominion!
Que a eugênica missão foi pelo cano...
Não basta o vitalício patrocínio
Com público dinheiro, clown vesano!
Ao teu projeto doido de extermínio?
Queres inda livrar tão vil tirano? ...
Recuso-me entrar em outro embate
Com mais um tolo gado Chauvinista!...
Gourmet de Cloroquina e chocolate,
A minha paciência hoje é budista,
Por isso eu só exijo que se mate,
Socando ao cú a tal faca Petista!...
(Queiroz Filho)
O já sepulto Amor que inda flameja,
Em dobro em minha Alma emudecida,
É o que te vivifica e faz que eu seja
O Amor maior de toda a tua vida!...
Se o fim dessa saudade, já se enseja,
És Fausto sem o Amor de Margarida!
Um vasto raio, aos olhos, te troveja!
À mesa, a clarear-te, a paz fingida!...
Ceder à Alma, a Glória de tocar-te?
Foi deste injusto Amor, trágico lema...
Radiante estrela morta... Enferma Arte!...
D' outra imortalidade, o vão dilema...
Que a tua Alma em outra voz se farte!
Pois eis o meu sepulcro, este poema!
(Laura Alves Coimbra)
Não sejas, deste Amor, Nefelibata!
Na bolha do teu sonho, não me ponhas!
Sonhar sem nunca agir, também nos mata!
As mentes delirantes, são medonhas...
Pensar na proporção, sempre exata,
Nos livra de ir voar com as cegonhas...
Quando nem temos asas de barata,
E apenas somos lebres bem tristonhas...
Eu sei, embora tua, oh! Não existo...
E o teu Amor, quatorze versos, dura!
Portanto, outra vez, digo e insisto:
- Eu não sou tua Laura! É loucura!...
Nem abro mais cavernas do que Cristo...
Nem com Chave-de-ouro, criatura!...
(Borboleta Raquel/ Laura Alves Coimbra)
Minha Deusa, jamais vista, jamais
Pisada; ninada; em meu não-amor,
Amo-te! Neste amor, quase impostor!
Além do que é Amor, amo-te mais!...
És minha mais inconsequente calma!
Em mim não existes, porque já existes!...
E aqui és mais real que os sonhos tristes
Que habitam esse porão chamado Alma.
Agora já nem sei se eu quero ver-te,
Talvez melhor existas como um flerte,
E é como eu te preciso, meu Talvez!...
E quando a vida, enfim, me der licença,
Comigo enterrarão a altiva crença:
Que para o Amor, a Morte é sensatez!...
( Queiroz Filho )
E quando a Morte te arrostar solene,
No derradeiro instante de teus Dias...
Reviverás nos Céus, as fantasias;
Vividas em teus sonhos com Irene!
Falso beijo; plagiadas alegrias,
D'outro inventado êxtase infrene!
Não mais, oh coração, o Amor, encene!
Só em meus Atos, Ninfa, existias?...
Já basta, Realidade! A vida é nada!
Negar-te junto a Morte, me consiste...
Razão, assombração desenterrada,
Craves meu Epitáfio em pedra triste:
" A Fé no Amor é adaga ensanguentada...
Que a própria queda súbita, assiste!..."
(Queiroz Filho)
Ah! Na festa após o Batizado...
Eu vi um Anjo em uma calça creme!
Dançar risonho no seu treme-treme,
Um batidão de Funk estilizado...
Meu coração, que até agora geme
Assim confuso e assaz contrariado!
Fantasiou-me o beijo jamais dado
No dito Anjo sem sua calça creme!...
Embora saiba, o farto disparate
Que é querê-la em mim, por toda Vida!
Só o nome seu, que neste peito, bate:
Sensual Ser Margarida! Margarida!...
Que o cálice que engulo, antes, me mate!
Que o teu ativo olhar de Despedida...
(Queiroz Filho)
A minha triste Alma carrancuda,
Não entende que de casa foste embora.
E desde que partiste ela está muda,
Qual carta de Amor jogada fora….
Saudade, oh! Lacerante Dor aguda!
Leve à minha Maria, um beijo, agora!
Pois dos seus Anos, hoje, a conta, muda!
Sem se mudar o vivo Amor d'Outrora...
Se enterro o Cadáver duma vida,
Depois de achar em ti, o meu Nirvana!...
Faço da exausta Dor da despedida,
Mais um canto de Luz, a ti, Baiana!
E rogo a Deus por tua Aurora erguida
Ao filho de Davi, bradando Hosana!...
(Queiroz Filho)
Perdeste, Infeliz, a tua essência!...
Já não és o indivíduo que supunhas...
A impaciência devorou-te as unhas;
O amor legou-te o trono da demência...
Poeta? Artista? Frívolas alcunhas!...
Tarda queixa Niilista?... Inocência!
Consciência mausoléu da inconsciência,
Revista convulsão sem testemunhas...
Coração, rubro ouriço invertido,
Espinhas com espinhos recruzados...
Morto Amor, pesadelo mais querido...
Nesta praia dos náufragos forjados,
Sobre a alva areia escrevo o aqui sentido:
Meus versos, chegarão aos Desgraçados?...
(Queiroz filho)
Esta carrasca inércia debochada,
Que, para o amor e a vida, me ancora...
É a vida sem razão, sem luz, sem nada.
É a águia que, as entranhas, me devora!
É o que te fez pra sempre, ir embora...
Restando-me esta casa abandonada.
Sem rumo para o pranto que não chora,
Mas cardos pontiagudos na jornada…
E assim, a falsa paz da decadência,
Resiste por alguns magros segundos,
Pois logo após a dor vem a demência!
E sensação de estar entre os imundos...
Precipício do caos onde a excelência
É descer aos Infernos mais profundos!...
(Queiroz Filho)
Da Nau do teu Adeus, fiz poesia!
Das nossas ilusões, a vela e o mastro...
Sangrei nas Solidões da travessia;
Com pranto, apaguei o nosso rastro…
Do transcontinental lume que ardia
Em meus enfermos olhos, fiz emplastro!
E todo o riso astral que me sabia,
Tornou-se este esvaído; morto astro...
E os olhos teus, sepulcros violados!
Pelas depravações do meu Desejo...
Que importa, Ofélia, os teus beijos gelados?
Que importa, nus, dizermos: - Morra o pejo!
Se em Vida, à Morte, fomos condenados?
E o tempo deste Amor, é vão lampejo?
(Queiroz Filho)
E, enfim, depois de tantos desenganos,
Hoje, ao espelho, disse: - Não te culpes!
De fato, és triste, mas, vez… outra, esculpes!
Um verso bom a dar leveza aos danos…
Porém, do teu passado, não te entupas!
Pois a memória má, consome os Anos!
Melhor lembrar dos tais lábios profanos!
Aos quais, muito a sonhar, tu te ocupas!...
Soteropolitana insaciável!
Não chego ao teu encanto em um soneto!
Nem ao teu riso, mais que inigualável...
Só exprimo, neste último terceto:
- Minha saudade é aço inquebrantável!
Mas meu ardor foi Britto em branco e preto…
(Queiroz Filho)
A mais bela das filhas do rei Pélias,
Nestes meus parcos olhos, não investe!...
Pois mais fermosa é, do que as Camélias,
E traz, do Salvador, o Dom celeste!...
Nasçam Helenas, Vênus e Ofélias!
E o Deus Tânatos, d’Hércules ateste
A força etérea a atar as Parcas velhas…
O mais supremo Amor, és tu, Alceste!
Mas se invejo a mão do tolo Midas!...
Às palmas de tuas mãos, eu não me uno!
Por nossas revividas Despedidas,
Culpes o imenso Reino de Netuno!…
Oh! Hércules só salve as nossas vidas!
Se de Eros, eu for mestre, não aluno!...
(Queiroz Filho)
Os feios, quando andam pela rua,
Evitam mais que tudo a indiscrição.
Abaixam a cabeça em submissão
Ao Belo que desfila e que flutua,
Como se seu destino fosse a lua
Ou ostentasse um Sol no coração!
enquanto, em sua amarga solidão,
A ouvir a gargalhada sempre crua
De seu superior; de seu bom chefe!
Que lhe cravou na testa um belo efe;
Resiste, cala e aceita ou seu castigo...
Sua moral não quer mais uma sova...
Além do mais, o fim é sempre a cova,
E lá, não há espelhos, bom amigo!...
(Queiroz Filho)
Depois de tantos males, ter sofrido!
E, do Porvir, se vendo esconjurado,
Agarro-me a este resto de Passado,
Que da Presente dor, se vê tingido…
E ora que me vejo, ao chão, caído,
De Ícaro, relembro a ousadia!...
Que com a morte bem se viu punido
Por almejar a Luz dum claro dia...
Não sejas tu, Josino, um bardo vil,
De outra inconstante Ninfa requestada!
Se ao teu rival Elmano, ela é servil!
Se aos pés dela, o pranto teu é nada!
Digas: - Gertrúria, a luz que em mim, subiu!
Tombou dos olhos teus, já apagada...
(Queiroz Filho)
Eu sou da vida o estúpido aprendiz,
Que, dela, não reteu nenhum sentido!
E disso, me confesso um desvalido
Por nunca ter amado quem me quis...
E, assim, vou lastimando a cicatriz
E o vergonhoso sono dos vencidos!
E os velhos erros sempre revividos
Na corda bamba, aonde por um triz
Cambaleante, eu marcho desatento...
Levando o coração, por hora, escasso!
De alguma sensação ou sentimento.
Ao menos se hoje o sonho é cansaço!
A mágoa não é mais um vão lamento,
Pois dela, ao debochar, me satisfaço...
(Queiroz Filho)
I
À rua da amargura, escorraçado!
Bebendo da sarjeta, os excrementos,
Que um porco, bem teria desprezado,
Outrora, já o vi nesses tormentos!...
Naquele vasto centro urbanizado,
Dormindo sob altos monumentos,
João-Desventuroso, assim, chamado!
Por quem, ali, ouvia. seus lamentos.
Mendigo sem estudo, sonho ou fé!
De escória pestilenta e desprezível,
Que sofre a rejeição do que não é...
Vivendo nos limites do impossível,
Deitou-se ao chão da tal Praça da Sé,
E como um mero espectro invisível,
(Queiroz Filho)
II
Sonhara que era ele o Rei Pelé!
A ouvir nossa torcida enlouquecida,
Lá no Maracanã, pleno de vida!
A cada drible seu, gritando olé!
Na Copa de setenta dando até
Chapéu de carretilha e, em seguida,
Marcando um golaço na partida,
Que o fez ser aplaudido bem de pé!
E tendo a esquadra zurra na final,
Repleto de otimismo, então, se vê!
Pertinho do seu sexto Mundial?...
Podendo erguer a vã Julius Rimet!
Se não fosse um magriço cão boçal,
Lá acordá-lo, sabe Deus, pra quê!...
(Queiroz Filho)
Quando vires da morte, o precipício,
Tragar teus ínvios sonhos execrados
Por quem do céu lançou-te aos brados,
Dizendo que o rancor será teu vício.
O inferno te será muito propício!
Para que co' estes Seres desgraçados,
Às trevas e a clausura, costumados,
Vagues como Eremita ao suplício
Do insano berrador das profundezas!
Que toca a tez do cão de três cabeças,
Lá a rir-se das humanas avarezas.
P'ra que do falso Éden tu te esqueças,
Pois a Virtude é a Mãe das vis tristezas,
Que à Jó carpindo deu honras avessas!...
( Queiroz Filho)
O teu sorriso, Mãe, o teu sorriso!
É minha inebriante e farta Aurora!
É tudo o que na vida, mais preciso!
Por isso, não o leve nunca embora!...
Não me faças da vida, o indeciso!
Ou um louco a gemer de hora em hora!
Não vês o quanto, à noite, me devora,
A solidão que em versos, agonizo?...
Perdoes, se aturdido, eu exagero,
Em revelar-te este íntimo segredo,
Porém, tão vã saudade, não venero.
Memória desbotada em sonho ledo...
Egoísmo é assim querer-te, mas não quero!
Dizer-te adeus... ó, mãe, sou dor e medo!...
(Queiroz Filho)
Meu músculo cardíaco de baixo…
Estala de paixão por outra preta,
Pois ela ostenta uma bela silhueta
A qual atiçaria qualquer macho.
Enquanto eu, por ela, me rebaixo!
Propondo ser até o seu proxeneta!
Mas ela encafifou em sua veneta
Que nem me usaria pra despacho!
Não sou, nem quero ser o tal galã
Do palco, da telinha ou passarela.
Alegro-me em viver tal vida sã…
Fazendo do vazio que me flagela,
A Paz que me trará noutro amanhã,
Uma velhice inglória, mas singela...
(Queiroz Filho)
Não te condeno pela indiferença
Que fatalmente tu me impuseste,
E se o meu Amor nunca quiseste
Não ouso tomar isso por ofensa.
Apenas me impus esta sentença
De não fitar mais tua cor Celeste.
Contigo eu não serei o cafajeste
Que cínico espera a recompensa
Pela sinceridade com que amei,
Sem um só beijo ter de tua boca,
Senão, o que em sonho te roubei...
E, aqui, resignado e de voz rouca,
Da traiçoeira Paz, logo, ouvirei
A gargalhada farta, acerba e louca...
(Queiroz Filho)
Ser os teus olhos; ser o teu sorriso;
Ser os teus lábios. ser tua bela pele;
Ser teu Amor; primeiro e indeciso?
Ser hoje, a tal paixão que te repele.
Ser Luz e Forma e Sonho e Poesia,
Em teus vaidosos versos fustigantes!
Ser quem por te amar, te aborrecia,
Só te compondo versos bajulantes;
Ser este imenso sol que desmesuro,
Que é Luz e Graça e Fé e Paz e Vida!
Queiroz, por nossa filha, aqui, te juro,
Ser para o teu passado, a despedida,
É ser pra o teu presente, o teu futuro!
Alma de Lúcia em Laura, infundida…
(Laura Alves Coimbra)
Necrófagos Isópodes gigantes!
Destarte em profundezas abissais,
Percebo, somos Seres semelhantes!
Nas trevas e distantes dos mortais…
Aspiradores monstros rastejantes!
Marítimos abutres Infernais!
Os nossos feios olhos causticantes,
Enxergam só a Dor e nada mais!...
No horripilante Lar aonde habito,
Meus versos são os restos putrefatos
De húmidos pedaços de Infinito…
No abismo de ocultos artefatos…
Perdidos junto ao fóssil d'outro grito,
Lançado à luz de sonhos insensatos…
(Queiroz Filho)
Amar o que restou da tua ausência,
É amar todo o silêncio desta sala...
É ouvir com sábia e rara impaciência,
A emudecida Dor que tudo fala…
O amor só é Amor, se for demência!
Se as cores que o silêncio nos exala,
Bem ao ouvido, forem a evidência:
- A mente é um Duende que propala
Aos doidos: - O Amor, só é Ciência,
Se quando a Razão, veloz trem-bala!
Descarrilhar dos trilhos da prudência,
Vendo esta tartaruga superá-la:
- Coração, tolo ser sem paciência!...
Nuvem doida a flertar com a mandala
Dourada, que em mágica opulência,
É a voz do Amor que em nós, sempre se cala...
(Queiroz Filho)
Ser o Odisseu das épicas vilezas;
Cegar mil Polifemos de pelúcia!...
Ser salvo por princesas indefesas;
Ter de Quelone, toda grã argúcia!…
Chamar covardes fugas de defesas…
Oh! Lesma de Olímpica fidúcia!
Ninguém te ouviu na voz das correntezas,
Quiçá só a tua algoz poetisa Lúcia...
E agora sem as rédeas do Juízo,
Sem teu Amor; sem nossa rara ilha!
Abraço-me a Saudade, pois preciso
Dessa cruel e santa armadilha…
Meu sonho era beber o teu sorriso;
Em teu ventre beijar, a nossa filha!...
(Queiroz Filho)
Careca, desdentado, barrigudo,
Frustrado, excluído, depressivo,
Ranzinza que mandando às picas, tudo!
Alega ser na vida um morto-vivo!...
Viver só entre a Dor e o "contudo",
Morrer aos pés do sonho que me privo...
Render-se a outro arquétipo opressivo;
Fingir-se Zem ao novo, "eu te ajudo!"
Baldado estro parvo, não me enfades!
A mim, e aos novos loucos, não convences!
Teu blábláblá d'amores e saudades,
São meras cambalhotas de circenses!...
Só deixes aos suicidas... Potestades.
A Morte nua e crua; sem suspenses...
(Queiroz Filho)
Meu Desistêncialismo literário,
Inerte, fecha os olhos os confrontos!
Enfado em reticências de dois..
Sou grato!... Foi meu ânimo precário...
Oh! Desistêncialismo ordinário,
Então, estamos vivos, quem diria!...
Adeus, Maria! Adeus, oh! Poesia!
Eu sei! A mágoa é rumo voluntário...
Bom dia, meu desânimo querido!
Sonhos desfeitos, tenho pra te dar!
E até um louco amor já destruído
Por minha triste forma de amar!
Viver é suspirar ao refletido...
Morrer, também é em vida se calar!...
(Queiroz Filho)
Se a vida, Maria, nos fosse acalanto,
Se a nossa alegria, de nós, não fugisse...
Verias meus olhos erguidos de encanto,
Se a torre da Paz, em nós, não ruísse...
Teus olhos, teu riso, o teu olhar santo?
Se a minha memória não os extinguisse,
Seriam, de Amor, o meu mais caro Canto,
Se este precipício, pra mim, não sorrisse!...
Cravar a amargura; cessar nosso hino,
Monstruoso destino dos homens sem Paz!
Buscar a ternura em quando eu menino,
Olhar-me assombrado, ao ver Satanás!
Que fazes, Maria?... Que quadro ferino!
No espelho do tempo, de mim, bem atrás?...
(Queiroz Filho)
Se o esquecimento é túmulo do amor,
Do sempre ingrato amor desventurado,
Exijo ver meu cérebro esmagado,
Quão por teus dedos, vi, a nossa flor…
Assim, enfim, em paz e sepultado,
Ocultarei sem culpas; sem rancor,
Meu vasto coração de Adamastor!
Por teu amor minúsculo, pisado…
“E outro poeta, as pálpebras, congela!”
- Furtando a tua pena, assim te exclamo…
Sou eu… Tua criação mais tagarela!…
A rosa que olvidaste em meio ao ramo…
Trocando-me por outra nem tão bela!
Que em vez de adeus, não diz, "Amor, te amo!"
(Queiroz Filho)
Teu glorioso beijo estonteante,
Com o qual de áureo manto, a alma, cubro!
Fatal e venenoso lábio rubro,
Tens pena deste bardo delirante!...
Calêndula do meu eterno Outubro!
Pontual; sagrada; alegre e exuberante;
Com teu primaveril aroma errante,
As trilhas de outro Éden, cá descubro!...
Oh! Lábio mudo, assim, entre maçãs,
Delgado e escarlate, eu te contemplo!
Teu som a alaranjar minhas manhãs,
Ao nosso pôr-do-sol, traz o exemplo…
Só mesmo o Amor anima as cousas vãs;
Só Deus e um beijo teu, merecem templo...
(Queiroz Filho)
Pesar as sensações ora sentidas,
Com outras, bem ou mal, rememoradas,
É achar nestas Venturas pressentidas,
As mesmas vãs desculpas recriadas...
Reger a dor das almas mui queridas,
Fugir do odor das culpas reenterradas...
Crer que há amor em frias despedidas,
Ser desamor das Musas inventadas;
Dá-me, Senhor, a Paz destas mentiras!
Por Ela, os meus hospícios de ansiedade
E as vítimas com que fiz minhas Liras...
Oferta à mensageira Potestade!...
Hospícios, Tartarugas, Culpas e Iras,
Dou em troca do Amor à humanidade...
(Queiroz Filho)
Se o tempo, hoje, a ti, só é castigo,
Que tu, enfim, aceites sem revolta.
Sorrindo à Desgraça que te escolta
Desde o teu tolo sonho mais antigo.
Por qualquer bestial reviravolta,
Não faças de teu ódio, outro jazigo!...
Antes viver no mundo sem amigo,
Do que chorar as juras já sem volta!...
Se oscilas entre mágoas e alegrias,
E entre grandes milagres e pecados,
Tornando as tristes horas de teus Dias,
Um hino de louvor aos desgraçados...
Oh! Poeta sem memórias; sem fobias,
Consolas-te no Amor dos enterrados...
(Queiroz Filho)
Perder-te, não perdi, mas a vaidade...
Sim! Por seres quem és, bela e cruel!
E só foi meu teu corpo e sem vontade...
Teus buliçosos olhos sempre ao léu,
Fiéis aos do imoral Marquês de Sade!
Oh! Hipócritas, dispenso o vosso véu!
Nem dos devassos sei, da irmandade...
Mas sou decerto um parvo menestrel,
Vencido por teu corpo, olhar e vozes,
Que ao contemplar-te, oh! Angélica cocote!
Sorvi bemóis dos teus lábios algozes...
E achei os olhos meus em teu decote!
Deitando ao peito, doses e mais doses...
Enfim fui te deixar ... Sofri teu bote!...
(Queiroz Filho)
Eis que nos chega outro carnaval,
Lançando largos risos na avenida!
Sambódromo lotado... Foi-se a vida
Que há pouco era torpe e desleal...
Legado duma Europa medial,
Redobra-se de excessos e bebidas…
Lançando em nossas faces iludidas
A sensação dum êxtase imortal...
Rei Momo, o aval da carne… atacar!...
Em samba-enredo, a verve dos Brasis!
Ei, carnaval, meu corpo é o meu lar!...
Tu passas, não o Amor ao meu país!
Do Caburaí!... Chuí!... de par em par…
E eu lendo um tal Machado de Assis!
(Queiroz Filho)
Inda que tu, do teu amor, me prives,
eu vencerei montanhas, pontes, vales,
Perís, penedos, tribos, céus, declives,
pra suplicar-te, poeta, não me cales!
Pois reges minha alma e nela, vives!
Atado quão o perfume, aos meus xales...
Dos sonhos meus, teus olhos detetives!
Já acharam o segredo dos meus males...
Unir de vez os nossos dois destinos,
À paz dos brandos seres sem maldade;
Que é o espírito dos pássaros divinos...
Cantando-nos, de longe a obviedade,
Se do alto, somos seres pequeninos,
De perto, grande é nossa insanidade...
(Laura Alves Coimbra)
Caríssima Saudade, então, sugaste!
A Dor que me sugou e está partindo…
Com a melhor lembrança do Amor findo!
Que dói, mas sem sofrer um só desgaste…
E sem te resistir, vou resistindo…
Rogando ao rubro astro que me arraste!
Qual lábaro tombado de sua haste,
Aos píncaros da Paz e, dela, ouvindo:
- Oh! Vento, sob austeros solavancos,
Sem rastro; sem memória; sem idade,
Sem frias mãos e sem cabelos brancos,
Tua Poetisa, o Amor em santidade!...
Deitando aos teus, seus lindos olhos francos,
Murmurará chorando: - Amor, saudade!...
(Queiroz Filho)
NINGUÉM HÁ DE ABRANDAR A TUA DOR
Ninguém há de abrandar a tua dor
Que te trucida em ânsias Infernais!
Monstro das profundezas, Delator!
Dos nossos mais ingênuos Ideais…
Nefasto; atroz; maligno traidor!
Enganas mesmo os Deuses Imortais?…
Mais do que as Parcas, teces o pavor…
Teu número de covas cresce mais
A cada frecha pega dessa aljava,
Por teu comparsa e cínico Nanico!...
És coração, a pá com que se cava
As valas ao extermínio impudico…
Ah! E outro peito amante preso à lava...
Vens me salvar, Amor, eu te suplico!...
(Queiroz Filho)
É certo, este mundo está do avesso!
Topete matador de dois andares?...
Fubá mimoso? Fujas de teus pares!...
Deste vilão hilário, não me esqueço.
Café, entrou nos líquidos manjares
Dos medonhos vilões? Eu desconheço!
Se do Jegue dos tontos, eu não desço…
É que não vi Novelas aos milhares.
Sergio Guizé, se fui, dois mil e um
Dos “Cento e vinte dias de Sodoma”,
Operador de som, pior?... Nenhum!...
Te vingues, com tua boca morda; coma
O meu frágil juízo com tal Zum!...
Até que eu caia ao chão, feliz e em coma!...
(Queiroz Filho)
Se verdadeiramente fosses minha,
Se o Amor que em mim trepida, te tocasse!
Se a Luz que há nele, assim, te arrebatasse,
A infame Dor atroz que me espezinha,
Daria à indiferença, enfim, seu passe!...
E como um bom Romeu, exulto e asinha,
Só com varanda e beijos, me entretinha!
Sem me valer se ao céu, o sol já nasce!...
Julieta, em grão rubor, é que te quero!
Oh! Anjo, que me eleva e me entontece!
Deixemos o outro fogo, ao doido Nero!...
O nosso é o que transforma e só aquece
As partes que em teu corpo, eu renumero!
Ah! Se um pecado meu, aqui, coubesse!...
(Queiroz Filho)
Este teu negro coração ranzinza,
Apodrecido em mágoas, ânsias, dores,
Tormentos, crimes, lágrimas e horrores!
Nublou teu Perispírito de cinza…
E ao Érebo dos seres desprezados,
Lá olhando o próprio túmulo vazio!...
Do monocromatismo assaz sombrio,
Sobrou-te só arco-íris desbotados...
Caverna cerebral, és pavorosa!
Rochedo... tripas... súplicas... lamentos...
Resquícios de outra Ira poderosa...
Tomada por morcegos pestilentos,
Entre, anseias a Hercúlea mão piedosa,
Carcaças, crânios, vermes, desalentos!...
(Queiroz Filho)
Oh! Paz transcendental; canção exata!
Perpétua ondulação macia e linda.
Altiva voz que cura e depois mata!
Louvado seja Deus, por tua vinda!
Eu amo-te!... És mansa serenata…
Murmúrio azul das Ninfas de Olinda!...
Há em tua luz, o brilho astral da prata
E em seu tom, dourada cor infinda!...
Este leito de seda em que me pões
Deitado a trançar os meus Sentidos!...
Faz que tal voz subjugue mais Leões,
Que Daniel nos caros tempos Idos.
Divina voz! Altar dos meus Perdões...
Beethoven tilintando meus ouvidos...
(Queiroz Filho)
Almas amantes, Almas beijoqueiras,
De Borboleta, a Alma transbordante;
Viajantes Almas, Almas Condoreiras;
Alma que salma a minh’ alma distante...
Vivemos sensações tão verdadeiras!
E eu tenho, Poetisa, o teu semblante!
Se do teu D'ouro, és a luz Tripeira!
Da solidão, eu sou irmã e amante!...
Por isso, Anjo de luz, eu te pertenço!
E louvo o Amor na Atlantica vitória:
Saudade enforcada em nosso lenço!
- Relíquia Perfumosa e merencória!
Dizendo tudo isso, eu me convenço
Substituis-me sempre a cada glória...
(Laura Alves Coimbra)
Acaso, causticante Amor incauto!
De sempre velhas mágoas renovadas...
Herdaste a dor das Almas condenadas
Pelo absurdo de sonharem alto?…
Amar defuntas vãs, agrinaldadas…
Vendo este breu tomar-me de assalto…
Cogitabundo, após meu sobressalto.
Prosto-me ao pé das Musas enterradas…
Torturadores Seres torturados;
Demônios! Pestes pútridas do inferno,
Meus sonhos são Orfeus decapitados,
Meu sangue, não é vinho de Falerno.,
Mas represento a voz dos desgraçados!
Por isso, canto a dor do Amor eterno!...
(Queiroz Filho)
Proféticos trovões rasguem o céu
Do nosso oculto Reino faz-de-conta!
No Império colossal de Kirnael!
Pois uma nova Era aqui desponta.
Aonde tomos plenos de escarcéu
Vindos da tresloucada boca tonta,
Do então bobo da corte, Arimatel!
Que espera tu digas: - Estou pronta!
Pra ser vossa Princesa, Lady Ana!
A filha do grão Rei, o amado Figge!
E da Rainha audaz, brava Joana.
Enquanto juro ao pé do rio Estige,
Não mais passar além da Taprobana!
Ou Circe me transforma em Estrige!
(Queiroz Filho)
À envernizada mesa se ostentava
Um carcomido e rude candelabro,
Vestia-se de enxofre o odor macabro,
Enquanto, a noite, ali, se declinava.
Uma coruja ao longe, agourava,
Do albergue, esse sinistro descalabro,
Pois lá morrera o pobre jovem glabro
A quem só o silêncio amparava:
Ó, que horrendo e trágico opróbrio!...
Um tiro disparou contra si próprio
E estrebuchou sozinho sobre o chão,
Que Deus tenha esse pobre, perdoado!...
Miolos!... Sangue!... Dor pra todo o lado!
Demônios lhe arrastam pela mão!...
(Queiroz Filho)
"Não morrerás agora, ingênuo ser!"
Bradou-me assim a Morte que ora chamo...
"Não te quero infeliz!... Não me derramo
Dos olhos dos que choram pra me ver!...
Se a rosa feia enfeia todo o ramo,
Ao chão, pisada e só, há de morrer...
Mas se uma mão macia lhe aquecer,
Um canto lhe erguerá, o gaturamo..."
Tomar assento à mesa dos contentes?
Estupidez sem par desses meus Dias!
Nau de ternura em águas inclementes...
Torne este canto e as vãs melancolias,
Outro bombordo ao leme dos ausentes,
Louvando o riso; odiando as alegrias...
(Queiroz Filho)
Felicidade: - Bússola quebrada!
Que o Norte; o Leste; o Sul; o Oeste, inverte!
Craves tuas setas, neste peito inerte!
Para que eu sinta algo, além de nada...
Poetas perdidos é o que te diverte?
Senecta Alma ingênua e já curvada,
Pelo peso do pranto e a dor da tonelada
Que em mais dor, apenas se reverte!
De todas tuas lágrimas sentidas,
Deitadas sobre o livro da saudade,
Uma reluz ainda em nossas vidas,
Uma carrega a essência da bondade,
É a deste olhar das almas mais sofridas,
Que brilha sem nem ter Felicidade...
(Queiroz Filho)
Ver arrastar-se o espírito da mágoa,
Já moribundo à fonte de Hipocrene!...
E achar meu sangue em vez da rara água,
É que meu Estro, tu sangraste, Irene!
Maior que a face sul do Aconcágua,
É o teu mostrengo Não, fino e infrene!
Que ao rio do inferno, sem perdão, deságua!...
Quão desaguou teu beijo misancene...
E o amor, este nó górdio em Medusa,
Bem mais precisamente em suas mechas,
De ti, oh! Irene, fez, minha Aretusa…
Na paz da solidão, deixando brechas…
Mas teu amor é em sanha assaz confusa,
Cupido usando lanças como flechas!...
(Queiroz Filho)
Se, do que te amo, amas muito além!
Se é sempre mais intensa a tua entrega;
Se dos meus sonhos, faço-te refém;
Se o lume deste Amor, inda me cega;
Oh! Me ensinas a amar assim também!
Pois quem de amor, tão grande falta, alega,
Prova não só niná-lo quão convém...
E em justa troca, todo o amor sossega!
E enfim, me ouviste e agora, partirás!
Na estranha carruagem à nossa frente...
Já a ocultar, teu pranto, às luzes más....
E aos olhos do rival inconsequente!
Mas eis que a tua brisa aqui me traz,
O solto lenço, ao teu vestido, rente ...
(Queiroz Filho)
Façam silêncio, filhos da esperança!...
A Voz de Deus, Crianças, sim! Vós, sois!
Oh! Déspotas!... Vaidades pra depois!...
Sob as ruinas, geme, outra Criança!
Coraçãozinho forte, não sois dois?
Cada ombrinho vosso, é a pujança
Que ao lombo, excede, a força de dois bois!...
Mas, entre ruinas tais, o fim avança...
Um dia, não sei onde, quando ou como,
Vou reviver o ardor do teu abraço!
Domavas, os demônios que não domo,
Vivias p'ra ninar o meu cansaço...
E davas a esperança um doce assomo!
Que até na fé em Deus, morro e renasço...
(Queiroz Filho)
O amor, a luz astral que ao céu, flutua!
E em um segundo dobra os hemisférios!...
É a sensação de paz que me fez tua
e traz consigo sempre mais mistérios
do que nos traz, as poses desta lua!
Se me amas notarás, meus impropérios
não são pretextos pra me veres nua,
mas o clamor aos nossos sonhos sérios!...
Do amor a sacra luz, não se avista...
Nem mordiscar, se pode, em teu papel...
Teus lábios sensuais de Alienista!...
Mas posso, tua maçã, Guilherme Tell,
ser! E uma dica dar-te, arqueiro artista,
meu corpo, à tua espera, está sem véu!...
(Laura Alves Coimbra)
As feias folhas secas na sacada,
Sonsas sobem ao som do sério vento!
Quão se assustadas pela trovoada,
Fossem em espiral ao céu cinzento…
É noite! E eis a chuva anunciada,
Trazendo em sorumbático lamento!
As já encharcadas folhas, à calçada;
Em um sonoro e claro movimento...
E aqui, para fugir do claustro triste;
Casebre assustador dos meus delírios!...
Vou vendo a vaga folha que resiste!
A ser indiferente aos meus martírios...
Ao jeito oh!! Lindo Lírio, que me arguiste:
" Feias folhas não beijam lindos lírios…"
(Queiroz Filho)
Acaso, causticante Amor incauto!
De sempre velhas mágoas renovadas...
Herdaste a Dor das Almas condenadas
Pelo absurdo de sonharem alto?…
Ansiar Deusas no altar, agrinaldadas!
Sendo de eterna vida, o ser mais falto?...
Cogitabundo e erguido em sobressalto,
Acordo ao pé das Musas enterradas…
Torturadores Seres torturados;
Demônios! Pestes pútridas do inferno,
Meus sonhos são Orfeus decapitados,
Meu sangue, não é vinho de Falerno.
Mas minha voz é a voz dos desgraçados!
Por isso, canto a dor do Mal eterno!...
(Queiroz Filho)
Qual lépido Corcel intransigente,
O Céu dos olhos teus, ditoso, galgo!
Mas Borboleta d'Alma incandescente,
Nem os teus olhos mais, me dizem algo!...
Oh! E quedos feito um gélido poente;
Só o vento diz ao meu pranto vertido...
E a fronte pendo a ouvi-lo, tristemente:
Cego sigo sendo o sonho sem sentido;
Sentido sem sonho o cego sigo sendo!...
Sem sonho sentido sendo o cego sigo!...
Acabrunhado vento, como te entendo?
Oh! Voz dos ares, cesses meu castigo!
Ou faças que tal fronte que inda pendo,
Só se levante aos pés do meu jazigo...
(Queiroz Filho)
Ferido de Amor, eu cambaleio,
No solo ensanguentado dos Vencidos!
Junto a estes Mortos, hoje, renascidos...
A dor dos vivos, vejo!... É devaneio!
Eurídice, não cessam teus gemidos?
Virgílio! O teu pupilo eu louvo e leio!...
Caronte, atroz barqueiro rude; feio,
Uniste-me por que aos ressentidos?...
Meu óbolo! Meu ramo de acácia!
Enquanto eu delirava, fui furtado!
Maria, tudo em vida é uma falácia...
O nosso sonho, deixa-o sepultado!...
Antes viver das drogas da farmácia,
Do que por teu rancor, ser despertado...
(Queiroz Filho)]
Moribundos anseios me habitam
De um nada teu que me alimenta
Memórias de beijos que ressuscitam
Morta numa carne que a sustenta.
És sangue, pulsar da vida, Amor solene.
Farol em minha tempestade
Sobreiro resiliente da estação perene.
Extinção da madrasta saudade.
Miragem na lágrima incorporada.
Sal e mel que me tempera.
Fusão de corpos na madrugada.
Que te sonhe tão somente
Mesmo não sendo por ti tocada.
Passado e futuro e eterno presente.
Borboleta Raquel ( in eterna aprendiz)
Raquítico Poeta misantropo,
Sinistro Midas!... Zeus da Podridão!...
Morcego ardil de assaz clarivisão
Perpétua qual as Fábulas de Esopo...
Nesta esplancnológica missão...
Meu encéfalo de ser pitecantropo,
Fez do teu EU, seu fúnebre canopo:
De fígado e um teu meio pulmão…
Pois eu, terráqueo espírito enfermo,
De Encélado, do Augusto metanógeno,
Sorvi metanos gazes já sem termo!
Vencendo a ilusão do gozo algógeno,
Mostrando ao coração funesto e ermo!
Que é da razão, o amor, mortal patógeno.
(Queiroz Filho)
Ouçam meu rogo, flores de brinquedo,
Que fingem tomar sol nessa sacada…
Velhas amigas, tenho tanto medo!
De aceitar fingir que sou Amada!
Se pra gozar a vida é sempre cedo,
Porque minh' Alma, Lebre assustada!
Pressente o Lobo atrás do arvoredo?...
E presa ao temor da emboscada...
Entre palores; entre vãos ressábios;
Na espera dos teus beijos, os meus lábios!
No altar da Esperança, a Fé restaura...
Pois sou a Borboleta derradeira,
A Ninfa; a Musa; a Deusa Condoreira!...
- Fenrir, vens devorar a tua Laura!...
( Laura Alves Coimbra)
Não ser jamais na vida o que se quer,
Mesmo que o que se quer é apenas ser…
Depois de se anular pra enfim viver,
Em além-mar a Amar minha mulher!
Não quero nada! Deixem-me morrer
Sobre as Flores do Mal de Baudelaire!…
Que importa cada Espinho que vier
Se meu sonho não quer mais renascer?...
Nada me vale, Amor, se não me vales!
Nada em mim vive, se em mim não vives!...
Vou com Laura aos caninos de Fenrir
Achar a cura abrupta aos meus males!...
Sem teu Amor, sou feno entre declives…
“Não quero nada! Deixa-me dormir!...”
(Queiroz Filho)
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